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Transcrição:

CORRELAÇÃO ENTRE HABILIDADE FONOLÓGICA E APRENDIZAGEM DURANTE A ALFABETIZAÇÃO INFANTIL. PEREIRA, Cláudia Carolina* AGUIAR, Oscar Xavier de** RESUMO O presente trabalho tem como objetivo avaliar a comparação entre a habilidade fonológica e a aprendizagem, durante a alfabetização infantil. Para a realização e desenvolvimento desse estudo, foram consultados artigos científicos, da base de dados do Scielo. Os estudos demonstraram os processos e dificuldades que podem ocorrer durante a aprendizagem infantil, com ênfase, principalmente no inicio da alfabetização infantil, onde as crianças costumam a cometer erros. Palavras-chave: dificuldade na aprendizagem; perturbações; transtorno. ABSTRACT The present work has as objective evaluates the comparison between the phonological ability and the learning, during the infantile literacy. For the accomplishment and development of that study, scientific goods were consulted, of the base of data of Scielo. The studies demonstrated the processes and difficulties that can happen during the infantile learning, with emphasis, mainly in I begin him/it of the infantile literacy, where the children to make mistakes. Keywords: difficulty in the learning; disturbances; upset. 1. INTRODUÇÃO Desde a tenra idade, a criança, imersa em seu meio social, aprende e utiliza a linguagem oral com certa eficiência. No início, esse fato ocorre de maneira espontânea e só posteriormente a criança será capaz de dominar as organizações linguísticas conscientemente, o que se denomina: habilidade metalinguística. Isto não significa que a criança, antes desse domínio consciente, não tenha controle sobre a sua linguagem (MALUF; ZANELLA; MOLINA PAGNEZ, 2006). A existência de uma forte relação entre aprendizagem da linguagem escrita e consciência linguística é amplamente aceita na literatura psicológica atual. *Acadêmica do Curso de Psicologia da Faculdade de Ciências da Saúde FASU Garça/SP e-mail: ccppsico@gmaill.com

** e-mail: oscarxa@bol.com.br Consciência linguística deve ser aqui entendida como a habilidade de refletir sobre a linguagem falada. Esta temática reveste-se de importância para a área da Psicologia e da Educação, particularmente, no que se refere às práticas de alfabetização (MALUF, 2003). A aquisição da linguagem escrita é um objetivo básico a ser alcançado na fase inicial de escolarização e dela depende o sucesso da aprendizagem escolar nas fases posteriores. O estudo do processo de aprender a ler e escrever envolve tanto as questões básicas do domínio do código alfabético, como as relacionadas à sintaxe ou gramática e, até mesmo, às literárias, que fazem parte da estrutura da língua (MALUF; ZANELLA; MOLINA PAGNEZ, 2006). Muitas pesquisas têm sido realizadas na área das dificuldades de aprendizagem e grande parte destas focalizam não apenas questões de linguagem e escrita, mas nas habilidades consideradas instrumentais para a vida social e acadêmica de um indivíduo (OLIVEIRA, 2001; ROZEK, 1998; SISTO, 2001; 2002). Considerando a importância que a aprendizagem assume na existência humana; e a constatação dos problemas enfrentados pelas crianças durante esse processo dinâmico e recíproco que se estabelece entre o homem e seu ambiente: surge à necessidade de se realizar o presente trabalho para se desenvolver ferramentas que contribuam para o diagnóstico e constatação dessas dificuldades de aprendizagem. Estas dificuldades de aprendizagem que englobam uma vasta gama de transtornos ou perturbações em um ou mais processos psicológicos básicos e se manifesta por atrasos ou dificuldades na compreensão ou utilização da leitura, escrita, soletração, cálculo, escuta e pensamento, em crianças que não apresentam deficiências visuais, auditivas, motoras, mentais ou alterações evidentes de ordem emocional (HAMMILL, 1990; SISTO, 2001). O estudo desse problema que afeta cerca de 15% a 30% das crianças em idade escolar do mundo teve seu início em 1800, porém a expressão dificuldades de aprendizagem passou a ser utilizada com maior freqüência em 1960 para

descrever uma série de incapacidades ligadas ao insucesso escolar, (ALMEIDA, 2002; SCHIAVONI, 2004; ZUCOLOTO, 2001). Dentro desse contexto, considera-se que o aprendizado dessas habilidades instrumentais para a vida de qualquer ser humano depende do desenvolvimento e inter-relacionamento de um amplo conjunto de competências cognitivas e habilidades psicomotoras. No mesmo sentido, admite-se como princípio que a motricidade parece ser um fator importante em todos os níveis de desenvolvimento da função cognitiva (CUNHA, 1990; DOCKRELL & McSHANE, 1997; NICOLAU, 1997; OLIVEIRA e Cols. 1994). Objetivo: Relacionar as influências do desenvolvimento da habilidade fonológica com os processos de alfabetização infantil e analisar participação no processo de escrita e lingüística das crianças. 2. APRENDIZAGEM DURANTE A ALFABETIZAÇÃO INFANTIL. O aprendizado das habilidades instrumentais para a vida de qualquer ser humano depende do desenvolvimento e inter-relacionamento de uma ampla gama de competências cognitivas e habilidades psicomotoras (CUNHA, 1990; DOCKRELL; McSHANE, 1997; NICOLAU, 1997; OLIVEIRA e Cols. 1994). Durante o aprendizado de uma criança, há que se ter cautela ao se avaliar as dificuldades de aprendizagem da mesma; especialmente, porque no início da fase de aprendizado ela comete erros como inventar e omitir palavras, confundir, inventar algum som ou letras. Tais erros são relativamente comuns e considerados como uma etapa do processo de apropriação do sistema ortográfico, portanto, processos naturais e transitórios do ato de aprender (BAZI, 2000; BISPO, 2000; ROSSINI; SANTOS, 2001; SCHIAVONI, 2004; SISTO 2001). Segundo Demont (1997), a aprendizagem da leitura é um processo complexo que requer múltiplas habilidades cognitivas, principalmente a habilidade metalinguística, ou seja, a capacidade de refletir sobre a linguagem. Essa capacidade é primordial no acesso à escrita e está diretamente relacionada à aprendizagem da leitura.

Segundo Maluf (2003), a existência de uma forte relação entre aprendizagem da linguagem escrita e consciência linguística é amplamente aceita na literatura psicológica atual; deve ser entendida como a habilidade de refletir sobre a linguagem falada. Precocemente, a criança aprende a falar e entender o idioma de seu grupo social, sem, contudo, conhecer conscientemente a estrutura formal (fonológica e sintática) da língua. Segundo Machado (1978) e Bartholomeu (2004), no que diz respeito à identificação dos problemas escolares e de aprendizagem, os autores afirmam que o Developmental Bender Test Scoring System, um dos mais utilizados na avaliação das dificuldades específicas em crianças, tem seu poder restrito enquanto instrumento de diagnóstico dessas habilidades. Para Snowling (1995), a correlação entre a habilidade fonológica e a aprendizagem da leitura é de alta significância para o escolar iniciante, pois se a representação fonológica não se encontra assimilada, podem ocorrer dificuldades com a aprendizagem da leitura. Mann (1984) relatou que as crianças com problemas fonológicos apresentam como manifestações: dificuldade com a memória de curto prazo para material verbal (como sequências de números, palavras e até mesmo de palavras de sentenças orais); dificuldade em identificar palavras faladas em presença de ruído competitivo; e dificuldade em recuperar a representação fonética de palavras. Segundo o autor, estes problemas são atribuídos à deficiência básica no uso de representação fonética na memória de curto prazo, a qual afeta negativamente a leitura. A tomada da consciência da palavra como forma linguística é algo que se desenvolve gradualmente; pois, para a criança, entender que no sistema de escrita alfabética as letras são desenhos que representam partes da palavra é uma conquista que pressupõe uma evolução no seu pensamento (REGO, 1987). Capovilla e Capovilla (2003) demonstraram que crianças com atraso na aquisição de leitura apresentam, também, problemas de discriminação fonêmica, de memória de trabalho fonológica e de velocidade de processamento fonológico. As dificuldades fonológicas devem ser de problemas de linguagem, e elaboração do conjunto de regras e unidades fonêmicas que os falantes utilizam, de uma forma

altamente automatizada, os sons de sua língua e suas representações mentais em tarefas de fala e leitura-escrita. As habilidades fonológicas apresentam um substrato biológico que corresponde a áreas linguísticas perisilvianas, ao sistema informativo auditivo e ao sistema fonoarticulatório. No período de 4 a 6 anos de idade, a criança é capaz de identificar e reproduzir qualquer sequência de fonema habitual de sua língua, conhecida ou não, com significado ou não. Durante este período, desenvolve-se juntamente à aprendizagem da leitura e escrita, o desempenho fonológico e o desenvolvimento metafonológico (MÉRIDA; FERNANDEZ, 2003). Ao longo do período escolar, as crianças que apresentam habilidades orais (como fonologia, semântica, sintática e pragmática), escassamente desenvolvidas em interações sociais, são sobrecarregadas em ambiente acadêmico, tornando clara a importância da linguagem oral para tantos aspectos da aprendizagem da leitura e escrita. Desta forma, habilidades fonológicas, também, são necessárias para leitura e escrita. É necessário o entendimento que a estrutura do sistema alfabético do Português não significa que a escrita deste sistema seja a representação gráfica dos seus sons; mas, sim, que a percepção dos sons durante a produção da linguagem oral influencia diretamente o desenvolvimento da escrita (CAPELLINI; OLIVEIRA, 2003). 3. CONSIDERAÇÕES FINAIS. A realização deste estudo nos possibilitou verificar que as alterações fonológicas presentes na oralidade influenciam diretamente a aquisição da leitura e da escrita, bem como o desempenho escolar das crianças. O transtorno fonológico deve ser identificado o mais precocemente possível em pré-escolares e escolares, para que, com o levantamento de outros sinais de alterações da aprendizagem, sejam trabalhados minimizando assim o impacto nas alterações cognitivolinguísticas na aprendizagem; pois, o processo fonológico alterado compromete o acesso e a recuperação do léxico mental, ocasionando problemas no mecanismo de conversão letra-som, tão exigidos nas atividades de leitura e escrita. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.

ALMEIDA, R. M. As dificuldades de aprendizagem: repensando o olhar e a prática no cotidiano da sala de aula. Dissertação de Mestrado, Universidade Federal de Santa Catarina, 2002. CUNHA, M. F. C. Desenvolvimento psicomotor e cognitivo: influência na alfabetização de criança de baixa renda. Tese de Doutorado, São Paulo: USP, 1990. DOCKRELL, J. & McSHANE, J. (1997). Dificultades de aprendizaje en la infancia: un enfoque cognitivo. Barcelona: Ediciones Paidós Ibérica S.A, 1997. HAMMILL, D. D. On defining learning disabilities: an emerging consensus. Journal of Learning Disabilities, 23(2), 1990, 74-84. MALUF, M. R. (Org.). Metalinguagem e aquisição da escrita: contribuições da pesquisa para a prática da alfabetização. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003. MALUF, Maria Regina, ZANELLA, Maura Spada; MOLINA PAGNEZ, Karina Soledad Maldonado. Habilidades metalingüísticas e linguagem escrita nas pesquisas brasileiras. Bol. psicol, jun. 2006, vol.56, no.124, p.67-92. ISSN 0006-5943. NICOLAU, M. L. M. (1997). Um estudo das potencialidades e habilidades no nível da pré-escolaridade e sua possível interferência na concepção que a criança constrói sobre a escrita. Revista da Faculdade de Educação, 23(1/2), 33-45, 1997. OLIVEIRA, G. C. Dificuldades subjacentes ao não-aprender. UNICAMP, 2001. ROZEK, M. Aprender, não-aprender e gênero. Psicopedagogia, 17(45), 9-12, 1998. SISTO, F. F. E. Boruchovitch, L. D. T. Fini, R. P. Brenelli & S. C. Martinelli (Orgs.), Dificuldades de aprendizagem no contexto psicopedagógico (pp. 79-95). Petrópolis: Vozes, 2004. SISTO, F. F. Dificuldade de aprendizagem em escrita: um instrumento de avaliação (Adape), 2002. SISTO, F. F. E. Boruchovitch, L. D. T. Fini, R. P. Brenelli & S. C. Martinelli (Orgs.),

Dificuldades de aprendizagem no contexto psicopedagógico (pp. 190-213). Petrópolis: Vozes, 2002. SISTO, F. F. Avaliação de dificuldade de aprendizagem: uma questão em aberto. Petrópolis: Vozes, 2002. SISTO, F. F. E. A. Dobránsky; A. Monteiro (Orgs.), Cotidiano escolar: questões de leitura, matemática e aprendizagem, 2002. SCHIAVONI, A. Dificuldades de aprendizagem em escrita e percepção de alunos sobre expectativas de professores. Dissertação de Mestrado, UNICAMP, Campinas, 2004. ZUCOLOTO, K. A. A compreensão da leitura em crianças com dificuldade de aprendizagem na escrita. Dissertação de Mestrado, UNICAMP, Campinas, 2001.