As relações de gênero socialmente constituídas e sua influência nas brincadeiras de faz de conta. Angela Agulhari Martelini Gabriel. Pedagogia. Prefeitura Municipal de Bauru. helena2008mg@hotmail.com. Gislaine Rossler Rodrigues Gobbo.USC.Grupo de pesquisa Implicações Pedagógicas da Teoria Histórico-Cultural; Programa de Pós-Graduação em Educação Marília FFC. Prefeitura Municipal Bauru. gislainerrgobbo@gmail.com Eixo 2- Formação de professores, políticas educacionais e práticas educativas. Modalidade comunicação oral. Categoria: pesquisa em andamento. Palavras-chave: Brincadeira do faz de conta. Gêneros. Histórico- Cultural; idade pré-escolar. Introdução Esta pesquisa explicita as relações de gênero socialmente constituídas e sua influência nas brincadeiras de faz de conta, de crianças em idade préescolar, no momento da escolha dos temas, objetos e os papéis que adotam durante a ação de brincar. Apresentamos a influência da brincadeira de faz de conta, conhecida também como jogo simbólico ou jogo de papéis sociais, no desenvolvimento da consciência infantil, em especial com relação as noções de gênero aceitas e praticadas socialmente. Fundamentamos nosso estudo na perspectiva Histórico- Cultural, defendendo que o homem se humaniza em suas relações após o nascimento. O objetivo é analisar como as brincadeiras infantis recebem a influência dos papéis determinados socialmente pelas características de gênero: masculino x feminino. Ao considerarmos a brincadeira de faz de conta como um mediador na compreensão infantil sobre o mundo adulto, é essencial entendermos que tal atividade dominante no pré-escolar, exerce influência na formação das funções psíquicas em desenvolvimento. (MARTINS, 2006).
Metodologia da pesquisa A metodologia utilizada na realização deste trabalho foi, inicialmente, a pesquisa bibliográfica. Tal método procura recuperar o conhecimento científico acumulado sobre um problema. Ao levantar as hipóteses sobre o problema, Gressler (2003, p.132) enfatiza que essas devem ser geradas em teorias, [...]. É por meio do conhecimento de estudos relacionados que o investigador aprende quais os procedimentos e instrumentos que têm demonstrado ser eficientes ou não. Trata-se de uma pesquisa de base qualitativa que objetiva, de forma explicativa, gerar novos conhecimentos que possam ser úteis à área da educação: visa identificar os fatores que determinam ou contribuem para a ocorrência dos fenômenos [...], a razão, o porquê das coisas. (SILVA E MENEZES, 2001, p.21) Após a conquista do aporte teórico e da fundamentação, projetamos uma pesquisa exploratória em uma unidade escolar pública municipal no interior de São Paulo. A Geração de dados foi realizada por meio de instrumentos: observação sistemática das situações de brincadeira de faz de conta nas situações livres (parque) e tarefas intencionais propostas pela mediadora (professora) durante a casinha da boneca e ações na área livre. Geração dos dados As situações de observação intencional sistemática deram-se durante o segundo semestre do ano letivo de 2014, diariamente em um período de quatro meses, de segunda a sexta-feira, por trinta minutos, por dia, perfazendo um total de, aproximadamente, trinta e cinco horas. As crianças foram observadas nas ações da brincadeira de faz de conta na área livre, nomeada de parque, e, uma vez na semana, na "casinha da boneca". Frisa-se que integramos o grupo de funcionários da unidade escolar pública municipal. Apresentamos vivências a partir de categorias de análise: fala das crianças durante a brincadeira de faz de conta e as atitudes realizadas durante a ação. A Situação 1- adotamos somente as iniciais das crianças (A.), ( L.),
(D.) e (S.), evitando a exposição dos participantes, embora possuímos autorização dos pais para uso de imagens e trabalhos. As falas foram transcritas literalmente sem ajustes e sem as normas ortográficas, para que não fossem alterados os discursos verbais. Situação 1: As crianças brincam e a pesquisadora questiona qual o tema: (A.): A gente tá brincando de casinha. Eu sou o pai. (L.): Eu sou o filho. (D.): Eu sou o irmão. (S.): Vô. A pesquisadora pergunta: O que vocês precisam para brincar? (A.): Preciso de um cavalo e de espada. (D.): De panela pra cozinha, meu irmão não cozinha. Eu estou fingindo, estou fazendo comida. (L.) Colher e pote pra fazê o bolo. (S.) Eu ponho no forno pra cozinha a comida e ele come. (Apontando para o aluno (A.)) O aluno (H.) interfere na fala do amigo e comenta: (H.) A família é do (A.). É o pai, não ajuda a fazer comida. Situação 2: Um grupo de meninos começa a jogar bola na área livre. A aluna (V.) se aproxima e é criticada por (A.): (A.) Menina não joga bola, só menino. (V.) Tá bom, só vô assistí. O (L.) vai ganha. (H.) Eu vô sê o goleiro, goleiro é o mais forte. Situação 3: As crianças brincam, observadas pela pesquisadora, na casinha da boneca. A criança (V.) se interessa por uma pantufa com estampa de onça. Quando é notado por (L.) que satiriza e comenta: (L.) Vai virá mulherzinha, é mulherzinha! (L.) É a Vita, Vita, Vita.
Mesmo com a intervenção da professora, (V.) fica chateado e tira o chinelo de pelúcia. Discussão dos dados Notamos nas falas das crianças durante a brincadeira interesses e escolhas diferenciadas quanto aos papéis sociais adotados nas ações, mas é notório as atitudes e os comportamentos aceitos socialmente pelo grupo. Em consonância com o aporte teórico de nossa pesquisa, compreendemos que a consciência conquistada pelo sujeito em suas interações, primeiro é emprestada do meio e necessita de uma ação externa para ser internalizada. [...] quando o sujeito toma consciência de si, ocorre a regulação com o meio e ele começa a agir de forma ativa. (ROSENAU, 2012, p. 70). As ações e relações observadas pela criança em seu meio, emprestamlhe as hipóteses normativas que padronizarão suas visões e compreensões do mundo externo. Essas ações evidenciam as vivências cotidianas de cada componente do grupo, com ênfases distintas. Considerando que, nas relações sociais estabelecidas durante a vida, a criança compreende modelos orientados por normas, regras, costumes e moralidade do grupo a que pertence, agindo de acordo com os mesmos, observamos que, dependendo da vivência social e cultural, existem parâmetros constituídos pela sociedade, orientando as ações efetuadas. Os exemplos citados acima evidenciam que as questões padronizadas pela sociedade, quanto aos gêneros e suas relações estão fortemente arraigadas. Em umas das situações a criança submete-se a cozinhar, enquanto outro enfatiza que o pai não cozinha. Os modelos sociais apresentam as questões de gênero como fontes naturais à criança, e quando existem variações de condutas e comportamentos, via de regra, surge um estranhamento, seguido de discriminação. Como já salientado por, Louro (2014, p. 53) ao afirmar que em nossa sociedade, devido a hegemonia [...], têm sido nomeados e nomeadas como diferentes aqueles e aquelas que não compartilham desses atributos.
As situações descritas denotam que o entorno social e familiar dos integrantes do grupo, contribuem para a percepção de qual papel desempenhar para aceitação social. Considerações As questões de gênero, tão dicotômicas entre sociedades e culturas, são transmitidas ao universo infantil como indiscutíveis, e desse modo incorporadas pelo pré-escolar.tais modelos ditados pelo gênero agem na criança, ditando condutas e comportamentos avaliados como apropriados, e quando existem variações, surgem a discriminação. Por meio da brincadeira, os conceitos internalizados são externalizados durante as interações entre os pares, transformando os em normas de condutas. Diante dessas considerações, foi-nos de grande importância o processo dialético entre pesquisa e observações práticas. As falas e as atitudes nas ações da brincadeira, confirmaram, assim, nossa hipótese inicial de que as brincadeiras de faz de conta contribuem para a formação da consciência do pré-escolar, como também modela os conceitos aceitos socialmente, incluindo nesse episódio as relações de gênero desenvolvidas culturalmente. Referências FACCI, M. G. D. Os estágios do desenvolvimento psicológico segundo a psicologia Sociohistórica. In, Brincadeira de papéis sociais na educação infantil. São Paulo, Xamã, 2006. GRESSLER,, L. A. Introdução à Pesquisa Projetos e Relatórios. 2ª Edição. São Paulo: Loyola, 2003. LOURO, G. L. Gênero, sexualidade e educação: Uma perspectiva pósestruturalista. Petrópolis, RJ, Vozes, 2014. ROSENAU, L. S. Diagnósticos do fazer docente na educação infantil. Curitiba, Ibpex, 2012. SILVA, E. L; MENEZES, E. M. Metodologia da pesquisa e elaboração de dissertação. 3. Ed. Florianópolis; Laboratório de ensino à distância da UFSC, 2001.