Por que a surpresa? Há muito tempo que a realidade vem sendo escondida A novilíngua orçamentária e a limitação dos debates. O acúmulo de vícios.

Documentos relacionados
Por que a surpresa? Há muito tempo que a realidade vem sendo escondida A novilíngua orçamentária e a limitação dos debates. O acúmulo de vícios.

Em Busca do Tempo Perdido. Fernando Rezende

e da recriação e um ambiente favorável à eficiência da gestão no marco dos debates sobre a reforma tributária?

Reforma Tributária: ria: a proposta do Executivo e a visão do setor empresarial

A União A Separação O Divórcio A Vingança A Transformação A Imposição

Workshop da FEA/USP sobre a Proposta de Reforma do. Sistema Tributário Brasileiro. Reforma Tributária. Abril de São Paulo. Ministério da Fazenda

Reforma Tributária e Seguridade Social

Fernando Rezende EBAPE/FGV

PANORAMA E DESAFIOS PARA A ECONOMIA BRASILEIRA. Bruno Leonardo

Estado e a Federação: crise e reformas. José Roberto R. Afonso. Seminário CAE/Senado, IDP, BID Brasília, 27/11/2013

Audiência Pública - CAE Situação Fiscal dos Estados Secretaria de Estado da Fazenda

III Jornada de Debates Setor Público

REFORMA TRIBUTÁRIA E O CONTEXTO FLUMINENSE. Soluções possíveis na perspectiva da relação Sociedade-Estado

A Proposta de Emenda Constitucional nº 45, de 2019

Situação Fiscal dos Estados

PEC n 241. o novo regime fiscal e seus possíveis impactos SINDPD - RJ

Tendências e Perspectivas do Financiamento da Saúde no Brasil

SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL E

Federalismo e Finanças Públicas no Brasil: uma Caixa Preta?

Simplificação Tributária

Sonia Fleury Cebes EBAPE/FGV

Proposta de Reforma do Modelo Brasileiro de Tributação de Bens e Serviços

Associação Brasileira de Economia da Saúde - ABrES

"REFORMA TRIBUTÁRIA EM DEBATE Racionalização para o crescimento econômico. Equilíbrio federativo como pressuposto da cidadania"

A Economia Política da Despesa Pública

DESENVOLVIMENTO REGIONAL REFORMA TRIBUTÁRIA RIA E. Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo. Coordenador da Administração Tributária

Desafios atuais da política econômica. Conferência na ANBIMA. Manoel Pires Secretaria de Política Econômica - MF

O Comportamento das Finanças Municipais 2017

Sumário Parte I ComPreensão dos Fundamentos do estado, das Formas e das Funções do Governo, 9 1 estado, Governo e sociedade, 11

DIREITO FINANCEIRO ORÇAMENTO PÚBLICO (continuação)

INCENTIVOS FISCAIS PARA AS NOVAS TECNOLOGIAS JOZÉLIA NOGUEIRA

O Impacto da Reforma Tributária para a Seguridade Social

Reflexões Preliminares sobre o impacto da Reforma Tributária no financiamento da Seguridade Social e especificamente da Saúde (versão 2)

Reforma Tributária: - Diagnóstico - Objetivos da reforma - Proposta para debate

"A REFORMA TRIBUTÁRIA E A ÁREA DE PROTEÇÃO SOCIAL: SAÚDE, PREVIDÊNCIA, ASSISTÊNCIA SOCIAL, EDUCAÇÃO E TRABALHO"

Reforma Tributária: - Diagnóstico - Objetivos da reforma - Proposta para debate

Reformas, Endividamento Externo e o Milagre Econômico ( ) GIAMBIAGI; VILLELA CASTRO; HERMANN (2011 cap. 3 e 4)

Ajuste Fiscal e Relações Federativas: o desafio dos Estados e o papel da União. Ana Carla Abrão Costa Secretária de Estado da Fazenda de Goiás

Finanças Públicas: Drama em Três Atos

DESAFIOS PARA O SUS NO CONTEXTO DO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO E SUA CRISE

TRIBUTAÇÃO EM TEMPOS DE CRISE

AS FINANÇAS MUNICIPAIS E A REFORMA TRIBUTÁRIA

Seminário Internacional sobre o Projeto de Reforma Tributária. Reforma Tributária PEC 233 e alterações

NA VISÃO DOS ESTADOS:

CRISE E FINANCIAMENTO DO SUS

REFORMA TRIBUTÁRIA 2

A agenda que está na mesa: Reforma do ICMS e do PIS/COFINS. José Roberto R. Afonso

A Realidade e as Soluções

Finanças Públicas: Complexidade Ainda que Gasto Primário em Contenção

Tendências e perspectivas do

Curso para Jornalistas: Questões Fiscais Vilma da Conceição Pinto* 17 de Março de 2017

A partir de 2000, já com a denominação atual, a Desvinculação de Receitas da União tem sido prorrogada sucessivamente, com vigência até 31/12/2015.

FanPage: Theodoro Agostinho Instagram: TheoAgostinho

Boletim Econômico Edição nº 72 outubro de 2015 Organização: Maurício José Nunes Oliveira Assessor econômico

Os Estados Membros e os Municípios na Federação Brasileira: Paradoxos do Federalismo no Brasil. Marcelo Neves

ESTADO SOCIAL E OS DESAFIOS DA ECONOMIA MODERNA

Crise Fiscal e Administração Pública no Brasil

Desafios do Federalismo Brasileiro: A Dimensão Econômica-Fiscal

Noções sobre o financiamento e alocação de recursos em saúde

Governo anuncia pacote de corte de gastos e propõe volta da CPMF

Finanças Públicas Resultado Primário DÍVIDA PÚBLICA ENTENDER PARA AGIR. Prof. Moisés Ferreira da Cunha Colaboração: Prof. Everton Sotto Tibiriçá Rosa

Proposta de Reforma do Modelo Brasileiro de Tributação de Bens e Serviços

SISTEMA TRIBUTÁRIO NACIONAL E GUERRA FISCAL FEBRAFITE

Políticas Sociais em Xeque: Impactos da crise sobre as finanças municipais

Painel 1: Tributação do Consumo. Reforma Tributária e Federação

Crise Financeira e Finanças Subnacionais em Perspectiva Comparada São Paulo, 2 de Abril de Rafael Barroso Economista, Banco Mundial

Observações sobre a crise, a carência de recursos e o Pacote do Governo Estadual

Reforma Tributária. Bernard Appy Março de 2018

REFORMA DA PREVIDÊNCIA AS PROPOSTAS DA REFORMA NO CONGRESSO

Saúde Pública no Brasil: a questão fiscal e federativa - análise dos problemas e possíveis saídas

Proposta de Reforma do Modelo Brasileiro de Tributação de Bens e Serviços. Bernard Appy Diretor do Centro de Cidadania Fiscal - CCiF

REFORMAS TRIBUTÁRIAS: PROPOSTAS EM DEBATE

Finanças Públicas Brasileiras Experiências Recentes entre 1970/

CENÁRIO FUTURO PARA OS MUNICÍPIOS E AS DESPESAS LEGISLATIVAS

Competitividade Empresarial. Reforma Tributária ria e. Flávio Castelo Branco Reforma Tributária: ria: Reflexos sobre Empresas e Regiões

COMPETIÇÃO FISCAL E DESIGUALDADES REGIONAIS

IMAGENS ILUSTRATIVAS

Proposta de Reforma Fiscal para Nelson Barbosa Fórum de Economia de São Paulo 3 de setembro de 2018

Seminário: Cidadania Fiscal para uma nova ordem social Painel 1: "Reforma Tributária e justiça fiscal

Regime de Recuperação Fiscal Mato Grosso (PEC dos Gastos)

Mapa do Desenvolvimento do Estado do Rio de Janeiro. Guilherme Mercês

PAINEL DE ECONOMIA DE ONDE VIEMOS E PARA ONDE VAMOS...

Programação Orçamentária 2012

Finanças Públicas: Ajuste e Deterioração Fiscal

Seguridade Social - significa articular Previdência, Saúde e Assistência, que são políticas integradas e complementares.

Especialistas apontam alternativas à reforma da previdência

A situação financeira dos Municípios Brasileiros: avaliação das despesas e receitas próprias de 2000 a 2007

Crise econômica do Rio de Janeiro: A evidência de um impasse no estilo de desenvolvimento

Textos sobre reforma da previdência publicados na Gazeta de Caçapava. (Período: fevereiro a maio/2016)

020/2016 DOMINGUEIRA DE 10/07/2016

Aumento de arrecadação Base ampliada para financiamento da Seguridade Social, Educação e Infraestrutura

O modelo de IVA é o mais apropriado ao contexto brasileiro?

O comportamento das finanças próprias municipais em 2010

Desafios da Política Fiscal. Caminhos e Possibilidades para o reequilíbrio

PERSPECTIVAS PARA A ECONOMIA BRASILEIRA EM 2019

PEsQUIsA sobre FINANCIAMENTo DA EDUCAÇÃo No BRAsIL

Mansueto Almeida. Brasília, 19 de fevereiro de 2013

Agosto/2016 Limeira-SP Subseção Sindsep-SP

A REFORMA DA PREVIDÊNCIA

Recessão brasileira: origens, determinantes e condições de saída

Transcrição:

Por que a surpresa? Há muito tempo que a realidade vem sendo escondida A novilíngua orçamentária e a limitação dos debates. O acúmulo de vícios. A indisposição para corrigir a raiz dos problemas. A outra face dos desequilíbrios fiscais A crença numa ilusão.

De fracasso em fracasso só restou o cansaço. A progressiva deterioração do quadro fiscal ao longo de 2015. A venda da ilusão: sucessivas revisões da meta fiscal de 2015 e a busca do perdão para os pecados cometidos. Pela primeira vez o Congresso parecia inclinado a ser mais realista- relatório da CMO. Reconhece a queda mas não desanimaaprovação da meta de 2015 e anúncio de resultados favoráveis em 2016.

O Estado tem se comportado como herdeiros de uma família rica. Não consegue se livrar da dependência de consumir receitas extraordinárias venda de ativos, refinanciamento de dívidas, securitização de recebíveis... Expande o tamanho da represa que acumula despesas que não foram pagas. E não expõe a outra face dos desequilíbrios

2014 2013 2012 2011 2010 2009 2008 2007 2006 2005 2004 2003 2002 2001 2000 1999 1998 1997 0,3% 0,3% 0,1% 0,1% 0,1% 0,1% 0,1% 0,1% 0,2% 0,4% 0,4% 0,8% 0,8% 0,7% 0,9% 1,0% 1,3% 2,3% 0,0% 0,5% 1,0% 1,5% 2,0% 2,5%

Entre 2010 e 2014, o volume de gastos transferidos para o orçamento paralelo subiu de R$ 127 bilhões para R$ 225 bilhões A parcela que ainda não tinha sido contratada em 2015 representava cerca de 85% do total,mas grande parte dessas despesas não pode ser cancelada. Inclui despesas de educação, saúde e investimentos que se referem a obras em andamento,além de emendas parlamentares. Em 2015, o orçamento paralelo já superava as despesas discricionárias do orçamento do exercício corrente Novas dificuldades à frente. Despesas de saúde e educação armazenadas no orçamento paralelo: 33 bilhões de reais= a 30% do total das despesas de custeio nesses dois programas em 2014.

Obrigatório não é sinônimo de prioritário e discricionário não é irrelevante Corte de gastos penaliza investimentos Custeio de programas sociais não acompanham aumento capacidade de atendimento- caso da educação. Todos os demais direitos sociais do capítulo 6 da Constituição foram expulsos do orçamento segurança, moradia...

Criação da CPMF em 1994 primeira tentativa de abrir espaço no condomínio da seguridade social Fracassou e foi substituída pela EC 29/2000 vinculação crescimento do PIB EC 86/2015 definiu nova regra- 15% da RCL em 2020, que já está sendo reavaliada Nada disso será solução para os problemas de financiamento do setor.

Ignora impacto futuro de benefícios concedidos aos que têm maior poder de pressão em períodos de bonança. Dificulta a correção dos desajustes na reversão do ciclo- cortes de gastos concorrem para ampliar o efeito da crise Medidas pontuais, como a desoneração de tributos e o adiamento de reajustes de salários repercute à frente aumentando as dificuldades para equilibrar as contas Importa retomar o planejamento plurianual - MTEF

Urgência leva à preferencia por aqueles que independem de aprovação do Congresso- Cide, IOF, IPI... Reforma nas contribuições para o PIS e a COFINS tem sido debatidas e geram preocupações quanto a seus resultados Sempre lembrada é a possibilidade de renovar o convite para a visita da Velha Senhora. O que pode arrefecer o ânimo de empreender as reformas

Os desequilíbrios estruturais não serão corrigidos apenas com a retomada do crescimento Receitas ordinárias já não são suficientes para cobrir despesas obrigatórias As raízes dos desajustes fiscais são profundas- acúmulo de direitos pré assegurados sobre o orçamento. A outra face dos desequilíbrios fiscais está escondida

Em 1988 foi plantado um pé de jabuticaba para abrigar alguns grupos Dualidade de regimes tributários Criação de um regime tributário próprio para financiar a seguridade social Contribuintes não atentaram para as implicações disso Demais interessados se contentaram em buscar ganhos imediatos Descentralização das competências tributárias (ICMS e ISS) e ampliação das transferências constitucionais. Extinção impostos únicos. Enquanto o pé era pequeno não despertava atenção

No clima desfavorável do final de 1998 a opção foi adubar e irrigar o pé de jabuticaba, que cresceu rapidamente. O incrível abraço do ajuste fiscal com a seguridade social Os que se abrigavam na sombra da árvore se beneficiaram da ampliação desse espaço e os demais foram perdendo terreno. Recentralização das receitas, destruição da qualidade dos tributos e multiplicação dos desequilíbrios federativos com perda dos estados e aumento da fatia dos municípios na repartição do bolo fiscal. Associação entre centralização e políticas sociais foi retomada pela primeira vez na democracia.

A arquitetura do conjunto construído nesse terreno em 1965, com base no desenho de 1963, exibia um conjunto equilibrado e apoiado numa base sólida que sustentava o STN A reforma orçamentária Lei 4320-64 A construção do Sistema Tributário Nacional Redefinição das competências tributárias Produção, renda e impostos únicos na competência federal. Consumo na competência dos estados IVA/ICM- normas nacionais Serviços na competência dos municípios Adoção de moderno regime de transferências a estados e municípios equalização fiscal Coparticipação em tributos vinculados a investimentos na infraestrutura- impostos únicos Reforço da política nacional de desenvolvimento regional

Destruição do processo orçamentário desequilíbrios e dificuldades para conter a expansão das despesas. Abandono da necessidade de reconstruir um Sistema Tributário Nacional.- Reformas Fatiadas! Mudanças pontuais no PIS/COFINS e no ICMS Ampliação do Simples Nacional. Etc... Conflitos federativos, fragilização dos estados e municipalização da politica estadual. Abandono de uma Politica Nacional de Desenvolvimento Regional guerra fiscal e quebra de cadeias produtivas nacionais.

Que lições podem ser extraídas do modelo concebido em 1963 e das mudanças posteriores? Observar princípios e conceitos Abandonar remendos e promover uma ampla reforma Ênfase na flexibilidade rigidez não combina com velocidade das mudanças- equilibrar recursos e responsabilidades Ter em conta as implicações da nova ordem mundial no campo tributário. Abertura, globalização, tecnologias e erosão das bases tributárias Quais as transformações que a economia digital provoca na produção e comercialização de bens e serviços? E como as recomendações que buscam eficiência e progressividade da tributação são afetadas? Superar conflitos e antagonismos na federação Rever a discriminação constitucional de rendas na federação - Adotar um novo modelo de federalismo fiscal e uma nova política nacional de desenvolvimento regional

Iluminar os desequilíbrios nas prioridades para expor os conflitos e ampliar o foco dos debates políticos. Reforma fiscal não pode ser vista como prejudicial ao avanço das politicas sociais. É preciso evitar a visita da velha senhora se vier sua vingança será adiar o enfrentamento das reformas que precisam ser feitas para corrigir os desequilíbrios estruturais das contas públicas

Expor os conflitos de uma maneira clara, de forma a destacar o que explica o status quo. Iluminar os conflitos que se manifestam no interior de cada uma das três principais agendas do governo, e entre elas, com o propósito de provocar um debate entre os principais atores envolvidos. Trazer ao debate político os demais interesses prejudicados- questão urbana. Destacar a importância de avançarmos no rumo de uma reforma fiscal.

O tempo perdido ameaça comprometer o objetivo de recuperar a confiança da população na capacidade de o país retomar uma trajetória de crescimento com inclusão social A urgência é necessária para corrigir os equívocos cometidos E tomar medidas duras para reverter uma trajetória que ameaçava conduzir o Brasil a uma nova década perdida.

O Novelo Fiscal tentativas de puxar pontas aparentes foram aumentando a dificuldade para desembaraçá-lo. O aperto do novelo engessou o orçamento, destruiu a racionalidade tributária, desequilibrou a federação e aumentou a burocracia fiscal. O que acontece quando o fio da meada for sendo puxado? O que explica a resistência em tomar essa iniciativa?

DRU já não oferece solução Esconde deficit previdência, amplia desequilíbrios prioridades e não atende à meta fiscal Modelo de execução despesa Abandono planejamento e acúmulo RAPs compromete eficácia das vinculações. Dependência de receitas extraordinárias não ajuda a corrigir desequilíbrios estruturais. Novas perspectivas que se abrem com as mudanças no governo e suas propostas.