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Transcrição:

A recuperação verde e uma análise do setor externo brasileiro 1 Bernardo Pereira Cabral 2 Irailton Silva Santana Junior² Introdução O atual debate sobre a recuperação da crise econômica mundial toma lugar num ambiente de discussão das políticas públicas de salvação do meio ambiente, como ficou bem claro no recente encontro realizado na cidade dinamarquesa de Copenhague. As negociações para algum acordo global que substitua o Protocolo de Kyoto estão se intensificando e a necessidade da adoção de um modelo de crescimento e desenvolvimento sustentável é a mais nova tendência global, ainda que, algumas vezes, confronte-se com alguns pacotes de estímulo macroeconômicos. Na primeira parte deste relatório consideraremos a interação dos dois maiores desafios dos governantes globais: a necessidade de recuperar as economias de seus países e a preocupação com o clima do planeta. Mais a frente, à luz dos últimos dados, será feita uma análise de todo o ano de 2009 no que diz respeito às contas extrenas brasileiras. CONJUNTURA INTERNACIONAL Políticas de Precificação e Recuperação Macroeconômica Apesar de a crise econômica ter reduzido a emissão de gases do efeito estufa via diminuição da produção industrial, etc. não haverá uma grande mudança no estoque acumulado desses gases na atmosfera do planeta. Segundo o último relatório da Agência 1 Relatório orientado pelos professores Celeste Maria Philigret Baptista e Paulo Balanco, membros do Núcleo de Estudos Conjunturais da Faculdade de Ciências Econômicas da UFBA 2 Alunos do Curso de Graduação em Ciências Econômicas da Faculdade de Ciências Econômicas da UFBA e bolsistas do Núcleo de Estudos Conjunturais (NEC-FCE- UFBa.)

Internacional de Energia (IEA, 2009), órgão da Organização das Nações Unidas (ONU) responsável pelos cálculos de emissão de carbono no planeta, a previsão para o fim de 2009 é de uma queda de 2.5% no total de emissão desses gases. O dano advindo da mudança no clima, no entanto, é fruto não do fluxo de gases do efeito estufa na atmosfera, mas sim do total desses gases acumulados nesta. Na prática, o relatório da IEA é claro ao dizer que mesmo uma possível diminuição no fluxo destes gases nos próximos anos pós-crise não diminuirá na mesma proporção esse estoque já acumulado. Uma queda de 10% nas emissões globais em um ano, por exemplo, diminuiria o estoque dos gases estufa em apenas 0.1% e se estas reduções fossem mantidas por mais 30 anos, reduzir-se-iam apenas 2% do total dos gases acumulados na atmosfera. Exatamente por esses motivos que alguns especialistas (JONES, 2009) são enfáticos em dizer que as falhas de mercado responsáveis por causar os problemas climáticos não serão afetadas pela recessão econômica. Os esforços correntes em mitigar os gases estufa são sabidamente insuficientes para solucionar o problema que futuramente existirá com o aquecimento do planeta, tanto que a própria IEA estima - sob as atuais políticas de recuperação da crise um aumento de 40% no total de gases estufa acumulados em 2030. A grande conclusão da maioria dos órgãos especializados é: muito mais deve ser feito para que haja uma real melhora na quantidade de gases do efeito estufa na atmosfera. A crise, e os pacotes usados para combater seus efeitos, deixarão muitos países em uma situação frágil para os desafios que uma política climática global eficiente exige. As posições fiscais de muito dos países do G-20 se enfraqueceu: segundo o último World Economic Outlook do Fundo Monetário Internacional (FMI), a relação dívida pública sobre o PIB 2008-2009 sofreu redução de 6%. Ainda assim, o próprio FMI calcula que em alguns anos os custos do aquecimento global, principalmente no que diz respeito à saúde pública, será dez vezes maior que o que já foi gasto com políticas anti-crise. Além de alguns ajustes nas contas públicas, o órgão prevê também um aumento de cerca de 6% na arrecadação dos países ricos como contrapartida do que será gasto. Estimulando uma recuperação verde

Medidas ambientais tem sido parte valiosa dos pacotes de estímulo fiscais e continuarão dessa forma a medida que o aumento nos gastos públicos continue. Embora os efeitos dessas medidas seja duvidosa, programas de salvamento do meio ambiente tem grandes efeitos multiplicadores e têm, claramente, um apelo político interessante para os governantes de todos os países. Segundo dados do IEA, do total de dólares gastos pelos países do G-20 com pacotes de recuperação da crise, mais de U$430 bilhões de dólares(15% do que foi gasto nos pacotes) foi alocado para investimentos que tem alguma relação como meio ambiente. Como dito no capítulo anterior, apesar desse grande aporte financeiro o relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente(UNEP,2009) sugere que muito ainda deve ser feito. Outra parte desses pacotes, no entanto, é considerada pela UNEP como investimento sujo. Isso se deve, por exemplo, aos U$270 bilhões gastos pelos países do G-20 com projetos de construção e melhoria de estradas que, embora tenham importância para dar acesso ao transporte público para algumas regiões mais afastadas das grandes capitais, estimulam ainda mais o consumo de combustíveis fósseis. O que ainda não é visto com clareza pela maioria dos governantes e é a principal argumentação deste relatório é que alguns dos estímulos relacionados a medidas verdes não só tem ajudam na recuperação dos países no curto-prazo, mas podem diminuir, por exemplo, a escassez e os choques de preço de energia. Medidas tomadas por alguns países da Europa de subsidiar a compra de casas que sejam energeticamente eficientes, por exemplo, podem não só estimular a demanda agregada, mas também reduzir a possibilidade desses países pagarem quando, eventualmente, houver uma cobrança global pela emissão de gases estufa. (JONES, 2009) A implementação, e manutenção, dessas medidas de estímulo verde são essenciais para contribuir com, entre outras coisas, o crescimento sustentável e diminuição do desemprego. Mas, obviamente, os benefícios de muitos programas sozinhos são insuficientes para garantir o apoio continuado à medida que a demanda dos países seja restabelecida: os programas de apoio à compra de carros (como os implementados em EUA, França e Alemanha), por exemplo, fizeram muito para reanimar o setor de produção de automóveis, mas não são uma solução considerada energeticamente eficiente. Aumentar os impostos sobre os combustíveis nesses países seria, por outro lado, muito mais efetivo em diminuir a quantidade de carros mais poluentes e aumentar a quantidade de carros menos poluentes.

A experiência dos países do G20 com algumas medidas verdes deve ser referência a ser adota por uma nova ordem mundial de preocupação com meio ambiente. Algumas das principais destas são: 1) Reduzir barreiras de mercado: o exemplo acima citado de países que apoiaram com subsídios a aquisição de moradias ecologicamente corretas é um meio de se reduzir a emissão de gases com recuperação de demanda interna. 2) Apoiar países em desenvolvimento na redução do desmatamento: segundo a IEA, cerca de 17% de toda a emissão de gases estuda são oriundas do desmatamento das florestas dos países em desenvolvimento. Com a estrutura de incentivo privada correta unida a investimentos públicos de qualidade pode-se melhorar a monitoração das florestas, como no caso do Brasil. 3) Pesquisa e desenvolvimento na área de energia: O aumento dos gastos públicos em programas de inovação é essencial para reduzir os custos de emissão de gases estufa no futuro, principalmente com a formação de spillovers. Conclusão Misturar os objetivos de uma recuperação sustentável com políticas climáticas eficientes apresenta tanto desafios quanto oportunidades. Enquanto existe potencial para um ganho duplo, com medidas que consigam atingir os dois objetivos, o ponto-chave é considerar a sinergia que está ligada às estratégias individuais para cada um desses objetivos. Uma melhora na condição climática do planeta pode promover uma estabilidade macroeconômica e aliviar a pobreza; e a precificação do carbono, ponto essencial para a diminuição das emissões, pode contribuir para fortalecer as posições fiscais de alguns países que, depois dos pacotes anti-crise, ficaram fragilizadas. Existem, obviamente, alguns trade-offs a serem considerados, mas a essência de uma nova gestão global reside na união dos interesses climáticos e macroeconômicos. SETOR EXTERNO BRASILEIRO Balança Comercial em 2009 Finalmente diante dos resultados obtidos pela economia brasileira no ano de 2009, podemos em um primeiro momento de análise, verificar que os dados do

comércio externo brasileiro, após terem apresentado uma rápida deterioração em função da crise financeira mundial, mostraram sinais de estabilidade e recuperação ao longo do ano. Neste período observou-se uma tendência sustentada de apreciação cambial que, atrelada a uma diminuição da demanda internacional, teve efeito direto na balança comercial brasileira. A valorização cambial tornou os produtos brasileiros mais caros e, por outro lado, a partir de setembro, acelerou as compras externas, houvendo uma maior deteriorização da balança comercial. O saldo comercial brasileiro no ano de 2009 foi de US$ 24,615 bilhões, cifra 1,4% menor do que US$ 24,956 bilhões registrado em 2008, este é o pior resultado desde 2002, quando o superávit foi de US$ 13,1 bilhões. Em 2006, houve o melhor resultado da série histórica, com US$ 46,45 bilhões de superávit. Gráfico 1 Evolução na Balança Comercial Anual 200000 150000 100000 50000 0 Saldo Comercial Exportaçoes Importações *Projeção FONTE: BACEN/IPEADATA As exportações reduziram de US$ 197, 942 bilhões no ano de 2008 para US$ 152, 252 bilhões no ano de 2009, retração de 23%. Nota-se que a partir de abril de 2009, as vendas externas se estabilizaram. Embora as exportações ainda não tenham

recuperado o nível pré-crise, houve uma tendência de estabilidade nos últimos meses de 2009. Gráfico 2 Evolução na Balança Comercial Mensal 25000 20000 15000 10000 5000 0-5000 Saldo Comercial Exportações Importações FONTE: BACEN/IPEADATA No que tange às importações no ano de 2009, foram totalizados US$ 127,637 bilhões, queda de 26,3% quando comparado aos US$ 173,207 bilhões registrado no mesmo período de 2008. Apesar da condição favorável do câmbio para as compras externas, o país apresentou a maior retração em suas importações desde 2002, quando recuou em 15% em relação ao ano anterior. Tendo como referencia a série história elaborada pelo Ministério do Desenvolvimento, que teve início em 1950, o Brasil registrou no ano de 2009 a pior queda percentual nas suas exportações, o país não experimentava uma retração percentual em suas vendas desde 1999, ano de crise no país, quando as exportações brasileiras caíram 6,1% em relação a 1998. Por outro lado, as importações também sofreram uma retração histórica, a segunda pior desde 1953. (EXPORTAÇÕES, 2009) Segundo AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil), as exportações brasileiras deverão atingir cerca de 170,7 bilhões em 2010, o que corresponde um crescimento de 12% em relação o total exportado em 2009. Como ocorreu no ano passado o Brasil vai depender muito das cotações de commodities, tendo em vista que com a atual taxa de câmbio, os produtos manufaturados não têm competitividade no mercado externo. Por outro lado, projeta-se para 2010 um total de US$ 158,2 nas importações brasileiras,

equivalente a um acréscimo de 24% sobre o ano de 2009, por causa da taxa de câmbio e do crescimento interno. Em virtude desse movimento o saldo da balança comercial deverá atingir US$ 12,5 bilhões, o que equivale uma retração de 48,9% comparada ao ano de 2009. (BALANÇA, 2009). Considerando-se as exportações classificadas por fator agregado, verifica-se para o acumulado do ano de 2009, os três grupos de produtos apresentaram queda em relação ao mesmo período de 2008, manufaturados (-27,3%, para US$ 66,592 bilhões), semimanufaturados (-23,4%, para US$ 20,500 bilhões) e básicos (-14,1%, para US$ 61,972 bilhões). Tabela 1 - Os principais produtos exportados Janeiro/Dezembro Var. % 2009/08 Part. % 2009 2008 p/média diária 2009 2008 BÁSICOS 61.972 73.028-14,1 40,7 36,9 Minério de Ferro 13.247 16.539-18,9 8,7 8,4 Soja em Grão 11.424 10.952 5,6 7,5 5,5 Petróleo em Bruto 9.153 13.556-31,7 6,0 6,8 Carne de Frango 4.816 5.822-16,3 3,2 2,9 Farelo de Soja 4.591 4.364 6,5 3,0 2,2 SEMIMANUFATURADOS 20.500 27.073-23,4 13,5 13,7 Açúcar em bruto 5.979 3.650 65,8 3,9 1,8 Celulose 3.307 3.901-14,2 2,2 2,0 Produtos semimanufs. de ferro/aço 1.734 4.002-56,2 1,1 2,0 Couros e peles 1.151 1.867-37,6 0,8 0,9 Ferro fundido bruto 1.090 3.145-64,9 0,7 1,6 MANUFATURADOS 66.592 92.682-27,3 43,7 46,8 Aviões 3.862 5.495-28,9 2,5 2,8 Automóveis de passageiros 3.221 4.916-33,7 2,1 2,5 Autopeças 2.418 3.510-30,3 1,6 1,8 Açúcar refinado 2.398 1.833 32,4 1,6 0,9 Óleos combustíveis 2.007 2.964-31,5 1,3 1,5 Fonte: SECEX/MDIC. Para as importações, houve redução de todas as categorias de uso: na comparação com o ano de 200, combustíveis e lubrificantes (-46,1%), matérias-primas e intermediários (-27,3%), bens de capital (-16,4%) e bens de consumo (-3,4%). Entre os produtos mais importados pelo país no ano de 2009 estão petróleo, automóveis e medicamentos.

É fato que, devido à crise financeira internacional, as vendas brasileiras para os principais mercados de destinos caíram: destaque para os Estados Unidos (-42,4%), Argentina (-30,9%) e União Européia (-25,8%). Em contrapartida, cabe salientar o aumento na relação comercial do Brasil com os países emergentes: as vendas para a China, que se tornou o principal comprador dos bens fabricados no Brasil, cresceram 23%, chegando a US$ 20 bilhões. Nesse mesmo sentido, mas em uma magnitude inferior, houve um crescimento na relação comercial com a Índia (historicamente na casa dos milhões de dólares anuais) chegando aos bilhões em 2009: no ano passado o país comprou cerca de US$ 3 bilhões do Brasil, com um crescimento superior a 200% em receita. (CHINA, 2009). Tabela 2 Principais Compradores (Em US$ milhões) 2008 2009 2009 Estados Unidos 27,6 China 19,9 Argentina 17,6 Estados Unidos 15,7 China 16,4 Argentina 12,0 Paises Baixos 10,4 Paises Baixos 8,2 Alemanha 8,8 Alemanha 6,2 FONTE: SECEX/MDIC Tabela 3 Principais Fornecedores (Em US$ milhões) FONTE: SECEX/MDIC 2008 2009 2009 Estados Unidos 25,8 Estados Unidos 20,2 China 20,1 China 15,9 Argentina 13,2 Argentina 11,3 Alemanha 12 Alemanha 9,9 Japão 6,8 Japão 5,4 Transações Correntes entre Janeiro-Novembro de 2009 Diante da crise financeira e com o processo de valorização do real no ano de 2009, notam-se mudanças importantes no comportamento do Balanço de Pagamentos

brasileiro, especialmente na conta de transações correntes. Como ocorreu em 2008, período que teve inicio o colapso financeiro, novamente em 2009 o saldo da Balança Comercial apresentou uma cifra muito distante do desempenho pré crise, intensificando o déficit em transações corrente. Diante desse déficit em Transações Correntes, o fechamento do Balanço de Pagamentos se dá através de um superávit na conta Capital e Financeira, ou pelas Variações das Reservas Internacionais. Em momentos de turbulência financeira, a tendência é uma diminuição da liquidez e, conseqüentemente, menor entrada de capital estrangeiro no país. No entanto, em virtude de certa confiabilidade para investimentos no Brasil, e alta rentabilidade e baixo risco em títulos indexados a Selic, o segundo semestre de 2009 apresentou uma entrada excessiva de capital estrangeiros, especialmente a partir de julho. Desta forma, para evitar que a taxa de câmbio se valorizasse ainda mais em meio ao surgimento de uma bolha especulativa no mercado acionário brasileiro, o governo impôs uma taxação de 2% de IOF sobre investimentos estrangeiros em ações. O resultado do acumulado de janeiro/novembro de 2009 configura um déficit de US$ 18,1 bilhões em transações correntes, o que corresponde uma redução de 27,9% sobre o mesmo período de 2008. Tabela 4 - Balanço de Pagamentos - Transações Correntes (em US$ milhões) Período Balança Comercial Serviços Rendas Transferências Unilaterais Transações Correntes 2002 13121-4957 -18191 2390-7.637 2003 24794-4931 -18552 2867 4.177 2004 33641-4678 -20520 3236 11.679 2005 44703-8309 -25967 3558 13.985 2006 46457-9640 -27480 4306 13.643 2007 40032-13219 -29291 4029 1.551 2008 24746-16672 -40562 4188-28.300 2008* 22535-14875 -36523 3790-25.073 2009* 23256-16997 -27233 2898 18.077,00 Fonte: BACEN / IPEADATA * Acumulado até novembro Conta Serviços

O déficit na Conta Serviços intensificou-se no acumulado de janeiro a novembro de 2009, foram totalizados US$ 16, 997 bilhões, o que representa um crescimento de 13,9%, sobre o mesmo período de 2008 quando foram contabilizados US$ 14, 875 bilhões. Particularmente duas Sub-contas contribuem massivamente para os déficits apresentados ao longo da série: Viagens Internacionais e Alugueis e Equipamentos. Gráfico 3 - Saldo da Conta Serviços por Sub-Contas (em US$ milhões) JANEIRO/NOVEMBRO 2009/2007 10000 5000 0-5000 -10000 Serviços Viagens Internacionais Alug. Equip Empres., profissionais e técnicos 2007 2008 2009-15000 -20000 BACEN/IPEADATA O subgrupo viagens internacionais entre janeiro/novembro de 2009 totalizou US$ 4, 898 bilhões, redução de 3,5% sobre o mesmo período de 2008. Este item sofre forte influência da taxa de câmbio, a qual tem se valorizado nos últimos meses, e o déficit intensificou-se a partir de abril, atingindo o maior pico em outubro quando foi alcançada a cifra de US$ 785 milhões. Caso o real siga se valorizando uma das conseqüências será o aumento de déficits neste subgrupo. O item de maior impacto negativo na conta serviços é aluguel e equipamentos: esse sub-grupo ao longo da série vem gradativamente aumentando seu déficit, no acumulado de 2009 totalizou US$ 8, 405 bilhões, expansão de 26,7%, quando equiparado aos onze primeiros meses de 2008. Na contramão das demais subcontas dos itens que compõem a conta serviços, o item Empresariais, Profissionais e Técnicos, se mostra positivo, ao longo da série histórica, e para o acumulado de janeiro/novembro de 2009 obteve um superávit de US$ 6,783 bilhões, valor inferior em 8,8% aos US$ 7,445 bilhões registrado no mesmo

período de 2008. Essa subconta é composta de serviços como encomendas postais, publicidades, passes de atletas profissionais, dentre outras. Conta Rendas No mesmo sentido da conta serviços, a intensificação do déficit na Conta Rendas, em especial, pelo aumento dos recursos enviados a não residentes na forma de lucros e dividendos. O déficit na Conta Rendas no acumulado de janeiro a novembro de 2009 totalizou US$ 27, 233 bilhões, o que representa uma retração de 25,4%, sobre o mesmo período de 2008 quando foram contabilizados US$ 36, 523 bilhões. Tabela 5 Conta Rendas do Balanço de Pagamentos (em US$ milhões) Ano 2005 2006 2007 2008 2008* 2009* Rendas -25967-27489 -27910-40 562-36 523-27 233 Salário e ordenado 214 177 448 545 491 550 Renda de investimentos (líquido) -26181-27666 -28358-41 107-37 014-27 783 Renda de investimento direto -10302-12811 -17343-26 775-23 722-15 227 Lucros e dividendos -9142-11431 -16599-25 348-22 536-13 820 Lucros reinvestidos no Brasil 0 0 0 0-0 Juros de empréstimo intercompa -1161-1380 -744-1 427-1 187-1 407 Renda de investimento em carteira -11778-11051 -5907-8 436-7 684-7 751 Lucros e dividendos -3544-4924 -4637-8 527-8 193-6 100 Juros de títulos de renda fixa -8234-6128 -1270 90 509-1 651 Renda de outros investimentos (juros) -4101-3804 -5108-5 895-5 608-4 805 Juros pagos -5452-5723 -6947-7 232-6 639-5 800 Juros refinanciados 0 0 0 0 0 0 Juros atrasados 0 0 0 0 0 0 Fonte: BACEN * Acumulado até novembro Já quando analisada a conta renda, um dos principais contribuintes para o seu déficit são os lucros e dividendos. Este subgrupo está ligado diretamente aos maiores lucros que as empresas multinacionais estão tendo no Brasil, neste momento o fator que facilita a remessa de lucros e dividendos é o câmbio valorizado, tendo em vista, a redução na dinâmica da economia brasileira. Esse item no acumulado do ano de 2009 totalizou US$ 13,820 bilhões, valor 38,6% inferior aos US$ 22,536 bilhões contabilizados no mesmo período de 2008.

jan/08 fev/08 mar/08 abr/08 mai/08 jun/08 jul/08 ago/08 set/08 out/08 nov/08 dez/08 jan/09 fev/09 mar/09 abr/09 mai/09 jun/09 jul/09 ago/09 set/09 out/09 nov/09 Contudo, cabe destacar que os lucros reinvestidos no Brasil nos últimos noves anos por empresas multinacionais não ultrapassaram o valor de zero. Assim cabe ao governo tentar estabelecer uma contrapartida pelo uso do nosso país. Conta Capital e Financeira Com a elevação do grau de investimentos por parte das maiores agências de risco, aliada a alta rentabilidade e baixo risco em títulos indexados a Selic, o Brasil ficou muito atrativo para os capitais estrangeiros, o que condiciona a uma apreciação excessiva do dólar que encarece as exportações brasileiras, embora modere a inflação, ao baratear as importações. Gráfico 4 Evolução na Conta Capital e Financeira 15000 10000 5000 0-5000 -10000-15000 CONTA CAPITAL E FINANCEIRA Fonte: BACEN/IPEADATA O gráfico acima mostra uma queda acentuada da conta de Capital e Financeira a partir de setembro de 2008. Esta queda ilustra a redução de liquidez, em virtude, da turbulência internacional e, conseqüentemente, migração do capital especulativo para ambientes tidos como mais seguros. No entanto, observa-se que a partir de janeiro o saldo da conta Capital e Financeira retorna a ser superavitário, e ao final do primeiro semestre de 2009 já totaliza os valores pré-crise. Em outubro, o governo brasileiro preocupado com o excessivo ingresso de capitais voláteis no país, conseqüentemente, a

forte desvalorização do dólar, adotou a taxação sobre as aplicações em ações e renda fixa, IOF (Imposto sobre Operações Financeiras). Conta Financeira e suas Subcontas (em US$ milhões) 2005 2006 2007 2008 2008* 2009* Conta Capital e Financeira -10127 15430 88330 29352 36052 59498 Investimento Direto 12550-9380 27518 24601 19633 26686 Inv. Brasil Direto -2517-28202 -7067-20457 -17309 5827 Inv. Estrangeiro Direto 15066 18822 34585 45058 36943 20858 Investimento Carteira 4885 9081 48390 1133 5392 43769 Inv. Brasil Carteira -1771 6 286 1900 784 698 Inv. Estrangeiro Carteira 6655 9076 48104-767 4608 43071 Derivativos -40 41-710 -312-322 162 Outros Investimentos -27521 15688 13131 2875 10374-12129 Fonte: Bacen (*) acumulado até Novembro. Para o acumulado de janeiro a novembro de 2009, o crescimento mais expressivo foi Investimento em Carteira, com acréscimo de 711,7% comparando com o mesmo período do ano de 2008. Este fato reflete o ambiente de incertezas que os agentes econômicos vivenciavam em 2008 e suas expectativas em relação à aquisição de ativos mais seguros. Para o acumulado de 2009, houve um acréscimo do Investimento Direto. Ao analisarmos 2008, verificamos que Investimento Brasil Direto apresentou valores negativos, ou seja, houve uma maior saída de recursos, nesta conta, do que sua entrada, no entanto, para o ano de 2009, essa subconta já se mostra superavitária. Para o ano de 2009, Derivativos, que vinha apresentando resultados negativos, apresenta valores positivos e contribui, para o saldo positivo da Conta Capital e Financeira, diferentemente de Outros Investimentos que vinha apresentando valores positivos, neste momento se mostra negativa.

Referências Bibliográficas: GLOBAL Employment PMI Index, Markit Economic Researchs. Disponível em: <www.markit.com>. Acesso em: 16 ja. 2010. INTERNATIONAL Energy Agency (IEA). Disponível em <www.iea.org>. Acesso em: 15 de ja. 2010. JONES, Benjamin e KEEN, Michael. Climate Policy and Recovery. FMI Survey. New York, 4 de dez. de 2009. UNITED Nations Environment Programme(UNEP). Disponível em <www.unep.org> Acesso em 18 de ja. 2010. WORLD economic outlook : a survey by the staff of the International Monetary Fund. Disponível em: <www.imf.org>. Acesso em: 07 nov.2009. MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMERCIO (MDIC). Comércio exterior. Disponível em <www.mdic.gov.br> Acesso em: 07 de Nov. de 2009 CHINA e Índia compram mais do Brasil em 2009. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/bbc/ult272u674482.shtml>. Acesso em: 08 de jan. de 2010 EXPORTAÇÕES brasileiras devem crescer 12% em 2010, prevê AEB. <http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u672036.shtml>. Acesso em: 08 de jan. de 2010 BALANÇA comercial fecha o ano com pior resultado desde 2002. <http://www1.folha.uol.com.br/folha/dinheiro/ult91u674313.shtml>. Acesso em: 08 de jan. de 2010