O MULTICULTURALISMO COMO FILOSOFIA POLÍTICA: CAMINHOS PARA UMA JUSTIÇA SOCIAL THE PHILOSOPHY OF MULTICULTURALISM: WAYS FOR SOCIAL JUSTICE

Documentos relacionados
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE CAMPINAS

Utilizar referentes de tempo e de unidades de tempo histórico: antes de, depois de, milénio, século, ano, era (A, B, C, I)

CESEP Centro de Serviços educacionais do Pará Coordenação do Ensino Médio

Cursos Profissionais Ano Letivo 2014/2015 PLANIFICAÇÃO ANUAL SOCIOLOGIA (2º ano de formação)

Externalidades 1 Introdução

ANO LETIVO PLANIFICAÇÃO DE MÉDIO PRAZO PROFIJ - CURSO DE APOIO À INFÂNCIA

Gestão Ambiental - Gestores Ambientais

Textos, filmes e outros materiais. Habilidades e Competências. Conteúdos/ Matéria. Categorias/ Questões. Tipo de aula. Semana

FUNÇÕES DE UMA VARIÁVEL COMPLEXA

Plano de Trabalho Docente Ensino Médio. Habilitação Profissional: Técnico em informática para Internet Integrado ao Ensino Médio

ANO LETIVO PLANIFICAÇÃO DE MÉDIO PRAZO PROFIJ - CURSO DE NÍVEL II TIPO 2

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS PRO-REITORIA DE GRADUAÇÃO ESCOLA DE DIREITO E RELAÇÕES INTERNACIONAIS CURSO DE DIREITO

ANO LETIVO 2018/2019 CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO

Higiene, Saúde e Segurança no Trabalho

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO SECRETARIA DE EDUCAÇÃO PROFISSIONAL E TECNOLÓGICA INSTITUTO FEDERAL FARROUPILHA CAMPUS ALEGRETE PIBID

MESTRADO PROFISSIONAL EM ECONOMIA DO SETOR PÚBLICO

MESTRADO PROFISSIONAL EM ECONOMIA DO SETOR PÚBLICO

Habilidades e Competências. Conteúdos/ Matéria. Textos, filmes e outros materiais. Categorias/ Questões. Semana. Tipo de aula

MATRIZ DA PROVA DE EXAME A NÍVEL DE ESCOLA AO ABRIGO DO DECRETO-LEI Nº 357/2007, DE 29 DE OUTUBRO HISTÓRIA A 11º ANO

CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO 2º Ciclo

10 Encontro de Ensino, Pesquisa e Extensão, Presidente Prudente, 21 a 24 de outubro, 2013

Planificação de Ciências Naturais. 9.ºAno. Alterações climáticas

P L A N I F I C A Ç Ã O A M É D I O P R A Z O

CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO 3º Ciclo

EXAME A NÍVEL DE ESCOLA EQUIVALENTE A EXAME NACIONAL

CARVALHO HOSKEN S/A carvalhohosken.com.br CARVALHO HOSKEN S.A. ENGENHARIA E CONSTRUÇÕES CNPJ: /

P L A N I F I C A Ç Ã O A M É D I O P R A Z O

Departamento Curricular do 1º Ciclo - Critérios Específicos de Avaliação pág - 1

RESOLUÇÃO N o 03/2013

Critérios de Avaliação Estudo do Meio

Representação de Números no Computador e Erros

Análise e Projeto de Sistemas Introdução. Prof. Edjandir Corrêa Costa

Índice. Introdução. Pré-requisitos. Requisitos. Dispositivos suportados

Comportamento do Consumidor

2. Nos enunciados dos testes deverá ser dada a indicação da cotação do item;

Escola Secundária Poeta Al Berto CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO DISCIPLINA 3º CICLO OU SECUNDÁRIO -7.º ANO Ano letivo: 2018 /2019

- SEEC UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE - UERN

Planificação/Critérios Ano Letivo 2018/2019

3. Geometria Analítica Plana

PERFIL DE SAÍDA DOS ESTUDANTES DA 5ª SÉRIE DO ENSINO FUNDAMENTAL, COMPONENTE CURRICULAR MATEMÁTICA

/ :;7 1 6 < =>6? < 7 A 7 B 5 = CED? = DE:F= 6 < 5 G? DIHJ? KLD M 7FD? :>? A 6? D P

ANÁLISE CUSTO - VOLUME - RESULTADOS

Escola Secundária Ferreira Dias, Agualva-Sintra

- SEEC UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE - UERN

LEITURA 1: CAMPO ELÁSTICO PRÓXIMO À PONTA DA TRINCA

Agrupamento de Escolas Terras de Larus. Departamento de Educação Pré - Escolar

Solução da equação de Poisson 1D com coordenada generalizada

Campo elétrico. Antes de estudar o capítulo PARTE I

O QUE É VULNERABILIDADE SOCIAL?

estados. Os estados são influenciados por seus próprios valores passados x

Guião do Professor :: TEMA 2 1º Ciclo

ABNT NBA NORMA BRASILEIRA. Informação e documentação - Sumário - Apresentação T~CNICAS. lnformation and documentatíon - Contents físt - Presentatíon

Critérios de falha PROF. ALEXANDRE A. CURY DEPARTAMENTO DE MECÂNICA APLICADA E COMPUTACIONAL

DISCIPLINA DE MATEMÁTICA

Enunciados equivalentes

MATRIZ DA PROVA DE EXAME A NÍVEL DE ESCOLA AO ABRIGO DO DECRETO-LEI Nº 357/2007, DE 29 DE OUTUBRO ANTROPOLOGIA 12º ANO

Problemas Numéricos: 1) Desde que a taxa natural de desemprego é 0.06, π = π e 2 (u 0.06), então u 0.06 = 0.5(π e π), ou u =

Diário da República, 1.ª série N.º de Dezembro de (5)

FUNÇÃO REAL DE UMA VARIÁVEL REAL

Etec Monsenhor Antonio Magliano. Plano de Trabalho Docente Habilitação Profissional: Técnica de Nível Médio de Técnico em Eletrônica

Vantagens e Desvantagens do método de ABP

Curso de Engenharia Mecânica Disciplina: Física 2 Nota: Rubrica. Coordenador Professor: Rudson R Alves Aluno:

Razão e Proporção. Noção de Razão. 3 3 lê-se: três quartos lê-se: três para quatro ou três está para quatro

Cálculo de Autovalores, Autovetores e Autoespaços Seja o operador linear tal que. Por definição,, com e. Considere o operador identidade tal que.

Estatística II. Aula 8. Prof. Patricia Maria Bortolon, D. Sc.

APLICAÇÕES DO PEQUENO TEOREMA DE FERMAT

Apêndice Matemático. Se este resultado for inserido na expansão inicial (A1.2), resulta

MATRIZ DA PROVA DE EXAME A NÍVEL DE ESCOLA AO ABRIGO DO DECRETO-LEI Nº 357/2007, DE 29 DE OUTUBRO HISTÓRIA A 10º ANO

Plano de Trabalho Docente Ensino Médio. Habilitação Profissional: Técnico em informática para Internet Integrado ao Ensino Médio

Técnica Pedagógica e Intervenção Educativa

Educação / Expressão Expressões Artísticas Plástica. Físicomotoras

S = evento em que uma pessoa apresente o conjunto de sintomas;

Agrupamento de Escolas de Carvalhos. Escola E.B. 2, 3 Padre António Luís Moreira. Ano Letivo 2014/2015

CESEP Centro de Serviços educacionais do Pará Coordenação do Ensino Médio

Explorar o poder dos homens e das mulheres sobre os recursos

v 4 v 6 v 5 b) Como são os corte de arestas de uma árvore?

EXPRESSÕES LÓGICAS. 9.1 Lógica proposicional AULA 9

ASSUNTO: Contrato Simples (alunos dos 1º, 2º e 3º Ciclos do Ensino Básico e Ensino Secundário) e Contrato de Desenvolvimento (Pré-Escolar)

PLANO DE OFICINA - LEITURA, ORALIDADE E ESCRITA OBJETIVOS JUSTIFICATIVA CONTEÚDOS ESTRATÉGIAS ATIVIDADES RECURSOS DIDÁTICOS

ANO LETIVO PLANIFICAÇÃO DE MÉDIO PRAZO PROFIJ - CURSO DE INFORMÁTICA

2 x. ydydx. dydx 1)INTEGRAIS DUPLAS: RESUMO. , sendo R a região que. Exemplo 5. Calcule integral dupla. xda, no retângulo

ESCOLA SECUNDÁRIA C/3º CEB DE MANUEL DA FONSECA, SANTIAGO DO CACÉM

Laboratório de Física

PROCESSO DE SELEÇÃO PARA DOCENTES EDITAL Nº 02/2019

Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Departamento de Engenharia de Estruturas e Fundações

MANUAL DE NORMAS AGENTE DE CÁLCULO E ACELERADOR

Implementação de Filtros Ativos Usando Amplificadores Operacionais de Transcondutância e Capacitores (OTA-C)

Agrupamento de Escolas de S. Pedro do Sul Escola-sede: Escola Secundária de S. Pedro do Sul. Educação Pré-Escolar CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO

CERTIFICAÇÃO DA QUALIDADE SEGUNDO A REVISÃO DA ISO : APONTANDO PARA A VISÃO HOLÍSTICA DA ORGANIZAÇÃO

ANÁLISE MATEMÁTICA IV A =

MÓDULO 3 PADRÕES DE VIDA

Agrupamento de Escolas de Pinheiro Escola Básica e Secundária de Pinheiro

PLANO DE AMOSTRAGEM PARA TESTES POR ATRIBUTOS

Caderno Algébrico Medição Física

Material Teórico - Módulo: Vetores em R 2 e R 3. Exercícios Sobre Vetores. Terceiro Ano - Médio

a) (0.2 v) Justifique que a sucessão é uma progressão aritmética e indique o valor da razão.

RI406 - Análise Macroeconômica

Transcrição:

Rvista d Torias Filosofias do Estado DOI: 10.21902/ Organização Comitê Cintífico Doubl Blind Rviw plo SEER/OJS Rcbido m: 07.03.2016 Aprovado m: 06.04.2016 O MULTICULTURALISMO COMO FILOSOFIA POLÍTICA: CAMINHOS PARA UMA JUSTIÇA SOCIAL THE PHILOSOPHY OF MULTICULTURALISM: WAYS FOR SOCIAL JUSTICE 1 Adinan Rodrigus da Silvira 2 Augusto Moutlla Npomucno RESUMO O trabalho s rfr ao studo da doutrina da filosofia política dnominada multiculturalismo. A ncssidad d comprndr a socidad contmporâna, fz com qu s optass por invstigar as torias qu fundamntam as principais rivindicaçõs formuladas plos grupos vulnrávis ou minoritários. O problma qu s prtnd rspondr é: Como garantir a aplicação dos diritos fundamntais numa socidad plural, rconhcndo as particularidads d grupos minoritários promovndo açõs para s alcançar a igualdad matrial? A hipóts é d qu o multiculturalismo traz a possibilidad d rfltir sobr ssas qustõs ofrc um novo olhar para nfrntar os conflitos sociais do século XXI. Palavras-chav: Multiculturalismo, Dirito d minorias, Librais, Comunitários, Políticas d rconhcimnto ABSTRACT Th work rfrs to th study of th doctrin of political philosophy calld multiculturalism. Th nd to undrstand contmporary socity, mad thm chos to invstigat th thoris bhind th main claims by vulnrabl or minority groups. Th problm to b answrd is: How to nsur th implmntation of fundamntal rights in a pluralistic socity, rcognizing th particularitis of minority groups and promoting actions to achiv matrial quality? Th hypothsis is that multiculturalism brings th ability to rflct on ths issus and offrs a nw look to addrss th social conflicts of th twnty-first cntury. Kywords: Multiculturalism, Rights of minoritis, Librals, Community, Politics of rcognition 1 Mstr m Dirito Público Evolução Social pla Univrsidad Estácio d Sá RJ, (Brasil). E-mail: adinanrs@gmail.com 2 Mstrando m Dirito pla Univrsidad Candido Mnds, UCAM - RJ, (Brasil). E-mail: adinanrs@gmail.com Rvista d Torias Filosofias do Estado -ISSN: 70

O Multiculturalismo como Filosofia Política: Caminhos para uma Justiça Social INTRODUÇÃO A apropriação do tma ora proposto plo ncontro jurídico prmit analisar a xistência d uma dsigualdad social a partir d um olhar da doutrina do Multiculturalismo. A ncssidad d comprndr com cautla a socidad contmporâna complxa fz com qu s optass por invstigar as torias qu fundamntam as principais rivindicaçõs formuladas plos grupos vulnrávis ou minoritários. Dstart, o problma qu o trabalho prtndrá rspondr é: Como garantir a aplicação dos diritos fundamntais numa socidad plural, rconhcndo as particularidad d grupos minoritários promovndo açõs para s alcançar a chamada igualdad matrial? A hipóts é d qu o Multiculturalismo, como filosofia política, traz a possibilidad d rfltir sobr ssas qustõs ofrc um novo olhar para nfrntar os conflitos sociais do século XXI. Por intrmédio dsta filosofia política, ncontrar-s-ão subsídios para o nfrntamnto do racismo, guiados pla ralização da justiça social a luta por políticas d garantia da dignidad humana. A anális sobr o multiculturalismo stá no crn das principais discussõs do mundo contmporâno. Assim, para qu s dsnvolvss a principal discussão dst trabalho, foi ncssária a aprsntação d alguns concitos prliminars qu prmitirão uma construção lógica do raciocínio, facilitando o ntndimnto acrca do tma, qu, postriormnt, ajudará a confirmar a hipóts suscitada nsta psquisa, a comçar pla dfinição do qu vm a sr o pluralismo, pois situará o problma da ftivação dos diritos fundamntais dntro das socidads multiculturais. A qustão da tolrância no mundo contmporâno prmitirá o dsnvolvimnto das principais idias ntr librais multiculturalistas, notadamnt no qu s rfr à função do Estado na protção dsts diritos fundamntais das minorias grupos minoritários. Rlvant, também, srá a abordagm das concpçõs d igualdad librdad, uma vz qu tais concitos s insrm m um dbat maior ralizado plos filósofos da contmporanidad. Aprsntados os concitos prliminars, o passo sguint é adntrar nas discussõs filosóficas. O marco histórico do multiculturalismo surgiu na Constituição do Canadá m 1982, quando s incluiu a tmática na Constituição canadns, rconhcndo qu o rspito plas difrnças culturais é compatívl com a igualdad dos cidadãos. Como marco tórico, tv origm no dbat ntr librais comunitaristas. D um lado, o libralismo igualitário d John Rawls sus sguidors ;, d outro, o comunitarismo d Charls Taylor. No cntro das discussõs stá a posição qu o Estado o dirito dvm tr diant da concpçõs vida boa Rvista d Torias Filosofias do Estado -ISSN: 71

Adinan Rodrigus da Silvira & Augusto Moutlla Npomucno dos indivíduos. Els dvm sr mantr distants, como dsjam os librais, ou proclamar a xistência d uma vida digna mlhor qu as outras, como dsjam os librais? Tntar-s-á nst trabalho aprsntar os principais argumntos dssas corrnts. Fruto dss mbat d idias surg a doutrina do Multiculturalismo como filosofia política. Dsta forma, foi ncssário dsnvolvr as rflxõs dos principais autors. Charls Taylor com sua política do rconhcimnto, Will Kymlcka a construção das políticas d idntidad Iris Young com sus grupos transvrsais. Há qu sr rssaltado qu o multicultualismo não s rlaciona apnas com a qustão racial. A abordagm s nvolv também com as qustõs d gênro, d class, orintação sxual, dntr outras. Contudo, os limits dss trabalho fizram com qu maiors rflxõs sobr a intrconxão ntr as discriminaçõs ficassm m abrto, para srm dsnvolvidas m trabalhos futuros. No qu diz rspito aos procdimntos técnicos, foi utlizada a psquisa bibliográfica, laborada a partir d matrial já publicado, constituído por livros, artigos d príodicos matrial disponibilizado na intrnt. CONCEITOS PRELIMINARES Discussõs sobr o pluralismo é dvras important, pois situará o problma da ftivação dos diritos fundamntais dntro das socidads multiculturais. A qustão da tolrância no mundo contmporâno prmitirá o dsnvolvimnto das principais idias ntr librais multiculturalistas, notadamnt no qu s rfr à função do Estado na protção dsts diritos fundamntais das minorias grupos minoritários. Dstart, important srá a abordagm das concpçõs d pluralismo, tolrância, igualdad librdad, uma vz qu tais concitos s insrm m um dbat maior ralizado plos filósofos da contmporanidad. Comçando plo concito d pluralismo qu srá d suma importância para qu s possa justificar uma política d rconhcimnto. Rgistr-s qu o rfrido trmo é utilizado plas várias áras do sabr pod tr divrsos significados. Nas palavras d Wolkmr, pluralismo significa multiplicidad d lmntos ou formas d ação; contraponto ao uno, ao cntralismo. 1 1 WOLKMER, Antônio Carlos. Pluralismo jurídico. In: BARRETTO, Vicnt d Paulo (Coord.). Dicionário d filosofia. São Lopoldo: UNISINOS, 2009. p. 637. Rvista d Torias Filosofias do Estado -ISSN: 72

O Multiculturalismo como Filosofia Política: Caminhos para uma Justiça Social Numa prspctiva política, pluralismo é ntndido como uma concpção qu propõ como modlo a socidad composta d vários grupos ou cntros d podr. É uma das corrnts do pnsamnto político qu smpr s opusram continuam a s opor à tndência d concntração unificação do podr. Pod s aprsntar, também, sob dois aspctos: a) como toria, isto é, como tntativa d xplicação global d um conjunto d fnômnos; b) como idologia, ou sja, como proposta d ação prática, não importando s os propósitos são consrvadors, rformadors ou rvolucionários. 2 Sob viés jurídico, a concpção stá rlacionada a mais d uma ralidad, rfr-s à qualidad qu xprssa a coxistência d coisas ou lmntos distintos, nvolv o conjunto d fnômnos autônomos comparaçõs htrogênas qu não s rduzm ntr si. Da msma forma qu o político, o pluralismo jurídico ag contra o individualismo o statismo. Tm como princípios fundamntais a autonomia, a dscntralização, a divrsidad a tolrância. 3 Não mnos important para sta psquisa é a dlimitação do qu s ntnd por tolrância, concito importantíssimo nas socidads contmporânas, fruto d grands rflxõs na filosofia política. Vicnt Barrto alrta qu a palavra possui dois significados qu justificarão a utilização do vocábulo nas prspctivas da rligião, da política da filosofia. O primiro significado sugr uma ausência d rprssão, tanto no pla no da violência física, como nos comportamntos prjudiciais ou opostos à rligião, ao Estado ou aos valors d dtrminada socidad. Nst sntido, a tolrância dsnvolv-s na crnça rligiosa, d qu uma dtrminada autoridad política, qu profssa uma crnça rligiosa spcífica, tolra acita práticas ou opiniõs rligiosas difrnts. O sgundo significado, dntro d uma concpção modrna, a palavra tolrância ganhou um sntido político social mais amplo, uma vz qu passou dfinir a atitud d autoridad política ou d uma pssoa quando s abstêm d pnalizar opiniõs comportamnto divrsos dos próprios. Esta acpção tm sua origm na dissidência rligiosa na Europa da rforma protstant dos séculos XVI XVII. 4 Na contmporanidad, a tolrância libral ficou totalmnt dsvinculada da ralidad social, não consguindo dar rspostas a uma socidad d massas, marcada plo pluralismo cultural. Vrifica-s qu a intolrância rssurg quando não s acita stas caractrísticas. No século XXI, marcado plos conflitos étnicos, políticos rligiosos, vrifica-s a ncssidad d uma rdfinição do concito d tolrância intgrado à justificativa moral. 2 BOBBIO, Norbrto; MATTEUCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário d politica. V.2. 7. d. Brasília: Editora Univrsidad d Brasília, 1995. p.928-932 3 WOLKMER, Antônio Carlos. Pluralismo jurídico. In: BARRETTO, Vicnt d Paulo (Coord.). op cit. p. 638-639. 4 BARRETTO, Vicnt d Paulo. Tolrância. In: BARRETTO, Vicnt d Paulo(Coord.). op cit. p. 819. Rvista d Torias Filosofias do Estado -ISSN: 73

Adinan Rodrigus da Silvira & Augusto Moutlla Npomucno É ncssária a laboração d uma nova ordm jurídica qu pudss atndr as dmandas das novas rlaçõs sociais culturais qu foss ativada por um novo tipo d tolrância. Exmplo dsta cris s vrifica m paíss como Almanha, França EUA qu, provavlmnt, tntam aplicar o modlo da tolrância do Estado libral, nas complxas socidads d hoj m dia. As propostas aprsntadas nst trabalho podrão sugrir um caminho a sr sguido. Outro dbat qu irá contribuir com o dsnvolvimnto dst trabalho é vrificar s as socidads dmocráticas contmporânas atuam no sntido d qu suas açõs stjam coadunadas com a idia d isonomia. Isso s faz ncssário uma vz qu, para qu sistmas políticos jurídicos possuam lgitimidad, dv-s tr bm dfinido st concito d igualdad. É important rssaltar qu, apsar das várias concpçõs qu a palavra igualdad pod aprsntar, srá trabalhado apnas a igualdad jurídica, ou sja, alguns aspctos jurídicos da igualdad. A igualdad como princípio jurídico é abordada sob duas óticas, a da igualdad formal da igualdad matrial, qu são concitos jurídicos distintos qu surgiram m momntos históricos difrnts. A chamada igualdad formal nasc s dsnvolv dntro do contxto do Estado libral, na qual as rvoluçõs librais contstavam o modlo absolutista d podr a valorização do indivíduo s dava m razão da sua origm class social. Com a drrubada do sistma absolutista, não s justificava a manutnção d privilégios qu caractrizavam st rgim. Agora, o Estado dvria aplicar a li, dsconsidrando qualqur situação individual qu pudss sr considrada advinda dos antigos privilégios. A li dv sr aplicada igualmnt a todos, pois, nsta prspctiva, todos são iguais prant a li. Com as transformaçõs ocorridas na socidad, principalmnt m razão da rvolução industrial, a idia d igualdad construída no modlo libral não consgu rsolvr os problmas do mrgnt século XX. Apsar d a li dizr qu todos são iguais prant la, na prática social vrifica-s qu os homns não podm sr tratados d forma igual porqu não são iguais. O qu s constata é qu poucos afortunados conomicamnt usufrum do princípio da igualdad a grand maioria d misrávis não possuíam qualqur acsso aos diritos d librdad propridad. Assim, o Estado Social d Dirito foi chamado a atuar na socidad como uma ntidad ncssária a pôr fim às dsigualdads qu spara uma pquna lit conômica d uma maioria d pobrs misrávis. Novos diritos fundamntais irão surgir dstas transformaçõs, como é o xmplo do dirito à ducação à saúd pública. O Estado social ainda continua a s utilizar do concito da igualdad formal, mas vai concbê-la com muito mais força m sua outra prspctiva, a igualdad matrial. Rvista d Torias Filosofias do Estado -ISSN: 74

O Multiculturalismo como Filosofia Política: Caminhos para uma Justiça Social Na contmporanidad, obsrva-s qu as constituiçõs concbidas no chamado noconstitucionalismo, sguindo o concito d igualdad construído no Estado Social, passam a obrigar o Estado a adotar mdidas ncssárias à rdução das dsigualdads matriais. 5 Nsta nova concpção d igualdad, pod-s afirmar qu o Estado dv atuar no sntido d criar a igualdad através do adimplmnto das prstaçõs statais, qu corrspond a ftivação dos diritos fundamntais dnominados d sgunda gração, também através da adoção as chamadas mdidas d discriminação positiva. 6 É na prspctiva da sgunda forma d s criar a igualdad qu s abr uma qustão: xist a possibilidad d qu s considr como juridicamnt válida uma situação ou tratamnto qu fira a isonomia? Rosa sugr a rsposta quando diz qu admit-s o tratamnto dsigual apnas quando sta dsigualdad busqu a ralização d um objtivo juridicamnt acito, cuja implmntação sria impossívl sm a xistência do tratamnto dsigual. A discriminação só podrá sr acita s sta s rlacionar à condição d infrioridad d alguém m virtud d sr portador d uma caractrística spcífica. Estas são as chamadas discriminaçõs positivas, com las s prtnd stablcr mdidas qu rparm uma situação d dsigualdad fática a qu stão submtidas uma minoria. 7 Por mio das açõs afirmativas prtnd-s dar tratamntos compnsatórios a crtos grupos para qu s possa promovr uma intgração social. Por fim, ncrrando o tópico d concitos prliminars, a dfinição d librdad nas socidads contmporânas podrá favorcr ou não o dsnvolvimnto das idias do multiculturalismo. Também o trmo librdad pod possuir várias dfiniçõs idntificadas ao logo da história da filosofia política, a sabr: autodomínio, ausência d coação xtrna, possibilidad d participação na vida pública, vontad livr, livr arbítrio capacidad d autodtrminação. Na antiguidad grga, a concpção librdad significava a possibilidad d participação na vida pública da cidad. Contudo, st concito não ra xtnsivo à todos os cidadãos, xistindo, assim, a possibilidad d coxistir o instituto da scravidão. Durant a idad média, a idia d librdad vai sofrr influncia do catolicismo na Europa. Um dos principais filósofos qu rprsntava sta nova forma d pnsar sobr a librdad foi Santo Agostinho. 5 ROCHA, Carmm Lúcia Antuns. Ação afirmativa: O contúdo dmocrático do princípio da igualdad jurídica. Rvista d informação lgislativa, Brasília, n.131, 1996. p.286. 6 ROSA, André Vicnt Pirs. Igualdad. In: BARRETTO, op cit. p. 460. 7 Idm. Rvista d Torias Filosofias do Estado -ISSN: 75

Adinan Rodrigus da Silvira & Augusto Moutlla Npomucno No o advnto do Rnascimnto, a palavra librdad s dsnvolvia m dois sntidos: o primiro ligado à librdad política, o sgundo, dircionado à librdad d pnsamnto. 8 Com frvscência filosófica do iluminismo, a librdad stará no cntro d vários mbats conflitos. Obsrva-s qu st movimnto prconiza a garantia das librdads dos diritos dos cidadãos, além d difundir um concito d librdad humana guiado pla razão pla rflxão filosófica. Foi nsta prspctiva qu surgiram os diritos fundamntais d primira gração, ncontrados nas primiras Constituiçõs Burgusas. 9 No século XIX, Marx vai dsnvolvr um outro concito para librdad, tndo como parâmtro o modlo d socidad burgusa da sua época, ond a librdad do trabalhador s rsumia à alinação d sua mão d obra. Por fim, no século XX, no âmbito da filosofia política, trmos a toria dsnvolvida por Rawls, ond procura dfndr o libralismo político sm adrir aos xcssos do libralismo conômico. 10 LIBERAIS VERSUS COMUNITÁRIOS Dpois d dsnvolvr as principais idias qu circulam a tmática multiculturalista, nst itm há qu s aprsntar a discussão filosófica qu nsjou o surgimnto da rfrida toria. Sguindo uma classificação abordada por Barroso 11, pod-s afirmar qu o marco histórico do multiculturalismo surgiu na Constituição do Canadá m 1982 quando s incluiu a tmática no Txto Fundamntal, rconhcndo qu o rspito plas difrnças culturais é compatívl com a igualdad dos cidadãos. Como marco tórico tv origm no dbat ntr librais - vinculados ao formalismo racional kantiano tndo como xponts principais John Rawls, Ronald Dowrkin, ntr outros - comunitaristas ligados a racionalidad histórica hgliana, capitanados por Charls Taylor. A discussão tm início no fim da década d 1970 m razão da publicação da obra d Rawls dnominada Uma Toria da Justiça 12. Crtamnt, após a dição dst livro as duas corrnts passam a nfrntar o dbat acrca das rlaçõs ntr ética, dirito política m socidads plurais. 8 MENDES, Alxandr Fabiano. Librdad. In: BARRETTO, Vicnt d Paulo (Coord.).op cit., p. 535. 9 Ibidm., p. 536. 10 Ibidm.,, 2009. p. 537-538. 11 Luís Robrto Barroso aprsnta o Noconstiucionalismo na prspctiva d um marco histórico, filosófico tórico. Vr BARROSO, Luiz Robrto. Noconstitucionalismo Constitucionalização do Dirito. (O Triunfo Tardio do Dirito Constitucional no Brasil). Rvista Eltrônica sobr a Rforma do Estado (RERE), Salvador, Instituto Brasiliro d Dirito Público, no. 9, março/abril/maio, 2007. Disponívl na Intrnt: < http://www.diritodostado.com.br/artigo/luis-robrto-barroso/noconstitucionalismo--onstitucionalizacao-do- diritoo-triunfo-tardio-do-diritoconstitucional-no-brasil>. Acsso m: 10 dz. d 2015. 12 No original A Thory of Justic. Cambridg: Havard Univrsity Prss, 1971. Rvista d Torias Filosofias do Estado -ISSN: 76

O Multiculturalismo como Filosofia Política: Caminhos para uma Justiça Social Rawls dfnd qu somnt o indivíduo é possuidor d diritos o qu o Estado dv sr nutro m rlação aos vários concitos d bm dos cidadãos às várias concpçõ s d vida boa das comunidads qu o constitum. O autor adota o significado d pluralismo no sntido dscrvr a divrsidad d concpçõs individuais acrca da vida digna, ou sja, conforma um idal d justiça qu busca assgurar a cada indivíduo a ralização do su projto pssoal d vida. 13 No idário libral, somnt o princípio da isonomia d diritos, librdads oportunidads pod srvir como uma pauta normativa da justiça. O univrsalismo proporciona a igualdad d diritos d qualqur indivíduo, com librdad para scolhr um dtrminado contxto étnico, cultural ou político, bm como fundamnta a socidad política sobr a vontad dos cidadãos. O indivíduo stá librado d qualqur marco social cultural d prtnça, assim como a igualdad ntr os homns stará ligada a possibilidad d stablcr um marco comum d convivência. 14 D modo invrso, os comunitaristas prgam qu a comunidad é important font d idntidad pssoal o Estado dv rconhcr os diritos spcíficos daqula própria coltividad para garantir a sua xistência. Para st corrnt, o pluralismo caractriza-s pla divrsidad d idntidads sociais culturais. Assim, prtndm construir um concito d justiça qu não stja vinculado a idia d imparcialidad, mas sim ao stablcimnto d um consnso ético, com bas m valors compartilhados. No ntndr comunitário, não há como compatibilizar justiça imparcialidad 15 Um dos pontos divrgnts das duas corrnts stá ligado a prioridad qu os librais concdm à autonomia privada os diritos humanos sobr a concpção d bm, posição dfndida pro Rawls. Os comunitaristas acrditam qu nm o dirito nm a just iça podm sr antriors a dtrminadas concpçõs d bm. Em suma, nquanto os librais dfndm a autonomia privada os diritos individuais, os comunitários assguram a autonomia pública a sobrania popular. 16 13 CITTADINO, Gisl. Comunitarismo. In: BARRETTO, Vicnt d Paulo (Coord.). op cit.,. p. 137. 14 ECHEVERRÍA, Javir Pña. Indntidad comunitária y univrsalismo. In: LOIS, Ccília Caballro. Justiça dmocracia: ntr o univrsalismo o comunitarismo. São Paulo: Landy Editora, 2005. p. 93. 15 CITTADINO, op. cit., p. 137. 16 Ibidm., p. 136 Rvista d Torias Filosofias do Estado -ISSN: 77

Adinan Rodrigus da Silvira & Augusto Moutlla Npomucno A DOUTRINA MULTICULTURALISTA Encontrar uma dlimitação concitual para o multiculturalismo não é uma tarfa fácil, uma vz qu xistm várias polêmicas no plano tórico da filosofia. Isto porqu, sta tmática, também stá insrida m outros contxtos cintíficos como o dirito, a política, a conomia a antropologia. Em fac dsta problmática, tntarmos aprsntar algumas concpçõs qu stariam alinhadas com o propósito dst trabalho. Na sua primira visita ao Brasil, m abril maio d 2013, o filósofo contmporâno Charls Taylor, na palstra profrida no Instituto Humanitas Unisinos, apontou qu o trmo multiculturalismo é confuso m sua dlimitação d sntido qu pod significar várias coisas difrnts. Sgundo Taylor, o trmo foi criado na Austrália logo dpois utilizado no Canadá, ra um concito qu s rfria às pssoas do fnômno da globalização. Como sts paíss rcbram um fluxo muito grand d imigrants, dos mais divrsos paíss uropus, quando da sua colonização, o snso d divrsidad crscu muito, assim, o multiculturalismo passou a sr ntndido como um conjunto d políticas para lidar com sta divrsidad. Num primiro momnto, o trmo foi ntndido como um incntivo à criação d gutos, é dsta manira qu as socidads uropias intrprtavam o trmo frnt à discussão das socidads plurais, ou sja, numa prspctiva d xclusão. No Canadá, país ond viv o autor, o multiculturalismo prtndia intgrar pssoas d difrnts nacionalidads. Est ntndimnto foi acompanhado d propostas d insrção rconhcimnto d pssoas, rconhcimnto como cidadão, com bas numa cidadania comum. 17 Na prspctiva d Raz, o multiculturalismo pod sr ntndido como a coxistência, m uma msma socidad política, d um númro considrávl d grupos culturais dsjosos capazs d mantr suas distintas idntidads. 18 Também é concbido como a rivindicação d qu culturas minoritárias ou modos d vida não são suficintmnt protgidos somnt com diritos individuais, qu, portanto, dvm sr também protgidos com um conjunto spcial d diritos ou privilégios. 19 Sguindo a linha do comunitárista, o multiculturalismo rjita a posição do libralismo da moralidad univrsal, uma vz qu não trabalha com a afirmação d uma individualidad librada d qualqur marco social cultural d prtnça, nm apnas com a igualdad básica ntr os homns. Ao contrário, acntua claramnt as idntidads coltivas, Rvista d Torias Filosofias do Estado -ISSN: 78

O Multiculturalismo como Filosofia Política: Caminhos para uma Justiça Social spcíficas, htrogênas difrnciadas. E numa crítica a falta d ralismo da toria libral, propõ mdidas concrtas como, por xmplo, as políticas públicas capazs d facilitar o progrsso sprado plos mmbros dos grupos. 20 Outro ponto qu o multiculturalismo não compartilha com o libralismo é sobr a nutralidad do Estado Libral. Dtrminados grupos ou sgmntos d indivíduos, pla suas simpls xistências, não obtêm acsso a uma bas conômica não têm sua cultura sus valors considrados, quais sjam, suas idntidads rconhcidas socialmnt. 21 No itm sobr igualdad, vrificamos qu, contmporanamnt, o principio da igualdad admit o tratamnto dsigual quando sta dsigualdad buscass a ralização d um objtivo juridicamnt acito, cuja implmntação sria impossívl sm a xistência do tratamnto dsigual. É nst contxto qu idntificamos um dos lmntos cntrais do multiculturalismo, a difrnça. Contudo, é ncssário obsrvar como la atua no mio social, vrificando s é um fator d nobrcimnto ou mpobrcimnto, um trunfo ou uma amaça. A possibilidad da difrnça, no ntndr da ts multicultural, prmit qu o Estado possa ficar compromtido com a sobrvivência o surgimnto d grupos particulars, d modo qu os diritos básicos dos sus mmbros possam sr assgurados. Rconhcr a difrnça xig rspito a singularidad da cada um, também, a visão d mundo d cada um, construída por força do grupo ao qual prtnc, ou sja, o rconhcimnto da difrnça xig o rspito ao plano d vida d cada um, construída por força dos valors qu compartilha do grupo no qual stá insrido ou com o qual é idntificado. 22 Estas dfiniçõs são dvras importants, pois, no mundo atual, é muito difícil ncontrar uma socidad dmocrática qu não possua controvérsia acrca do dvr d rconhcimnto dos Estados à grupos minoritários. Como vrmos a sguir, st rconhcimnto srá o ponto principal da toria dsnvolvida por Charls Taylor. 17 TAYLOR, Charls. O dbat librais-comunitários: a ncssidad d uma fusão cultural prmannt. Palstra profrida no Instituto Humanista Unisinos, m 24/04/2013. Txto d Márcia Jungs. Disponívl m: < http://www.ihu.unisinos.br/noticias/519584-charls-taylor--odbat-librais-comunitarios-a-ncssidad-d-uma-fusao-cultural- prmannt> Acssado m: 26.05. 2014. 18 RAZ, Josph. Multiculturalism. In: LOIS, Ccília Caballro.op cit,. p. 96. 19 OKIN, Susan Mollr. Is multiculturalismo bad for womn? Ibidm., p. 97. 20 TAVARES, Quirino Lops Castro Tavars. Multiculturalismo. Ibidm., p. 98. 21 BERTASO, João Martin. Cidadania dmandas d igual dignidad: Dimnsão d rconhcimnto da divrsidad cultural. In: OLIVEIRA JUNIOR, José Alcbíads d (org.). Facs do multiculturalismo: toria política dirito. Santo Ânglo: EDIURI, 2007. p. 59 Rvista d Torias Filosofias do Estado -ISSN: 79

Adinan Rodrigus da Silvira & Augusto Moutlla Npomucno POLÍTICA DE RECONHECIMENTO DE CHARLES TAYLOR Para comprndr mlhor o tma ora psquisado, é imprioso conhcr, msmo qu, suprficialmnt, os pnsamntos d alguns filósofos do multiculturalismo, a comçar por Charls Taylor. Taylor é considrado um dos mais importants filósofos da atualidad m spcial da filosofia política contmporâna. Dsprta intrss no âmbito jurídico quando aprsnta sua ts d rconhcimnto, ou sja, quando aprsnta o discurso qu vincula idntidad, autnticidad xigência d rconhcimnto da singularidad d cada um. 23 Nsta prspctiva, às instituiçõs públicas dvm rconhcr as idntidads particulars d grupos, partindo do prssuposto dmocrático qu xig igualdad d status para as culturas para os sxos, por xmplo. A dignidad humana xig uma adquada política d rconhcimnto, d rspito à pssoa como la s dfin, sm uma imposição do qu sja sua idntidad ou mnosprzo a sta idntidad. 24 O concito d rconhcimnto part da idia filosofia almã da idntificação cognitiva d uma pssoa é a atribuição d um valor positivo a ssa pssoa, parcido com o qu ntndmos como rspito. O rconhcimnto surg na discussão filosófica m Hgl. Sua obra mais famosa sobr o assunto é a sção Snhorio Escravo da Fnomnologia do Espírito, ond Hgl analisa o qu l chama d luta plo rconhcimnto, com a mort d Hgl a problmática do rconhcimnto acabou dsaparcndo do dbat acadêmico. É Taylor qu rsgata a discussão quando afirma qu a ngação do rconhcimnto não corrspond somnt a uma dmonstração d dsrspito, mas sim uma rdução da capacidad qu uma pssoa, ou um grupo tm d construir sua autostima. A partir dsta contribuição, o dbat sobr o rconhcimnto crscu s spalhou, inclusiv, alguns autors do quilat d Amy Gutmann, Jungn Habrmas, Anthony Appiah Michl Walzr scrvram sobr o tma. 25 22 TAVARES, Quirino Lops Castro Tavars. Multiculturalismo. In: LOIS, Ccília Caballro. Op. Cit. p. 101-103. 23 NIGRO, Rachl. Charls Taylor, 1931-. In: BARRETTO, Vicnt d Paulo(Coord.). op cit., 793-794. 24 OLIVEIRA JUNIOR, José Alcbíads d. Multiculturalismo: O olho do furacão no dirito pós-modrno. Rvista d Diritos Culturais, v.1, n.1, Dz 2006. Disponívl m: < http://srvapp2s.urisan.tch.br/sr/indx.php/ diritoscult urais /articl/viwarticl/121> Acssado m 10 d jan. 2016. 25 ASSY, Bthânia; FERES JUNIOR, João. Rconhcimnto. In: BARRETTO, Vicnt d Paulo (Coord.). op cit., p. 705-706. Rvista d Torias Filosofias do Estado -ISSN: 80

O Multiculturalismo como Filosofia Política: Caminhos para uma Justiça Social Nsta tmática, su txto mais famoso é Política d Rconhcimnto, d 1992, rpublicado como Multiculturalismo a Política d Rconhcimnto, m 1994, publicado no Brasil na coltâna Argumntos Filosóficos, m 2000. Nst txto, Taylor mapia os argumntos cntrais utilizados plos dfnsors do multiculturalismo, rvlando sus prssupostos rsgatando suas raízs. Assim, idntifica três formas d rconhcimnto: a família, a socidad civil o Estado. Em rlação a primira, discut a dpndência qu a formação da idntidad individual tm do rconhcimnto qu lh é dmonstrado plos sus outros significativos dntro do âmbito familiar. Prcb-s qu msmo nst plano mais básico, sta formação s dá d manira dialógica. A sgunda forma d rconhcimnto corrspond a nxrgar o outro como dtntor d diritos iguais, um rconhcimnto d uma igualdad quas-univrsal d todos os cidadãos, sta rlação s xprssa na forma da li positiva do Estado qu dá garantias formais d rspito aos diritos civis políticos d todos. A trcira última forma, qu é do intrss fulcral dst trabalho, s aprsnta como rconhcimnto cultural, o qual corrspond à valoração positiva por part da socid ad m gral dos stilos d vida, valors, costums d indivíduos grupos sociais. 26 O filósofo canadns critica o modlo univrsalista d Estado-Nação, propondo um stado dmocrático multicultural criado a partir d um diálogo infinito com as comunidads culturais grupos étnicos, rssaltando qu sts grupos possum diritos fundamntais, bas d uma socidad multicultural. Taylor aprsnta também o homm como um sr moral um sujito social qu procura sua flicidad na prtnça à sua comunidad cultural. 27 Taylor situa a fundação do sujito na intração com o outro, rlacionando su dbat com a dignidad da pssoa humana, ou sja, o dvr d rspitar o outro. É o qu podmos ntndr no sguint trcho: Assim sndo, minha dscobrta d minha idntidad não implica uma produção d minha própria idntidad no isolamnto; significa qu u a ngócio por mio do diálogo, part abrto, part intrno, com o outro. Eis porqu o dsnvolvimnto d um idal d idntidad grada intriormnt dá uma nova importância ao rconhcimnto. Minha própria idntidad dpnd crucialmnt d minhas rlaçõs dialógicas com os outros. 28 26 ASSY, Bthânia; FERES JUNIOR, João. Rconhcimnto. In: BARRETTO, Vicnt d Paulo (Coord.). op cit., p. 706. 27 TAYLOR, Charls. Multiculturalismo. apud KROHLING, Aloísio. Os diritos humanos na prspctiva da antropologia cultural. Rvista d diritos garantias fundamntais, Vitória,n 3, jul./dz., 2008, p.155-182. 28 TAYLOR, op. cit., p. 248 Rvista d Torias Filosofias do Estado -ISSN: 2526-9652 Brasília v. 2 n. 1 p. 1-19 Jan/Jun.2016. 81

Adinan Rodrigus da Silvira & Augusto Moutlla Npomucno Para Taylor, o lugar dst diálogo ntr Estado as culturas sria a sfra pública ond dvr-s-ia discutir qualqur tma qu foss vital para sobrvivência individual coltiva. Dfnd, assim, as políticas rlacionadas à dignidad o rconhcimnto público dos diritos dos divrsos grupos. Citadino afirma qu Taylor não s intitula um comunitarista ou multiculturalista, na vrdad, s posiciona como um adpto d um libralismo tolrant, numa posição conciliadora ntr o libralismo kantiano a politica da difrnça d matriz hgliana, uma vz qu aprsnta um novo modlo d socidad libral qu não prconiza a aplicação d rgras univrsais qu acita discussõs sobr mtas coltivas. 29 WILL KYMLICKA E A CONSTRUÇÃO DE POLÍTICAS DE IDENTIDADE Outro dfnsor important da tmática multiculturalista é Will Kymlicka, filósofo canadns, qu procurou psquisar o rconhcimnto dos diritos d cidadania o papl dsmpnhado pla socidad civil na construção d políticas d idntidad divrsos modlos d multiculturalismo. Para Krohling, Will Kymlicka prtnc uma corrnt libral por mais contraditória qu a xprssão possa sr - pois dfnd a ralização d um programa libral, dmocrático modrno, sob um nfoqu da ralização dos diritos das minorias dos grupos, ou sja, rconstruiu uma ts libral para dar soluçõs qu a posição original d Rawls não ncontrava, como por xmplo, garantir a igualdad ral ntr indivíduos grupos m socidads marcadas pla divrsidad social cultural. 30 Estas minorias podm sr ntndidas d duas formas: a primira, dnominada minorias nacionais, são os povos qu habitavam os trritórios dos atuais Estados qu prdram a luta pla indpndência ou qu foram colonizados. Nsts casos, Kymlicka dfnd a idia d um auto-govrno, uma autonomia trritorial, uma protção à propridad da trra à língua matrna. A sgunda, classificada como minorias étnicas, são grupos formados por imigrants por pqunas sitas tnorligiosas. Aqui, ntnd qu o Estado dv facilitar a intgração, a obtnção d diritos d cidadania igualdad d acsso à cultura. Estas mdidas isntam os sus bnficiários do cumprimnto d algumas lis rgras do grupo majoritário, prmitindo práticas culturais rligiosas spcíficas. 31 Rvista d Torias Filosofias do Estado -ISSN: 82

O Multiculturalismo como Filosofia Política: Caminhos para uma Justiça Social Em uma raríssima publicação m língua portugusa, Kymlicka dfnd a idia qu a inclinação do multiculturalismo somnt pod sr ntndida como um novo stágio do dsnvolvimnto gradual da lógica dos diritos humanos,, m particular, da lógica da idia d igualdad inrnt a todos os srs humanos, tanto como indivíduos quanto como povos. Assim, cria uma nova toria ntr as bass do libralismo do comunitarismo. Esta afirmação part das críticas fitas no sntido d ntndr o papl do multiculturalismo m rlação aos diritos humanos. Para alguns, como Alain Finkilkraut, o multiculturalismo sugr um abandono do princípio dos diritos humanos univrsais, para outros, como o próprio Kymlicka, o multiculturalismo é inspirado nst princípio. 32 Para justificar sua ts, dsnvolv suas idias sobr duas óticas: a) Primiro, xamina como os idais dos diritos humanos srviram como uma inspiração para dmandas plo multiculturalismo, mdiant dslgitimação d hirarquias étnicas raciais tradicionais. Sgundo o autor, com o advnto da Dclaração Univrsal d Diritos Humanos, d 1948, houv um rompimnto da doutrina d hirarquia étnica racial, isto é, o ntndimnto qu alguns povos podriam impor rgras por s considrarm supriors a outros. Há qu rssaltar qu sta ra uma idia difundida nos paíss ocidntais. O sistma colonial qu a Europa impunha m paíss d África Ásia, basava-s nsta doutrina. Após a Sgunda Gurra os horrors qu st tipo d intrprtação provocou na Almanha nazista, os paíss rsolvram modificar o princípio. 33. 29 CITTADINO, Gisl. Comunitarismo. In: BARRETTO, Vicnt d Paulo(Coord.), op cit., p. 138 30 KROHLING, Aloísio. Op cit. p.155-182. 31 KYMLICKA apud MOREIRA, Concição. Multiculturalidad multiculturalismo. In: ROSAS, João Cardoso (org.). Manual d filosofia política. Coimbra: Almdina, 2008. p.232-235. 32 KYMLICKA, Will, multiculturalismo libral Diritos Humanos. In: SARMENTO, Danil; IKAWA, Danila; PIOVESAN, Flávia (Coord). Igualdad, difrnça diritos humanos. Rio d Janiro: Lumn Juris, 2010. p.219-221. 33 Ibidm., p. 221. Na contmporanidad, ao mnos formalmnt, o princípio da iguald não aprsnta maiors discussõs. Nsta prspctiva, vr ifica-s o aparcimnto d vários movimntos políticos contstando a prsnça rmanscnt d hirarquias étnicas Rvista d Torias Filosofias do Estado -ISSN: 2526-9652 Brasília v. 2 n. 1 p. 1-19 Jan/Jun.2016. 83

Adinan Rodrigus da Silvira & Augusto Moutlla Npomucno raciais, como por xmplo, o procsso d dscolonização qu tv su apogu ntr os anos d 1948 1966. Um sgundo xmplo foi o stágio d dssgrgação racial, qu s dsnvolvu ntr 1955 1966, iniciada plas lutas por diritos civis dos afro -amricanos. Trciro xmplo dsts movimntos, podmos vrificar na luta d grupos étnico-culturais qu lutam ao rdor do mundo contra a prsnça das hirarquias supracitadas, nst grupo podmos idntificar os povos indígnas, as minorias nacionais como os habitants d Qubc no Canadá os católicos na Irlanda do Nort os imigrants caribnhos do Rino Unido qu adotaram a msma stratégia dos afro-amricanos. 34 b) A sgunda ótica analisa como os idais dos diritos humanos limitam as dmandas plo multiculturalismo, influnciando como stas dmandas são struturadas, guiando-as slcionando-as d acordo com os valors subjacnts às normas d diritos humanos. É sta função limitadora qu ajuda a xplicar porqu os Estados os grupos dominants tornam-s mais propnsos a acitar as dmandas das minorias. Esta limitação dvrá star pautada nos diritos humanos, no libralismo dos diritos civis no constitucionalismo dmocrático, ou sja, os idais dst novo multiculturalismo dv star pautado no dvr d justiça, tolrância da inclusão. Kymlicka ntnd qu nas socidads dmocráticas ocidntais xist uma confiança para a adoção das rformas multiculturais, pois xistm mcanismos lgais para protgr os diritos humanos originais, também, porqu há um consnso sobr os valors libraisdmocráticos qu prpassam linhas étnicas. Kymlicka acrdita qu com a implmntação do chamado libralismo multicultural, sts valors crscrão com o tmpo tomarão rumo firm através d linhas étnicas, raciais rligiosas, srão assimilados tanto plos grupos minoritários quanto plos majoritários, st fato já pod sr constatado m comunidads indígnas qu s autogorvrnam. 35 34 Ibidm. p. 224. 35 KYMLICKA, Will, multiculturalismo libral Diritos Humanos. In: SARMENTO, Danil; IKAWA, Danila; PIOVESAN, Flávia (Coord). Op cit., p. 225-228. Rvista d Torias Filosofias do Estado -ISSN: 84

O Multiculturalismo como Filosofia Política: Caminhos para uma Justiça Social O dsafio às dmocracias librais é transformar as antigas rlaçõs ntr sts grupos minoritários m rlacionamntos d cidadania libral-dmocrática, tanto ntr os mmbros d minorias o Estado vrtical -, quanto as rlaçõs ntr mmbros d difrnts grupos rlação horizontal -. O Multiculturalismo libral part da prsunção d complxidad das socidads, dsta forma, invitavlmnt, irão surgir dmandas étnico -politicas d difrnciação d grupos. A solução para implmntar a cidadanização não é acabar com as dmandas difrnciadoras, como acontcia no passado, mas sim formulá-las através da linguagm dos diritos humanos, das librdads civis da rsponsabilidad dmocrática. Para o autor, st modlo d multiculturalismo já du provas, nas últimas décadas, qu podrá srvir como um vículo ftivo para criar consolidar rlaçõs d cidadania libral- dmocrática m Estados multiétnicos, principalmnt m paíss como o Canadá a Austrália. 36 IRIS YOUNG E OS GRUPOS TRANSVERSAIS As obras dos pnsadors antriors são considradas importants, contudo, não sgotam a tmática multiculturalista. Nsta abordagm é obrigatório s rfrir a toria d Iris Young qu stnd o critério d grupos qu mrçam o rconhcimnto do Estado, ntndndo qu, além das minorias nacionais culturais, como índios, hispânicos asiáticos, xistm também grupos transvrsais como as mulhrs, trabalhadors, dficints ligados a uma opção sxual. A partir da década d 80 do século XX, vrifica-s o aparcimnto d vários autors autoras amricanos qu comçam a dsnvolvr psquisas dntro das principais id ias da Toria Crítica do Dirito, matriz filosófica d origm almã. Uma dstas autoras é Iris Young, qu trabalha também com as bass do multiculturalismo. D acordo com Silva, Young é uma das xponts da chamada nova squrda fminista nort-amricana. 37 36 Ibidm., p. 228-230. 37 SILVA, Flip Gonçalvs. Iris Young, Nacy Frasr Shyla Bnhabib: uma disputa ntr modlos críticos. In: NOBRE, Marcos. (org.). Curso livr d toria crítica. 3.d. Campinas: Papirus, 2013. p.200. Rvista d Torias Filosofias do Estado -ISSN: 2526-9652 Brasília v. 2 n. 1 p. 1-19 Jan/Jun.2016. 85

Sua principal obra qu rforça a idia dst trabalho é Justic and th politics of diffrnc, publicada no ano d 1990. Vrifica-s qu nsta obra a autora formula críticas contra as torias da justiça contmporânas as torias sociais dscritivas. Para Young, o normativismo das torias d justiça part d rflxõs abstratas sm lvarm m conta a ralidad d alguns grupos sociais, ainda, tntam rduzir as prtnsõs por justiça a uma unidad, privilgiando a homognidad m dtrimnto da difrnça cultural. No tocant as torias sociais dscritivas, vrifica a manutnção do paradigma positivista na produção das psquisas, uma vz qu não considra os potnciais d transformação social como lmntos constitutivos da ralidad qu srá obsrvada. Assim, a solução sria adotar uma toria qu buscass uma avaliação normativa da ralidad social invstigada, ou sja, sm partir d um formato pré-xistnt d uma socidad justa ou virtuosa, mas rtirar sts concitos dos próprios contxtos históricossociais. 38 Os studos d Young stão cntrados nos movimntos sociais nort-amricanos das Adinan Rodrigus da Silvira & Augusto Moutlla Npomucno décadas d 1970 1980, utilizando como método d psquisa o nraizamnto social, isto é, o studo passa a sr laborado m razão d uma intrprtação d tais movimntos qu vm a sr justiça injustiça. D acordo com Young, as formas d injustiça social idntificadas a partir dos grupos psquisados podm sr agrupadas m duas catgorias principais: a oprssão a dominação. A autora assim dfin stas duas catgorias: Oprssão consist m procssos institucionais sistmáticos qu impdm algumas pssoas d aprndr a usar as habilidads satisfatórias xpansivas m ambints socialmnt rconhcidas, ou procssos sociais institucionalizadas qu inibm a capacidad das pssoas para s comunicar com os outros ou para xprssar sus sntimntos prspctivas sobr a vida social m contxtos ond outros podm prstar atnção. Enquanto as condiçõs sociais d oprssão, muitas vzs inclum privação matrial ou má distribuição, ls também nvolvm qustõs além da distribuição, como mostrari no Capítulo 2. Dominação consist m condiçõs institucionais qu inibm ou impdm as pssoas d participar na dtrminação d suas açõs ou as condiçõs d suas açõs. Pssoas vivm dntro d struturas d dominação s outras pssoas ou grupos podm dtrminar, sm rciprocidad, as condiçõs da sua ação, qur dirtamnt ou por força das consquências struturais d suas açõs.(tradução livr) 39 38 YOUNG, Iris Marion. Justic and th politics of diffrnc.nw Jrsy: Princton Univrsity Prss, 1990. p. 34. 39 Ibidm., p. 38 Rvista d Torias Filosofias do Estado -ISSN: 86

O Multiculturalismo como Filosofia Política: Caminhos para uma Justiça Social Há qu s rgistrar qu na psquisa d Young a noção d oprssão s apsnta d uma outra forma, não mais como uma corção imposta por um oprssor, mas nas práticas cotidianas, muitas vzs inconscints, rproduzidas d forma sistmática na autocompnsão cultural da socidad, na divisão d trabalho nas formas d organização política. 40 Como é o caso da xploração do trabalho das donas d casa, ond não há rmunração acito d forma sm maiors contstaçõs pla socidad ocidntal. 41 Para uma mlhor comprnsão da rfrida oprssão, Young a divid m cinco catgorias, a sabr: xploração, marginalização, impotência, imprialismo cultural violência. 42 No capitulo 2 da obra citada, a autora vai dsnvolvr cada uma das formas d oprssão na prspctiva dos grupos transvrsais já apontados. No tocant a sgunda catgoria d injustiça - a dominação qu stá ligado ao bloquio das capacidads d autodtrminação, Young diz qu as formas d manifstação stão rlacionadas às dbilidads d participação rprsntação política no intrior do aparato burocrático-statal. A autora contsta, inclusiv, a atuação do Estado do bm-star social qu passa a intrvir d manira indirta na vida social, intrfrindo na rprodução cultural, na scolha d hábitos qu configuram a vida íntima, dntr outros aspctos, sm qu os grupos aftados possam participar da laboração dstas açõs públicas. Para qu st grupos possam sjam contmplados plas açõs matriais qu o Estado proporciona, ls são obrigados a s adaptar aos padrõs prviamnt dlimitados. 43 Além do Estado, os mios d produção cultural, como os jornais, rádios, tlvisão, agncias d publicidad tc, também possum fort influncia na tntativa d normatização formatação d padrõs d comportamnto, o qu acaba contribuindo para o bloquio das capacidads d autodtrminação, uma vz qu contstam padrõs d consumo, vstuário, comportamnto sxual, indicando uma prjudicialidad ao grupo dominant. 44 Para Young st quadro só pod sr suprado através das políticas d difrnça, construídas spcificamnt para aquls grupos com o objtivo d alcançar a igualdad ral. Para combatr a indifrnça, propõ a rprsntação política dsts grupos para qu suas ncssidads façam part do procsso dlibrativo d tomada d dcisão. 40 SILVA, Flip Gonçalvs. Iris Young, Nacy Frasr Shyla Bnhabib: uma disputa ntr modlos críticos. In: NOBRE, Marcos. (org.). Curso livr d toria crítica. 3.d. Campinas: Papirus, 2013. p.203. 41 YOUNG, Iris Marion. Op cit.,. p. 51 42 YOUNG, Iris Marion. Op cit.,p. 40. 43 Ibidm., p. 66-70. 44 Ibidm., p. 86-88.

Adinan Rodrigus da Silvira & Augusto Moutlla Npomucno Na prspctiva da política da difrnça, dfnd a participação dsts grupos na rlaboração das políticas d ação afirmativa xistnts, transfrindo su foco d compnsação por discriminaçõs passadas para o combat d situaçõs atuais d oprssão dominação, a substituição das políticas distributivas por políticas voltadas à capacitação dos cidadãos a su autodsnvolvimnto autodtrminação, como por xmplo, a politização do sistma ducacional, prmitindo qu grupos oprimidos possam participar na criação da grad curricular nos critérios d avaliação, d modo a incluir suas próprias narrat ivas na história construídas plo grupo hgmônico dsnvolvr capacidads spcíficas ligadas a suas formas d vida culturais. 45 CONCLUSÃO Com o prsnt trabalho, buscou-s aprsntar uma proposta d abordagm basada na doutrina do Multiculturalismo para a aplicação dos diritos humanos m socidads pluriculturais. No Brasil, por aprsntar sta caracatristica, vrifica-s qu dtrminados grupos ficavam a margm da protção do Estado do rconhcimnto ftivação d sus diritos. Ests grupos são formados por mulhrs, crianças, homossxuais, portadors d dficiência física, índios a população ngra, as chamdas minorias. O Multiculturalismo como filosogia política parc sr o modlo idal para o nfrntamnto dos problmas rlacionados à justiça social nfrtados plas minorias brasiliras, notadamnt a minoria afro, uma vz qu xprimntaram séculos d discriminação xclusão social. Para s chgar a sta rflxão, foi ncssário prcorrr alguns caminhos d construção do pnsamnto. Assim, tornou-s nssário, no primiro momnto, um studo sobr os principais lmntos qu ciculam a proposta multicultural. Após, aprsntou-s os lmntos históricos tóricos qu dram surgimnto a sta doutrina, como a discussão ntr librais comunitaristas, com a publicação da obra d John Rawls dnominada Uma Toria da Justiça. 45 SILVA, Flip Gonçalvs. Iris Young, Nacy Frasr Shyla Bnhabib: uma disputa ntr modlos críticos. In: NOBRE, Marcos. (org.). Curso livr d toria crítica. 3.d. Campinas: Papirus, 2013. p.206-207. Rvista d Torias Filosofias do Estado -ISSN: 88

O Multiculturalismo como Filosofia Política: Caminhos para uma Justiça Social É important dixar claro qu a doutrina multiculturalista não s confund com a comunitarista, a última sria o mbrião da primira. Como s pôd constatar, os multiculturalistas possum convicçõs um pouco mais flxívis s aproximando um pouco da toria libral, inclusiv, m alguns momntos comungam das msmas idias. A possibilidad da difrnça, no ntndr da ts multicultural, prmit qu o Estado possa ficar compromtido com a sobrvivência o surgimnto d grupos particulars, d modo qu os diritos básicos dos sus mmbros possam sr assgurados. Dntr os principais xponts, o prsnt trabalho analisou o rfrncial tórico d Charls Taylor sua política d rconhcimnto, Will Kymlcka sua construção d idntidads os grupos transvrsais d Iris Young, como as mulhrs, trabalhadors, dficints ligados a uma opção sxual. Como s pod notar, a rflxão filosófica sobr as tss aprsntadas é dvras important, pois, a partir dlas é qu podrmos idntificar a adquação do sistma jurídico brasiliro com a prspctiva do multiculturalismo. Não há como ngar qu a tmática qu nvolv o multiculturalismo tm dsprtado bastant intrss tanto na ára acadêmica, como no campo jurídico político. Efitos dstas discussõs podm sr obsrvados m movimntos sociais na criação xcução d políticas públicas. É important dixar claro qu a ts multiculturalista não s rstring apnas ao campo da política. A adoção dsta forma d pnsar vai causar fitos também na ordm jurídica d uma socidad, a comçar plo Txto Constitucional. Como antriormnt mncionado, algumas Constituiçõs adotam a rfrida toria d forma xprssa, é o caso das Constituiçõs canadns boliviana. Da msma forma, a lgislação infraconstitucional a intrprtação jurisprudncial dvrão sguir o msmo caminho, sob pna d inviabilizar a implmntação dst modlo d justiça. REFERÊNCIAS BARRETTO, Vicnt d Paulo(Coord.). Dicionário d filosofia. São Lopoldo: UNISINOS, 2009. BARROSO, Luiz Robrto. Noconstitucionalismo Constitucionalização do Dirito. (O Triunfo Tardio do Dirito Constitucional no Brasil). Rvista Eltrônica sobr a Rforma do Estado (RERE), Salvador, Instituto Brasiliro d Dirito Público, no. 9, março/abril/maio, Rvista d Torias Filosofias do Estado -ISSN: 2526-9652 Brasília v. 2 n. 1 p. 1-19 Jan/Jun.2016. 89

Adinan Rodrigus da Silvira & Augusto Moutlla Npomucno 2007. Disponívl na Intrnt: < http://www.diritodostado.com.br/artigo/luis-robrtobarroso/noconstitucionalismo--onstitucionalizacao-do-diritoo-triunfo-tardio-do-diritoconstitucional-no-brasil>. Acsso m: 10 dz. d 2015. BOBBIO, Norbrto; MATTEUCI, Nicola; PASQUINO, Gianfranco. Dicionário d politica. V.2. 7.d. Brasília: Editora Univrsidad d Brasília, 1995. CITTADINO, Gisl. Pluralismo, dirito justiça social: Elmntos da filosofia contmporâna. 4ª.d. Rio d Janiro: Lumn Juris, 2013. KROHLING, Aloísio. Os diritos humanos na prspctiva da antropologia cultural. Rvista d diritos garantias fundamntais, Vitória,n 3, jul./dz., 2008. LOIS, Ccília Caballro. Justiça dmocracia: ntr o univrsalismo o comunitarismo. São Paulo: Landy Editora, 2005. NOBRE, Marcos. (org.). Curso livr d toria crítica. 3.d. Campinas: Papirus, 2013. OLIVEIRA JUNIOR, José Alcbíads d (org.). Facs do multiculturalismo: toria política dirito. Santo Ânglo: EDIURI, 2007., José Alcbíads d. Multiculturalismo: O olho do furacão no dirito pós-modrno. Rvista d Diritos Culturais, v.1, n.1, Dz 2006. Disponívl m: < http://srvapp2s.urisan.tch.br/sr/indx.php/diritosculturais/articl/viwarticl/121> Acssado m 10 d jan. 2016. PIRES, Thula Rafala d Olivira. Criminalização do racismo: ntr a política d rconhcimnto o mio d lgitimação do control social dos não rconhcidos. Ts d doutorado PUC-Rio. Orintadora. Gisl Cittadino. 2013. ROCHA, Carmm Lúcia Antuns. Ação afirmativa: O contúdo dmocrático do princípio da igualdad jurídica. Rvista d informação lgislativa, Brasília, n.131, 1996. ROSAS, João Cardoso (org.). Manual d filosofia política. Coimbra: Almdina, 2008. SANTOS, Boavntura d Sousa Santos. Rconhcr para librtar: os caminhos do cosmopolitanismo multicultural. Rio d Janiro: Civilização Brasilira, 2003. SARMENTO, Danil; IKAWA, Danila; PIOVESAN, Flávia (Coord). Igualdad, difrnça diritos humanos. Rio d Janiro: Lumn Juris, 2010. SEMPRINI, Andria. Multiculturalismo. Bauru: EDUSC, 1999. TAVARES, André Ramos. Curso d Dirito Constitucional. 10. d. rv. atual. São Paulo: Saraiva, 2012. TAYLOR, Charls. Argumntos Filosóficos. Trad. Adail Ubirajara Sobral. São Paulo: Loyola, 2000.. O dbat librais-comunitários: a ncssidad d uma fusão cultural Rvista d Torias Filosofias do Estado -ISSN: 90