As diferentes linguagens da criança: o jogo simbólico

Transcrição

1 As diferentes linguagens da criança: o jogo simbólico Mariana Antoniuk 1 Dêivid Marques 2 Maria Angela Barbato Carneiro ( orientação) 3 Abordando as diferentes linguagens da criança neste ano, dentro do trabalho realizado pelo PET 4 Pedagogia PUC-SP, nos aprofundamos na linguagem do jogo simbólico como meio de expressão e compreensão do pensamento infantil. Estudando diversos autores que abordam o tema, pudemos aprofundar-nos e refletir mais cuidadosa e detalhadamente sobre esta linguagem tão importante à constituição do pensamento humano e, em especial, à construção e ao desenvolvimento do pensamento infantil. A formação nos cursos de Pedagogia busca proporcionar aos futuros educadores uma base teórica na qual eles possam apoiar sua prática profissional, entretanto devido à enorme complexidade desta área do conhecimento e à escassa carga horária destinada ao curso, muitos aspectos importantíssimos, acabam por não serem devidamente abordados, ficando para serem trabalhados em cursos de formação contínua, especialização e pós-graduação. 1 Mariana Antoniuk é aluna do 4º ano do curso de Pedagogia da PUC-SP. 2 Deivid Marques é aluno do 3º ano do curso de Pedagogia da PUC-SP. 3 Maria Angela Barbato é Tutora do Programa de Educação Tutorial e orientadora do grupo nas capacitações 4 PET_ Sigla de Programa de Educação Tutorial, mantido pelo Ministério da Educação com o objetivo de contribuir para a melhoria da qualidade dos cursos de graduação. Na pontifícia Universidade Católica de São Paulo um dos objetivos foi preparar os alunos para a realização de capacitações com os próprios colegas, estudantes de outras universidades e demais interessados.

2 Participar do grupo PET Pedagogia PUC-SP nos proporcionou alinhar a teoria à prática quotidiana das escolas, seja por meio das oficinas realizadas, seja por meio das intervenções, sempre apoiados por todo um referencial teórico profundamente estudado dentro do grupo sob a supervisão da Professora Doutora Maria Ângela Barbato Carneiro 5. Levar esta teoria à prática, tendo como foco o ensino, a pesquisa e a extensão, foi uma oportunidade singular onde o ambiente de estudos transforma-se em laboratório de pesquisa, análise e prática, colaborando para nossa formação como professor/pesquisador, como profissional da educação visando ir sempre além, em busca de mais conhecimento. O jogo simbólico como linguagem humana vem sendo estudado há tempos por diversos especialistas nas áreas de pedagogia e psicologia e nós entendemos que ele é a relação entre jogo e símbolo. Tivemos como base a consideração de que o jogo é uma realidade, limitada pelo espaço e tempo, uma manifestação otimista, alegre e plena da energia vital, que engloba repertórios cognitivos, emocionais e sociais e que também possui características antagônicas:, regra e liberdade, fantasia e imitação ; seriedade e não seriedade. O símbolo é um sinal arbitrário, convencionado pela a sociedade, ligado ao significado (conceito) capaz de representar um determinado objeto (imagem mental). Assim, no jogo simbólico o movimento corporal, as expressões faciais e a própria linguagem podem ser elementos capazes de simbolizar a realidade vivida. Nesse sentido, Piaget (1978), mostrou que no jogo simbólico ou faz de conta, por implicar na representação de um objeto ausente, exige que a criança compare imagem, ou o objeto dado (significante), com o objeto imaginado ou o conceito (significado) demonstrando o aparecimento do pensamento. 5 Maria Angela Barbato Carneiro é professora Titular da Faculdade de Educação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Coordenadora do Núcleo de Cultura e Pesquisas do Brincar e Tutora do Programa de Educação Tutorial (PET) do MEC no Curso de Pedagogia PUCSP.

3 O jogo simbólico permite o exercício de uma particular forma de pensamento que é a imaginação. Entendemos, portanto, que a atividade lúdica é uma ação desprovida de todo e qualquer interesse material, sendo parte da livre escolha do sujeito. Ela se inicia através da imitação, mas permite que a criança possa desenvolver sua imaginação e fantasia. Parte do real para um mundo fantástico, que só ela é capaz de criar. O jogo simbólico atua como elemento intermediário entre o subjetivo e aquilo que é objetivamente percebido, sendo motivado por processos íntimos, como os desejos, problemas e ansiedades, permitindo a aprendizagem com prazer, a socialização, o desenvolvimento da linguagem, a possibilidade de expressar-se, o exercício de diferentes papéis sociais, o desenvolvimento de diferentes habilidades e da criatividade. Vários estudiosos trataram do assunto trazendo inúmeras contribuições. Wallon (1973) entre outros pesquisadores nos traz a perspectiva de que a possibilidade de simbolizar na infância permite à criança estabelecer relações com significado e desenvolver um pensamento investigativo correto no futuro. A perspectiva construtivista com base nos estudos de Jean Piaget (1978), percebe o jogo simbólico como a representação de um objeto ausente, a partir da comparação entre um elemento dado (real) e um imaginado ( imagem mental). No jogo simbólico ocorre o início da ficção, mostrando claramente o desenvolvimento da inteligência na criança. Nesse período ela se interessa pelas realidades simbolizadas, o que auxilia nas suas aprendizagens.. A perspectiva psicanalítica, que estudamos a partir de Bruno Bettelheim (1988) define o jogo simbólico como uma ponte entre a fantasia e a realidade. Podemos observar por meio desse jogo como a criança vê e constrói o mundo, os seus sentimentos, os seus pensamentos. Pelo jogo simbólico, a criança expressa a si própria, enfrenta e domina suas dificuldades, tenta compreender as deficiências sentidas.

4 Enquanto brinca, a criança sente prazer de ser o que imita ou imagina, de ter o controle, o domínio, realiza fantasias imaginativas que ajudam a superar as pressões que sofre na vida, compreende as limitações da realidade, como as conseqüências que são irreversíveis. Já a perspectiva sócio-histórico-construtivista, estudada pelas obras de Lev Vygostky, (1988) define que no brincar a criança cria e expressa uma situação imaginária, projeta-se nas atividades adultas de sua cultura e ensaia seus futuros papéis e valores. Brincando ocorrem as oportunidades para o desenvolvimento intelectual. Outra perspectiva que estudamos foi a de Célestin Freinet (1998), na qual, o jogo simbólico é compreendido como jogo espontâneo em que a criança compensa as insuficiências ou erros do meio social tendo um equilíbrio psíquico e saúde moral. O jogo simbólico é definido como algo universal que pode ter variantes do meio e dos costumes, mas que alguns simbolismos são vistos em crianças de diferentes lugares e culturas como a imitação de animais, de papai e mamãe com bonecas, de dinâmicas com moradias e de ataques e lutas. O jogo simbólico pode se realizar com ou sem brinquedos 6. O faz de conta, é onde, se incorpora a realidade através da fantasia, em que a criança irá dialogar sua realidade externa e realidade interna e passa a ter a noção da total fantasia e da absoluta realidade. Referências bibliográficas BETTELHEIM, B. Uma vida para seu filho.11ª. reimp. Rio de Janeiro: Campus, 1988 FREINET, C. Educação para o trabalho. São Paulo: Martins Fontes, PIAGET, J. A formação do símbolo na criança. Rio de Janeiro: Zahar, VYGOTSKY, L.S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, Brinquedos são objetos industrializados ou não que servem como suporte para a realização das brincadeiras infantis, especialmente as de faz de conta.

5 WALLON, H. Psicologia e educação da infância. Lisboa: Estampa, 1975.