CRISE E FINANCIAMENTO DO SUS
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- Nelson Vinícius Marinho Fartaria
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1 CRISE E FINANCIAMENTO DO SUS María Alicia Domínguez Ugá IX Congresso Brasileiro de Saúde Coletiva, 2009
2 Para entender a crise, vale recorrer a O CAPITAL (Marx): D => M => D Quando os agentes capitalistas não tem expectativas de que D seja muito superior a D, o capital tende a retornar a formas mais flexíveis de investimento => financeirização
3 E a BRAUDEL (1984): A expansão financeira é um sintoma da maturidade (no sentido de esgotamento) de um determinado desenvolvimento capitalista. Por isso, segundo ARRIGHI (1996): Um padrão reiterado do capitalismo é a alternância de épocas de expansão material (produtiva) e de épocas de expansão financeira.
4 Ainda segundo ARRIGHI (1996): Longos períodos de crise, reestruturação e reorganização de mudanças com descontinuidade - têm sido muito mais típicos da história da economia capitalista mundial do que os breves momentos de expansão generalizada por uma via de desenvolvimento definida, como a que ocorreu nas décadas de 1950 e 1960.
5 Claramente, a partir dos anos setenta, o sistema capitalista mundial foi progressivamente passando para uma fase de expansão financeira, que se deu de uma forma totalmente desregulada, principalmente nos anos 1990 e 2000, seguindo os dogmas do Consenso de Washington.
6 A CRISE Começa a ficar visível em agosto 2007, com a crise do mercado de derivativos especiais de crédito hipotecário (sub-primes) nos EUA. A crise financeira em profundidade do núcleo central do sistema capitalista se estende a toda a economia mundial a partir do último trimestre de 2008, com: - Globalização da economia e dos bancos europeus - Retração do crédito e recessão nos países centrais - Retração do comércio internacional e queda dos preços do petróleo e de outras commodities - Contração do crédito bancário internacional
7 Na América Latina, antes da crise internacional, bonança entre 2003 e
8 Entre 2003 e 2008, América Latina cresceu de forma sustentada: Taxa de crescimento do PIB em países da América Latina, ,3 4,0 0,4-0,4 2,2 6,1 4,9 5,8 5,8 4,6 Fonte: CEPAL, 2009
9 Esse crescimento se traduziu em aumento do emprego: Elaboração: Bárcena, 2009
10 No entanto, a carga tributária da maioria dos países de A.L. é insuficiente para financiar políticas sociais de caráter universal: Fonte: CEPAL. Elaboração: Bárcena, 2009
11 IMPACTO DA CRISE NOS PAÍSES LATINO-AMERICANOS: TAXAS DE CRESCIMENTO DO PIB (%) Países * Argentina 7,0 4,0 Brasil 5,1 1,2 Chile 3,2 2,0 Ecuador 6,5 2,3 México 1,3-4,1 Perú 9,8 4,5 * Projeções governamentais para 2009 Fonte: CEPAL
12 IMPACTO DA CRISE NOS PAÍSES LATINO-AMERICANOS: TAXAS DE DESEMPREGO Países Dez Mar Argentina 7,3 8,4 Brasil 6,8 9,0 Chile 7,5 8,5 Ecuador 7,3 8,6 México 4,3 4,8 Perú 8,1 8,2 (%) Dados: CEPAL - Projeções: FMI
13 MEDIDAS ADOTADAS PELOS GOVERNOS Países Medidas Argentina Aumentou subsídios para desempregados e reduziu custos laborais das empresas. Brasil Chile México Gastos públicos e exonerações fiscais: US$ 10,8 bilhões Ampliou prazo do seguro desemprego, reduziu impostos de alguns setores mais afetados pela crise e criou incentivos à construção civil. Gastos públicos e exonerações fiscais: US$ 70 bilhões Ampliou prazo do seguro desemprego e deu subsídios para capacitação de trabalhadores demitidos. Gastos públicos e exonerações fiscais: US$ 10,3 bilhões Programa de trabalho temporário em infra-estrutura para criar 250 mil postos.
14 CENÁRIOS: Frente a essa importante diminuição da taxa de crescimento do PIB e, portanto, de contração da arrecadação tributária, Frente ao volume de recursos tão importante que está sendo destinado ao setor produtivo, tanto para o capital como para o trabalho, é muito provável que o financiamento das políticas de saúde sofra uma contração em 2009.
15 NO BRASIL, ESPECIFICAMENTE: Até o 1o trimestre 2009: - Desaceleração do PIB - Aumento do desemprego - Mas a pobreza continuou em movimento descendente, de 31,2% (março 2008) a 30,7% (março 2009) devido a: - políticas compensatórias => Bolsa Família - políticas sociais => aposentadoria rural e Benefícios de Prestação Continuada (anciãos e deficientes)
16 NO BRASIL, ESPECIFICAMENTE: Recuperação a partir do 2o trimestre 2009: - PIB cresceu no 2o trimestre 1,9% em relação ao trimestre anterior - Estima-se se um crescimento de 2% a 2,5% no 3o trimestre em relação ao anterior - Elevado nível de utilização da capacidade instalada em vários setores da economia, que deverá gerar novos investimentos na ampliação da capacidade instalada e futuros novos empregos.
17 GASTO SOCIAL: Dados preliminares da execução do orçamento indicam que os gastos federais na seguridade social (saúde + assistência social + previdência social) diminuíram em 2008, como proporção do PIB: - Em 2007, representavam 13% do PIB - Em 2008, caíram a 12,6% do PIB É o primeiro movimento de descenso, depois de 12 anos.
18 Independentemente dos efeitos da crise internacional, que gerou um déficit fiscal nominal esperado de 2,5% a 3,0% do PIB brasileiro, problemas históricos no financiamento do sistema de saúde brasileiro determinam a baixa participação do Estado no financiamento setorial.
19 CONTRADIÇÕES DO SISTEMA DE SAÚDE BRASILEIRO A estrutura do sistema nacional de saúde brasileiro (e, nele, a participação do setor privado) é herdada do modelo do sistema de saúde prévio ao SUS, no qual o papel do Estado havia sido fundamentalmente o de promover a expansão do setor privado. => Nosso sistema, constitucionalmente definido como SISTEMA NACIONAL DE SAÚDE, de acesso universal e integral, é composto por um mix público privado, no âmbito da oferta de serviços e do seu financiamento. Neste, é ainda pouco expressiva a participação do Estado.
20 COMPOSIÇÃO DO GASTO EM SAÚDE R$ Milhões % Gasto Público Total ,8 Gasto Privado com Planos e Seguros de Saúde ,7 Gasto Privado Direto das Famílias (out-of-pocket) ,5 Gasto Total ,00 Fonte: Ugá & Santos (2005)
21 No Brasil, o gasto público em saúde representa apenas 3,4% do PIB. Estimativas da OPAS apontam que é necessário, como mínimo, um gasto público em saúde de 6% do PIB para que um sistema de saúde seja efetivamente universal e integral. Em países com cobertura universal e integral, o gasto público em saúde representa, em média, 7,3% do PIB: entre um mínimo de 6% e um máximo de 13% (OPAS, 2008)
22 Dada a ainda tímida participação do gasto público no financiamento do sistema de saúde, o gasto privado direto (na compra de bens e serviços de saúde) é alto e penaliza principalmente os indivíduos de mais baixa renda.
23 Peso do gasto em saúde sobre a renda familiar 12,00 Peso do Financiamento do Setor Saúde sobre a Renda familiar per capita, segundo tipo de gasto, por Decil de Renda familiar per capita - Brasil, ,00 Peso % sobre a ren nda 8,00 6,00 4,00 Peso Privado direto Peso Planos de Saúde 2,00 Peso SUS Fonte: POF/IBGE 2002/3 SIOPS/MS Decil de Renda Ugá, M.A.D. & Santos, I. 2005
24 Os recorrentes problemas de financiamento do SUS pouco têm que ver com a crise internacional. Eles refletem problemas estruturais e escolhas políticas, que têm-se reiterado.
25 PROBLEMAS DO FINANCIAMENTO DO SUS JÁ EXISTENTES ANTES DA CRISE 1. POLÍTICA MACRO-ECONÔMICA Subordinação do gasto em saúde ao Ajuste Fiscal 2. Extinção do único tributo vinculado à saúde: a CPMF => Necessidade de novas fontes 3. Diferenças entre o gasto autorizado e o executado 4. Subsídios ao setor privado: renúncia fiscal - deduções de gastos privados com saúde no IR (R$ 4,1 bi), - isenções tributárias dos hospitais e operadoras filantrópicas ( R$ 1,6 bi) (de impostos federais, aos quais se somam os demais) e - planos privados de saúde para funcionários públicos.
26 PERSPECTIVAS REFORMA TRIBUTÁRIA (PEC 233/08) > Como afetará o Orçamento da Seguridade Social? 1. Seriam extintos alguns tributos que compõem hoje o Orçamento da Seguridade Social (COFINS, Contribuição sobre o Lucro Líquido e PIS-PASEP), PASEP), além da perda da CPMF, já extinta. 2. Diminuiria a contribuição patronal sobre salários => 6% 3. Seria criado o Imposto Sobre Valor Adicionado federal e estadual - que incidiria sobre bens e serviços, em substituição a esses tributos extintos.
27 Como a Reforma Tributária afetaria o OSS? 1. Extinção de fontes específicas do OSS (COFINS, CSLL e PIS-PASEP), PASEP), além da CPMF, já extinta + Diminuição da contribuição patronal sobre salários => DESTRUIÇÃO DO CONCEITO E DA EXISTÊNCIA DE UM ORÇAMENTO DA SEGURIDADE SOCIAL, INTEGRADO. 2. Em substituição a essas fontes: Para a seguridade social, 39,7% da arrecadação de IR, IPI e IVA Federal.
28 Implicações da Reforma Tributária 1. GERAIS: um sistema tributário muito mais regressivo 2. PARA O FINANCIAMENTO DO SUS: - Incerteza: não há a definição de um percentual específico para a saúde. - Retrocesso: isso vai de encontro ao defendido no projeto de lei de regulamentação da E.C.29, que destina um % da receita corrente bruta para a SAÚDE. - Perdas: trata como TETO o que a EC29 trata como PISO. Estimativas ref. a 2007 (Jorge et al, 2008): * perda de R$ 9 BI para Seguridade Social * quando considerada a DRU, desfinanciamento de 38 BI
29 AGENDA PENDENTE 1. Resgatar os princípios constitucionais que sobrepõem os direitos cidadãos à lógica econômica => Impedir a redução de recursos para a saúde => Bloquear a aprovação do projeto de Reforma Tributária, que elimina e/ou reduz fontes de recursos da Seguridade Social e, portanto, da Saúde. 2. Eliminar/reduzir os subsídios públicos ao setor privado 3. Disseminar a idéia de que investir em saúde significa criar novos empregos, maior renda nacional e o estímulo a uma enorme cadeia produtiva.
30 OBRIGADA!
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