CRESCIMENTO E PRODUTIVIDADE NO BRASIL: O QUE NOS DIZ O REGISTRO DE LONGO PRAZO



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Transcrição:

CRESCIMENTO E PRODUTIVIDADE NO BRASIL: O QUE NOS DIZ O REGISTRO DE LONGO PRAZO (Maio de 2001) (Versão preliminar. Somene para comenários. Favor não ciar) Inrodução 3 E. Bacha 1 R. Bonelli 2 Após duas décadas de medíocre desempenho macroeconômico, erá a economia brasileira capacidade de volar a crescer a axas similares às de que desfruou enre 1950 e 1980? Esa parece ser uma arefa impossível quando se consaa que, nos úlimos anos, a axa de invesimeno em sido baixa. Além disso, a inensidade de uso de capial na economia brasileira é muio mais inensa a relação capial/produo é muio mais elevada do que no passado. Dese modo, o país não só esá invesindo menos, como, em princípio, precisaria invesir mais do que no passado, para alcançar uma dada axa de crescimeno do produo. Sem embargo, na década passada houve uma imporane guinada para melhor na políica econômica do país, caracerizada pelo fim da superinflação, maior aberura ao exerior e menor inervenção esaal na economia. Como se sabe, o período de 1950 a 1980, quando o país cresceu mais do que 7% ao ano, represenou o auge de um modelo de caracerísicas aparenemene piores do que o aual, pois caracerizado por ala inflação, subsiuição proegida de imporações e fore comando esaal. Na verdade, uma resposa em princípio posiiva à indagação inicial seria sugerida, ano pela moderna eoria do crescimeno (com sua ênfase em economias de escala, progresso écnico e educação), como pela bem-sucedida experiência inernacional de reformas econômicas, inclusive em países lainos (Chile, Espanha, México, Porugal). Poderia, enreano, argüir-se que o Brasil, ademais de sua lainidade, é um país baleia de caracerísicas singulares no universo das economias emergenes: desproporcionalmene indusrializado, dimensões coninenais, amplo mercado inerno e longa radição de inervenção esaal e de convivência com alas axas de inflação. Será que conseguiremos volar a crescer aceleradamene sem a inflação, o proecionismo e 1 Presidene da ANBID e Consulor Sênior do Banco BBA. 2 Pesquisador Associado da Direoria de Esudos Macroeconômicos (DIMAC) do IPEA. 3 Os auores agradecem a colaboração de Lucilene Morandi e de Leonardo Mello de Carvalho, da DIMAC/IPEA, pelo auxílio na elaboração de Anexos Meodológicos e pelo uso dos resulados de suas pesquisas nese rabalho.

as esaais das décadas passadas? O propósio dese rabalho é iluminar a discussão sobre se o país é capaz de volar a crescer aceleradamene no fuuro próximo, com base em uma releiura quaniaiva de sua própria experiência de crescimeno econômico no período de 1940 a 2000. O rabalho em rês pares, cada qual com suas sub-divisões. Na primeira o foco esá numa análise comparaiva das úlimas seis décadas a parir do desempenho dos grandes agregados econômicos e demográficos (PIB, população, ec.), enfaizando a explicação dos ganhos de produividade. Na segunda analisa-se em mais dealhe o período 1950-2000 segundo um core seorial. Enfaizam-se as iner-relações enre a políica econômica adoada em diferenes períodos e o desempenho macroeconômico e seorial do produo real e da produividade. A erceira pare delimia os requisios quaniaivos para a reomada do crescimeno econômico acelerado na década que se inicia. PARTE 1 UMA CONTA DE SEIS DÉCADAS: PIB, PRODUTIVIDADE E EMPREGO, 1940/2000 Esa pare discue o crescimeno do PIB nas úlimas seis décadas. Analisa o crescimeno acelerado do imediao após-guerra, o(s) milagre(s), a década perdida e os anos 90 numa visão comparaiva a parir de uma marco de referência comum. Seu foco principal é o esudo da produividade da mão de obra (PIB por população ocupada). O regisro do crescimeno do PIB e do PIB per capia, em axas médias para as décadas de 40 a 90 e para o período 1940-200 como um odo, é mosrado na abela seguine. O uso de 1991 (e não 1990) na delimiação enre as décadas de 80 e 90 deve-se à daa do Censo Demográfico pois, como veremos, os dados de mão de obra usados nese rabalho provêm desses Censos. Algumas implicações do fao de 1991 ao conrário de odos os demais anos delimiadores de década mosrados na abela esar siuado no meio de um período recessivo serão discuidas mais adiane. O desaque óbvio na abela quano à rapidez do crescimeno é a década de 70, secundada pela de 50. Em ambas, a subsiuição de imporações proveu dinamismo ao seor líder, a indúsria. As décadas de 40 e 60, por sua vez, foram marcadas por fores abalos responsáveis por quedas aé enão inédias no nível do produo real per capia em anos específicos: a primeira, pela 2 a. Guerra Mundial; a segunda, pelo enorno do golpe miliar, em 1963-67. O regisro quano ao nível de aividade agregado foi, não obsane, muio bom: as axas médias de crescimeno do PIB foram da ordem de 6% ao ano em ambas as décadas. 2

Décadas PIB PIB per capia 1940-50 5,90% 3,47% 1950-60 7,38% 4,20% 1960-70 6,01% 3,05% 1970-80 8,72% 6,09% 1980-91 1,54% -0,38% 1991-2000 2,85% 1,22% 1940-2000 5,35% 2,89% O desempenho da economia após 1980 foi, reconhecidamene, decepcionane seja quano às axas de crescimeno do produo real, seja quano à fore insabilidade macroeconômica, cujas conseqüências se projeam aé o presene. A crise da dívida e a superinflação resulane de anos de acomodação moneária figuram enre as principais causas dos medíocres resulados no período 1980-91. Após 1991 em-se ainda os efeios do final da recessão Collor, em 1992, seguidos da recuperação do nível de aividade esimulada pelo Plano Real. O crescimeno médio de 2,85% @ em 1991-2000, abaixo da endência hisórica de longo prazo 1940-2000 ( 5,35 % @ ) resula das resposas da políica econômica às crises asiáica e russa num conexo insiucional marcado pelo fim da superinflação, os inenos de aberura econômica ao exerior e as enaivas de reforma do Esado. As conseqüências desses processos para o poencial de crescimeno do país são a principal moivação dese esudo. 1.1. Decomposição logarímica do crescimeno do PIB Apresena-se, em seguida, uma decomposição simples do crescimeno do PIB no longo prazo a parir da idenidade: Y = (Y/E).(E/L).(L/P).P Onde: Y = PIB, E = população ocupada, L = PEA; P = população oal. Ou seja: população. PIB = (produividade do rabalho) x (axa de ocupação) x (axa de paricipação) x 3

A abela seguine mosra os valores absoluos do PIB, emprego, PEA e população oal nas daas analisadas. Ela inclui ambém os valores absoluos da produividade da mão de obra e do PIB per capia a preços de 2000 4. 1940 1950 1960 1970 1980 1991 1991 2000 PIB pm (preços de 2000) 47800 84805 172894 309823 715102 846159 846159 1089688 Emprego (E), 1000 pessoas 14759 17117 22750 29339 42272 55293 59031 59196 Produividade (Y/E) R$/pessoa 3239 4954 7600 10560 16917 15303 14334 18408 PEA (L) 1000 pessoas 14759 17117 22750 29557 43236 65229 65229 75644 População (P), 1000 pessoas 41165 51944 70191 93139 118970 146825 146825 169544 PIB per capia (preços de 2000) 1161 1633 2463 3326 6011 5763 5763 6427 A abela seguine apresena os resulados de uma decomposição logarímica 5 do crescimeno do PIB por décadas 6, segundo a expressão acima. No quadro, em cada década, o crescimeno do PIB é igualado a 100, de modo que os números apresenados indicam em que medida a produividade, a axa de ocupação, a axa de paricipação e a população explicam a variação do PIB. Decomposição crescimeno PIB 1940-50 1950-60 1960-70 1970-80 1980-91 1991-2000 1940-2000 % Produividade 74,1 60,1 56,4 56,3-59,6 98,9 55,6 % axa de ocupação 0,0 0,0-1,3-1,8-84,8-57,5-7,8 % axa de paricipação -14,7-2,3-3,6 16,2 119,4 1,7 7,0 % População 40,6 42,3 48,5 29,3 125,0 56,9 45,3 Sala aos olhos, da mera inspeção visual da abela, a imporância dos ganhos de produividade para o crescimeno do PIB no longo prazo. A imporância de variações na axa de ocupação é nula por definição nas décadas de 40 e 50, pois os Censos Demográficos de 1940, 1950 e 1960 impliciamene igualavam a PEA à PEA ocupada. 4 O fao de que disponhamos de duas esimaivas do volume de emprego em 1991 uma do Censo Demográfico e oura das Conas Nacionais faz com que enhamos duas esimaivas para a produividade naquele ano. A primeira foi usada na comparação com 1980 e a segunda com 2000. Ver adiane. 5 A decomposição logarímica consise em omar logarimos de ambos os lados da idenidade acima em dois ponos no empo e decompor as diferenças nos logarimos enre as parcelas idenificadas na idenidade. 6 As informações básicas para a consrução da abela provêm: (i) PIB Conas Nacionais (diferenes sisemas) a parir de 1947; para o período 1940-47 uilizamos as esimaivas de C. Haddad, segundo as Esaísicas Hisóricas do Brasil (EHB, 2ª edição revisa e ampliada [1990]); para 2000 adoamos a axa de 4,46%; (ii) Ocupação EHB (1940-80), e Censo Demográfico (CD), 1991; enre 1991 e 2000, Novo Sisema de Conas Nacionais (IBGE), com esimaiva de crescimeno da ocupação em 2000 de 1,4% ; (iii) PEA aé 1980, segundo EHB; em 1991 e 2000, esimaivas da Dra. A. A. Camarano (aé 1999) e exrapolação dos auores para 1999 e 2000; (iv) População segundo os CD. 4

É ineressane observar que a imporância relaiva da produividade para o crescimeno do PIB é declinane ao longo de odo o período enre 1940 e 1991, somene recuperando sua dominância na década de 90. Na década de 40 o aumeno da produividade explica quase ¾ do crescimeno do PIB. A axa de paricipação diminuiu na década iso é, diminuiu a proporção da PEA na população oal, por razões que não são claras, já que o oposo seria de esperar ao longo de um processo de desenvolvimeno econômico 7. O inenso crescimeno populacional dos anos 40 ( 3,69 % ao ano) responde por não menos de 40,6 % do crescimeno do produo real. Na década de 50 os ganhos de produividade da mão de obra explicam 60,1% do crescimeno agregado. Novamene, diminui a axa de paricipação embora a redução seja de pequena magniude. O crescimeno populacional (ainda basane elevado, da ordem de 3,06% ao ano) explica cerca de 42% do crescimeno do PIB, proporção semelhane à da década anerior. Na década de 60 o aumeno da produividade responde por 56,4% do crescimeno econômico oal. A conribuição da axa de ocupação é ligeiramene negaiva (-1,3%), indicando a aberura de um pequeno hiao enre o nível de ocupação e a PEA. Sala aos olhos, nessa década, a imporância do crescimeno populacional para o aumeno do PIB: quase 49% do crescimeno oal. Essa proporção é próxima da conribuição da produividade. Noe que o crescimeno populacional na década de 60 diminuiu em relação às décadas aneriores, endo alcançado os 2,87 % anuais. Na década de 70, a conribuição da produividade da mão de obra para o crescimeno do PIB ainge 56,3%, ligeiramene inferior à da década anerior. À diferença daquela, no enano, o crescimeno populacional explica uma proporção bem menor do crescimeno do PIB como um odo: 29%, graças a um aumeno populacional médio de 2,48% na década. Uma diferença marcane desse período em relação aos aneriores é o aumeno na conribuição da axa de paricipação, que chega a represenar 16% do crescimeno do PIB. Ele indica que uma fração consideravelmene maior da população oal enrou para o mercado de rabalho iso é, ornou-se economicamene aiva. Já na década perdida dos 80 (1980-91) em-se um resulado surpreendene do exercício: a produividade da mão de obra empregada diminuiu enre os anos exremos. Como o PIB aumenou no período (em média, a 1,54% ao ano), a variação da produividade foi responsável por 60% do crescimeno agregado. Em ouras palavras, se os demais componenes ivessem permanecido consanes, o PIB eria caído algo como 9,5% acumulados no período. A axa de ocupação ambém diminuiu sensivelmene no período iso é, houve grande aumeno do desemprego chegando a represenar 85% do (pequeno) crescimeno do PIB observado. Assim, o que salvou o crescimeno 7 Ese fenômeno, que ambém ocorre nas duas décadas seguines embora com menor inensidade poderia ser, alvez, explicado pela inensa urbanização do período que se inicia em 1940: rabalhadores que anes compunham a PEA podem er saído dela ao migrarem para as cidades. Esa explicação nos foi sugerido por Eusáquio Reis, da DIMAC/ IPEA. 5

agregado foram as variáveis resanes: a axa de paricipação foi responsável por não menos do que 119% iso é, uma proporção crescene de pessoas ingressando na PEA e o crescimeno populacional (que foi de 1,9% ao ano enre 1980 e 1991) por 125% do aumeno do nível de aividade agregado. Nese conexo, o desempenho macroeconômico do período 1991-2000, se não pode ser considerado brilhane quando coejado com o das décadas de 40 a 70, é, pelo menos, prenhe de mudanças em relação aos períodos precedenes. Em primeiro lugar desaca-se o fao de que nessa década não só se inerrompe a endência de declínio da paricipação da produividade na explicação do crescimeno, como, ao conrário, os ganhos de produividade passam a represenar a quase oalidade do crescimeno do PIB: 99%. Essa mudança dramáica de endências ocorreu em meio a um fore processo de rearranjo insiucional (aberura, esabilização, reforma do Esado). Um dos resulados indesejados (associado à maior inensidade de uso de capial e à reduzida formação de capial do período, como veremos) foi a redução da axa de ocupação, passando a responder por 58% do crescimeno agregado 8. Já o crescimeno populacional (de 1,61 % ao ano, em média) conribuiu com 57% do oal, conrapondose inegralmene à redução na axa de ocupação. A variação da axa de paricipação na década foi de pequena expressão, respondendo por apenas pouco menos de 2% do crescimeno do PIB. Os resulados médios para o período como um odo, mosrados na úlima coluna da abela acima, são um sumário do crescimeno do PIB brasileiro conemporâneo: o aumeno da produividade explica pouco mais da meade do crescimeno agregado (55,6%) e o crescimeno populacional o resane (45,3%). Coube à axa de ocupação uma conribuição levemene negaiva no longo prazo (-7,8%) indicando uma redução da razão enre população ocupada e PEA, quiçá fruo da urbanização. À axa de paricipação coube uma conribuição praicamene simérica da anerior (+7%) indicando aumeno relaivo da força de rabalho em relação à população oal, de forma consisene com uma maior paricipação da mulher no mercado de rabalho. 8 Cabe fazer nese pono um breve comenário meodológico: ao conrário dos dados de ocupação da mão de obra para os demais anos, que são baseados em informações dos Censos Demográficos (CD), a comparação enre 1991 e 2000 baseiase, quano ao nível de ocupação naqueles anos, em dados do Novo Sisema de Conas Nacionais (NSCN). O problema é que exisem diferenças de meodologia logo, de magniude de resulados enre o CD de 1991 e o NSCN, que impedem uma comparação direa dos dados dessas duas fones. Ese pono será mais deidamene explorado na Pare 2 dese esudo. Uma explicação para a diferença pode esar na inclusão ou não da mão de obra agrícola não remunerada no cômpuo da ocupação e da mão de obra que rabalha menos de 15 horas por semana. 6

Uma vez mais, esses resulados não podem deixar de ser considerados surpreendenes, pelo foco que lançam sobre a imporância dos ganhos de produividade, paricularmene no que oca ao desempenho nos anos 90. O gráfico seguine permie uma vívida visualização comparaiva das décadas analisadas, reforçando a análise anerior. Decomposição do crescimeno do PIB PIB/emprego PEA/População Emprego/PEA População 120,0 Taxa paricipação Produividade 90,0 60,0 30,0 Produividade Produividade Produividade Produividade População População População População População 0,0 1940-50 1950-60 1960-70 1970-80 1980-91 1991-2000 Taxa paricipação -30,0-60,0 Produividade Taxa ocupação Taxa ocupação -90,0 1.2 Decomposição ariméica do crescimeno do PIB A decomposição logarímica não é, evidenemene, a única forma de decomposição possível. Uma alernaiva pare das axas de crescimeno dos quaro componenes do PIB, acima apresenados, para escrever a axa média de crescimeno do PIB (Y) em cada década, como uma soma das axas de variação da produividade (Y/E), da axa de ocupação (E/L), da axa de paricipação (L/P) e da população oal (P). Nese caso a soma dos componenes não esgoa o crescimeno do produo real devido à exisência de ermos de ineração resulanes de combinações dos produos cruzados das axas de variação das variáveis em causa. Essa decomposição alernaiva é apresenada na abela seguine, cujos resulados são em udo semelhanes aos da decomposição anerior. A vanagem é que permie visualizar melhor as variações relaivas por décadas analisadas. 7

Crescimeno (% @) Décadas PIB Produividade Emprego/PEA PEA/POP População T. de ineração 1940-1950 5,90% 4,34% 0,00% -0,84% 2,35% 0,05% 1950-1960 7,38% 4,37% 0,00% -0,17% 3,06% 0,12% 1960-1970 6,01% 3,34% -0,07% -0,21% 2,87% 0,08% 1970-1980 8,72% 4,82% -0,15% 1,36% 2,48% 0,21% 1980-1991 1,54% -0,91% -1,29% 1,84% 1,93% -0,04% 1991-2000 2,85% 2,82% -1,60% 0,05% 1,61% -0,02% 1940-2000 5,35% 2,94% -0,41% 0,37% 2,39% 0,07% Como se observa novamene na abela acima, o período de 1940 a 1980 é caracerizado por axas relaivamene alas de crescimeno do PIB, por axas igualmene elevadas de crescimeno da produividade, por reduzida variação da axa de ocupação (nas décadas de 1940 e 1950 iso aconece por definição, como foi observado), por evolução negaiva da axa de paricipação aé 1970 e posiiva desde enão e por alas axas de crescimeno populacional. A década de 1980 faz juz ao epíeo de perdida : reduzido crescimeno do PIB, queda da produividade e aumeno do desemprego. O aumeno do desemprego acenua-se na década de 1990, quando ambém se deém o aumeno da axa de paricipação observado nas duas décadas aneriores. Em compensação, nesa década recupera-se a produividade e reduz-se o crescimeno populacional. É perinene uma observação adicional, relacionada à indagação na inrodução dese rabalho. Como se pode calcular dos dados da abela, a axa média de crescimeno da população enre 1950 e 1980 foi de aproximadamene 3% ao ano. Já na década de 1990, a axa média de crescimeno populacional foi de 1,6%. Isso quer dizer que, mais recenemene, o mesmo crescimeno do PIB per capia pode ser alcançado com um crescimeno do PIB oal inferior em 1,4 pono de percenagem àquele obido em 1950-80 ou, para ser mais específico, um crescimeno do PIB de 6,0% ao ano é agora equivalene, do pono de visa per capia, aos 7,4% ao ano observados naquele período. 1.3 1991: Uma digressão Como assinalado, 1991 não parece ser um bom ano para a delimiação da década perdida. Há, conudo, argumenos conra e a favor de seu uso na análise. Iniciando com os conrários, o gráfico seguine mosra pare dos resulados de uma decomposição da série do PIB real em rês componenes: endência, ciclo e um componene irregular. No gráfico mosramos as séries do PIB e da sua endência enre 1980 e 2000. Como seria de esperar, o nível do PIB em 1980 esava acima e 8

em 1991 abaixo da endência de longo prazo 9. Noe, nos gráficos mosrados no Anexo (1940-1960 e 1960-1980), que isso não ocorre nas demais décadas analisadas. Assim, comparar 1980 e 1991 requer um cero cuidado. Uma possibilidade nauralmene sugerida da inspeção do gráfico é comparar os valores da endência do PIB enre 1980 e 1991, em vez dos valores não corrigidos. A axa de crescimeno média, nesse caso, é de 2,49% anuais, conra 1,54% na comparação da série original. Com essa axa reesimada, a decomposição do crescimeno do PIB enre 1980 e 1991 ficaria, obviamene, modificada. Ao invés de decrescer 0,91% ao ano, a nova esimaiva para a variação anual da produividade seria posiiva, mas da ordem de apenas 0,04% anuais. Como proporção do crescimeno do PIB chega-se a um valor de pouco menos do que 2%. Assim, pois, um valor negligenciável, face às esimaivas dos demais períodos. Porano, a correção alera um pouco os resulados, mas não a naureza das conclusões: a década perdida caracerizou-se por crescimeno nulo da produividade da mão de obra, compromeendo o crescimeno fuuro. A favor do uso do nível do PIB em 1991, sem correção, esá o fao de que as demais variáveis especialmene os níveis de ocupação e da PEA eriam que ser ambém corrigidas para valores de endência, de modo a maner a coerência do exercício. Isso, infelizmene, não é possível. Mas, se o fosse, enderia a aproximar os resulados da decomposição revisa daqueles da decomposição original. É ineressane observar no gráfico do PIB e endência para 1980-2000, que o PIB observado de 2000 esá abaixo da linha de endência, validando a comparação com os valores observados de 1991. Se, em lugar de usarmos os valores observados, uilizássemos os valores de endência, a axa média de crescimeno do PIB alerar-se-ia apenas de 2,85% ao ano para 2,71% ao ano. 9 Essa endência foi esimada por Leonardo Mello de Carvalho, da DIMAC/IPEA a parir de dados para o período 1940-2000. Ela resula de um modelo univariado simples de decomposição, apresenado em Noa do auor anexa a ese exo. 9

PIB e endência, 1980-2000 PIB Tendência 1100000 1000000 900000 800000 700000 600000 1980 1981 1982 1983 1984 1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 Mas há uma razão adicional para usar o PIB observado, ao invés do de endência, em nossa análise. Os resulados do processo esaísico de exração da endência, em Anexo, sugerem que o PIB e o emprego fluuam em orno de seus valores endenciais (ou poenciais, dado o esoque de capial) em função de choques de ofera ou de demanda ligados a volailidade da inflação, variações na ofera de divisas, fluuações da safra agrícola, pacoes econômicos, ou crises políicas, para mencionar alguns faores. Tais choques se ornaram paricularmene imporanes depois de 1980, conforme se consaa visualmene no gráfico da próxima seção. Os choques formam pare inegrane da experiência econômica das duas úlimas décadas, jusificando, porano, o uso do PIB observado numa análise que enfaiza a iner-relação enre a políica econômica e o desempenho macroeconômico. 1.4 Os Ciclos Econômicos no Brasil: uma segunda digressão A análise anerior, nos leva, quase que nauralmene, a uma oura digressão, relacionada à idenificação e demarcação dos ciclos econômicos desde 1940. O gráfico seguine, consruído com os desvios percenuais da componene cíclica em relação à série do PIB real ilusra o pono anerior, 10

caracerizando a exrema volailidade do período pós-1980. 0,07 Componene cíclico em % do PIB real 0,06 0,05 0,04 0,03 0,02 0,01 0,00-0,01-0,02-0,03-0,04-0,05-0,06-0,07 A demarcação e duração dos ciclos aponados no gráfico é imediaa. A parir dele idenificamos 18 fases cíclicas e 7 ciclos (in)compleos, onde um ciclo é definido de auge a auge 10. A duração média de cada fase foi de 3 ¼ anos e a do ciclo compleo foi de 9 ½ anos. Se, enreano, excluirmos o a 2a. Guerra e o Grande Auge do imediao pós-guerra, ou seja, começarmos nossa demarcação cíclica em 1954, a duração média de cada fase reduz-se a 2 ¾ anos e a do ciclo compleo a 8 1/ 3 anos. A idenificação e caracerização esilizadas são mosradas na cronologia comenada abaixo. Vale noar que, em um caso, ou seja 1952-54, preferimos caracerizar o pico de um ciclo por um período (de 3 anos) ao invés de por um ano somene. De fao, o PIB maném-se ciclicamene esável nesse segundo período de Vargas, apesar dos raumas caracerizados pelo fim do auge cafeeiro, as enaivas de esabilização e a crise políica que levou ao suicídio do presidene. Num ouro caso, 10 Nese senido, o primeiro ciclo idenificado na abela eria ido início anes de 1940; o úlimo, incompleo, eve seu 11

1965-67, ambém preferimos caracerizar o vale por um período (de 3 anos novamene), ao invés de por um ano somene. De fao, a era Campos-Bulhões marca em definiivo o fim de um ciclo de baixa, mas ainda não o início de um ciclo de ala. Uma oura caracerização dos ciclos são os ponos percenuais de PIB que disanciam um pico do vale que se lhe segue, e cada vale do pico que lhe segue, ambém indicados na abela. O período 1980-2000 desaca-se ano em ermos de redução da ampliude das fases cíclicas, como de inensidade dessa variação do PIB enre pico e vale. Fases / Tendência Número Dif % PIB Dif % PIB Eveno / caracerísicas Início períodos de anos pico-vale vale-pico Ciclo? 1942 2-3,90 Crise da 2 Guerra 1 1942 44 2 0,65 Boom da Segunda Guerra 1944 45 1-0,11 Queda Vargas 1945 52 7 1,98 Grande auge do pós-guerra 1952 54 = 3 0,09 Reorno Vargas 1954 57 3-4,79 Crise pós Vargas; ajuse Gudin 2 1957 62 5 6,55 Plano de Meas JK 1962 65 3-4,14 Governo Jango e Golpe Miliar 3 1965 67 = 2-0,06 Ajuses Campos Bulhões 1967 73 6 2,45 Milagre econômico 4 1973 76 3-2,76 Primeiro choque do peróleo 1976 80 4 5,98 Marcha Forçada de Geisel 1980 83 3-10,49 Crise da dívida exerna 5 1983 87 4 10,22 Redemocraização e plano Cruzado 1987 92 5-8,47 Grande Crise da Hiperinflação 6 1992 96 4 7,04 Reomada e Plano Real 1996 99 3-4,95 Crises Asiáica e Russa 7 1999?? 0,29 Era ajuses FHC O gráfico seguine apresena a série de crescimeno percenual da endência do PIB no período analisado. Noe-se que as fluuações dessa endência são basane pronunciadas, como seria de se esperar. O auge ocorre, obviamene, em 1973, com a axa de 11,1%. O mínimo ocorre no riênio 1990-1992, com axas inferiores a 2% ao ano. A inflexão da endência a parir de 1992 é níida. As axas são crescenes a parir daí, chegando a 3,24% em 2000. pono mínimo em 1999. 12

Crescimeno % da endência do PIB 0,1200 0,1000 0,0800 0,0600 0,0400 0,0200 0,0000 1941 1943 1945 1947 1949 1951 1953 1955 1957 1959 1961 1963 1965 1967 1969 1971 1973 1975 1977 1979 1981 1983 1985 1987 1989 1991 1993 1995 1997 1999 1.5 Emprego na década de 90: uma erceira digressão Os dados de população ocupada para a década de 90 provêm do Novo Sisema de Conas Nacionais (CN), disponíveis a parir de 1990. Conforme se vê da abela abaixo, o emprego oal permanece praicamene esacionário na década, enquano que a PEA cresce a uma axa de 1,66% ao ano enre 1991 e 2000. Daí resula um significaivo crescimeno da axa de desocupação [(PEA população ocupada)/pea] na década. Essa endência, no enano, não é confirmada por uma comparação direa da PEA com a evolução da população ocupada nas pesquisas anuais do PNAD, conforme se vê na abela. Ela ambém não aparece, pelo menos de forma marcane, nos dados de desemprego abero (conceio de 30 dias) em 6 regiões meropolianas da Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE, ambém indicados nos dados. Enreano, os dados do PNAD são amosrais e não necessariamene direamene comparáveis ano a ano. Já os dados da PME se referem a uma amosra resria da população. As dúvidas a respeio da confiabilidade dos dados de ocupação das CN somene poderão ser sanadas com a publicação dos resulados do Censo Demográfico de 2000, que poderão ou não levar os écnicos do IBGE a reesimarem as séries de emprego incluídas nas Conas Nacionais. Aé lá, a melhor alernaiva parece ser coninuar a uilizar os dados disponíveis. 13

Ocupação, PEA e axas de desocupação alernaivas (1990-2000) C. Nacionais C. Nacionais PME PNAD Ocupação PEA "Taxa de Taxa de Taxa de Ano (1000 pessoas) (1000 pessoas) desocupação" desemprego desemprego 1990 58580,8 64468,0 9,13% 4,30% 1991 59031,4 65229,0 9,50% 4,84% 1992 59251,5 65999,1 10,22% 5,78% 1993 59630,3 66958,9 10,94% 5,32% 1994 60406,9 68455,1 11,76% 5,06% 1995 61226,1 69984,6 12,51% 4,65% 1996 59764,6 69461,9 13,96% 5,43% 1997 60112,9 71389,8 15,80% 5,67% 1998 59035,1 73065,9 19,20% 7,60% 1999 58380,6 74343,3 21,47% 7,53% 2000 59196,4 75644,0 21,74% 7,11% Noas: Ocupação 1990-1999: Conas Nacionais; esimaiva da ocupação em 2000: crescimeno de 1,40%; PEA em 1999, a parir da PNAD 1999; PEA 1990-98 de Camarano 1.6 Crescimeno da produividade do rabalho O passo seguine consise em explicar o crescimeno da produividade do rabalho. Uma ferramena para isso é uma função de produção, como a Cobb-Douglas com reornos consanes à escala, seguindo uma radição que vem do rabalho pioneiro de Solow 11 aé as recenes conrovérsias sobre o impaco da ecnologia da informação na aceleração do crescimeno da economia americana 12 : Y = A.E a K 1-a Onde: K, esoque de capial; a, elasicidade do PIB em relação à ocupação; e as demais variáveis foram definidas aneriormene. Adoamos as seguines hipóeses 13. Primeiro, que a variável relevane para medir o capial é o esoque de capial não residencial 11 R. Solow, Technical Change and he Aggregae Producion Funcion, The Review of Economics and Saisics, 1957. 12 Cf. Rober Gordon, Does he `New Economy measure up o he grea invenions of he pas?. Norhesern Universiy and NBER, May 1, 2000 draf of a paper for he Journal of Economic Perspecives; and Sephen Oliner and Daniel Sichel, The resurgence of growh in he lae 1990s: is informaion echnology he sory?. Washingon, DC: Federal Reserve Board, May 2000. 13 Uma alernaiva seria excluir do cômpuo do PIB os seores de adminisração pública e, especialmene, de aluguéis. Nese esudo, porém, rabalhamos com o PIB oal a preços de mercado. 14

14. Supõe-se assim que aumenos no capial residencial não conribuam para o crescimeno do nível de aividade agregado o que, em princípio sugeriria reirarmos do cômpuo do PIB a aividade referene aos aluguéis de imóveis. Os resulados, no enano, não ficariam subsancialmene alerados em relação aos apresenados. Segundo, quano ao volume de emprego, na fala de informações agregadas para o número de horas rabalhadas, opamos por rabalhar com o número de pessoas ocupadas em cada ano censiário 15. De qualquer forma, o uso de horas rabalhadas é recomendável principalmene em esudos de curo prazo a menos de fores mudanças insiucionais na jornada de rabalho. Noe que o uso dos esoques de mão de obra e capial é usual em esudos de longo prazo se o nível de aividade é elevado (ou os graus de uilização de capial e mão de obra são consanes, mais rigorosamene) em cada uma das daas de referência. Isso é verdadeiro, em nosso caso, em odos os anos exceo 1991: embora nesse ano o PIB enha crescido, ele ainda esava abaixo do nível alcançado em 1988-89 devido à fore redução ocorrida em 1990, como vimos acima. Quano ao valor de a, esimamos direamene uma função Cobb-Douglas, com dados para apenas oio ponos no empo 16. Os resulados embora frágeis devido ao pequeno número de observações, problemas de idenificação de parâmeros e evenuais raízes uniárias sugerem valores de (1 a) no inervalo de 0,35 a 0,70 com 95% de confiança. Ou seja, a esaria enre 0,30 e 0,65. Uma valor médio inermediário é jusificado ambém pelo seguine argumeno. Como se sabe, além de medir a elasicidade do produo em relação ao emprego, a ambém mede, em condições de equilíbrio de concorrência perfeia, a parcela do rabalho no PIB. Pois bem, das Conas Nacionais (sisema anigo) em-se que a remuneração dos empregados no PIB a cuso de faores era de 41% em 1970 e de 39% em 1980. Esses valores, no enano, presumivelmene não incluem a remuneração misa capial-rabalho (rendimeno de auônomos). Já o Novo Sisema de Conas Nacionais permie esimar a paricipação do rabalho (exclusive rendimenos de auônomos) no produo gerado (VA a preço básico) em 47,4% em 1991 e 42,0% em 1999 17. Essas esimaivas jusificam o uso do valor de 0,5 para a nos cálculos seguines. 14 A série dos valores do capial não residencial a preços consanes nos foi genilmene cedida pela Dra. Lucilene Morandi, da DIMAC/IPEA, e são pare de projeo em andameno naquela insiuição. A Dra. Morandi forneceu ambém uma esimaiva pioneira, preliminar, do esoque em 2000. A meodologia de cálculo dessas esimaivas esá em Anexo. 15 A daa de referência dos CD é, geralmene, dia 1 de seembro. A do CD de 2000, no enano, é 1 de agoso. 16 1940, 1950, 1960, 1970, 1980, 1991, 1991 [nova base], 1996 e 2000. Os resulados esão a seguir: Esaísica de regressão: log (Y/E) = f [ log (K/E)] R-quadrado ajusado 0,8640 Coeficienes Erro padrão Sa valor-p 95% inferiores 95% superiores Erro padrão 0,2278 Inerseção -3,213 0,776-4,141 0,004-5,048-1,378 Observações 9 log(k/e) 0,522 0,073 7,198 0,000 0,350 0,693 17 Nese cálculo incluímos os salários, as conribuições sociais efeivas e as impuadas. Excluindo-se as conribuições sociais a paricipação dos salários no VA a preço básico (ambém exclusive conribuições sociais) foi de 41,2% em 1991 e de 36,3% em 1999. A paricipação dos auônomos foi de 8,1% do VA a preço básico em 1991 e de 5,7% em 1999. 15

Da função de produção vem, para a produividade do rabalho: Y/E = A.(K/E) 1-a Essa é a expressão básica usada para a decomposição mais adiane. A parir da expressão acima, sendo conhecidos Y/E e K/E, calcula-se: A = (Y/E)/(K/E) 1-ª, onde A pode ser alernaivamene viso como o coeficiene indicaivo do nível da ecnologia (Solow), da medida de nossa ignorância (Abramoviz), ou da eficiência-x de Leinbesein. O foco, porano, é na explicação da produividade Y/E, aravés da acumulação de capial per capia, K/E, e de A, o chamado resíduo de Solow. Tomando logarimos da função acima, aplicando os valores para os anos delimiadores de décadas e calculando as diferenças (variações nos logarimos) chega-se aos resulados da decomposição logarímica da produividade aravés das décadas mosrados abaixo, onde os resulados esão expressos em médias anuais. Os resulados deixam claras as conribuições relaivas do aprofundameno de capial (capial deepening) e da mudança ecnológica para os ganhos de produividade em cada período analisado. A principal conclusão é que a imporância relaiva do capial deepening é avassaladora em odos os períodos, exceo nas décadas de 40 e de 90. De paricular imporância é a observação de que o resíduo de Solow declina de forma consisene, década após década, enre 1940 e 1990. Ou seja, é como se o aprofundameno do modelo inflacionisa, com subsiuição proegida de imporações, e crescene inervenção esaal, enha sido feio de forma cada vez menos eficiene (iso é, com menos progresso écnico) apesar do crescimeno acelerado do PIB não er dado, aé 1980, qualquer indicação desse progressivo esgoameno. Para o período 1940 a 2000 com um odo, a úlima coluna informa que o capial deepening respondeu por 84% do crescimeno de 3% da produividade no longo prazo, cabendo à mudança ecnológica os 16% resanes. Decomposição dos Ganhos de Produividade (médias anuais) 1940-50 1950-60 1960-70 1970-80 1980-91 1991-2000 1940-2000 Variação log produividade 4,25% 4,28% 3,29% 4,71% -0,91% 2,78% 3,01% Variação log K/E^0,5 2,42% 3,37% 2,47% 4,52% 1,43% 1,08% 2,53% Variação log A 1,83% 0,91% 0,82% 0,19% -2,43% 1,70% 0,47% Conribuições para o oal 100 100 100 100 100 100 100 Capial deepening 56,8% 78,8% 75,2% 96,0% -157,1% 38,7% 84,2% Componene ecnológico 43,2% 21,2% 24,8% 4,0% 267,1% 61,3% 15,8% Em média, a conribuição do crescimeno da mudança ecnológica para o crescimeno do 16

PIB por rabalhador foi de apenas 0,5% a. a., ao longo dos sessena anos ene 1940 e 2000. Observe-se, enreano, que, na década de 40, ese valor ascende a 1,8% a a. Na medida, enreano, em que se aprofunda o modelo inervencionisa nas décadas seguines, a conribuição absolua da ecnologia para o crescimeno do PIB por rabalhador cai de forma consisene e acelerada: 0,9% a. a na década de 50; 0,8% a a na década de 60; 0,2% a a na década de 70; e 2.4% na década de 80. Esa endência de progressivo empobrecimeno das fones de crescimeno da produividade no país é reverida de modo decisivo na década de 90, quando a ecnologia passa a conribuir com 1,7% a a para o crescimeno do PIB por rabalhador. Nese conexo, as conribuições relaivas da mudança ecnológica são de pequena expressão nas décadas de 50, 60 e de 70. No primeiro caso, a mudança ecnológica explica apenas 21% do crescimeno da produividade do rabalho. No segundo, um pouco mais: 25%. Mas no erceiro, apenas em orno de 4%. Em odas essas décadas o aumeno da produividade da mão de obra é majoriariamene explicado pelo capial deepening: de 75% (anos 60) a 96% (anos 70). Os resulados para a década perdida de 80 ajudam a compor o rerao de que porque foi perdida: a produividade da mão de obra caiu apesar de er aumenado a doação de capial por rabalhador 18. A mudança ecnológica eve uma conribuição fundamenal, mas perversa, para a variação de produividade da mão de obra. Iso é, a produividade da mão de obra caiu porque o nível ecnológico em que operava a economia diminuiu enre as daas inicial e final do período. Os resulados para a década de 90, por sua vez, são animadores apesar do crescimeno relaivamene baixo do PIB e da produividade da mão de obra em comparação com as décadas de 40 a 70, como vimos no início desa Pare. O aprofundameno do capial explica cerca de 40% do aumeno de produividade enquano que a mudança ecnológica explica os 60% resanes. Surpreendenemene, uma década onde é especialmene imporane a conribuição do resíduo ecnológico é a de 40, marcada pela 2 a Guerra, em sua primeira meade, e pela chamada ilusão liberal do governo Dura 19, em sua segunda meade. Devido à escassez de divisas que caracerizou o esforço da guerra, a primeira meade dessa década erá sido marcada por um uso crescenemene inensivo da capacidade insalada, refleindo-se isso em aumeno do resíduo de Solow. De fao, conforme se verá em gráfico mais adiane, durane os anos da guerra a relação produo-capial aumenou de forma consisene. Poseriormene, em 1946 e 47, houve a ão criicada farra dos imporados, no conexo da 18 Noe que se fosse feia a correção do crescimeno do PIB como no exercício da seção 1.3 o crescimeno da produividade passaria a ser posiivo, mas próximo de zero. O componene da ecnologia coninuaria negaivo, mas menor. 19 Vide, para análises do período, os exos de P. S. Malan, R. Bonelli, M. de P. Abreu e J. E. de Carvalho Pereira, Políica Econômica Exerna e Indusrialização no Brasil: 1939-52. IPEA, Coleção Relaórios de Pesquisa, n. 36, (1977), P. S. Malan Políica Econômica e Teorias do Balanço de Pagamenos: Relações Inernacionais do Brasil no Período 1946-1979, Rio de Janeiro (1981) e S. Besserman Vianna Políica Econômica Exerna e Indusrialização em A 17

qual, enreano, o PIB pôde aumenar à surpreendene axa de 7,6% ao ano enre 1945 e 1950 (comparado com 4,2% anuais enre 1940 e 1945). Assim, se na primeira pare da década o elevado resíduo de Solow poderia ser explicado por um uso mais inensivo das pessoas e máquinas disponíveis, na sua segunda meade ele esaria associado a uma melhoria qualiaiva do esoque de capial, associada à reaberura às imporações no imediao após-guerra. O crescimeno da ecnologia aingiu na década de 90 axas das mais elevadas do exercício, ficando somene pouco arás da década de 40. Assim, apesar das modesas axas de crescimeno da produividade agregada da mão de obra, quando visas em perspeciva hisórica, os ganhos nos anos 90 foram calcados principalmene em mudança ecnológica. Isso chama aenção para um aspeco que eseve odo o empo subjacene à nossa análise: não basa er apenas crescimeno da produividade da mão de obra. É preciso ambém invesigar com que inensidade esão sendo usados os demais faores. Esse pono, aliás, foi levanado, enre ouros, por Krugman quando de sua análise do crescimeno da União Soviéica e dos igres asiáicos: apesar do crescimeno acelerado da produção e da produividade da mão de obra naqueles países, a uilização dos demais recursos foi ão inensa que sua produividade foi decrescene 20. Reomaremos ese pono mais adiane. 1.7 Conabilidade do crescimeno do PIB Os resulados acima podem ser replicados a parir da abordagem da conabilidade do crescimeno. De acordo com essa meodologia, calcula-se a produividade oal dos faores subraindo-se, da axa de crescimeno do produo real uma média ponderada das axas de crescimeno dos faores uilizados na produção, com pesos dados pelas paricipações desses faores no produo agregado (no nosso caso, os pesos de capial e rabalho são ambos iguais a 0,5). A abela seguine resume as esimaivas para as décadas de 40 a 90, onde as colunas hachureadas são médias de grupos de décadas. Ordem do Progresso,(org. Marcelo Abreu) Ediora Campus, Rio de Janeiro, 1990.. 20 Ver, por exemplo, P. Krugman "Compeiiveness: A Dangerous Obsession" Foreign Affairs (1994), March-April Issue, pp. 28-44. 18

Crescimeno Médio Anual 1940-50 1950-60 1960-70 1970-80 1950-80 1980-91 1991-2000 1940-2000 PIB 5,90% 7,38% 6,01% 8,72% 7,37% 1,54% 2,85% 5,35% Mão de Obra 1,49% 2,89% 2,58% 3,72% 3,06% 2,47% 0,03% 2,51% Capial não Residencial 6,52% 10,06% 7,78% 13,54% 10,44% 5,17% 2,21% 7,54% Produividade oal 1,89% 0,91% 0,83% 0,09% 0,62% -2,28% 1,73% 0,32% PTF em % do PIB 32,1% 12,3% 13,8% 1,1% 8,4% -147,9% 60,7% 6,1% A análise desses resulados, obviamene, confirma as conclusões aneriores. A imporância da Produividade Toal dos Faores (PTF) para o crescimeno do PIB que foi basane elevada na década de 40 (quando represenou 32,1% do crescimeno) diminuiu consideravelmene depois daí. Ela represena cerca de 13% nas décadas de 50 e 60 mas cai para apenas cerca de 1% na década de 70. Na média dos rina anos 1950-80 a conribuição da PTF foi de apenas 8,4%. A principal fone de crescimeno nesses 30 anos foi o aumeno do capial, que respondeu por não menos do que 71% do crescimeno do PIB (0,5 x [10,44 / 7,37]). Em segundo lugar figura a mão de obra, com 21%. Na década de 80, como era de se esperar, a conribuição da PTF (que diminuiu cerca de 2,3% ao ano enre 1980 e 1991) foi negaiva em 148%. Apesar disso, o crescimeno do esoque líquido de capial não residencial coninuou a ocorrer em rimo acelerado: 5,17% anuais no período. O quadro é subsancialmene diferene nos anos 90, como vimos. Agora a produividade oal dos faores cresce a 1,7% ao ano, represenando cerca de 61% do crescimeno agregado. A conribuição da mão de obra para o crescimeno é quase nula e a do capial alcança os 39% resanes. Os resulados para o desempenho médio no longo prazo, mosrados na úlima coluna, reieram as conclusões aneriores. A conribuição da acumulação de capial para o crescimeno do PIB foi, segundo essa meodologia, de cerca de 70% no longo prazo. Coube à mão de obra a paricipação de 23% e ao progresso écnico, medido pela variação da PTF, os 6% resanes. Esudos recenes uilizando o méodo da conabilidade do crescimeno em países do Lese da Ásia como Hong Kong, Singapura, Formosa e Coréia do Sul concluíram que os resíduos de Solow nessas economias foram relaivamene pequenos em relação ao crescimeno do PIB. Dadas as elevadas conribuições do capial, esses resulados êm sido inerpreados como uma evidência de que a acumulação de capial, poupança e invesimeno foram elemenos cenrais para a experiência de rápido crescimeno desses países enre meados dos anos 60 e a década de 90. A produividade oal dos faores eria, assim, represenado papel de menor imporância. 19

O quadro seguine compara a experiência desses países com a brasileira em períodos de duração aproximadamene semelhane. Noe que o regisro do Lese da Ásia, com sua preensa baixa produividade oal, compara-se muio favoravelmene com o brasileiro. Os dados das décadas de 50 a 80, suposamene o nosso período de crescimeno asiáico, mosrados na úlima linha, sugerem que na experiência brasileira a doação de capial aumenou muio acima do crescimeno do produo real. E mais ainda: que, com a exceção de Singapura, a conribuição do progresso écnico para o crescimeno do país foi muio inferior à suposamene baixa conribuição ocorrida no Sudese Asiáico: 0,6% @, conra 1,7@ na Coréia do Sul, 2,3@ em Hong Kong, e @ 2,6@ em Formosa. É imporane, aqui, assinalar que, na linha dos modelos de crescimeno endógeno, diversos auores êm procurado associar o crescimeno do resíduo de Solow ao crescimeno dos faores de produção. Peer Roberson 21, por exemplo, desenvolveu um modelo alernaivo para analisar eses dados de longo prazo que combina os méodos da conabilidade do crescimeno com o modelo neoclássico linearizado 22. Seu méodo expliciamene quanifica a medida em que ganhos de produividade como os medidos pelo resíduo de Solow, induziram a acumulação de capial nos países do Lese da Ásia. Os resulados sugerem que em Hong Kong, Formosa e Coréia o crescimeno da PTF, inclusive efeios indireos, conribuiu com algo enre 1/2 e 2/3 do crescimeno do PIB por rabalhador ao longo de um período de 20 anos. Isso conrasa com os resulados do resíduo de Solow puro mosrados acima, e mereceria ser melhor esudado no caso brasileiro. Crescimeno do PIB, Mão de Obra, Capial e PTF: Lese da Ásia e Brasil Período PIB Mão de Obra Capial PTF PTF / PIB Hong-Kong 1966-91 7,3 2,6 8 2,3 31,5% Singapura 1966-90 8,7 4,5 11,5 0,2 2,3% Coréia do Sul 1966-90 10,3 5,4 13,7 1,7 16,5% Formosa 1966-90 9,4 4,6 12,3 2,6 27,7% Brasil* 1950-80 7,4% 3,1% 10,4% 0,6% 8,4% Dados para o Lese da Ásia de Alwin Young The Tyranny of Numbers: Confroning he Saisical Realiies of he Eas Asian Growh Experience, Quarerly Journal of Economics, (1995) 110, 3, 641-680. * Nossas esimaivas 1.8 Uma úlima digressão: porque usar o esoque de capial não residencial Uma moderna linha de invesigação empírica, associada ao nome dos Professores De Long e Summers, em mosrado que o invesimeno em equipamenos é fore e robusamene 21 Why he Tigers Roared: Capial Accumulaion and he Eas Asian Miracle. Universiy of New Souh Wales, 29 de Julho de 2000. 22 Sua referência é o rabalho de Mankiew, Romer e Weil (1992). 20

correlacionado com o crescimeno de longo prazo do produo real. Esse aspeco foi observado em diversos esudos usando dados de cross secion por países 23. Uma conclusão desses esudos é que políicas para aumenar o invesimeno em equipameno podem er efeios relevanes e duradouros sobre o crescimeno. Diversas razões êm sido apresenadas para racionalizar o nexo enre invesimeno em equipamenos de capial e crescimeno do produo real. Um exo recene de L Hendricks 24, por exemplo, desenvolve uma eoria do crescimeno baseada na adoção de novas ecnologias que explicia (e verifica em ermos quaniaivos) as relações enre variáveis relacionadas ao equipameno físico e o crescimeno econômico. Seu elemeno cenral é a complemenaridade exisene enre as ecnologias que esão incorporadas (embodied) nos equipamenos e as habilidades (skills) que esão incorporadas na mão de obra. O apoio para ese aspeco cenral esá em dois ponos. O primeiro é a consaação de que capial e skills são complemenares, consaação essa baseada em diversos esudos, inclusive de esimação de funções de produção agregada 25. O segundo apoio é o resulado de Greenwood e allii, que esimaram que 60% do progresso écnico nos EUA esá incorporado em equipameno 26. Aceiando-se que as esruuras não residenciais são complemenares aos equipamenos, uma escolha que se coloca é a do conceio de capial não residencial ser uilizado. Exisem em princípio duas alernaivas principais: esoque de capial líquido ou bruo 27. A primeira, por nós escolhida, segue a meodologia usual que adiciona a cada período o invesimeno realizado no período ao esoque do período anerior deduzida a depreciação, que se supõe ser linear ao longo da vida úil do bem de capial. A segunda supõe que a produividade de cada peça de equipameno (ou esruura) permanece consane ao longo de sua vida úil. Assim, seu valor é deduzido do esoque apenas ao fim da vida úil, e não gradualmene, como no caso do conceio de esoque líquido. Um resulado práico é que no conceio bruo os esoques aumenam mais ao longo do empo do que no conceio de esoque líquido, especialmene ao final do período. O gráfico seguine apresena a evolução da relação média produo capial (Y/K) para o período 1940-2000 segundo ese conceio de capial líquido e usando-se o PIB aos preços de mercado de 2000. Por ese méodo a relação produo capial não residencial esaria aualmene em orno de 0,5. Como a média esá aproximadamene consane desde o começo dos anos 90, segue-se 23 Ver, especialmene, De Long, J. B. e Summers, L. H. Equipmen Invesmen and Economic Growh, Quarerly Journal of Economics, 1991, vol. 106, n. 2; Equipmen Invesmen and Economic Growh: How Srong is he Nexus? Brookings Papers on Economic Aciviy, 1992, 2.; How Srongly do Developing Economies Benefi from Equipmen Invesmen?, Journal of Moneary Economics, 1993, 32. 24 Equipmen Invesmen and Growh in Developing Counries, Journal of Developmen Economics, vol. 61, 2000. 25 A referência ciada é Hamermesh, D. S., Labor Demand. Princeon Universiy Press, Princeon, 1993. 26 Greenwood, J., Hercowiz, Z. e Krusell, Long Run Implicaions of Invesmen-specific echnological change, American Economic Review, 1997, vol. 87, n. 3. 21

que a relação marginal em esse mesmo valor. O acenuado declínio da relação produo capial que se mosra nesse gráfico fenômeno classicamene associado ao desenvolvimeno econômico e ípico da função de produção neoclássica orna mais difícil o crescimeno acelerado fuuro, na medida em que um mesmo aumeno do produo agregado requer, agora, uma quanidade adicional de capial maior do que anes. No caso brasileiro, ese pono é reforçado pelo fao de ser especialmene pronunciada a queda enre as décadas de elevado crescimeno, de 50 a 70, e a de 90. Ese pono será reomado na pare final dese rabalho. Relação Produo capial (líquido), 1940-2000 2,2000 2,0000 1,8000 1,6000 1,4000 1,2000 1,0000 0,8000 0,6000 0,4000 1940 1942 1944 1946 1948 1950 1952 1954 1956 1958 1960 1962 1964 1966 1968 1970 1972 1974 1976 1978 1980 1982 1984 1986 1988 1990 1992 1994 1996 1998 2000 PARTE 2 PRODUTIVIDADE GLOBAL E SETORIAL NO BRASIL, 1950-1999 A análise dos ganhos de produividade agregada da economia brasileira na Pare anerior mosrou que a produividade da mão de obra cresceu foremene aé 1980 devido, de forma cada 27 Ver Anexo meodológico de auoria de Lucilene Morandi. 22

vez maior, ao aumeno desproporcional no volume de capial por rabalhador. Na década de 80 a acumulação de capial por rabalhador coninuou a ocorrer, embora a axas menores do que nas décadas aneriores. Mas a variação da produividade enre os anos exremos foi negaiva. Concluímos que a economia brasileira eria, porano, operado de forma progressivamene menos eficiene desde a década de 40. E muio ineficienemene na década de 80. Já nos anos 90 a produividade volou a crescer. Mas, agora, o crescimeno foi apoiado na incorporação de ecnologia induzida pelas reformas implemenadas naqueles anos, com desaque para a aberura comercial e financeira, a esabilização propiciada pelo Plano Real e a reforma do Esado. Como seria de esperar, os ganhos de produividade não se disribuíram de forma homogênea enre os seores econômicos ao longo do empo. O propósio desa pare é analisar a evolução da produividade da mão de obra e suas implicações segundo um core seorial 28. O foco da análise nesa pare, porano, esá na ênfase no crescimeno da produividade seorial e suas possíveis explicações (endo em visa a Pare anerior), bem como no impaco das realocações inerseoriais de mão de obra e razões subjacenes 29. 2.1 Uma visão seorial A abela a seguir apresena uma visão seorial de longo prazo do crescimeno da produividade da economia brasileira. Os desaques em ermos de crescimeno da produividade são: em primeiro lugar, o seor de Transpores e Comunicações (T&C), no qual o crescimeno de longo prazo da produividade chegou aos 5,7% ao ano em um período de 50 anos. Uma análise mais deida mosraria que os ganhos foram, ceramene, concenrados no seor de Comunicações: 11,4% @ enre 1991 e 1999; 14,4% @ enre 1980 e 1991; e 21,0% @ enre 1970 e 1980 30. Como seria de se esperar, os ganhos do seor T&C são subsancialmene menores na década de 80 do que nas demais. Da mesma forma, a liderança por décadas fica com a de 70. O segundo desaque é uma graa surpresa: a Agropecuária, na qual o crescimeno de longo prazo da produividade foi de 4,1% ao ano por meio século 31. Como no caso anerior, a década de 80 regisra as menores axas médias e a de 70 as maiores. Mas é oporuno regisrar ambém que os anos 90 caracerizam-se por axas de crescimeno da produividade da Agropecuária de 4,5% 28 A dificuldade/impossibilidade de esimar o esoque de capial por seores nos obrigou a resringirmos a análise à produividade da mão de obra. 29 A consrução da base esaísica necessária para a análise esá descria em Anexo. 30 Anes de 1970 as esaísicas não discriminam ese seor do de Transpores. 31 Não é possível desagregar ese seor pelos seus principais componenes: lavouras, produção animal, exraiva vegeal, ec., exceo pelo período poserior a 1970. 23