OS SENTIDOS DO TEXTO. CAVALCANTE, Mônica Magalhães. Os sentidos do texto. 1. Ed., 1ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2013.

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Transcrição:

OS SENTIDOS DO TEXTO Cleunice Fernandes da Silva 1 Tânia Pitombo de Oliveira 2 CAVALCANTE, Mônica Magalhães. Os sentidos do texto. 1. Ed., 1ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2013. O livro Os sentidos do texto é obra da autora Mônica Magalhães Cavalcante que atualmente é professora associada I da Universidade Federal do Ceará. Tem experiência na área de Linguística do Texto, com ênfase em Referenciação, mas pesquisa também sobre intertextualidade, metadiscursividade, argumentação, heterogeneidades enunciativas, gêneros do discurso, sequências textuais e psicanálise. A obra Os sentidos do texto está dividida em sete capítulos, que segundo a autora representam sete parâmetros fundamentais para que os alunos compreendam os sentidos e os referentes presentes nos textos, sendo esses: a noção de texto e de contexto; os gêneros textuais; as sequências textuais; o tópico textual-discursivo; as relações entre a referenciação e a coerência textual; os processos referenciais e seus usos; e as intertextualidades. No primeiro capítulo, a estudiosa evidencia as concepções de texto, contexto e coerência, demonstrando a importância desses elementos para a compreensão dos prováveis sentidos do evento comunicativo. Em relação ao conceito de texto, a pesquisadora nos proporciona uma reflexão, apresentando a definição de Marcuschi (2008, p. 88) que texto é a unidade máxima de funcionamento da língua, de Beaugrand (1997, p. 10) que define texto como um evento comunicativo em que convergem ações linguísticas, culturais, sociais e cognitivas., e da autora Koch (2002), para a qual, a conceitualização de texto pode sofrer mudanças de acordo com o sentido de língua e sujeito. Percebemos que a noção de texto, segundo esses três autores, é ampla e abrange 1 Graduada em Licenciatura Plena em Letras pela UFMT em 2006. Especialização em Linguística Aplicada às Línguas Materna e Estrangeira pelo Curso de Letras da UNEMAT/Sinop em 2012. Mestranda do Mestrado Profissional em Letras PROFLETRAS (2013-2015). E-mail: cleonicefernandes_silva@hotmail.com 2 Doutora em Linguística, professora adjunta titular da Universidade do Estado de Mato Grosso e membro titular do quadro docente do PROFLETRAS - Mestrado Profissional em Letras UNEMAT/SINOP. E-mail: taniapitombo@gmail.com Estudos Linguísticos, Sinop, v. 7, n. 14, p. 305-311, jul./dez. 2014. 305

bem mais que os elementos linguísticos, está relacionada ao conhecimento de mundo, as práticas comunicativas, cultura e história do falante. Dessa forma, Cavalcante (2013, p. 20) conclui que texto é um evento comunicativo em que estão presentes os elementos linguísticos, visuais e sonoros, os fatores cognitivos e vários aspectos. É, também, um evento de interação entre locutor e interlocutor, os quais se encontram em um diálogo constante. Ao compreendermos que os sentidos do texto não estão presentes apenas na superfície textual, que esses sentidos são construídos por meio da interação locutor-textointerlocutor, entendemos que os contextos das situações discursivas são essenciais para o trabalho de interpretação dos eventos comunicativos. Segundo Koch e Elias (2006, p. 59), o contexto é tudo aquilo que, de alguma forma, contribui pra ou determina a construção do sentido. Outro fator muito importante para a compreensão do sentido do texto é a coerência, segundo Cavalcante (2013, p. 30-31) Hoje, a noção de coerência engloba não apenas a unidade semântica, mas também, e especialmente, todas as inferências que precisam ser feitas para que os sentidos sejam construídos. As autoras Santos, Riche e Teixeira (2013, p. 17), observam que o texto pode ser coerente para um leitor, mas incoerente para outro, já que a coerência não depende apenas da relação onde significados entre os componentes textuais, mas é definida, principalmente, pela interação com o leitor.. No segundo capítulo, a autora aborda a questão dos gêneros discursivos, observando que esse tema será trabalhado em uma perspectiva sócio-histórica e dialógica. Para Bakhtin (2003), as práticas de linguagem e a construção de sentidos são sóciohistoricamente situadas, portanto não é possível compreender um texto sem observar o contexto social e histórico. Conforme a estudiosa (2013, p. 44), toda forma de interação ocorre mediada pelos gêneros discursivos. Esses são definidos pela autora como padrões sociocomunicativos que se manifestam por meio de textos de acordo com necessidades enunciativas específicas. Trata-se de artefatos constituídos sociocognitivamente para atender aos objetivos de situações sociais diversas.. Charles Bazerman (2011, p. 23) afirma que os gêneros estão presentes em todas as situações do nosso cotidiano Gêneros são formas de vida, modos de ser. São frames Estudos Linguísticos, Sinop, v. 7, n. 14, p. 305-311, jul./dez. 2014. 306

para a ação social. São ambientes para a aprendizagem. São lugares onde o sentido é construído.. Segundo o autor (2013, p. 24), os nossos alunos trazem para a escola os gêneros com os quais já estão familiarizados e que, muitas vezes, os aprendizes não conseguem compreender os gêneros, que para nós professores, são tão importantes, porque esses não fazem parte da realidade desses educandos. Bazerman argumenta que na escolha dos gêneros escritos, os alunos deveriam exercer um papel ativo e nós professores não deveríamos apresentar propostas de produções ignorando as percepções dos aprendizes não devíamos ser displicentes na escolha dos gêneros escritos que nossos alunos vão produzir. Nem deveríamos manter essas escolhas invisíveis aos alunos, como se toda produção escrita exigisse as mesmas posições, comprometimentos e metas, como se todos os textos compartilhassem das mesmas formas e características; como se todo letramento fosse igual.. Cavalcante (2013, p. 49) que os gêneros do discurso são formas estabilizadas, porque são frutos de práticas sociais reiteradas ao longo da história, todavia esses genros podem sofrer modificações, já que resultam da atividade humana, ou seja, sempre que houver necessidade, um gênero discursivo já estabilizado pode passar por transformações em suas características. No terceiro capítulo, a autora tece comentários a respeito da temática Sequências textuais. Cavalcante (2013, p. 61-62), fundamentada em Bronckart (1999), observa que as sequências textuais são unidades estruturais, relativamente autônomas, organizadas em fases, que por sua vez, podem combinar uma ou mais preposições.. De acordo com a função, a sequência textual pode ser narrativa, argumentativa, descritiva, injuntiva, explicativa ou dialogal, sendo importante ressaltar que um mesmo texto pode apresentar mais de uma sequência, nesses casos, uma das sequências apresentará dominância. Santos, Riche e Teixeira (2013, p. 35), diferentemente de Cavalcante, observam que os textos apresentam tipologias textuais, mas que os professores não devem apenas enfatizar os tipos textuais como descrição, narração, argumentação, exposição e injunção, devem manter o foco nos gêneros, já que na organização de um texto pode aparecer mais de um tipo textual. No quarto capítulo, a pesquisadora explana a respeito do Tópico discursivo, conforme a autora (2013, p. 79), a organização tópica, ou temática, é fundamental para a coerência textual. Em muitos casos, o tópico não pode ser identificado na superfície do Estudos Linguísticos, Sinop, v. 7, n. 14, p. 305-311, jul./dez. 2014. 307

texto, o que exigirá do interlocutor a ativação, não apenas dos aspectos estruturais e organizacionais, mas também dos aspectos discursivos para sua compreensão. Segundo Fulgêncio e Liberato (1998, p. 37), A identificação do tópico de um texto é indispensável para a sua compreensão. O tópico parece condicionar a interpretação de cada unidade de um texto. Conforme a estudiosa (2013, p. 83), o texto pode apresentar tópico e subtópicos, devendo o leitor identificá-los para compreendê-lo, para a autora Cabe ao leitor identificar a estrutura do texto, composta de tópico e subtópicos, e sua hierarquia, para garantir a adequada compreensão textual. Do mesmo modo um texto pode não apresentar um único tópico central Dependendo do gênero a que ele pertença, do grau de formalidade, dos propósitos comunicativos e de outros fatores, poderá haver mais de um tópico. No quinto capítulo, a autora (2013, p. 95) expõe sobre Referenciação e compreensão de textos, afirmando que a referenciação é um dos principais fatores para a produção e compreensão dos sentidos do texto. Cavalcante (2013, p. 98), esclarece que o referente é um objeto, uma entidade, uma representação construída a partir do texto e percebida, na maioria das vezes, a partir do uso de expressões referenciais.. Segundo Koch (2005), a referenciação é um importante mecanismo usado pelo escritor para representar suas percepções das realidades que o cerca. Somente a partir da compreensão das estratégias de referenciação, conforme a pesquisadora (2013, p. 102), é possível compreender os mecanismos, que estruturam o texto, fundamentais para o estabelecimento da coerência. Considerando o que foi exposto a respeito do conceito de referenciação, podemos perceber, assim como afirma Cavalcante (2013), a importância de o professor de língua materna, conhecer o processo de referenciação, para que possa aplicá-lo no processo de ensino aprendizagem. O sexto capítulo, complementa o quinto, já que são apresentadas as expressões referenciais e suas funções no texto. A autora apresenta nesta parte do livro três processos referenciais: a introdução referencial, anáforas e dêixis. Acerca do processo introdução referencial, Cavalcante (2013, p. 122), afirma que ocorre quando um objeto até então não apresentado é introduzido no texto, sem que haja qualquer elemento do discurso em que ele esteja ancorado anteriormente. Em relação ao conceito de anáforas, a Estudos Linguísticos, Sinop, v. 7, n. 14, p. 305-311, jul./dez. 2014. 308

estudiosa (2013, p. 123), define-o como a continuidade referencial, ou seja, a retomada de um referente por meio de novas expressões referenciais.. A respeito da definição de dêixis, a pesquisadora (2013, p. 129), observa que Tal fenômeno diz respeito à localização e identificação de diversos aspectos (pessoas, objetos, eventos, processos) em relação a um contexto espaço temporal, criado em uma situação de enunciação em que haja pelo menos um falante e um ouvinte. Fiorin (1996, p. 56), ao diferenciar a dêixis dos elementos anafóricos, afirma que os dêiticos são interpretados com referência à situação enunciativa, pressuposta ou explicitada no texto pelo narrador e os elementos anafóricos são compreendidos em função de marcas temporais e espaciais instaladas no enunciado e de actantes do enunciado anteriormente mencionados. Ao conhecer os processos referenciais, ações como organizar, argumentar, resumir ou introduzir uma informação, deixam de ser tão complicadas. É válido ressaltar que esses procedimentos da referenciação podem estar juntos em um texto ou ser usado apenas um desses mecanismos em uma produção específica. O sétimo capítulo apresenta considerações significativas a respeito da temática Intertextualidade. A pesquisadora (2013, p. 146) evidencia que em muitos textos, percebem-se indícios tangíveis de uma relação com outros, desde evidências tipográficas, que demarcam fronteiras bem específicas entre um dado texto e algum outro que esteja sendo evocado, até pistas mais sutis que conduzem o leitor à ligação intertextual por meio de inferências. Koch (1986, p. 39) observa que é possível atribuir dois sentidos à intertextualidade, sendo um amplo, que ocorre de modo implícito, e outro restrito, que pode acontecer de forma implícita e explicita. Para a autora, em uma produção textual há relações intertextuais que, embora não apareçam na superfície do novo texto, são importantes para sua produção. Conforme o proposto por Koch, percebemos que as atividades intertextuais são fundamentais para a produção textual. Nessa perspectiva, é válido ressaltar o princípio dialógico bakhitiniano, segundo o qual, no ato do discurso, o papel central do sujeito é substituído por diferentes vozes sociais, transformando-o em um sujeito histórico e ideológico. Estudos Linguísticos, Sinop, v. 7, n. 14, p. 305-311, jul./dez. 2014. 309

Bazerman (2011, p. 87) evidencia que Quase todas as palavras e frases que usamos já havíamos ouvido ou visto antes. Nossa originalidade e nossa habilidade como escritores advêm das novas maneiras como juntamos essas palavras para se adequarem às situações específicas. Para o autor nossas linguagens, assim como nossos textos, são construídas da interação com os outros e com o universo linguístico que nos cerca. A obra Os sentidos do texto apresenta conhecimentos importantes para os estudiosos da linguagem, em especial, para os professores de língua materna, já que Mônica Magalhães Cavalcante esclarece, logo a princípio, que o objetivo da obra é auxiliar os professores do ensino médio em suas práticas pedagógicas cotidianas. Somase, de forma positiva, a essas características da obra, o fato de a autora apresentar em cada capítulo análises de gêneros textuais variados, bem como exemplos de atividades que podem ser trabalhadas em sala de aula. Nesse contexto, a leitura do livro é imprescindível para nós docentes de Língua Portuguesa. Referências BAKHTIN, M. M. Os gêneros do discurso. In: BAKHTIN, M. M. Estética da Criação Verbal. Trad.: P. Bezerra. São Paulo: Martins Fontes, 2003 [1952-53/1979], p. 261-306 (texto original de 1952-1953, publicado em edição póstuma em 1979). BAZERMAN, Charles. Gênero, agência e escrita. Trad.: Judith Chambliss Hoffnagel. São Paulo: Cortez, 2011. BEAUGRANDE, Robert A. New foundations for a science of text and discourse. Norwood: Ablex, 1997. In: CAVALCANTE, Mônica Magalhães. Os sentidos do texto. 1. Ed., 1ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2013, p. 18. BRONCKART, Jean P. Atividades de linguagem, textos e discursos. São Paulo: Educ, 1999. In: CAVALCANTE, Mônica Magalhães. Os sentidos do texto. 1. Ed., 1ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2013, p. 61-62. FIORIN, José Luiz. (1996). As astúcias da enunciação: as categorias de pessoa, espaço e tempo. São Paulo: Ática. In: KOELLING, Sandra Beatriz. Os dêiticos e a enunciação. Revista Virtual de Estudos da Linguagem ReVEL. V. 1, n. 1, agosto de 2003. ISSN 1678-8931 [www.revel.inf.br]. FULGÊNCIO, L.; LIBERATO, Y. Como facilitar a leitura. São Paulo: Contexto, 1998. In: CAVALCANTE, Mônica Magalhães. Os sentidos do texto. 1. Ed., 1ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2013, p. 81-82. Estudos Linguísticos, Sinop, v. 7, n. 14, p. 305-311, jul./dez. 2014. 310

KOCH, Ingedore G. V. A intertextualidade como critério de textualidade. In: FÁVERO, L. L., PASCHOAL, M.S.Z. Linguística Textual, Texto e Leitura. São Paulo: EDUC, 1986. KOCH, Ingedore G. V. A coesão textual. 20. ed. São Paulo: Contexto, 2005. KOCH, Ingedore G. V; ELIAS, Vanda M. Ler e compreender: os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2006. MARCUSCHI, Luís. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. São Paulo: Parábola, 2008. In: CAVALCANTE, Mônica Magalhães. Os sentidos do texto. 1. Ed., 1ª reimpressão. São Paulo: Contexto, 2013, p. 18. SANTOS, Leonor Werneck; RICHE, Rosa Cuba; TEIXEIRA, Claudia Souza. Análise e produção de textos. São Paulo: Contexto, 2013. Recebido em 17/11/2014. Aprovado em 26/11/2014. Estudos Linguísticos, Sinop, v. 7, n. 14, p. 305-311, jul./dez. 2014. 311