FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA. Redes de Telecomunicações (2006/2007)



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FACULDADE DE CIÊNCIAS E TECNOLOGIA Redes de Telecomunicações (2006/2007) Engª de Sistemas e Informática Trabalho nº4 (1ª aula) Título: Modelação de tráfego utilizando o modelo de Poisson Fundamentos teóricos 1. Introdução O objectivo de uma rede de comunicação de comutação de circuitos consiste em estabelecer circuitos (ligações bidireccionais) envolvendo a afectação de vários recursos da rede (vias de transmissão, sistemas de multiplexagem, centrais de comutação, etc.) durante todo o período de duração de uma chamada. Assim, do ponto de vista da rede é importante saber dimensionar a rede de modo que os recursos da rede sejam afectados satisfatoriamente. Como, o número de chamadas oferecidas a uma rede, bem como a sua duração variam aleatoriamente, a análise e dimensionamento de uma rede terá necessariamente de envolver o recurso a modelos estatísticos apropriados. A engenharia de teletráfego é dedicada exactamente ao estudo desses modelos. Uma das aplicações mais relevantes da engenharia de teletráfego consiste em dimensionar o número circuitos necessários para uma determinada ligação. Por razões económicas não é concebível projectar uma rede com equipamento suficiente para dar resposta imediata a todos os pedidos de serviço (chamadas), sendo aceitável um certo bloqueio (pedidos de serviço recusados) ou atraso (nas redes de dados). Por conseguinte, aspectos como modelação e previsão de tráfego telefónico serão de especial importância no dimensionamento referido. 2. Caracterização do tráfego telefónico A Figura 1 ilustra o número de chamadas em progresso numa rede de telecomunicações fosse registado durante um intervalo de tempo de poucos minutos. A Figura 2 representa uma variação (hora-a-hora) das chamadas durante um dia de trabalho típico, numa central telefónica tanto para uma zona residencial como para uma zona empresarial. Existem poucas chamadas durante a noite. O número de chamadas cresce à medida que as pessoas vão chegando ao trabalho atingindo um máximo a meio da manhã. Esse número cai por volta da hora do almoço e volta a aumentar da parte da tarde. Decresce novamente à medida que as pessoas regressam a casa, notando-se ainda um ligeiro pico ao princípio da noite em resultado de possíveis contactos sociais. Pode-se ver que a hora em que ocorre 1

um maior número de chamadas se situa entre as 15 e as 16 horas na zona empresarial. Essa hora, designa-se por hora de ponta, ou hora mais carregada. Figura 1.Variação do tráfego a curto prazo. Figura 2. Variação do tráfego telefónico ao longo de um dia. 2

A utilização de medidas de tráfego na hora mais carregada para projectar as redes telefónicas resulta de um compromisso entre um projecto virado para a inteira utilização (o que inclui as horas nocturnas com quase utilização nula) e um projecto virado para os picos de tráfego de curta duração, resultantes de fenómenos imprevisíveis (desastres naturais, etc.), e de eventos especiais e concursos na TV. 3. Sistemas de perda e sistemas de espera Há dois grandes tipos de sistemas usados em redes de comutação de circuitos: sistemas de perda, em que as chamadas que excedem em qualquer instante a capacidade máxima do sistema são rejeitadas, podendo ou não regressar em novas tentativas; sistemas de espera, em que as chamadas em excesso são colocadas em filas de espera até estarem disponíveis os recursos necessários para as suportar (excepcionalmente, se a fila encher, o sistema passa a comportar-se como na situação de perda). Nos sistemas de perdas, o tráfego transportado é sempre menor ou igual ao tráfego oferecido ao sistema pelas fontes, enquanto nos sistemas de espera estas duas quantidades são iguais, desde que a média a longo prazo do tráfego oferecido seja inferior à capacidade máxima do sistema e as filas de espera tenham tamanho suficiente para absorver os picos. 4. Parâmetros de tráfego A Figura 3 representa um modelo genérico de uma central telefónica de acesso total com M linhas de entrada e N linhas de saída. O estabelecimento de um circuito em resposta a um pedido da chamada implica escolher uma das N linhas de saída e ligá-la a uma das M linhas de entrada. Se todas as linhas de saída estão ocupadas a chamada é bloqueada. Obviamente para haver bloqueio é necessário que M>N, ou seja, o número de entradas é superior ao número de saídas. Um sistema com esta característica usa concentração e como permite uma partilha dos recursos de saída conduz a uma redução dos custos.. Figura 3. Modelo genérico de uma central de comutação de circuitos 3

Seja K i (t) o tráfego instantâneo transportado pela linha i, se a linha está activa K i (t)=0 caso contrário K i (t)=0. Então o tráfego instantâneo transportado por um grupo de M linhas é dado por: M = i= 1 ( ) ( ) m t K t i (1) A equação anterior define o número de linhas activas num determinado instante. O volume de tráfego, A v, escoado pelo grupo de linhas considerado durante o tempo T, não é mais do que a soma dos tempos de ocupação desse grupo no intervalo de tempo T, isto é: Av T = 0 ( ) m t dt (2) A equação anterior pode-se simplificar admitindo-se que o número médio de chamadas no intervalo de tempo T é igual a C e que a duração média dessas chamadas é igual a h, A v =Ch (3) Uma medida de tráfego mais útil é a intensidade de tráfego, A, (também designada por fluxo de tráfego). A intensidade de tráfego A é obtida dividindo o volume de tráfego pelo intervalo de tempo de medida, ou seja A A T Ch T v = = = λh (3) onde λ representa o número médio de chamadas por unidade de tempo. Embora a intensidade de tráfego seja adimensional é normalmente expressa em Erlang (abreviatura E) em homenagem ao matemático dinamarquês A. K. Erlang, que estabeleceu as bases da teoria do tráfego. O tráfego máximo transportado por uma linha será de 1 E, o que corresponde à linha estar permanentemente ocupada durante o período de medida, normalmente uma hora. A taxa de chamadas na hora mais carregada é o número médio de chamadas realizadas por assinante durante a hora de ponta. Esta taxa varia entre 0.5 para uma região rural até perto de 1.5 para uma zona muito activa de uma grande cidade. Como a duração de cada chamada varia entre os 3 e 4 minutos, tem-se um tráfego por assinante compreendido entre 0.025 e 0.1 E. 5. Congestionamento Congestionamento refere-se ao estado de uma rede quando todas as solicitações à rede não são respondidas de imediato. Nas redes de comutação de pacotes todas as chamadas (mensagens) que chegam durante um período de congestionamento esperam numa fila até 4

que um circuito de saída fique livre. Por isso, essas chamadas são atrasadas mas não perdidas. Os sistemas com estas características designam-se por sistemas com filas de espera. Nos sistemas de comutação de circuitos, como é o caso das centrais telefónicas, todas as tentativas para realizar chamadas num sistema congestionado são infrutíferas. Estes sistemas designam-se por sistemas com perdas. Num sistema com perdas o tráfego transportado é inferior ao tráfego oferecido, sendo a diferença o tráfego perdido. Define-se o grau de serviço B, como a relação entre o tráfego perdido e o tráfego oferecido na hora de ponta, ou seja Tráfego oferecido B = Tráfego perdido (4) Assim, se é oferecido um tráfego de A Erlangs a um grupo de circuitos com um grau de serviço de B o tráfego perdido é AB e o tráfego transportado é A(1-B) Erlangs. A escolha do grau de serviço resulta de um compromisso entre dois factores. Se é muito elevado os utilizadores fazem muitas tentativas infrutíferas o que é motivo de insatisfação. Se por outro lado é muito baixo tem-se despesas desnecessárias em equipamento que é raramente usado. Um objectivo razoável para as redes de telecomunicações modernas consiste em considerar um grau de serviço na hora de ponta que não ultrapasse 1%. 6. Modelação de tráfego Com o objectivo de simplificar a análise admite-se que o tráfego oferecido a um determinado sistema de telecomunicações (por exemplo uma central telefónica) é puramente aleatório. Isto quer dizer que, os eventos associados à chegada e terminação das chamadas são eventos aleatórios e independentes. Um tráfego com estas características é conhecido por tráfego sem memória e implica que o número de fontes geradoras de chamadas seja muito elevado. Nesta situação, o número de chegadas de chamadas num determinado intervalo de tempo T é descrito por um processo de Poisson. Assim, a probabilidade P(k) de chegarem k chamadas no intervalo de tempo T é descrita por: λt k e ( λt ) (5) P ( k ) = k = 0,1, 2,3, k! onde λ é o número médio de chamadas ocorridas por unidade de tempo. Atendendo às propriedades da distribuição de Poisson tem-se que o número médio de chamadas chegadas no intervalo de tempo T é dado por E ( k ) = Λ = λt (6) enquanto a variância desse número é dada por 5

σ = λt (7) 2 k Os processos de Poisson apresentam duas propriedades fundamentais: estacionariedade: a probabilidade de um dado número de eventos (chegada de chamadas) ocorrerem num intervalo de tempo determinado depende apenas da duração desse intervalo e não do seu posicionamento no tempo; incorrelação: traduz independência entre eventos (chegada de chamadas) que ocorrem em intervalos de tempo disjuntos. Figura 4. Instantes de chegada num processo de Poisson. Considere-se agora um intervalo de tempo elevado e marque-se os instantes de chegada das chamadas (veja-se a Figura 4). O intervalo de tempo entre os instantes de chegada é representado por τ. Para um processo de chegada de Poisson τ é uma variável aleatória contínua com distribuição exponencial negativa, cuja função densidade de probabilidade é descrita por: p ( τ ) λe λτ τ 0 = (8) O valor médio de τ é: 1 E ( τ ) = τ p( τ ) dτ = λ 0 (9) 2 2 enquanto a variância vem dada por στ = 1/ λ. A probabilidade que o intervalo de tempo τ seja superior a t é dado por: λτ λt ( τ ) = λ τ = P t e d e t (10) 6

Exercício 1 (Duração uma aula) Execução Prática Considere uma fonte de tráfego que gera chamadas a uma taxa λ, segundo um processo de Poisson. a) Desenvolva um programa de simulação desta fonte, que lhe permita obter: - o histograma do intervalo entre chegada de chamadas consecutivas; - o estimador do valor médio do intervalo entre chamadas consecutivas. b) Compare os resultados obtidos na simulação com os valores previstos teoricamente, assumindo uma taxa λ =5 chamadas/segundo. c) Considere agora intervalos sucessivos T=4 s e determine, por simulação, o histograma do número de chamadas geradas em cada um desses intervalos. d)compare o histograma obtido na simulação com o previsto teoricamente 7