TRIBUNAL DE JUSTIÇA DÉCIMA NONA CÂMARA CÍVEL RELATOR: DES. MARCOS ALCINO DE AZEVEDO TORRES



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Transcrição:

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DÉCIMA NONA CÂMARA CÍVEL RELATOR: DES. MARCOS ALCINO DE AZEVEDO TORRES APELAÇÃO CÍVEL Nº. 0002183.65.2008.8.19.0001 APTE: CRISTOVÃO JERONIMO SOARES LOPES APDO: ITAU SEGUROS S.A. Apelação Cível. Ação de cobrança de indenização prevista em contrato de seguro. Recusa ao pagamento da indenização com base em cláusula contratual que exclui sogros e outros familiares do conceito de terceiro, para fins de cobertura securitária. Manifesta abusividade. Relação de consumo. Vedação de cláusulas que coloquem o consumidor exagerada desvantagem. Reforma da sentença. Parcial provimento do apelo. 1. Não se ignora que a cláusula que exclui a cobertura da indenização securitária quando o terceiro envolvido for parente do segurado inserida na apólice tem por objetivo evitar fraudes perpetradas pelo segurado em conluio com o familiar. 2. Não obstante, a exclusão genérica da cobertura dos acidentes envolvendo veículos de familiares e parentes revela-se manifestamente abusiva, incumbindo à seguradora, no caso concreto, comprovar a ocorrência de eventual fraude, a fim de afastar seu dever de indenizar, o que não ocorreu na hipótese. 3. Ademais, em se tratando de acidente involuntário, ainda que cometido por culpa do segurado, este possui direito ao recebimento da indenização securitária, pois esse é justamente o objetivo do contrato, sendo a atividade fim prestada pela seguradora, que não pode dela se eximir com base em cláusula contratual manifestamente abusiva, e nula de pleno direito, a teor do que dispõe os incisos I, IV, IX e XV do art. 51 do CDC. 4. Assim, deverá a ré cumprir com a obrigação contratada com o autor, pagando-lhe o valor por este despendido com relação ao conserto dos automóveis, a título de danos materiais, que deverão ser apurados em fase de liquidação de sentença. 5. Diante da negligência da ré em resolver o problema, o autor viu-se obrigado a constituir advogados e recorrer ao

Poder Judiciário, fato que, por si só, extrapola a seara do mero aborrecimento e gera dano moral indenizável. Nesta parte, diante das circunstâncias do caso concreto, entendo que o valor de R$ 10.000,00, revela-se justo e adequado. 6. Parcial provimento do recurso. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos da Apelação Cível nº. 0002183.65.2008.8.19.0001, em que figura como apelante CRISTOVÃO JERONIMO SOARES LOPES, sendo apelado ITAU SEGUROS S.A.: ACORDAM os Desembargadores que compõem a Décima Nona Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro em dar parcial provimento ao recurso, nos termos do voto do relator. Decisão unânime. Trata-se de recurso de apelação interposto contra sentença que julgou improcedente o pedido de cobrança de indenização securitária formulado pelo autor, por entender pela validade da cláusula contratual que exclui a cobertura quando o sinistro envolver familiares, como a sogra, que não se enquadra no conceito de terceiro para os fins da apólice. Em suas razões de apelo, o autor sustenta, em síntese, que a cláusula que exclui a cobertura é ambígua, devendo ser interpretada favoravelmente ao consumidor, e também abusiva, sendo nula de pleno direito, motivo pelo qual espera a reforma da sentença com a procedência do pedido formulado na inicial. Contrarrazões prestigiam a sentença. É O RELATÓRIO. VOTO: A controvérsia reside em apurar se a cláusula da apólice que exclui sogros e outros familiares, pra fins de cobertura securitária, é lícita e, portanto, válida, ou abusiva e, portanto, nula de pleno direito. De plano, convém destacar que, ao caso concreto, incidem as normas previstas no Código de Defesa do Consumidor, por expressa previsão legal, uma vez que o serviço de natureza securitária é considerado como relação de consumo (art. 3º, 2º, CDC).

A meu ver, parece inegável que uma cláusula excluiu aprioristicamente do conceito de terceiro, para fins de cobertura securitária, inúmeros parentes e familiares do segurado possui nítido caráter abusivo. Não se ignora que a referida cláusula inserida na apólice tem por objetivo evitar fraudes perpetradas pelo segurado em conluio com o familiar, para forjar acidentes para fins de recebimento da indenização securitária. Não obstante, entendo que a situação imaginada acima encontra-se inserida no risco da atividade empreendida pela ré, de modo que competiria à seguradora comprovar, no caso concreto, que o sinistro comunicado pelo segurado teria sido forjado. À toda evidência, revela-se manifestamente abusiva a cláusula que, em contrato de seguro de veículo, exclui genericamente da cobertura os acidentes envolvendo veículos de familiares e parentes, pois não é difícil vislumbrar diversas situações em que um sinistro deste viés poderia ocorrer, tal como numa viagem em grupo, por exemplo. Ora, no caso concreto, o autor afirma que colidiu com o veículo de sua sogra acidentalmente, quando tentava realizar uma ultrapassagem mal sucedida, tendo assumido expressamente a culpa pelo evento. Observa-se da contestação da ré, que esta não impugnou especificamente tal fato, isto é, não afirmou se tratar de acidente forjado, ou sequer aventou que o sinistro teria ocorrido de forma diversa da narrada pelo autor. E, em se tratando de acidente involuntário, ainda que cometido por culpa do segurado, este possui direito ao recebimento da indenização securitária, pois esse é justamente o objetivo do contrato, sendo a atividade fim prestada pela seguradora, que não pode dela se eximir com base em cláusula contratual manifestamente abusiva, e nula de pleno direito, a teor do que dispõe os incisos I, IV, IX e XV do art. 51 do CDC. Uma vez reconhecida a abusividade da cláusula na qual na qual a seguradora se baseou para recusar o pagamento da indenização ao segurado, convém apreciar se restaram comprovados os danos materiais alegados, bem como se o autor sofrera dano moral na hipótese.

Antes, contudo, convém rechaçar a alegação de prescrição ânua ventilada pelo réu em sua defesa. Verifica-se dos autos que a comunicação do sinistro ocorreu em 21.03.2007, um dia após ocorrido o acidente automobilístico envolvendo o veículo do autor, segurado, e o de sua sogra. É cediço que a comunicação do sinistro à seguradora suspende o prazo prescricional, recomeçando a fluir a partir do momento em que o segurado toma ciência da decisão final da seguradora, conforme prevê a Súmula nº 229 do STJ. Assim, considerando que o autor comunicou o sinistro no dia seguinte à ocorrência do acidente, temos que o prazo prescricional somente começou a fluir a partir de 04.04.2007, quando o autor recebeu a missiva da ré, contendo a recusa ao seu pedido de cobertura (fl. 25). Logo, não se verifica a ocorrência de prescrição, uma vez que a propositura desta demanda ocorreu em 04.04.2008, dentro, portanto, do prazo prescricional de um ano previsto no art. 206, 1º, II, do Código Civil. Ultrapassada essa questão, ressai induvidosa a conclusão de que a ré violou expressamente o disposto nos artigos 757 e 776 do Código Civil, posto que deixou de garantir interesse legítimo do segurado, bem como de pagar em dinheiro o prejuízo resultante do risco assumido. Assim, deverá a ré cumprir com a obrigação contratada com o autor, pagando-lhe o valor por este despendido apenas com relação ao conserto dos automóveis, a título de danos materiais, que deverão ser apurados em fase de liquidação de sentença. Diante da negligência da ré em resolver o problema, o autor viu-se obrigado a constituir advogados e recorrer ao Poder Judiciário, fato que, por si só, extrapola a seara do mero aborrecimento e gera dano moral indenizável. Saliente-se que não há um critério legal pré-determinado para arbitramento da indenização, mas há critérios indicados pela doutrina e jurisprudência, dentre eles a capacidade econômica das partes, o objetivo compensatório e, até mesmo, segundo boa parte da doutrina, um componente punitivo, este com especial aplicação à ré como meio de impulsioná-la à melhoria de seus serviços de modo a evitar o engrossamento da fila de lesados que buscam junto ao judiciário a reparação dos danos sofridos.

Nesta parte, diante das circunstâncias do caso concreto, entendo que o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), revela-se justo e adequado. Ante o exposto, voto no sentido de dar parcial provimento ao recurso, reformando a sentença de modo a julgar parcialmente procedente o pedido autoral, condenando a ré ao pagamento dos danos materiais arcados pelo autor com os reparos dos veículos, nos limites da apólice, a ser apurado em fase de liquidação de sentença; bem como ao pagamento de indenização no valor de R$ 6.000,00 pelos danos morais causados ao autor, devidamente corrigido monetariamente a contar do presente julgado e acrescido de juros legais de mora a contar da citação. Condeno, ainda, a ré ao pagamento das despesas processuais e honorários advocatícios fixados em 10% sobre o valor da condenação, considerando que a parte autora restou vencida na parte mínima do seu pedido. Rio de Janeiro, 08 de outubro de 2013. MARCOS ALCINO DE AZEVEDO TORRES DESEMBARGADOR RELATOR