O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DA COESÃO E COERÊNCIA TEXTUAL. Diogo da Costa Pereira. Maria das Dores Justo

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Transcrição:

O PROCESSO DE ENSINO-APRENDIZAGEM DA COESÃO E COERÊNCIA TEXTUAL Diogo da Costa Pereira Universidade Estadual da Paraíba diogopresbi07@gmail.com Maria das Dores Justo Supervisora PIBID/ CH/ UEPB dora.justo@hotmail.com Resumo : O presente artigo tem como finalidade observar e descrever o processo de ensino-aprendizagem dos elementos de coesão e coerência a partir do texto dissertativo-argumentativo em uma turma do terceiro ano do ensino médio na Escola Cidadã Integral Professor José Soares de Carvalho na cidade de Guarabira-PB. Percebeu-se que a coesão e a coerência textual foram questões pouco trabalhadas na primeira e segunda séries, tanto nas gramáticas quanto nos livros didáticos. Dessa forma, houve a necessidade de se debruçar, sobre o assunto numa postura de estudo e reflexão de maneira produtiva, já que se trata do último ano do ensino médio. Essa observação e descrição basearam-se na análise textual e produção escrita dos alunos, consequentemente uma proposta de reescrita textual. Este trabalho desenvolveu-se sob as orientações dos Parâmetros Curriculares de Língua Portuguesa (1997), além do arcabouço teórico de Antunes (2014), Marcuschi (2008), Travaglia (1997) e Koch e Vanda Elias (2009). Palavras-chave: Texto; Coesão textual; Coerência textual; Ensino-aprendizagem. INTRODUÇÃO Nos últimos anos, com o avanço dos estudos linguísticos, especificamente a Linguística Textual na década de 1960, o texto tornou-se o objeto central no ensino de Língua Portuguesa. Essa metodologia concretizou-se por meio dos Parâmetros Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa, em 1997. No entanto, esse método ainda não está presente dentro das salas de aula, persistindo uma prática pedagógica reduzida ao estudo da frase. O texto como unidade básica de ensino da língua portuguesa, consequentemente, como material pedagógico tem o objetivo de que o aluno desenvolva a competência discursiva, em qualquer acontecimento comunicativo na sociedade, de forma oral ou escrita. Este método se

desenvolve a partir da reflexão sobre a língua numa perspectiva semântico-pragmático, ou seja, voltada para os sentidos nos diversos usos da língua. Nesse sentido, é por meio do estudo dos gêneros textuais que trabalhamos qualquer aspecto linguístico, social, histórico e cognitivo do texto. Sob essa ótica foi utilizado a tipologia textual dissertativa-argumentativa como texto central para se construir a sequência didática da pesquisa e consequentemente o trabalho didático com a coesão, coerência e os demais critérios de textualidade. Diante disso, este artigo tem como objetivo apresentar o trabalho pedagógico com o texto, no que diz respeito à coesão e coerência textual em textos de ordem do argumentar. Tomando isso como viés, analisaremos o processo de ensino-aprendizagem da coesão e coerência textual, para isso, teremos como norte a seguinte questão-problema: Como se desenvolveu o processo de ensino nas habilidades de coesão e coerência em textos dissertativo-argumentativo na escrita dos alunos do terceiro ano do Ensino Médio? A pesquisa que culminou neste artigo tem como base os trabalhos realizados pelo PIBID (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação Docência) para os alunos do terceiro ano do Ensino Médio na Escola Cidadã Integral Professor José Soares de Carvalho na cidade de Guarabira-PB para desenvolverem habilidades de escrita nos textos argumentativos. Observando a realidade dos alunos do terceiro ano dessa escola com relação à leitura e à escrita, bem como a necessidade que eles têm em obter um bom desempenho na redação do ENEM, foi que surgiu o interesse pela pesquisa. Ainda mais, a necessidade e a dificuldade de alunos do Ensino Médio nas produções textuais. Vale salientar ainda que, o que se pretende expor aqui é como se desenvolveu o ensino e como se construiu a competência comunicativa sob o olhar dos critérios de textualidade, a coesão e coerência nas produções dos alunos. Consequentemente, analisar a prática de ensino com texto na sala de aula e a aprendizagem das competências textuais. Acima de tudo, este trabalho visa contribuir na formação de futuros professores e na melhoria da educação básica, tendo como propósito refletir sobre o trabalho pedagógico com a

linguagem, com o texto em sala de aula e, sem dúvida, o trabalho com a coesão e coerência nos textos de cunho argumentativo de forma contextualizada. METODOLOGIA TEÓRICA E CONCEITUAL O primeiro aspecto metodológico a ser adotado é a centralização do trabalho pedagógico com gêneros textuais que circulam socialmente. Só com os gêneros textuais pode-se trabalhar os aspectos sócio-pragmáticos e intencionais do texto, bem como as características próprias do gênero. Por conseguinte, o estudo propriamente dito de uma gramática através do texto de forma contextualizada, neste contexto a coesão e coerência textual. Diante disso, vejamos o que os PCNLP dizem sobre os gêneros textuais: [...]constituem formas relativamente estáveis de enunciados, disponíveis na cultura, caracterizados por três elementos: conteúdo temático, estilo e construção composicional. Pode-se ainda afirmar que a noção de gêneros refere-se a famílias de textos que compartilham algumas características comuns, em heterogêneas, como visão geral da ação à qual o texto se articula, tipo de suporte comunicativo, extensão, grau de literariedade, por exemplo, existindo em número quase ilimitado (1997, p. 26). Ao se trabalhar com gêneros textuais, logo se tem do início ao fim a aplicação do texto no ensino da língua como um instrumento pedagógico. Mas o que é texto? Adota-se aqui a concepção de texto numa perspectiva interacional da língua. O texto não é apenas um produto do pensamento ou decodificação entre um emissor e um leitor, contudo, é o próprio lugar da interação, um evento onde dialogicamente os interlocutores processam, constroem e produzem sentidos. Dessa forma, vejamos o que os PCNLP dizem sobre texto: Pode-se afirmar que texto é o produto da atividade discursiva oral ou escrita que forma um todo significativo e acabado, qualquer que seja sua extensão. É uma sequência verbal constituída por um conjunto de relações que se estabelecem a partir da coesão e da coerência. Esse conjunto de relações tem sido chamado de textualidade. Dessa forma, um texto só é um texto quando pode ser compreendido como unidade significativa global,

quando possui textualidade. Caso contrário, não passa de um amontoado de enunciados, (1997, p. 25-6) Diante disso, trabalhar com textos na sala de aula é valorizar o uso da língua em diversos contextos reais. Este método dá-se através da análise do funcionamento do texto, observando sua produção e compreensão, por conseguinte, a análise gramatical. Assim, os conhecimentos linguísticos não se concretizam estudando um fonema, palavras ou frases sem contextos, mas nos eventos discursivos contextualizados. Se o texto exerce na sociedade uma função comunicativa e interacionista, logo ele deve estar dotado de sentidos, sob o risco de não ser considerado um texto. Esse sentido é construído nas relações entre o autor, o texto e o leitor. Assim, todo texto exerce relações contextuais, constituído dos conhecimentos de mundo compartilhados entre o autor e o leitor, é isso que chamamos de princípio da coerência. Conforme definem as linguistas Ingedore Koch e Vanda Elias (2008, p. 186) a coerência não se encontra no texto, mas constrói-se a partir dele, em dada situação comunicativa, com base em uma série de fatores de ordem semântica, cognitiva, pragmática e interacional. Não podemos apontar uma coerência ou incoerência no texto aqui ou ali, pois os sentidos são resultados da interação autor - leitor envolvendo, dentre múltiplos fatores externos, uma intenção no autor (intencionalidade), uma reação por parte do leitor (aceitabilidade), os conhecimentos compartilhados (linguísticos, enciclopédico, e mundo etc.), seleção lexical e uma configuração textual (gêneros textuais). A coerência se relaciona diretamente aos conhecimentos sociocognitivo-interacionais, isso ocorre da seguinte forma: o autor, na produção dos sentidos, leva em conta a situação comunicativa;

compartilha os conhecimentos de mundo, fatores sociais, culturais, históricos e políticos; e os conhecimentos linguísticos. Por esta razão a coerência se entrelaça com a coesão textual. Segundo Koch e Travaglia (2008, p. 47) por coesão se entende a ligação, a relação, os nexos que se estabelecem entre os elementos que constituem a superfície textual. Em outras palavras, a coesão são as relações cotextuais, internas ao texto, ou seja, as marcas que ligam os enunciados e os processos de sequencialização dentro do texto. No que compete ao trabalho pedagógico tomaremos como subsídios teóricos os estudos de Irandé Antunes (2014) sobre o trabalho com o texto em sala de aula de forma contextualizada. A análise de textos contribui para o estudo do uso da língua, centrado no funcionamento interativo da linguagem, consequentemente, cumprindo com o objetivo maior do ensino de língua que gira em torno em ensinar os alunos a ler e escrever. RESULTADOS E DISCUSSÃO Como já foi dito anteriormente, o texto é tratado aqui como o foco central para o trabalho do ensino de Língua Portuguesa em sala de aula. Quando se toma o texto como ponto de partida e de chegada para o ensino e aprendizagem da língua, em destaque aqui os critérios de textualidade, o trabalho com a prática de escrita deixa de ser fragmentado com frases, como no ensino tradicional, e passa a abordar, simultaneamente, os aspectos pragmáticos e semânticos da linguagem. Com base nisso, foi construída uma sequência didática centrada nas estratégias de leitura, compreensão e escrita, com ênfase para a relevância da informação, a intertextualidade, a coesão e coerência textual. Todo processo foi centrado no tipo de texto dissertativo-argumentativo, a partir

desse material foram desenvolvidas as práticas de leitura e compreensão, exposição teórica, análise linguística, prática de produção textual e reescrita. A prática de leitura e compreensão se desenvolveu a partir da leitura coletiva em sala de aula. Em seguida, houve uma discussão do seu tema global, a finalidade central, as informações básicas do texto e a intencionalidade do autor. Posteriormente se seguiu com a exposição e análise do gênero textual, sua composição, conteúdo e estilo; dando destaque sempre ao contexto da produção, o veículo e os interlocutores. A partir da compreensão textual se seguiu o trabalho para o elemento da textualidade, sob os estudos teóricos de Marcuschi (2008), Koch e Vanda Elias (2008). Com o material didático do data show foram expostos os conceitos dos sete critérios de textualidade: coesão, coerência, intencionalidade, situacionalidade, aceitabilidade, informatividade e intertextualidade. Em uma outra aula iniciou-se a análise linguística, sob um estudo aprofundado da coesão textual, os elementos de coesão e articuladores textuais. Nesse contexto foi analisada a referenciação por meio dos pronomes, a sequencialização com conectores, seus valores semânticos e a função deles no texto para a construção da coesão e coerência textual. Sobre o trabalho dos pronomes no âmbito da textualidade, Irandé Antunes ressalta: podemos dizer que a função (textual e contextual) dos pronomes se situa no campo da referenciação, quer dizer, tem a ver com a atividade do locutor de indicar ao(s) interlocutores, com a clareza que lhe pareça necessária, o indicador ou a coisa de quem ou de que está falando. (2014, p.136) Nesse sentido, a análise contextualizada dos pronomes implica reconhecer os conhecimentos contextuais (de texto, discursivos e situacionais), ou seja, as funções que os pronomes exercem no texto, como ele aparece e porquê, deixando um pouco de lado as classificações e os subtipos,

embora possa ser trabalho posteriormente, porém dando prioridade a interação linguística e ao campo pragmático, os usos linguísticos. No contexto da textualidade foi analisado as funções dos pronomes na construção da coesão referencial, as referências exofórica e endofórica (anáfora e catáfora). Já a análise dos conectores (conjunções, preposições e locuções adverbiais) implica na observação da sua função e o que exprimem, posteriormente se chega a exposição das classificações e nomenclaturas do ensino tradicional: adição, oposição, causalidade, temporalidade, condicionalidade etc. Diante disso, Antunes (2014) ressalta que a análise de conectivos no texto de forma contextualizada deve investigar: que tipos de conectores ocorrem mais comumente mo oral e mo escrito, neste ou naquele gênero, neste ou naquele nível de formalidade da língua; que posição costumam ocupar na sequência dos enunciados; que mudanças de sentido têm sofrido; que expressões de acervo lexical podem assumir um sentido equivalente ao que eles regularmente têm; tudo isso sem aquele viés prescritivo ou apenas classificatório de costume. Mas, como quem faz ciência, vendo e tentando descrever como coisas da linguagem acontecem. (2014, p. 125) Através da aula expositiva e da análise do texto os alunos perceberam que um texto coeso requer relações entre os enunciados. Essas relações se dão por meio de ações de: a) repetição de termos; b) substituição através de anáforas e catáforas ou por palavras semanticamente equivalentes; c) associação de palavras de acordo com o sentido e com a intenção pretendidas na interação; d) promover a ligação entre orações e períodos fazendo uso dos conectores. Para o entendimento da coerência, os alunos perceberam através do texto os elementos linguísticos e sua relação com o contexto da situação de produção. Percebendo que a unidade de

sentido de todo texto é estabelecida na interação entre os sujeitos envolvidos de acordo com a situação comunicativa e com os recursos linguísticos empregados. A partir da sequência de estudos de compreensão, análises e teorias se seguiu à produção textual dos alunos, posteriormente a reescrita com base na análise mais aprofundada das produções dos alunos. A atividade de reescrita do texto foi realizada por meio de interferência direta, de comentários e questionamentos sobre os textos, para que os alunos observassem seus erros e usos inadequados em seus próprios textos. Por meio do ato da reescrita do texto, os alunos perceberam que todo texto é um diálogo do sujeito-autor com o resultado do seu produto e, consequentemente, com seu interlocutor. Este processo possibilitou aos alunos verem que o texto é um produto inacabado, é construção de conhecimento, é ambiente de interação. CONSIDERAÇÕES FINAIS Assim, o trabalho com o texto em sala de aula como o centro do ensino de língua portuguesa, por meio de estudos teóricos mais recentes da linguística textual e análise linguística, bem como o encaminhamento do trabalho com produção e a reescrita, na abordagem da concepção de linguagem como interação, contribui para o entendimento dos usos linguísticos, comunicacional e interacional, conforme a especificidade dos gêneros textuais e da intencionalidade e finalidade da produção. Nesse viés, ensinar coesão e coerência textual através de textos não é apenas retirar os pronomes, conectivos, sinônimos, hiperônimos, paráfrases, paralelismos etc. e dizer seu sentido fora do texto, fora da função textual. Vai muito além disso, requer uma análise funcional dos elementos linguísticos necessários para para construção da textualidade, consequentemente, buscando refletir

sobre sua função no texto, o sentido que ele produz e constrói em determinado contexto da produção. O trabalho com a língua em sala de aula não deve se fixar apenas no repasse de regras e na cobrança de atividades metalinguísticas a partir de palavras, frases soltas ou do texto apenas como pretexto para o ensino da gramática. O ensino, neste contexto da coesão e coerência requer entender a intencionalidade do autor com seu texto, e a partir disso, entender o sentido dos elementos linguísticos de ligação e sequencialização das orações, períodos e enunciados presente no texto. A partir dos estudos gramaticais, sempre centralizado no texto, analisa-se os usos da língua na sua interação, com os estudos da pragmática. Com análise, consequentemente, os alunos aprendem a produzir um texto de acordo com as teorias da linguística textual, é por isso que logo se segue o trabalho para a produção, pois o objetivo do trabalho com a língua sempre será o uso linguístico nas diversas situações comunicacionais..

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANTUNES, Irandé. Gramática contextualizada : limpando o pó das ideias simples. 1. ed. São Paulo: Parabólica Editorial, 2014.. Aula de português : encontro e interação. São Paulo: Parábola, 2003. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais : língua portuguesa /Secretaria de Educação Fundamental. Brasília, 1997. KOCH, Ingedore Villaça. Linguística Textual : uma entrevista com Ingedore Villaça Koch. Revista Virtual de Estudos da Linguagem ReVEL. Vol. 1, n.1. agosto de 2003. ISSN 1678-8931 [www.revel.inf.br]. KOCH, Ingedore Villaça; ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender: os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2008.. Ler e escrever: estratégias de produção textual. São Paulo: Contexto, 2009.. Escrever e argumentar. São Paulo: Contexto, 2016. KOCH, Ingenore Villaça. TRAVAGLIA, Luiz Carlos. A coerência textual. 17. ed. São Paulo: Contexto, 2008.. Coesão textual. 17. Ed. São Paulo: Contexto, 2008. MARCUSCHI, Luiz Antônio. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. 1. ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2008. OLIVEIRA, Mariangela Rios de. Linguística Textual. In: MARTELOTTA, M.E.(org.) Manual de Linguística. São Paulo: Contexto, 2008, p. 193-203.