2. Resultados Elementares 2 3. Equivalências 3 4. Teorema de Brun e a Conjectura de Hardy-Litllewood 5 5. Conjecturas 9 Referências 10



Documentos relacionados
Polos Olímpicos de Treinamento. Aula 10. Curso de Teoria dos Números - Nível 2. Divisores. Prof. Samuel Feitosa

NOTA II TABELAS E GRÁFICOS

7. Resolução Numérica de Equações Diferenciais Ordinárias

Covariância e Correlação Linear

Universidade Salvador UNIFACS Cursos de Engenharia Cálculo IV Profa: Ilka Rebouças Freire. Integrais Múltiplas

UNIVERSIDADE DO ESTADO DA BAHIA - UNEB DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS EXATAS E DA TERRA COLEGIADO DO CURSO DE DESENHO INDUSTRIAL CAMPUS I - SALVADOR

Análise de Projectos ESAPL / IPVC. Taxas Equivalentes Rendas

MA12 - Unidade 4 Somatórios e Binômio de Newton Semana de 11/04 a 17/04

TEORIA DE ERROS * ERRO é a diferença entre um valor obtido ao se medir uma grandeza e o valor real ou correto da mesma.

CAPÍTULO VI Introdução ao Método de Elementos Finitos (MEF)

Material Teórico - Módulo de Divisibilidade. MDC e MMC - Parte 1. Sexto Ano. Prof. Angelo Papa Neto

Resíduos Quadráticos e Fatoração: uma aplicação à criptoanálise do RSA

PROBLEMAS SOBRE PONTOS Davi Máximo (UFC) e Samuel Feitosa (UFC)

O Fascínio dos Números Primos

CURSO ON-LINE PROFESSOR: VÍTOR MENEZES

8 8 (mod 17) e 3 34 = (3 17 ) 2 9 (mod 17). Daí que (mod 17), o que significa que é múltiplo de 17.

Energia de deformação na flexão

Objetivos da aula. Essa aula objetiva fornecer algumas ferramentas descritivas úteis para

Introdução à Análise de Dados nas medidas de grandezas físicas

GUSTAVO TERRA BASTOS COMPARAÇÃO DE TÉCNICAS PARA O CÁLCULO DE IDEMPOTENTES GERADORES DE CÓDIGOS ABELIANOS

Sistemas de Filas: Aula 5. Amedeo R. Odoni 22 de outubro de 2001

XXVII Olimpíada Brasileira de Matemática GABARITO Primeira Fase

Introdução e Organização de Dados Estatísticos

Sempre que surgir uma dúvida quanto à utilização de um instrumento ou componente, o aluno deverá consultar o professor para esclarecimentos.

Física. Física Módulo 1 Vetores, escalares e movimento em 2-D

1 Princípios da entropia e da energia

IMPLEMENTAÇÃO DO MÉTODO DE FATORAÇÃO DE INTEIROS CRIVO QUADRÁTICO

Escolha do Consumidor sob condições de Risco e de Incerteza

Lista de Exercícios de Recuperação do 2 Bimestre. Lista de exercícios de Recuperação de Matemática 3º E.M.

Análise soft e análise hard

Análise Complexa Resolução de alguns exercícios do capítulo 1

CQ110 : Princípios de FQ

Rastreando Algoritmos

Capítulo 1. O plano complexo Introdução. Os números complexos começaram por ser introduzidos para dar sentido à 2

2. VARIÁVEIS ALEATÓRIAS

Bases Matemáticas. Aula 2 Métodos de Demonstração. Rodrigo Hausen. v /15

Estruturas Discretas INF 1631

9. Derivadas de ordem superior

MD Sequências e Indução Matemática 1

Topologia, geometria e curvas no plano

Controle Estatístico de Qualidade. Capítulo 8 (montgomery)

Nota Técnica Médias do ENEM 2009 por Escola

01. Em porcentagem das emissões totais de gases do efeito estufa, o Brasil é o quarto maior poluidor, conforme a tabela abaixo:

Polos Olímpicos de Treinamento. Aula 2. Curso de Teoria dos Números - Nível 2. Divisibilidade II. Prof. Samuel Feitosa

Termodinâmica e Termoquímica

Cálculo Numérico BCC760 Interpolação Polinomial

VALE PARA 1, PARA 2, PARA 3,... VALE SEMPRE?

Aplicações de Combinatória e Geometria na Teoria dos Números

As tabelas resumem as informações obtidas da amostra ou da população. Essas tabelas podem ser construídas sem ou com perda de informações.

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CCSA - Centro de Ciências Sociais e Aplicadas Curso de Economia

UTILIZAÇÃO DO MÉTODO DE TAGUCHI NA REDUÇÃO DOS CUSTOS DE PROJETOS. Uma equação simplificada para se determinar o lucro de uma empresa é:

TE210 FUNDAMENTOS PARA ANÁLISE DE CIRCUITOS ELÉTRICOS

TRABALHADORES COM DEFICIÊNCIAS EM LINHAS DE PRODUÇÃO: MODELOS, RESULTADOS E DISCUSSÕES 1

Teoria dos Números. A Teoria dos Números é a área da matemática que lida com os números inteiros, isto é, com o conjunto

Solução da prova da 1 a fase OBMEP 2008 Nível 1

Disciplina: Introdução à Álgebra Linear

Seqüências, Limite e Continuidade

RESOLUÇÃO NUMÉRICA DE EQUAÇÕES DIFERENCIAIS

Análise de Regressão. Profa Alcione Miranda dos Santos Departamento de Saúde Pública UFMA

¹CPTL/UFMS, Três Lagoas, MS,Brasil, ²CPTL/UFMS, Três Lagoas, MS, Brasil.

Professor Mauricio Lutz CORRELAÇÃO

Introdução a Combinatória- Aplicações, parte II

ELEMENTOS DE CIRCUITOS

Cálculo do Conceito ENADE

Um estudo sobre funções contínuas que não são diferenciáveis em nenhum ponto

Covariância na Propagação de Erros

Por que o quadrado de terminados em 5 e ta o fa cil? Ex.: 15²=225, 75²=5625,...

Conceitos e fórmulas

Somatórias e produtórias

PROVA DE MATEMÁTICA DO VESTIBULAR 2013 DA UNICAMP-FASE 1. RESOLUÇÃO: PROFA. MARIA ANTÔNIA C. GOUVEIA

X = 1, se ocorre : VB ou BV (vermelha e branca ou branca e vermelha)

1 A Integral por Partes

ESTATÍSTICA MULTIVARIADA 2º SEMESTRE 2010 / 11. EXERCÍCIOS PRÁTICOS - CADERNO 1 Revisões de Estatística

Dados ajustáveis a uma linha recta

Orientação a Objetos

FORMULAÇÕES ALTERNATIVAS PARA A CONJECTURA DE COLLATZ

x0 = 1 x n = 3x n 1 x k x k 1 Quantas são as sequências com n letras, cada uma igual a a, b ou c, de modo que não há duas letras a seguidas?

INE Fundamentos de Matemática Discreta para a Computação

CENTRO UNIVERSITÁRIO DO LESTE DE MINAS GERAIS - UnilesteMG

ESTUDO DO MÉTODO DE FATORAÇÃO DE INTEIROS CRIVO QUADRÁTICO

1 Base de um Espaço Vetorial

Aula 7: Circuitos. Curso de Física Geral III F-328 1º semestre, 2014

UMA VALIDAÇÃO MATEMÁTICA PARA UM ALGORITMO QUE SIMULA MISTURAS DE DISTRIBUIÇÕES

Associação de resistores em série

Capítulo 2. APROXIMAÇÕES NUMÉRICAS 1D EM MALHAS UNIFORMES

x 1 f(x) f(a) f (a) = lim x a

MAP Cálculo Numérico e Aplicações

Este material traz a teoria necessária à resolução das questões propostas.

CAPÍTULO 1 Exercícios Propostos

Números Felizes e Sucessões de Smarandache: Digressões com o Maple

Capítulo 1: Erros em cálculo numérico

EXAME NACIONAL DE QUALIFICAÇÃO GABARITO. Questão 1.

Texto 03: Campos Escalares e Vetoriais. Gradiente. Rotacional. Divergência. Campos Conservativos.

Dadas a base e a altura de um triangulo, determinar sua área.

Exercícios Teóricos Resolvidos

Resumo de Álgebra Linear - parte II

Princípio da Casa dos Pombos I

Surpresa para os calouros. Série Matemática na Escola. Objetivos

REGRESSÃO LOGÍSTICA. Seja Y uma variável aleatória dummy definida como:

INTRODUÇÃO AO CÁLCULO DE ERROS NAS MEDIDAS DE GRANDEZAS FÍSICAS

Transcrição:

PRIMOS GÊMEOS E OUTRAS CONJECTURAS PEDRO PANTOJA Resumo. Nessa nota trataremos alguns aspectos de uma classe especal de prmos, os prmos gêmeos. Este um problema em aberto bastante conhecdo: A conjectura dos prmos gêmeos. Iremos provar váras equvalêncas de prmos gêmeos. Algumas generalzações desse problema, como a conjectura de Polgnac, a conjectura de Hardy Ltllewood e a conjectura de Dckson serão dscutdas. Falaremos também sobre a dstrbução dos números prmos. Sumáro. Introdução. Resultados Elementares 3. Equvalêncas 3 4. Teorema de Brun e a Conjectura de Hardy-Ltllewood 5 5. Conjecturas 9 Referêncas 0. Introdução Desde o tempo de Eucldes sabe-se da estênca da nfntude dos números prmos. Muto mas tarde Drchlet, estudou prmos em progressões artmétcas. Recentemente em 004, T. Tao e B. Green provaram um resultado de progressões artmétcas arbtraramente longas de prmos, veja []. O problema aqu é um pouco dferente. Vejamos o segunte caso trval: É fácl de argumentar que os úncos prmos cuja dferença é são (, 3. A famosa conjectura dos números prmos gêmeos pergunta se estem um número nfntos de pares de prmos da forma (p, p, em outras palavras, se estem nfntos números prmos cuja dferença é. Esta conjectura está em aberto, poucos avanços foram dados em busca de sua solução e é um dos temas centras da moderna teora analítca dos números. Os prmeros pares de prmos gêmeos menores do que 50 são (3, 5, (5, 7, (, 3, (7, 9, (9, 3, (4, 43,(59, 6, (7, 73, (0, 03, (07, 09, (37, 39, (49, 5,(79, 8, (9, 93, (97, 99, (7, 9, (39, 4. Curosamente, com eceção de (3, 5, todos esses pares de prmos podem ser escrtos como (6k, 6k para algum k Z, por eemplo, 5 = 6 e 7 = 6. Isso é fácl de ver, já que todo número ntero pode ser escrto como 6k, 6k, 6k, 6k, 6k, 6k 3 desses os úncos que podem ser prmos são (6k, 6k com 6k (6k =, os outros são múltplos de e de 3. Agora pelo teorema de Drchlet estem nfntos prmos da forma 6k e 6k, k Z e cada par pode ser escrto como (6k, 6k eceto para (3, 5, Poderemos conclur assm, tão faclmente que estem nfntos prmos gêmeos? Infelzmente (ou felzmente muto dos números da forma (6k e (6k não são prmos. Veremos mas tarde que o conjunto dos números prmos gêmeos é lmtado no segunte sentdo, a soma da sére dos nversos dos números prmos gêmeos converge, ao contráro da soma da sére dos nversos Data: Versão de de Abrl de 0. Gostara de agradecer ao professor Pedro Duarte e a fundação Calouste Gulbenkan, Lsboa Portugal. Dedcamos este trabalho em memóra do Professor Elmano ( 30/03/0. Palavras chaves. Prmos Gêmeos, Conjectura de Hardy-Ltllewood, Teorema de Brun.

PEDRO PANTOJA dos números prmos que dverge. Estem uma grande quantdade de prmos gêmeos descobertos, mas sso não resolve nosso problema. A maora dos prmos gêmeos muto grandes descobertos são da forma k n ± pos estem efcentes testes de prmaldade para números quando k não é muto grande, por eemplo, o teorema de Proth (vde [8] e [33] para os detalhes. Dubner em 993 mostrou que 459 859 ± são prmos gêmeos, Forbes em 995 mostrou que 679777 538 ± são prmos gêmeos e da mesma forma Lfchtz em 999 mostrou que 36700055 3900 ± são prmos gêmeos. Também os números 6556468355 333333 ± são prmos gêmeos. Estem outras classes de prmos, os chamados trplos de prmos (p, p, p 3 onde p < p < p 3 são números prmos consecutvos com a menor dferença p 3 p possível. Há dos tpos neste caso (p, p, p 6 e (p, p 4, p 6. Para os prmos quádruplos só este um tpo, a saber, os números prmos da forma (p, p, p6, p8. Os números prmos quádruplos menores do que 800 são (5, 7,, 3, (, 3, 7, 9, (0, 03, 07, 09, (9, 93, 97, 99. Podemos generalzar esse conceto, e dzemos que para k, (p,..., p k é uma k tupla de prmos se p <... < p k são números prmos consecutvos com a dferença p k p menor possível. O teto é organzado da segunte forma. Na seção apresentamos alguns resultados elementares. Na seção 3 resultados assegurando condções necessáras e sufcentes para pares de prmos gêmeos. Na seção 4 apresentamos o teorema de Brun e a conjectura de hardy Ltllewood. Também estudaremos o comportamento da dstrbução dos números prmos. Fnalmente, estudaremos váras conjecturas mportantes relaconadas com os prmos gêmeos. A notação usada nesse trabalho é bascamente a standard.. Resultados Elementares Nosso prmero resultado é uma smples consequênca do pequeno teorema de Fermat. Proposção.. Se os números (p, p são prmos gêmeos, então (. p 3p 8 (mod p p. Demonstração. A prova é fácl. Se p é prmo, então pelo pequeno teorema de Fermat (claro que p tem-se p (mod p p 8 3p 8 (mod p. Analogamente, se p é prmo, p (mod p p 3(p = 3p 8 (mod p. É claro que p e p são coprmos, O resultado segue. Vale salentar que a recíproca não é válda, um contra-eemplo é o par (56, 563 (será mera concdênca 56 ser um número de Carmchael?. Proposção.. Se os números (p, p, p 3, p 5 são prmos gêmeos, então: 3 p 4p 9 (mod p p 5 p 60p 5 (mod p p. Demonstração. É deada ao cudado do letor. Consderemos agora os números de Catalan, defndos por ( (. C n = n n n Estem váras propredades nteressantes dos números de Catalan, vde []. O segunte Lema é medato. Lema.3. Se p é um prmo ímpar, então ( p C p (mod p. Seja N = k n com k < n, se este um ntero a tal que a N (mod N, então N é prmo.

PRIMOS GÊMEOS E OUTRAS CONJECTURAS 3 Demonstração. Tem-se que p (mod p para qualquer ntero, daí ( ( ( ( ( p p p (p! = 3... p p... (p [( ( ( p p p (p!!] C p (p C p = = ] (p /! [( p ( p (mod p, o resultado segue. Proposção.4. Se os números (p, p, são prmos gêmeos, então (.3 8( p C p 7p 6 (mod p p. Demonstração. Pelo lema anteror, 8( p C p 8 7p 6 (mod p Analogamente, como C (p / = ( p 3 C (p/ 4p tem-se ( ( 8( p C(p / = 8( p p 3 p 3 C (p/ 4 4p p 7(p = 7p 6 (mod p, desde que 4(p 3 p (mod p. O segunte teorema será útl na próma seção. É bem conhecdo da teora elementar dos números. Teorema.5. (Wlson Um número natural p é prmo se, e somente se, (.4 (p! (mod p. Indcamos ao letor nteressado [9] para materal adconal e Dscussão sobre generalzações do teorema de Wlson. 3. Equvalêncas Mutas das equvalêncas provadas nessa seção não são muto útes na prátca, para determnar se prmos são gêmeos. O prncpal e dfícl problema é saber se estem nfntos prmos gêmeos. Isto será dscutdo com mas detalhes nas prómas seções. O resultado abao fo demonstrado por P. A. Clement em 949. Equvalênca 3.. (Clement Os números (p, p são prmos gêmeos se, e somente se, (3.5 4[(p! ] p 0 (mod p p. Demonstração. Suponhamos prmeramente que (p, p são prmos, então por.4, (p! 0 (mod p e (p! 0 (mod p (p! = k(p para algum k Z, sa k (mod p, em outras palavras, k 0 (mod p daí 4(p! = k(p 4[(p!]p = (k(p 0 (mod p p. Recprocamente, se 4[(p!]p 0 (mod p p 4[(p!]p 0 (mod p. 4 não pode dvdr p, assm [(p!] 0 (mod p, pelo teorema de Wlson p é prmo. Analogamente, se 4[(p!]p 0 (mod p tem-se 4(p!p4 ( ( (p! (p! = [(p!] 0 (mod p pode-se argumentar que p e são coprmos, então (p! 0 (mod p pelo teorema de Wlson p é prmo. Equvalênca 3.. Os números (p, p são prmos gêmeos se, e somente se, [( ] p (3.6! ( p (5p 0 (mod p p.

4 PEDRO PANTOJA Demonstração. Pelo lema.3 e o teorema.5, ( p ] p! ( prmo, então [( p 0 (mod p donde [( ] p! ( p 0 (mod p [( ] p! ( p (5p 0 (mod p se, e somente se p é prmo. Para p tem-se [( ] p! ( p 0 (mod p [( p ]! (mod p se, e somente se p é se, e somente se p é prmo, então [( ] p 8! 8( p 0 (mod p ( [( ] p p 8! ( 8( p 0 (mod p [( ] (p p p! (5(p 8( p 0 (mod p [( ] p! ( p (5p 0 (mod p se, e somente se p é prmo. Assm [( ] p! ( p (5p 0 (mod p p. se, e somente se (p, p são prmos gêmeos. Os seguntes resultados dão uma caracterzação de prmos gêmeos usando a função de Euler e a função soma de dvsores. Equvalênca 3.3. Os números (p, p são prmos gêmeos se, e somente se, (3.7 φ(p φ(p = p. Demonstração. Se (p, p são prmos, φ(p = p e φ(p = p donde φ(p φ(p = p. Recprocamente, como φ(n n para qualquer ntero n, suponhamos que φ(p φ(p = p. Se p não fosse um número prmo, dgamos p = cd, < c, d < p φ(p (p φ(p φ(p = p φ(p p 3 φ(p p 3, uma contradção. Portanto p é prmo. O caso onde p não é um número prmo é análogo. A prova está completa. Equvalênca 3.4. Os números (p, p são prmos gêmeos se, e somente se, (3.8 σ a(p σ a(p = p a (p a para a ntero, a. Demonstração. Se p, p são prmos σ a(p = p a e σ a(p = (p a assm, σ a(pσ a(p = p a (p a. Recprocamente, é óbvo que σ a(n n a para qualquer ntero n, assm se p não fosse prmo, então p = bc, < b, c < p. Por hpótese, σ a(p σ a(p = p a (p a.e. σ a(p b a c a p a > p a = 3p a daí σ a(pσ a(p = p a (p a > σ a(pp a 3 σ a(p < (p a o que não pode acontecer, pos σ a(p (p a, portanto p é um número prmo. Da mesma forma se p não for prmo, chegaremos a uma contradção. A prova está completa. Equvalênca 3.5. Seja n = pq, então (p, q são prmos gêmeos se, e somente se, (3.9 φ(nσ(n = (n 3(n.

PRIMOS GÊMEOS E OUTRAS CONJECTURAS 5 Demonstração. Se (p, q, p < q são prmos gêmeos, então φ(n = φ(pφ(q = (p (q e σ(n = p q pq = ( p( q φ(nσ(n = (p (q = (pq p q = (pq p pq q pq = (pq (p q pq = n n 3 = (n 3(n porque q p =. A outra parte da demonstração é deada ao cudado do letor. Vde [8]. Com a equvalênca 3.4 podemos mostrar um resultado nteressante. Equvalênca 3.6. Os números (p, p são prmos gêmeos se, e somente se, ( (3.0 a p p ( = p a a p p = Para a 0, onde denota a parte ntera de. Demonstração. Como para qualquer ntero p p { p, se dvde p = 0, caso contráro ( a p p = a = σ a(p. = p = Donde, pela Equvalênca 3.4 ( a p = ( a p = (p a p p = p a (p a = σ a(p σ a(p = p p p (p a p p a ( p (p a p ( = a p = O resultado segue medatamente. p p = = ( a p ( a p (p a p p a ( p p = p (p a p p p = (p a (p a (p a p p = ( a p p (p a = 4. Teorema de Brun e a Conjectura de Hardy-Ltllewood Um resultado profundo de prmos gêmeos é devdo ao matemátco norueguês Vggo Brun em 90. Ele afrma que a soma dos nversos de todos os pares de prmos gêmeos converge. A segunte sére é convergente (4. p,p P ( p p onde P denota o conjunto dos números prmos. Entretanto, sabe-se que a soma dos nversos de todos os prmos dverge.

6 PEDRO PANTOJA Teorema 4.. (Euler A segunte sére é dvergente (4. p. Demonstração. Iremos comparar a sére dada com a sére harmônca que sabemos ser dvergente. Para sso, femos t N arbtraramente. Pelo teorema fundamental da artmétca, sabemos que, para cada n N, n t, a fração é o produto de (um número fnto de frações do tpo onde p é prmo, n p k p n t e k N. Sendo assm, é uma parcela do produto n ( = ( p p p... = k (/p k=0 e portanto tomando os logarítmos, obtemos log ( t n= t n= n (/p ( log n (/p Agora, femos p P arbtráro. Como /p <, a epansão em sére de potêncas da função logarítmca, permte-nos deduzr que ( ( n log = log( (/p = (/p n (/p n n= n= n=. np n p = n p ( p p p... = p p [ (/p] = p p(p. por consegunte, log ( t n= n p p(p p t n= n(n. fnalmente, tomando os lmtes (quando t, obtemos ( log n p n(n = p n= n= porque e, portanto, a sére n= n(n = ( n = n n= é dvergente, já que n= é dvergente. Como queríamos. n Observação 4.. Este fato mplca que estem nfntos números prmos. p

PRIMOS GÊMEOS E OUTRAS CONJECTURAS 7 Observação 4.3. Pode-se provar que se mdc(a, n =, então (4.3 p =. p a (mod p De 4.3 segue medatamente o segunte teorema, devdo a Drchlet em 837: Teorema 4.4. (Drchlet Dado um ntero n > e um ntero a tal que mdc(a, n =, estem nfntos prmos p tas que p a (mod p. Sejam π( := card{p : p P} e F n = n o n ésmo número de Fermat. É natural perguntar se a sére (4.4 π(n n= é convergente ou dvergente. Temos o segunte eemplo. Eemplo 4.5. Mostre que π(f... π(f <. n n= Solução: Consdere P = p... p n, onde p n é o n ésmo número prmo. Como qualquer número natural admte um fator prmo, então p n p... p n. Vamos mostrar por ndução que p n < n para n. Quando n =, < que é um resultado verdadero. Suponhamos que p n < n assm p n p... p n <... n <... n = n < n. Segue que p n < F n daí π(f n > n π(f... π(f n >... n = n(n, logo n= π(f... π(f < n n= n(n =. O (não trval teorema 4.4 tem um moderno refnamento. É conhecdo que se π(, d, a denota o números de prmos com classe de resíduos a (mod d que não eedem, então para fos nteros coprmos a, d com d > 0 (4.5 π(, d, a onde (4.6 L( := φ(d π( φ(d ln( φ(d L(, 3 dt ln(t. Teorema 4.6. (Segel-Walfsz Para qualquer número η > 0 este um número postvo C(η tal que para todos os nteros postvos coprmos a, d com d < (ln( η, (4.7 π(, d, a = ( ( φ(d L( O c(η ln(, 4 onde a grande notação O é absoluta. Dscussões desses e outros teoremas encontram-se em [8]. A segur daremos uma das mas belas versões da desgualdade de Brun-Ttchmarsh devdo a Montgomery e Vaughan em 979, vde [5]. Teorema 4.7. (Desgualdade de Brun-Ttchmarsh Se d, a são nteros postvos com mdc(a, d =, então para todos > d, (4.8 π(, d, a < φ(d ln(/d. 3 f( g( é equvalente a lm f( g( =. 4 Sejam f e g funções onde g é postva. Se este uma constante postva C tal que f( Cg( escrevemos f( = O(g(.

8 PEDRO PANTOJA Seja π ( o número de prmos gêmeos (p, p tal que p. Por eemplo, (4.9 π (5, 4 0 5 = 5767873343. Brun provou que este um ntero 0 tal que 0 (4.0 π ( < 00 (log. Mostra-se que (4. π ( c p> ou ( (p (4. π ( c Π (log ( (log O ( O ( log log ( log log. Hardy e Lttlewood con- Π é conhecda como constante dos prmos gémeos e c é outra constante. jecturaram que c = e que (4.3 π ( Π ( d (log. A conjectura dos prmos gêmeos é equvalente a lm nf d n =, onde d n = p n p n é a dferença de dos prmos consecutvos, e pouco se sabe do comportamento dessa função. Conjectura-se que d n (4.4 L = lm nf = 0. log p n Mas não há uma prova dsso. Paul Erdös mostrou que L <, sucessvamente houve melhoras desse resultado. O segunte resultado é smples. Lema 4.8. lm sup d n =. Demonstração. Consdere a segunte sequênca de números compostos consecutvos n!, n!3,..., n!n então a dferença entre o maor prmo menor do que n! e o menor prmo maor n! n é pelo menos n, então d n > n, o resultado segue medatamente. Westzynthus em 93, provou que (4.5 lm sup dn log p n =. D. A. Goldston, J. Pntz e C. Y. Yldrm provaram que p n p n (4.6 lm nf log pn(log log p <, n (veja [4] para os pormenores. e em 963, Rankn complatando o trabalho de Erdös mostrou que (4.7 lm sup d n(log log log p n log p n log log p n log log log log p n e γ Onde γ denota a constante Euler Mascheron, defnda por (4.8 γ = lm ( 3... n log(n. n Em 99 Cramer, assumndo a hpótese de Remann, provou que este uma constante M > 0 tal que (4.9 d n = P n p n < M( p n log(p n

PRIMOS GÊMEOS E OUTRAS CONJECTURAS 9 Por esse motvo a Hpótese de Remann está ntmamente relaconada com a função d n. É claro que esse últmo resultado pode em prncípo ser falso, caso a hpótese de Remann também seja. Fnalmente, daremos uma prova do teorema de Brun. Iremos utlzar o segunte (4.30 π ( Para mas detalhes veja o artgo de M. Faester [5]. ( Teorema 4.9. (Brun p <. p p,p P (log log (log Demonstração. B é chamada constante de Brun, cujo valor apromado é.99. Consdere a n defndo por: {, se p,p são prmos gêmeos a n = 0, caso contráro Obtemos p,p P ( p p (log log lm (log (log log t t(log t dt Fazendo a substtução u = log t na últma ntegral temos ( p (log log lm p (log p,p P log ( log u du u Um smples cálculo mostra que ( log u (4.3 du = (log u log u C u u Portanto a sére em questão converge. 5. Conjecturas Para fnalzar, nessa seção abordaremos outras conjecturas mportantes da teora analítca dos números, que de alguma forma tem a ver com a conjectura dos prmos gêmeos. A conjectura geral de Polgnac, é uma generalzação da conjectura dos prmos gêmeos. Defnmos π k ( da segunte manera, Para todo k e >, seja π k ( o número de nteros n tal que (5.3 p n e p n p n = k. Com o método de Brun, pode-se mostrar que este uma constante C k > 0 tal que (5.33 π k ( < C k (log. Em outras palavras, a conjectura de Polgnac pode ser enuncada como Conjectura 5.. Todo número par é a dferença de dos números prmos consecutvos, em um número nfnto de maneras. Se essa conjectura for verdadera, tomando a dferença gual a, obtemos a conjectura dos prmos gêmeos (vde [35] e [36]. Em 904, Dckson [38] conjecturou um fato mportante, chamada hoje de conjectura de Dckson. Em 958 Schnzel e Serpnsk generalzaram essa conjectura, mas não trataremos dsso. A conjectura de Dckson (sobre polnômos lneares afrma o segunte:

0 PEDRO PANTOJA Conjectura 5.. Seja s e f (X = b X a, onde =,..., s, a, b Z e b. Além dsso, não este um ntero n > que dvda todos os produtos s j= f j(k para cada ntero k. Então este uma nfndade de números naturas m tas que cada um dos nteros f (m,..., f s(m é um números prmo. Essa últma conjectura tem como caso partcular a conjectura dos prmos gêmeos e a conjectura dos prmos de Sophe German. Dzemos que p é um número prmo de Sophe German se p e p são prmos. Os prmos de Sophe German foram consderados pela prmera vez, para provar o prmero caso do últmo teorema de Fermat (demonstrado completamente pelas déas de város matemátcos, mas prncpalmente por Andrew Wles se p > é um número prmo de Sophe German, então não estem nteros, y, z tas que p y p z p = 0 com mdc(, y, z = e p não dvde yz. Lagrange provou em 775 que se p 3 (mod 4 então p é prmo de Sophe German se, e somente se, p M p onde M p = p é o número de Mersenne. Também é notável dzer que a conjectura de Dckson engloba o teorema de Drchlet como caso partcular. Conjectura 5.3. Estem nfntos números prmos de Sophe German. Entretanto, resolver a conjectura dos prmos de Sophe German será tão dfícl quanto resolver a conjectura dos prmos gêmeos. Prova-se que, Sendo π(, S o número de prmos de Sophe German menores ou guas a, este C tal que para todo (5.34 π(, S < C (log Por fm, daremos uma generalzação da conjectura de Hardy Ltllewood, chamada de k Tupla conjectura, ela afrma que o número assntótco de constelações de prmos pode ser calculado eplctamente. Conjectura 5.4. Seja 0 < m < m <... < m k então, sendo π m,m,...,m k ( o número de prmos p tas que p m, p m,..., p m k são todos prmos, satsfaz (5.35 π m,m,...,m k ( C(m, m,..., m k dt (log t k onde C(m, m,..., m k = ω(q;m,m,...,m k k q ( q q k o produto é tomado sobre todos os prmos ímpares q e ω(q; m, m,..., m k é o número de dstntos resíduos 0, m,..., m k (mod q. Referêncas [] Bryna Kra, The Green Tao Theorem on Arthmetc Progressons n the Prmes: An Ergodc Pont of Vew. [] Conway and Guy, The Book of Numbers. New York. [3] Teora dos Números: Um passeo com Prmos e outros Números Famlares pelo Mundo Intero, IMPA. [4] Tom Apostol, Introducton to analytc number theory, Sprnger. [5] M. Faester, Bruns Theorem and Seve of Erastosthenes. [6] P.A. Clement, Congruences for sets of prmes, AMM, 949. [7] H. Cramer, On the order of magntude of the dfference between consecutve prme numbers, Acta Math. [8] P. Rbenbom, The new book of prme number records, Sprnger, 996. [9] Carlos G. T. A. Morera, Ncolau C. Saldanha Prmos de Mersenne (e outros prmos muto grandes. [0] Twn prmes and twn prmes conjecture, Wolfram Mathematcs. [] D. A. Goldston, Are There Infntely Many Twn Prmes? [] Ernest, Song, On Remann Zeta Functon and Twn prme Conjecture. [3] Wkpeda, Twn Prmes. [4] D. A. Goldston, J. Pntz and C. Y. Yldrm, Prmes n tuples II, Acta Math. 04, no., 47(00. [5] H. Montgomery and R. Vaughan. The large seve. Mathematka 0:9 34, 973. [6] T. Ncely prme constellatons research project 004. http://www.trncelly.net/counts.html. [7] C. Rchard, P. Carl. Prme numbers, A Computaconal perspectve. Sprnger Verlag. [8] H. Davenport. Multplcatve Number Theory (Second edton. Sprnger Verlag, 980. [9] Cong Ln and L Zhpeng, On Wlsons Theorem and Polgnac Conjecture. Arv. [0] D. J. Newman, Analytc number theory, Sprnger, 998. [] Hans Resel, Prme Numbers and Computer Methods for Factorzaton, second edton, Brkhäuser, 994. [] Guy, Rchard K. (98, Unsolved Problems n Number Theory, Berln, New York: Sprnger Verlag.

PRIMOS GÊMEOS E OUTRAS CONJECTURAS [3] Resel, Hans (994, Prme numbers and computer methods for factorzaton, Basel, Swtzerland: Brkhäuser. [4] Furstenberg, Harry (955, On the nfntude of prmes, The Amercan Mathematcal Monthly (Mathematcal Assocaton of Amerca 6 (5: 353. [5] Vggo Brun (99. La sére /5/7//3/7/9/9/3/4/43/59/6..., où les dénomnateurs sont nombres premers jumeau est convergente ou fne. Bulletn des Scences Mathématques 43: 00 04,4 8. [6] Alna Carmen Cojocaru; M. Ram Murty (005. An ntroducton to seve methods and ther applcatons. London Mathematcal Socety Student Tets. 66. Cambrdge Unversty Press. [7] Chrstopher Hooley (976. Applcatons of seve methods to the theory of numbers. Cambrdge Unversty Press. [8] E. Landau (97. Elementare Zahlentheore. Lepzg, Germany: Hrzel. Reprnted Provdence, RI: Amer. Math. Soc., 990. [9] J. Wu (004. Chen s double seve, Goldbach s conjecture and the twn prme problem. Acta Arthmetca 4 (3: pp. 5 73. [30] Golomb, S. W. (963, On the sum of the recprocals of the Fermat numbers and related rratonaltes, Canad. J. Math. 5: 475 478. [3] Luca, Floran (000, The ant-socal Fermat number, Amercan Mathematcal Monthly 07 (: 7-73. [3] Robnson, Raphael M. (954, Mersenne and Fermat Numbers, Proceedngs of the Amercan Mathematcal Socety 5 (5: 84 846. [33] Pascal Sebah and Xaver Gourdon. Introducton to twn prmes and Bruns constant computaton. 00. [34] On-Lne Encyclopeda of Integer Sequences(OEIS. http://oes.org/a5385. [35] Ball, W. W. R. and Coeter, H. S. M. Mathematcal Recreatons and Essays, 3th ed. New York: Dover, p. 64, 987. [36] Dckson, L. E. Hstory of the Theory of Numbers, Vol. : Dvsblty and Prmalty. New York: Dover, 005. [37] Leonard E. Dckson, A new etenson of drchlets theorem on prme numbers, Messenger of Mathematcs, 33, pp55 6, (904. [38] Halberstam, E. and Rchert, H.-E. Seve Methods. New York: Academc Press, 974. [39] Odlyzko, A.; Rubnsten, M.; and Wolf, M. Jumpng Champons. Eperment. Math. 8, 07 8, 999. Departamento de Matemátca, Unversdade Federal do Ro Grande do Norte. Campus Unverstáro, Lagoa Nova 59078-970. Natal, RN Brazl. E-mal address: p.pantoja@hotmal.com