Aplicação da TOC versus contabilidade de custos

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Transcrição:

Aplicação da TOC versus contabilidade de custos *Tonny Fábio de Araújo Peixoto (MSc-UFAM) tonnyfabio@hotmail.com Waltair Vieira Machado (PhD-UFAM) waltair.machado@ufam.edu.br Eduardo Moura Jardim (PhD-INT/UFRJ) cpg.ftecnologia@ufam.edu.br Resumo Este trabalho verifica a relevância da contabilidade de ganhos como ferramenta para auxiliar o processo decisório de uma empresa de manufatura em escala industrial, questionando o papel da contabilidade de custos neste mesmo processo decisório, através da comparação de tomadas de decisões em um caso utilizando as duas ferramentas. Devido às margens de lucro praticadas atualmente pelas empresas, as duas ferramentas levam à mesma conclusão. Porém, após fazer-se uma análise de sensibilidade, verificou-se que a decisão indicada pela contabilidade de ganhos diverge da decisão proposta pela contabilidade de custos. O estudo conclui que a contabilidade de ganhos é relevante para as empresas. Palavras chave: Contabilidade de ganhos, Tomada de decisões, Teoria das restrições. 1. Introdução As empresas de hoje têm que ser muito ágeis para sobreviverem e terem sucesso no futuro, e facilmente adaptáveis às novas realidades impostas por vários fatores, dentre eles o mercado. Porém, muitas empresas ainda sofrem para se adaptarem pois para isso precisam mudar alguns conceitos que foram usados por muitos anos com êxito. A quebra e conseqüente mudança de paradigma assusta muitos gestores por estarem profundamente atrelados e confiantes a experiências passadas, na certeza de que elas vão sempre dar certo. E talvez este seja o maior erro que um gerente dos dias atuais possa cometer. Tem-se que parar por um momento e reavaliar todos os conceitos utilizados, testando-os sob a ótica dos momentos atuais, para daí concluir se ainda estão válidos e confiáveis, ou se precisam ser substituídos por novos conceitos que supram novas necessidades surgidas e que não tinham sido vislumbradas pelo modelo vigente. Smith (2000) questionou os vários tipos de sistema de contabilidade de custos afirmando que a primeira necessidade é o reconhecimento que seja qual for o sistema de custos que uma empresa use, no final do ano ela terá o mesmo dinheiro, o mesmo ativo, passivo, força de trabalho, e mercado. Porém, o método que ela utilizar a levará a decisões estratégicas muito diferentes (e freqüentemente opostas). Se as decisões são diferentes, então várias delas podem não ser a ótima. Ou seja, se várias empresas usam sistemas de custos diferentes para tomar as mesmas decisões, pode-se concluir que muitas dessas empresas estão tomando decisões baseadas em sistemas que não fornecem soluções ótimas e, em alguns casos, soluções contrárias às soluções ótimas. Os gerentes de qualquer organização precisam saber em que caminhos devem direcionar seus esforços, para levar a organização para mais perto da sua meta (CORBETT, 1998). Hoje em dia muitas empresas usam a contabilidade tradicional, chamada de contabilidade de ENEGEP 2003 ABEPRO 1

custos, como ferramenta para tomada de decisões gerenciais. Porém, ela não consegue identificar claramente quais os produtos contribuem mais para o lucro da empresa, pois analisa cada produto de maneira isolada. Como ela teve início na Revolução Industrial, ela possui como alicerce uma série de premissas que não são mais realidade numa fábrica contemporânea e que foram esquecidas e simplesmente continuam sendo aceitas. A contabilidade de ganhos se propõe a suprir estas lacunas deixadas pela contabilidade de custos, pois se baseia em argumentos simples e lógicos, fazendo com que o gerente faça suas decisões com argumentos claros e tornando o processo mais transparente. Surgida da Teoria das Restrições, do físico israelense Eliyahu Goldratt (1990), ela ainda dá para os gestores a noção de que a empresa é um único sistema e como tal, cada decisão tem que ser tomada considerando toda a empresa. Peixoto (2002) propôs oferecer às empresas e à comunidade acadêmica uma plataforma cientificamente embasada para tomada de decisões pertinentes aos desafios apontados. O presente artigo é baseado em estudos realizados em uma empresa do setor de plásticos do Pólo Industrial de Manaus PIM destinados a elaboração de dissertação de mestrado de um dos autores onde se estudou decisões tomadas em três problemas na empresa em questão, que foram verdadeiramente resolvidos com o auxílio da contabilidade de custos, sendo de contínuo solucionados também pela contabilidade de ganhos e analisados criticamente através de uma análise de sensibilidade. Por limitações de espaço no presente artigo, o autor detalha a resolução de apenas um dos problemas do projeto, por esse apresentar um método de resolução mais didático que utiliza o recurso restritivo. Maiores detalhes podem ser obtidos em outro espaço (Peixoto 2003) 2. Situação Encontrada O objeto de estudo é uma empresa multinacional da indústria de plásticos e borracha, localizada em Manaus AM, que pertence a um grupo internacional presente nos 5 continentes com 9.700 funcionários ao redor do mundo e faturamento anual de US$1,5 bilhões de dólares. Esta empresa usa, no seu quotidiano, a contabilidade de custos para tomada de decisões. Mensalmente, são gerados relatórios com o custo de fabricação do mês corrente para todos os seus produtos e comparados com o custo padrão que foi estabelecido para cada item no ano. Quando a empresa precisa tomar alguma decisão sobre compra ou venda de equipamentos, introdução ou retirada de um produto, ela sempre tem o auxílio da contabilidade de custos para decidir o que é mais lucrativo para si. O mix de vendas escolhido pela empresa não a olha como um todo e não considera a exploração do tempo precioso do seu recurso restritivo de capacidade. A empresa estudada comercializa produtos que ela mesma produz, além de outros que compra de outras empresas, geralmente produtos importados, para comercializá-los no Brasil. Dentre os produtos importados, encontra-se um, que foi chamado de produto Y, o qual apresentava bons resultados de vendas e que fazia parte de um mercado ainda inexplorado pela manufatura da empresa e aparentemente atraente para a mesma. Falava-se ainda que com o mesmo produto sendo produzido pela empresa, a mesma poderia oferecer preços mais competitivos, o que aumentaria ainda mais sua participação no mercado. Restava decidir se valeria a pena parar de importar o determinado produto e começar a fabricá-lo no Brasil. Este produto é vendido em duas apresentações: em pouch (embalagem em saco plástico flexível) e em blister (embalagem em cartela com plástico rígido). 3. Metodologia Identificou-se um problema da fábrica estudada cuja solução tinha sido gerada com base na contabilidade de custos. Escolheu-se um mês típico, setembro, que possui valores muito ENEGEP 2003 ABEPRO 2

próximos aos valores médios anuais. Todos os valores foram camuflados com uma ordem de grandeza não-absoluta e em unidades de medida imaginárias para fins didáticos, mas que guardam uma relação direta com a realidade da empresa. Foi criada uma moeda, após a camuflagem, definida como Unidade Monetária Fictícia, sendo usado UM$ como símbolo. Buscou-se desenvolver um modelo que permitisse, através de planilhas tipo Excel, simular as situações estudadas para comparar as decisões tomadas anteriormente com o auxílio da contabilidade de custos, agora à luz da contabilidade de ganhos (leia-se teoria das restrições). Em seguida, levantaram-se os dados necessários para a realização do estudo: despesas operacionais, investimentos, produtos comercializados, vendas mensais, preços e capacidade dos recursos. Alguns destes dados já estavam disponíveis e outros foram definidos na realização do trabalho. O modelo adotado é baseado em Corbett (1998). A metodologia adotada, as considerações para o início da modelagem, as explicações sobre o modelo adotado, bem como todas as planilhas criadas, estão disponíveis na dissertação de mestrado de Peixoto (2002) e não serão detalhadas neste artigo por limitações de espaço. A dissertação pode ser consultada no site http://orbita.starmedia.com/tonnyceef. Em todas as análises, não se está considerando a possibilidade de baixar o preço do produto para se obter um volume maior de vendas. Foram considerados volume e preços iguais para se ter os mesmos parâmetros de comparação. 4. Resultado Alcançado 4.1. Modelagem do momento atual: Depois de preencher a planilha chamada de base de dados dos produtos com todos os dados necessários, procede-se o preenchimento de algumas das células da planilha comparativa entre o mix de lucro máximo e o mix de vendas. A primeira célula que pode ser preenchida é a que dá o tempo disponível do recurso restritivo de capacidade (RRC). Ele é igual ao número de dias produtivos disponíveis no período em questão. Como a unidade de tempo usada para o RRC foi o segundo, o tempo disponível do RRC deve estar na mesma unidade para coerência de resultados. O mês de Setembro foi o período de referência estudado. Naquele mês houve 20 dias produtivos, então se tem: Capacidade do RRC (segundos) = 20 dias x 24 h/dia x 60 min/h x 60 seg/min = 1.728.000 seg Para identificar o recurso restritivo de capacidade (RRC), analisou-se a capacidade de cada recurso produtivo da fábrica objeto do presente estudo, e em que produtos eles eram utilizados. Nos produtos foram identificados quais processos eram os gargalos e chegou-se a conclusão de que a maioria deles tinha como recurso restritivo o setor de injeção plástica, o qual possui diversas máquinas injetoras que são utilizadas para a modelagem dos diversos componentes dos produtos fabricados pela manufatura. Então 1.728.000 segundos é o tempo disponível em setembro de uma máquina. Como a empresa estudada dispõe de 14 máquinas injetoras: Capacidade do RRC (segundos) = 14 máquinas x 1.728.000 seg/máquina = 24.192.000 seg Portanto, a empresa dispõe de 24.192.000 segundos de seu recurso restritivo de capacidade no período em questão para serem utilizados na fabricação de seus produtos. Percebeu-se também que o mix de vendas não utiliza toda a capacidade disponível da restrição, pois a utilização acumulada com este mix não passa de 70,809% da capacidade total. Ou seja, poderia se produzir quantidades maiores de itens mais lucrativos além das solicitadas pelo mix ENEGEP 2003 ABEPRO 3

de vendas, aumentando o lucro da empresa.. Pelo mix de ganho máximo, vê-se que se podem fabricar todos os itens que a demanda previu, não esgotando a capacidade do RRC. A utilização acumulada total da restrição de 88,226%. Com iso, obteve-se o resultado comparativo, em unidades monetárias fictícias (UM$), mostrado na tabela 1 a seguir. Mix de ganho máximo Mix de vendas Ganho total da empresa 5.666.521,54 4.544.007,79 Despesas operacionais 2.539.265,93 2.539.265,93 Lucro líquido 3.127.255,61 2.004.741,86 Diferença de lucro líquido 1.122.513,75 Investimento 70.891.643,83 70.891.643,83 Retorno sobre investimento (anual) 52,9% 33,9% Tabela 1 Comparativo entre mix de ganho máximo e mix de vendas na situação atual da empresa A diferença de lucro líquido entre os dois mixes representa o quanto a empresa está investindo, ou deixando de ganhar no momento atual para conseguir um objetivo fundamental de qualquer empresa, que é a perenidade. Isto pode acontecer seja por uma razão de marketing, como por exemplo, forçando a produção de um determinado produto que não tenha retorno imediato mas que possa ser um ponto estratégico para participar de uma determinada fatia de mercado, ou de um segmento novo a ser explorado pela empresa; ou por um equívoco na composição do mix de vendas e é assim que isto pode ser identificado e corrigido sem demora, aumentando, neste caso, o lucro líquido da empresa em 56%. O RSI (retorno sobre investimento) demonstra o quão mais rapidamente o investimento estaria retornando se fosse utilizado o mix de ganho máximo. 4.2. Modelagem do problema: Continuar a importar o produto Y ou fabricá-lo no PIM? Análise pela contabilidade de custos: A decisão foi tomada tendo como argumento os seguintes pontos, custo do produto importado mais impostos contra o cálculo do custo padrão se ele fosse feito no Brasil, considerando os investimentos, gastos com pessoal, overheads embutidos no custo padrão. Através deste processo, chegou-se aos seguintes números: Custo do produto Y importado com impostos incluídos: UM$ 0,1117 Custo padrão do produto Y fabricado no Brasil: Produto Material Mão-de-obra Overhead Depr. Total Y em pouch 0,0343 0,0086 0,0084 0,0378 0,0891 Y em blister 0,0427 0,0067 0,0057 0,0358 0,0909 Tabela 2 Custo padrão do produto Y fabricado no Brasil Baseada nestes argumentos, a contabilidade de custos decidiu por começar a fabricar este produto no Brasil e parar de importá-lo. Porém, a contabilidade de ganhos não considera isso suficiente para se tomar uma decisão. É necessário que se analise o impacto desta mudança no resultado da empresa com um todo. Quando se deixa de comprar um produto para começar a fabricá-lo, tem-se que analisar todos os investimentos e despesas que serão acrescidas e como elas vão influenciar, positiva ou negativamente, o resultado da empresa. Segue-se a análise da contabilidade de ganhos. Produtos Unidades vendidas Vendas líquidas Preço unitário Custos tot. variáveis Ganho por unidade (Gu) Y em pouch importado 21.840 3.960 0,18133 0,13420 0,04713 Tempo no RRC (seg.) Gu / Seg no RRC ENEGEP 2003 ABEPRO 4

Y em pouch brasileiro 21.840 3.960 0,18133 0,03430 0,14703 1,86921 0,07866 Y em blister importado 223.200 37.749 0,16912 0,14118 0,02794 Y em blister brasileiro 223.200 37.749 0,16912 0,04260 0,12652 1,86921 0,06769 Tabela 3 Comparativo das planilhas de base de dados do produto Y (importado x brasileiro) Utilizando o simulador de acordo com a tabela 3 retirada da planilha de base de dados de todos os produtos, percebeu-se que os custos totalmente variáveis cairiam 74% no produto em Pouch e 69% no produto em blister se eles fossem fabricados no Brasil. O ganho unitário aumentaria 3,1 vezes no produto em pouch e 4,5 vezes no produto em blister. Porém, este produto possui peças injetadas que usam o recurso restritivo de capacidade (setor de injeção plástica). Torna-se indispensável, portanto, calcular quanto tempo este produto passa na injeção plástica para ser feito e qual é a relação ganho unitário por tempo usado do RRC. Em seguida deve-se recalcular o novo mix de ganho máximo baseado na nova composição da utilização da restrição, conforme tabela 4, detalhada a seguir. Na situação anterior, com os produtos importados que não usam o RRC, o mix de produtos que usa a restrição terminava com um dado produto apelidado por CA, que seria produzido na quantidade de 94.500 peças, número que não esgota a capacidade do recurso restritivo. Se os produtos fossem feitos no Brasil, eles teriam que compartilhar a capacidade disponível da restrição e estariam classificados por ordem decrescente junto com os demais, ou seja, ficariam entre os itens BP e BO e os itens BO e BN, exemplificado na tabela 4 a seguir. Assim, a restrição continuaria sem ter sua capacidade esgotada com o último item sendo o produto CA na quantidade de 94.500 peças, com utilização acumulada do recurso restritivo de 92,295%, conforme pode ser visto na tabela 4, extraída da planilha comparativa entre o mix de ganho máximo e o mix de vendas. Capacidade do RRC (seg): 24.192.000 Previsão Mix de Utiliz. acum. Mix de Ganho total de vendas do RRC [%] ganho por produto [UM$] Produtos demanda realizadas Mix de máximo Mix G Mix [peças] [peças] Mix G Max. vendas [peças] Max. vendas de BN 549.940 664.320 66,708% 56,603% 664.320 33.218,02 33.218,02 Y em pouch importado 162.000 - - - - Y em pouch brasileiro 162.000 21.840 67,960% 56,771% 162.000 23.819,55 3.211,23 BO 16.650 3.000 68,312% 56,835% 16.650 5.856,53 1.055,23 Y em blister importado 364.608 - - - - Y em blister brasileiro 364.608 223.200 71,129% 58,559% 364.608 46.131,78 28.240,23 BP 37.800 12.600 71,629% 58,726% 37.800 7.344,60 2.448,20 BQ 450.000 203.920 73,542% 59,593% 450.000 24.839,27 11.256,05 BR 30.048 1.500 73,939% 59,613% 30.048 4.931,88 246,20 BS 200.675 103.400 76,593% 60,980% 200.675 32.569,13 16.781,60 BT 4.500 15.000 76,892% 61,279% 15.000 2.434,66 2.434,66 BU 1.800 400 76,946% 61,291% 1.800 429,97 95,55 BV 250.052 125.712 81,447% 63,554% 250.052 36.162,73 18.180,57 BW 40.000 39.200 82,634% 64,718% 40.000 8.884,95 8.707,25 BX 85.000 92.400 86,785% 68,868% 92.400 27.707,31 27.707,31 BY 45.102 38.604 87,737% 69,683% 45.102 6.252,84 5.351,97 BZ 219.910 150.588 92,117% 72,682% 219.910 18.046,33 12.357,61 CA 94.500 10.900 92,295% 72,703% 94.500 277,48 32,01 Tabela 4 Comparativo de planilhas (mix de G max. x mix de vendas) com produto Y importado e Brasileiro ENEGEP 2003 ABEPRO 5

Quando se compara o resultado da planilha que considera a venda de todos os produtos usando o mix de vendas escolhido pela empresa e o mix de ganho máximo, percebe-se um crescimento percentual da situação "Produto Y produzido no Brasil" contra a situação "Produto Y importado", conforme a tabela 5 também retirada da planilha comparativa entre o mix de ganho máximo e o mix de vendas: Aumento no mix de vendas Aumento no mix de ganho máximo Ganho total da empresa 1,40% 1,62% Despesas operacionais 0,86% 0,86% Lucro líquido 2,09% 2,23% Investimento 19,83% 19,83% Retorno sobre investimento -14,81% -14,69% Tabela 5 Crescimento percentual do produto Y brasileiro em relação a produto Y importado O ganho total da empresa cresceu entre de 1,40 e 1,62% nos dois mixes. Foram considerados volumes e preços iguais para se ter os mesmos parâmetros de comparação. As despesas operacionais cresceram 0,86% devido ao aumento de gastos mensais que a empresa vai ter, principalmente despesas com 27 novos funcionários necessários para as atividades fabris da nova linha de produto. O lucro líquido da empresa cresceu entre de 2,09 e 2,23% nos dois mixes, o que é muito bom para a empresa. Em contrapartida, como houve um aumento considerável de 19,83% nos investimentos da empresa, por causa do grande número de máquinas e equipamentos que devem ser comprados para a nova linha, o retorno sobre investimento total da empresa cairia entre 14,69 e 14,81%. Pode-se concluir que a decisão tomada pela contabilidade de ganhos teve o mesmo resultado da decisão da contabilidade de custos. Em seguida, a mesma simulação foi refeita, porém com uma análise de sensibilidade. Colocou-se a hipótese que o preço da matéria-prima aumentou 1,7 vez no produto em pouch e 1,5 no produto em blister. Depois disso, comparou-se mais uma vez os resultados das duas contabilidades. 4.3.1. Análise crítica do problema: Matéria-prima mais cara A contabilidade de custos não aprovaria mais a decisão tendo como argumento o custo do produto importado mais impostos ser menor do que o cálculo do custo padrão se ele fosse feito no Brasil. Através deste mesmo processo, agora se chegou aos seguintes números: Custo do Produto Y importado com impostos incluídos: UM$ 0,1117 Custo padrão com o componente Material 1,7 vez maior no produto em pouch produzido no Brasil e 1,5 vez no produto em blister produzido no Brasil, conforme a tabela seguinte: Produto Material Mão-de-obra Overhead Depr. Total Y em pouch 0,05831 0,0086 0,0084 0,0378 0,11311 Y em blister 0,06405 0,0067 0,0057 0,0358 0,11225 Tabela 6 Custo padrão do produto Y com hipótese de matéria-prima mais cara Ou seja, como no Custo Padrão já se tem incluídos, através de fórmulas de rateio e alocação, os investimentos, gastos necessários etc. a contabilidade de ganhos reprovaria a decisão de fabricação do produto no Brasil por ele ter um custo quase 1% maior do que sendo comprado fora do país. Contudo, refazendo os cálculos do simulador da contabilidade de ganhos conforme a tabela 7, percebeu-se que os custos totalmente variáveis cairiam agora 57% no produto em Pouch e 55% no produto em Blister com a fabricação no Brasil e o ganho unitário ENEGEP 2003 ABEPRO 6

aumentaria 2,61 vezes no produto em Pouch e 3,76 vezes no produto em Blister o que, aparentemente, não traria nenhuma diferença com relação à situação anterior. Produtos Unidades vendidas Vendas líquidas Preço unitário Custos totalmente variáveis Ganho por unidade (Gu) Tempo no RRC (seg.) Gu / Seg no RRC Y em pouch importado 21.840 3.960 0,18133 0,13420 0,04713 Y em pouch brasileiro 21.840 3.960 0,18133 0,05831 0,12302 1,86921 0,06582 Y em blister importado 223.200 37.749 0,16912 0,14118 0,02794 Y em blister brasileiro 223.200 37.749 0,16912 0,06390 0,10522 1,86921 0,05629 Tabela 7 Comparativo das bases de dados do produto Y (importado x brasileiro) com matéria-prima mais cara Pode-se também comparar a contribuição de cada produto (importado ou nacional) na planilha mix de ganho máximo versus mix de vendas. Os valores da tabela 8 foram obtidos destas planilhas. Capacidade do RRC (seg): 24.192.000 Previsão Mix de Utiliz. acum. Mix de Ganho total de vendas do RRC [%] ganho por produto [UM$] Produtos demanda realizadas Mix Mix de máximo Mix [peças] [peças] G Max. vendas [peças] Mix G Max. vendas de Y em pouch importado 162.000 21.840 - - 162.000 7.635,10 1.029,32 Y em pouch brasileiro 162.000 21.840 68,312% 56,835% 162.000 19.929,93 2.686,85 Y em blister importado 364.608 223.200 - - 364.608 10.187,11 6.236,19 Y em blister brasileiro 364.608 223.200 71,629% 58,726% 364.608 38.365,63 23.486,07 Tabela 8 Comparativo de planilha (mix de G max. x mix de vendas) com matéria-prima mais cara Mas quando se compara o resultado da planilha que considera a venda de todos os produtos usando o mix de vendas escolhido pela empresa e o mix de ganho máximo, percebe-se um crescimento percentual da situação "Produto Y produzido no Brasil" contra a situação "Produto Y importado", conforme a tabela abaixo: Aumento no mix de vendas Aumento no mix de ganho máximo Ganho total da Empresa 1,29% 1,41% Despesas operacionais 0,86% 0,86% Lucro líquido 1,82% 1,86% Investimento 19,83% 19,83% Retorno sobre investimento -15,03% -15,00% Tabela 9 Crescimento percentual de Y brasileiro em relação a Y importado com matéria-prima mais cara O ganho total da empresa sobe entre 1,29 e 1,41% nos dois mixes, as despesas operacionais crescem 0,86%, o lucro líquido da empresa sobe entre 1,82 e 1,86% e com taxa de Retorno sobre Investimentos cerca de 15% inferior à primeira situação pelos investimentos que foram realizados. Com isso, conclui-se que com as margens mais estreitas a decisão tomada pela contabilidade de ganhos diverge da decisão da contabilidade de custos. Quando a contabilidade de ganhos analisa o impacto desta mudança no resultado da empresa como um todo, ela percebe que a decisão de fabricar o produto no Brasil deve trazer influências positivas para a empresa e assim, um gerente assistido pelas ferramentas da contabilidade de ganhos, optaria pela fabricação do produto em questão no Brasil. ENEGEP 2003 ABEPRO 7

5. Conclusões No caso estudado percebeu-se claramente que tanto a contabilidade de custos quanto a contabilidade de ganhos levavam a um mesmo resultado num primeiro momento que representa a situação real da empresa. Porém, se alguma nova variável mudasse as margens de lucro e diminuísse as diferenças entre o dinheiro que a empresa ganha e o dinheiro que a empresa gasta, a conclusão divergiria. Com esta análise de sensibilidade foi possível enxergar as lacunas que a contabilidade de custos apresenta como ferramenta para tomada de decisões gerenciais. No futuro, as margens tendem a ficar cada vez mais estreitas, e as empresas vão precisar de ferramentas mais exatas para poder sobreviver num mundo onde as decisões precisarão ser tomadas com mais rapidez e mais precisamente. A contabilidade de ganhos mostrou-se uma boa opção para ajudar o gestor a tomar decisões por ser fácil de entender, e principalmente por tratar a empresa como um único sistema, sempre levando em conta, para cada decisão, mesmo que local, o objetivo global da empresa. A pergunta é: até quando a contabilidade de custos conseguirá fornecer boas respostas? Se as margens sempre continuarem no nível atual, qual é a utilidade da contabilidade de ganhos? A contabilidade de ganhos continua sendo útil, além de fornecer respostas baseadas em fatos realmente relevantes para a empresa, ela ainda pode auxiliar em decisões do dia-a-dia da manufatura da empresa. Na medida em que ela analisa o recurso restritivo de capacidade, a empresa pode tomar decisões de como melhor explorá-lo. Muitas vezes, um produto que tem um ganho unitário maior do que um segundo, pode passar muito mais tempo na restrição, tornando-se menos lucrativo. E isso pode ser facilmente visualizado em um simulador baseado nestes conceitos. O presente trabalho não tem a pretensão de execrar a contabilidade de custos como ferramenta de decisão, mesmo porque já consagrada por séculos de aplicação, pelo contrário, ela continua tendo seu valor perante as obrigações da empresa com o estado, regulado por legislações específicas e para composição inicial de preços. Concluiu-se entretanto, que a contabilidade de custos pode ser substituída pela contabilidade de ganhos como ferramenta para tomada de decisões no chão-de-fábrica, fazendo a ressalva de que as decisões como escolha do mix de vendas não é somente uma questão econômica, mas também uma questão estratégica da empresa, ou seja, fazer com que a ela atinja eficientemente seu objetivo, que é ganhar dinheiro agora e no futuro. Além disso, a contabilidade de ganhos aponta para o lucro máximo e pode influenciar o departamento de marketing da empresa na escolha do mix de vendas, indicando quais os produtos contribuem mais para o aumento da lucratividade da empresa, possibilitando a adoção de estratégias específicas de marketing direcionadas aos mesmos. Referências CORBETT, T. (1998) - Throughput Accounting TOC s Management Accounting System. The North River Press. 1ª Edição. Great Barrington. GOLDRATT, E. (1990) - What Is This Thing Called the Theory of Constraints, and How Should It Be Implemented? The North River Press. 1ª Edição. Croton-on-Hudson. PEIXOTO, T. (2002) - A Contabilidade de Ganhos como uma Ferramenta para Tomada de Decisões Gerenciais - Caso de uma Empresa do Segmento de Plásticos e Borracha. Dissertação de mestrado em engenharia de produção. Universidade Federal do Amazonas, orientadores: Eduardo Jardim, PhD e Waltair Machado, PhD. PEIXOTO, T., JARDIM E.M., MACHADO W.V (2003) Modelo de aplicação da TOC para tomada de decisões gerenciais. XXIII ENEGEP - Ouro Preto, MG, Brasil, 22 a 24 de outubro de 2003, SMITH, D. (2000) - The Measurement Nightmare: How the Theory of Constraints Can Resolve Conflicting Strategies, Policies and Measures. The St. Lucie Press. 1ª Edição. Boca Raton. * Mestrado pelo Programa de Engenharia de Produção da UFAM PEP-UA. ENEGEP 2003 ABEPRO 8