Arq. Brs. Med. Vet.Zootec., v.56, n.5, p.618-622, 2004 Prótese coxofemorl em cães: Relto de dois csos [Coxofemorl prosthesis in dogs: two cses] S.A. Aris S. 1, C.M.F. Rezende 2*, A. Alvrez 3, M.V. Souz 4 1 Doutorndo em Ciênci Animl - Universidde Federl de Mins Geris 2 Escol de Veterinári - Universidde Federl de Mins Geris Cix Postl 567 30123-970 - Belo Horizonte, MG 3 Escol de Veterinári - Universidde de Buenos Aires, Argentin 4 Mestrndo em Clínic e Cirurgi Veterináris - Universidde Federl de Mins Geris RESUMO Form relizds dus cirurgis de prótese totl d rticulção coxofemorl em cão. Em um cso oservou-se luxção cudl d prótese 72 hors pós cirurgi, que foi reduzid pelo método fechdo, mntendo-se ndgem de Ehmer por 15 dis.o segundo cso evoluiu fvorvelmente sem complicções pós-opertóris.os dois pcientes form vlidos periodicmente por 18 meses, mostrndo desempenho clínico stisftório, o que mostr eficiênci d técnic. Plvrs-chve: cão, displsi coxofemorl, cirurgi, prótese totl coxofemorl, osteortrose ABSTRACT Two cnine totl hip replcements were performed. In one cse, cudl luxtion ws oserved 72 hours fter the surgery, nd it ws treted y the closed reduction method, mintining the Ehmer s sling for 15 dys. The second cse evoluted fvourly without ny postsurgicl compliction. Both ptients were periodiclly evluted during the 18 months tht followed the surgery, showing stisfctory clinicl performnce, tht suggests the efficcy of the surgicl technique. Keywords: dog, hip dysplsi, surgery, totl hip prostheses, osteorthroses INTRODUÇÃO As lesões incpcitntes temporáris ou permnentes que cometem rticulção coxofemorl cnin são freqüentes (Msst, 1995). No cão tlet, os principis prolems são decorrentes de trum externo, ocsionndo luxções de ceç femorl, frturs cetulres e frturs de ceç e/ou colo femorl. Outrs lesões oservds são displsi coxofemorl e s decorrentes de treinmento (Wendelurg, 1998). No entnto, n prátic ortopédic veterinári displsi coxofemorl tem sido lterção mis comum em diverss rçs, correspondendo proximdmente 25% dos csos (Richrdson, 1992). Oitent e dois por cento dos pcientes sumetidos à prótese totl d rticulção, o são devido à displsi coxofemorl (Montgomery et l., 1992). Ess fecção é crcterizd pel instilidde d rticulção em nimis imturos, que result em má rticulção dos componentes rticulres e conseqüentemente no desencdemento d doenç rticulr degenertiv (Mnley, 1993). Receido pr pulicção em 2 de julho de 2003 Receido pr pulicção, pós modificções, em 26 de novemro de 2003 *Autor pr correspondênci E-mil: cleuz@dedlus.lcc.ufmg.r
Prótese coxofemorl em cães:... Os principis procedimentos cirúrgicos utilizdos pr o trtmento dess lterção são osteotomi pélvic tríplice, osteotomi intertrocntéric, excisão rtroplástic de ceç e colo femoris e prótese totl d rticulção (Fossum et l., 1997). O ojetivo deste trlho é reltr dois csos de prótese totl cimentd d rticulção coxofemorl. CASUÍSTICA Cso n 1 (experimentl) - Foi seleciondo um niml, sem rç definid, no cnil d prefeitur de Belo Horizonte, com 20kg de peso. Relizouse rdiogrfi ventro-dorsl d rticulção coxofemorl, verificndo-se usênci de lterções osteo-rticulres. O niml foi preprdo pr cirurgi ortopédic empregndo-se ordgem e técnic cirúrgic descrits por Olmsted (1987). Após preprção, form implntdos prótese de ço inoxidável cimentd não modulr (modelo Richrds II), de tmnho médio (8mm de diâmetro) e componente cetulr de polietileno de ultr-lto peso moleculr com diâmetro interno de 17mm e externo de 25mm. Foi feit profilxi ntiiótic trint minutos ntes d cirurgi com ceflotin sódic vi intrvenos n dose de 30mg/kg e repetid 90 minutos pós primeir plicção. A ceflotin foi continud no pós-opertório cd 12 hors té o resultdo negtivo de cultur cterin. Foi dministrdo cetoprofeno 1,0mg/kg por três dis. O niml foi mntido no pós-opertório em cnil individul com restrição dos movimentos. Ns rdiogrfis pós-opertóris oservou-se posição vrus d hste coxofemorl n incidênci ventro-dorsl (Fig. 1) e posição neutr n médio-lterl (Fig. 1). Figur 1. Incidêncis rdiográfics d rticulção coxofemorl: - incidênci ventro-dorsl logo pós implnte de prótese totl coxofemorl (oserv-se posição vrus do implnte); - incidênci médio-lterl pós-cirúrgic (oserv-se posição neutr do implnte). No terceiro di de pós-opertório, verificou-se cludicção centud sem poio do memro. Foi relizd rdiogrfi coxofemorl ventrodorsl que mostrou luxção cudo-dorsl do implnte (Fig. 2). No niml nestesido foi relizd redução fechd d rticulção protétic, seguindo-se colocção de ndgem tipo Ehmer por 15 dis (Fig. 2). Arq. Brs. Med. Vet.Zootec., v.56, n.5, p.618-622, 2004 619
Aris S. et l. Após retird d ndgem, o pciente mostrou centud hipotrofi musculr sem poio do memro. Foi feit fisioterpi durnte dus semns, inicindo cd sessão com movimento pssivo por 15 minutos, seguindo-se cminhd controld em rei por 30 minutos. Após fisioterpi o niml retornou à demulção com poio totl do memro. Entretnto, foi evidencid dução n posição ortostátic e em demulção verificv-se centud rotção extern do memro, que reduziu pr discret com demulção stisftóri pós 18 meses. O pciente foi compnhdo menslmente e form feits rdiogrfis em intervlos de seis meses, evidencindo posição dequd do implnte. Figur 2. Incidêncis rdiográfics d rticulção coxofemorl: - incidênci ventro-dorsl (oserv-se luxção cudo-dorsl do implnte); - incidênci ventro-dorsl logo pós redução fechd d luxção e ndgem de Ehmer. Cso n. 2 - Em julho de 2000 foi presentdo no hospitl veterinário d Universidde Federl de Mins Geris um cão d rç pstor lemão, mcho, de oito meses de idde, com 31kg de peso, que mostrv cludicção dos memros posteriores, mis centud no esquerdo, e ndr molente. Ao exme ortopédico verificou-se dução doloros e instilidde coxofemorl ilterl mis centud n rticulção esquerd. A rdiogrfi ventro-dorsl d pelve mostrou lterções ósses comptíveis com displsi coxofemorl. As rticulções mostrvm suluxção, mis centud no memro esquerdo. Foi prescrito crprofeno 1, 75mg cd 12 hors por 15 dis e dois comprimidos de sulfto de condroitin 2 diários por 30 dis. Após esse período, o cão presentou vômito com 1 Rymdil, Pfizer 2 Artroglycn, Syntex S. A. permnênci do desconforto à dução coxofemorl. O sulfto de condroitin foi sustituído por Osteorcrt 70 3, três comprimidos por 90 dis, o finl dos quis foi feito controle médico e consttd melhor no gru de cludicção. Tmém foi conselhd relizção de fisioterpi. Em mrço de 2001 form relizds novs rdiogrfis, sendo oservdo grvmento d deformidde d ceç e colo femoris e do cetáulo (Fig. 3). Foi sugerid sustituição rticulr por prótese totl. O niml foi preprdo pr cirurgi so protocolo de ceflotin e cetoprofeno como descrito no cso nterior. 3 Lyes, composição: D-L metionin 40mg, L-Cisteín 10mg, Arginin HCl 10mg, Histidin 4mg, Betín HCl 4mg, L- Glutmin 16mg, Piridoxin HCl 4mg, D-Glucosmin 16mg, Gluconto de Cu 10mg, gluconto de Mg 20mg, Gluconto de mngnês 16mg, Gluconto de Zinco 30mg. 620 Arq. Brs. Med. Vet.Zootec., v.56, n.5, p.618-622, 2004
Prótese coxofemorl em cães:... Usou-se prótese modulr de ço inoxidável cimentd 4 de tmnho médio (8mm de diâmetro) e componente cetulr de polietileno de ultr-lto peso moleculr com diâmetro interno de 17mm e externo de 27mm. Foi recomenddo mnutenção do cão no cnil por 15 dis, seguindo-se restrição de exercícios por dois meses. Form relizds rdiogrfis ns posições ventro-dorsl e médio-lterl sendo oservdo posição neutr do implnte n incidênci ventro-dorsl (Fig. 3) e posição crnil com direcionmento cudl d pont d hste coxofemorl n incidênci médio lterl (Fig. 3c). O cão mostrou demulção norml prtir do terceiro di de pós-opertório com poio completo do pé n posição de micção. No segundo e terceiro mês pós cirurgi o pciente podi correr, confirmndo-se respost clínicocirúrgic stisftóri. Amos os pcientes form novmente vlidos os 18 meses pós cirurgi, evidencindo-se recuperção musculr, dequção dos tecidos à posição do implnte e demulção stisftóri no exme clínico ortopédico do primeiro cso. Atulmente esse pciente permnece como dodor de sngue no hospitl veterinário. O segundo cso mostrou desempenho físico stisftório, com umento prente d mss musculr no memro operdo, sugerindo mior suporte de peso neste e livio d rticulção displásic contr-lterl. 4 Figur 3. Incidêncis rdiográfics d rticulção coxofemorl: - incidênci rdiográfic ventro-dorsl précirúrgic (oserv-se centudo gru de displsi coxo-femorl com su-luxção); - incidênci ventro-dorsl logo pós implnte de prótese totl coxofemorl (oserv-se posição neutr do implnte); c- incidênci médiolterl pós-cirúrgic (oserv-se posição crnil com inclinção cudl d pont do implnte). c 4 Implntes Fico, Buenos Aires, Argentin Arq. Brs. Med. Vet.Zootec., v.56, n.5, p.618-622, 2004 621
Aris S. et l. DISCUSSÃO E CONCLUSÕES A miori ds complicções dess técnic cirúrgic contece proximdmente té o qurto mês de pós-opertório (Olmsted et l., 1983), oservndo-se diminuição de su incidênci pós 18 meses (Olmsted, 1987). A luxção do implnte é complicção mis freqüentemente reltd no cão (Olmsted et l., 1983; Msst e Vsseur, 1994; Olmsted, 1995; Tomlinson e Mc Lughlin, 1996), oservd no primeiro cso deste trlho. A luxção pode ser triuíd exercício precoce, indequd orientção tnto do componente cetulr qunto do femorl e trum externo (Montgomery et l., 1992). Nesse cso, provvelmente, decorreu de colocção e orientção indequds dos componentes femorl e cetulr. A colocção ntevertid e com umentdo ângulo de ertur lterl do componente cetulr predispõem à luxção dorsl no pós-opertório imedito (Msst, 1995), como oservdo nesse pciente. A utilizção de prótese não modulr, cujo colo femorl é fixo e não pode ser justdo à geometri do pciente no to opertório, pode ter contriuído pr ess complicção. Um colo protético muito longo pode explicr dução do memro (Dyce et l., 2000) oservd no pciente. Diferentes vriáveis influencim posição do componente femorl como o nível de ostectomi do colo femorl, remoção do loco sutrocntérico, o direcionmento durnte inserção d hste e o diâmetro e tmnho d hste (Wylie et l., 1997; Schulz et l., 1998; Schulz, 2000). Os posicionmentos vrus e inclinção cudl d pont do implnte são os mis freqüentemente verificdos em cães como oservdo neste trlho, porém são relciondos com frouxmento do implnte no homem (Schulz et l., 1998). A prótese totl coxofemorl é um ds técnics mis efetivs no trtmento ds lterções rtrítics que cometem rticulção coxofemorl no cão, presentndo-se como lterntiv mis dequd em cães dultos com displsi coxofemorl. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS DYCE, J.; WISNER, E.R.; WANG, Q. et l. Evlution of risk fctors for luxtion fter totl hip replcement in dogs. Vet. Surg., v.29, p.524-532, 2000. FOSSUM, T.W.; HEDLUND, C.S.; HULSE, D.A. et l. Hip dysplsi: smll niml surgery. Sint Louis: Mosy, 1997. P.942-949. MANLEY, P.A. The hip joint. In: SLATTER, D. Textook of smll niml surgery. 2.ed. Phildelphi: Sunders, 1993. Cp.135, p.1786-1805. MASSAT, B.J. Artroplsti cementd totl de l cder cnin. Wlthm Focus, v.5, p.21-31, 1995. MASSAT, B.J.; VASSEUR, P.B. Clinicl nd rdiogrphic results of totl hip rtroplsty in dogs: 96 cses (1986-1992). J. Am. Vet. Med. Assoc., v.205, p.448-454, 1994. MONTGOMERY, R.D.; MILTON, J.L.; PERNELL, R. et l. Totl hip rthroplsty for tretment of cnine hip dysplsi, Vet. Clin. North Am.: Smll Anim. Prct., v.22, p.703-719, 1992. OLMSTEAD, M.L. Cnine cemented totl hip replcements: stte of the rt. J. Smll Anim. Prct., v.36, p.395-399, 1995. OLMSTEAD, M.L. Totl hip replcement. Vet. Clin. North Am.: Smll Anim. Prct., v.17, p.943-955, 1987. OLMSTEAD, M.L.; HOHN, R.B.; TURNER, T.M. A five- yer study of 221 totl hip replcements in the dog. J. Am. Vet. Med. Assoc., v.183, p.191-194, 1983. RICHARDSON, DC. The role of nutrition in cnine hip dysplsi. Vet. Clin. North Am: Smll Anim. Prct., v.22, p.529-540, 1992. SCHULZ, K.S. Appliction of rthroplsty principles to cnine cemented totl hip replcement. Vet. Surg., v.29, p.578-593, 2000. SCHULZ, K.S.; VASSEUR, P.B.; STOVER, S.M. et l. Trnsverse plne evlution of the effects of surgicl technique on stem positioning nd geometry of reconstruction in cnine totl hip replcement. Am. J. Vet Res., v.59, p.1071-1079, 1998. TOMLINSON, J.; McLAUGHLIN, R. Totl hip replcement: the est tretment for displstic dogs with osteorthrosis. Vet. Med., v.91, p.118-124, 1996. WENDELBURG, K.L. Disorders of the hip joint in the cnine thlete._in: BLOOMBERG, M.S.; DEE, J.F.; TAYLOR, R.A. Cnine sports medicine nd surgery. Phildelphi: Sunders, 1998. Cp.21, p.174-195, WYLIE, K.B.; DeYOUNG, D.J.; DROST, W.T. The effect of surgicl pproch on femorl stem position in cnine cemented totl hip replcement. Vet. Surg., v.26, p.62-66, 1997. 622 Arq. Brs. Med. Vet.Zootec., v.56, n.5, p.618-622, 2004