CAMPANHA NACIONAL DE ESCOLAS DA COMUNIDADE FACULDADE CENECISTA DE CAPIVARI CURSO DE PEDAGOGIA



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Transcrição:

CAMPANHA NACIONAL DE ESCOLAS DA COMUNIDADE FACULDADE CENECISTA DE CAPIVARI CURSO DE PEDAGOGIA COMPREENDENDO O AUTISMO A PARTIR DE DIFERENTES OLHARES MARIANA GONÇALVES Capivari, SP 2010

CAMPANHA NACIONAL DE ESCOLAS DA COMUNIDADE FACULDADE CENECISTA DE CAPIVARI CURSO DE PEDAGOGIA COMPREENDENDO O AUTISMO A PARTIR DE DIFERENTES OLHARES Monografia apresentada ao Curso de Pedagogia da FACECAP/CNEC Capivari, para obtenção do título de Pedagoga, sob a orientação da Prof. Ms. Elizaete da Costa Arona MARIANA GONÇALVES Capivari, SP 2010

Monografia defendida e aprovada em / /, pela banca examinadora constituída pelos professores: Prof.ª Ms. Elizaete da Costa Arona Prof.ª Ms. Ivanete Menegon Waldmann

DEDICATÓRIA Dedico este meu trabalho a minha mãe Eloiza, ao meu pai Jair e a minha irmã Juliana, que me ajudaram muito, me dando apoio e incentivo para que eu conseguisse ultrapassar todas as barreiras que me impedissem de concluir o curso, fazendo com que eu acreditasse em minha capacidade. Dedico também a meu namorado Renan, que me deu forças, amor e me amparou nas horas em que precisei. A minhas avós Angela e Maria, dedico também a meus verdadeiros e compreensivos amigos que me ajudaram muito nas horas em que me senti desmotivada e sem vontade.

AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus, que me deu a oportunidade de conseguir concluir o curso, agradeço também a todos os professores do curso de Pedagogia, que ajudaram a enriquecer o meu conhecimento. À professora Teresa do Carmo Bedendi, coordenadora do curso de Pedagogia da Faculdade Cenecista de Capivari, que acredita na capacidade de todos os seus alunos, agradeço pelo incentivo. Agradeço, em especial, à professora Elizaete da Costa Arona, que ao longo deste trabalho dedicou boa parte do seu tempo para corrigir minha monografia e me ajudar. Meus agradecimentos aos meus sinceros e verdadeiros amigos, porque tiveram paciência nas horas em que precisei desabafar e conversar, também agradeço pelo carinho.

... O autismo, embora possa ser visto como uma condição médica, também deve ser encarado como um modo de ser completo, uma forma de identidade profundamente diferente... Oliver Sancks, 2008.

GONÇALVES, Mariana. Compreendendo o Autismo a partir de diferentes olhares. Monografia de Conclusão do Curso de Pedagogia. Faculdade Cenecista de Capivari FACECAP. 44 páginas, 2010. RESUMO O autismo é uma síndrome que faz com que a criança não consiga se socializar, a partir disto, não mantém relações afetivas nem com seus pais e nem com outras crianças. A comunicação de autistas é muito limitada, alguns até mesmo não possuem nenhuma linguagem, apresentam também problemas em compreender mímicas e gestualidades, dificultando ainda mais o contato com outras pessoas. Para melhor desenvolvimento de suas capacidades, é relevante o fato de trabalhar com as suas contenções, ou seja, é preciso trabalhar os seus prejuízos. Para ser feita a inclusão de crianças autistas em escolas regulares, é necessário uma adaptação não só do ambiente, mas, também, do corpo docente da instituição. É preciso que esta criança seja tratada com igualdade, para que, assim, possa aprender e se desenvolver, apesar de suas limitações. O presente trabalho de conclusão de curso relata, através de pesquisas bibliográficas, no primeiro capítulo, uma análise do autismo, discorrendo sobre o comportamento de crianças autistas, fala também como essa deficiência pode ser classificada e traz algumas formas possíveis de tratamento. No segundo capítulo desta monografia, há análises sobre as limitações da comunicação em autistas, a ausência da fala e os prejuízos na linguagem, dificultando a socialização com outras crianças. O terceiro capítulo discorre sobre a importância da inclusão de crianças autistas na rede regular de ensino, possibilitando para elas uma forma de desenvolvimento através da interação. Palavras-chave: 1- Autismo; 2- Inclusão; 3- Desenvolvimento; 4- Aprendizagem.

SUMÁRIO Introdução... 8 CAPÍTULO 1: Um Olhar sobre Aspectos Históricos e Clínicos da Síndrome do Autismo... 10 CAPÍTULO 2: Comunicação e Linguagem de Crianças Autistas... 25 CAPÍTULO 3: Inclusão de Crianças Autistas no Espaço Escolar... 30 Considerações Finais... 37 Referências... 31 Anexos... 41

INTRODUÇÃO A Organização Mundial de Saúde (OMS) descreve o autismo como um transtorno do desenvolvimento, com anormalidade no comportamento, que se manifesta frequentemente antes de três anos de idade. O portador apresenta limites na interação social e comunicação, provocando um comportamento restrito e repetitivo. O autismo é considerado uma síndrome, e pode trazer graves comprometimentos na aprendizagem da criança, desta forma, o educador precisa buscar conhecimentos mais específicos para entender suas limitações. Este trabalho pretende pesquisar o que é autismo, como este se apresenta e as dificuldades da inclusão. Este tema chama a atenção pelo isolamento da criança autista em sua vida, não tendo a capacidade de se socializar, nem fazer troca de saberes, pois ela vive num mundo somente dela, ou seja, num ambiente em que ela cria e vive nele sozinha. Pesquisas demonstram que essa síndrome provoca o isolamento da pessoa, por apresentar medo do mundo, impedindo sua adaptação, devido sua incapacidade de se relacionar socialmente. Essas características são demonstradas quando a criança não procura brincar com outras, não é capaz de fazer amizade, nem de demonstrar simpatia pelo outro. Até mesmo com seus pais não apresenta nenhum sinal de afeição. Entretanto, por estes motivos, se faz necessário ter mais atenção e mais interesse por essas crianças, jovens ou adultos com o autismo, pois merecem um espaço adequado para o estudo, possibilitando, com isso, o seu desenvolvimento. Devido a tais fatores, o presente trabalho propõe responder a seguinte questão: É possível compreender a síndrome do autismo, para poder auxiliar as crianças autistas no processo de inclusão escolar? O trabalho foi desenvolvido por meio de uma revisão bibliográfica da síndrome do autismo, buscando em diferentes autores, de diversas áreas de especialidades, compreender sua manifestação no que tange ao processo de inclusão. Essas crianças podem ter um raciocínio muito rápido e memória muito boa, podendo ser sempre incentivadas a aprenderem e a se desenvolverem. 8

Desta forma, o primeiro capítulo apresenta Um olhar sobre aspectos históricos e clínicos da Síndrome de autismo, em que há um breve relato acerca dos aspectos históricos e científicos relacionados ao tema. O segundo capítulo, Comunicação e linguagem de crianças autistas, discorre sobre a ausência da fala em tais crianças, prejudicando a sua linguagem e comunicação, dificultando a interação com outras crianças. O terceiro capítulo, Inclusão de crianças autistas no espaço escolar, aborda os aspectos legais e a organização necessária do espaço escolar para receber, orientar e ensinar uma criança autista. 9

CAPÍTULO 1: UM OLHAR SOBRE ASPECTOS HISTÓRICOS E CLÍNICOS DA SÍNDROME DE AUTISMO O autismo pode ser identificado em crianças a partir da observação de suas relações sociais. Elas não se relacionam normalmente com outras crianças, não possuem uma linguagem adequada, não conseguem desenvolvê-la, como as demais. Também apresentam de modo geral características físicas normais, têm uma memória muito notável em algumas áreas. Kanner (1943) afirmou, em uma de suas publicações, que a síndrome é congênita, ou seja, a criança nasce com ela. O autor discorda da idéia, defendida desde 1956, de que a criança pode desenvolver o autismo no primeiro ou segundo ano de sua vida. Defende que as crianças estabelecem relações normais com as pessoas e reagem normalmente em situações diversas desde quando nascem. Usa o termo autismo para descrever a síndrome, sua característica mais marcante é como as crianças não se relacionam socialmente. (apud LEBOYER, 1987 p. 9). Leboyer (1987), ainda cita que a síndrome foi reorganizada por Rutter (1978) e por Orniz e Ritvo (1976) e é descrita como uma incapacidade da criança autista de se relacionar socialmente e de desenvolver a linguagem. Além disso, tal criança apresenta resistência a mudanças e anomalias no meio ambiente. Tais autores defendem que o autismo aparece antes dos trinta meses de idade. Segundo os autores, citados acima, essas crianças, com autismo, não conseguem desenvolver uma relação interpessoal, não demonstram interesse pelos outros. Já na infância, quando ainda pequenas, aparecem algumas ausências de contato como, por exemplo, ao dar colo para uma criança com autismo, ela assume uma postura rígida, não costuma ter contato visual, também não dá resposta a sorrisos, e nem para mímica, não reage ao contato físico, ela se torna indiferente às outras pessoas, não distingue os seus pais de outros adultos estranhos, trata todos de forma igual. A criança se comporta como se estivesse sozinha, trata os outros com indiferença, como se não existissem. As crianças com essa síndrome não procuram carinho e nem procuram ser reconfortadas quando estão com medo ou mesmo quando sentem dor, às vezes, até podem se interessar pela parte do corpo de outra pessoa ou até mesmo pela sua roupa. 10

Leboyer (1987) defende que o autista não procura brincar com outras crianças, não interage com grupos, bem como, não se interessa por estabelecer laços de amizade, demonstra pouca emoção ou simpatia pelo outro. Em torno de cinco ou seis anos, pode desenvolver certa ligação, no entanto, essa ligação tende a ser imatura e superficial. Ornitz e Ritvo (1976), ao realizarem dois estudos de caso, observaram que, no primeiro caso, foi relatado que a criança, mesmo muito pequena, não demonstra ter interesse por estímulos externos, nem mesmo pela companhia de outras pessoas, dificilmente chora e fica com uma postura rígida ao ser pegada no colo, também pode reagir exageradamente a alguns tipos de estimulação. No segundo caso, os pais começam a perceber os primeiros sintomas por volta dos 18 ou 24 meses idade. (LEBOYER, 1987). Os autistas apresentam dificuldade de adaptação, não aceitando bem as mudanças ambientais ou sociais, desta forma, devem ter sempre as coisas nos mesmos lugares, mantendo o hábito e o costume, pois, ao ser quebrada a rotina, eles podem ter reações explosivas. Suas brincadeiras e os jogos tendem a ser mecânicos, não têm criatividade ou imaginação, somente alinham brinquedos ou objetos, podendo repetir por várias vezes a mesma ação. Apegam-se a objetos particulares, trazendo-os o tempo todo junto a si, levandoos até a boca, cheirando-os e fazendo-os rolar. Geralmente, sentem-se atraídos por objetos que giram como ventiladores ou pêndulos e sempre esperam respostas idênticas. (LEBOYER, 1987). Quanto à comunicação verbal, as crianças com essa síndrome apresentam demora na aquisição da linguagem, bem como outros atrasos de desenvolvimento. Não somente a aquisição da linguagem do autista é muito retardada, mas, quando se desenvolve, caracteriza-se por anamolias muito específica, e diferente daquelas encontradas nas crianças que apresentam outros distúrbios de linguagem (disfasias, retardos mentais, privações ambientais, cegueira ou surdez). (LEBOYER, 1987, p. 16). Foi verificado que metade dos autistas não chega a emitir som, resmungos, e, consequentemente, não desenvolvem a fala, ou nem mesmo algum tipo de linguagem com sentido. Desta forma: Quando a linguagem se desenvolve, não tem valor nenhum de comunicação e se caracteriza por uma ecolalia imediata e retardada, ou pela repetição de frases estereotipadas (...). (LEBOYER,1987, p. 16). Segundo o autor Marion Leboyer (1987), análises foram feitas com crianças autistas e estas não apresentaram emoção ou expressividade na linguagem. Defende que tanto sua 11

linguagem quanto sua capacidade de compreensão é muito limitada. Apresenta limitações também na comunicação não-verbal, quando estas são desenvolvidas. Gestos e mímicas são ausentes, não atribuindo um valor simbólico para os mesmos. Os autistas nunca pegam ou apontam um objeto com a própria mão, sempre utilizam a mão ou o punho de um adulto para pegar ou apontar para algo. Algumas das crianças autistas apresentam boa memória, em especial, a memória visual, podendo lembrar-se com muita precisão de fatos ocorridos anos atrás. Podem fazer cálculos mentais com muita competência e de forma rápida, sendo que tais capacidades começam a se desenvolver a partir dos 4 anos e vão até os seus 7 anos para se desenvolverem totalmente. O autor defende ainda que a deficiência mental e o autismo podem estar presentes numa só criança, mas essas duas anomalias são totalmente distintas. Os autistas por sua vez desenvolvem um raciocínio muito bom para realizar operações matemáticas, porém não conseguem ter a capacidade de abstração, de generalização e não sabem usar conceitos. Frequentemente, possuem também movimentos repetitivos ou fixos, como bater as mãos ou girá-las. (LEBOYER, 1987). O autismo pode aparecer na criança por volta de um ou dois anos de idade, quando esta apresenta um desenvolvimento aparentemente normal, entretanto, através de estudos, o aparecimento do autismo ficou fixado pelos 30 meses. De certo modo, não se pode afirmar com clareza a idade correta para diagnosticar essa síndrome: De qualquer forma, é sempre difícil situar com precisão a idade exata de surgimento do autismo. Frequentemente os pais percebem os distúrbios no momento em que tomam consciência de que seu filho não atingiu um determinado estágio de desenvolvimento (como a aquisição da linguagem ou socialização) e só a reconstituição muito precisa dos primeiros anos de vida poderá revelar que sintomas estavam presentes mais cedo. (LEBOYER, 1987, p. 19). Relacionado ao estímulo sensorial, o autista apresenta respostas imprevisíveis, podendo ser tanto hiperativa ou hipoativa. Quando o autista se interessa pelas estimulações, ele pode apresentar um déficit sensorial. Todos os sentidos dessa criança são deficientes, ela pode não responder a estímulos auditivos, ou até mesmo levar as mãos sobre os ouvidos para protegê-los. Na percepção visual, a criança não possui reação a estímulos ou objetos, entretanto, ela pode se interessar por luzes e/ou fixar a mão em objetos. O autista tem certa preferência pelo toque, olfato e paladar do que pela audição ou a visão. (LEBOYER, 1987). 12

As crianças que possuem essa anomalia não conseguem se comunicar muito bem. Muitas vezes, é difícil diferenciar o autista das crianças que possuem um distúrbio do desenvolvimento da linguagem, elas se expressam muito por gestos e brincam com jogos imaginativos. Quando aprendem a falar, querem participar de todas as conversas. Comparando a linguagem das crianças normais com a dos autistas, essa linguagem é mais inadequada e mais retardada. (LEBOYER, 1987). Em 1943, Kanner, em sua pesquisa com onze pacientes com autismo, traz alguns pontos em comum nos pais dessas crianças: têm uma inteligência superior à considerada normal, são de classe social mais elevada, falta calor humano, são obsessivos e pouco emotivos. Nos últimos anos, tem sido percebido um aumento das crianças que apresentam o desenvolvimento da síndrome, uma hipótese é de que possa ser devido ao comportamento familiar. Através de pesquisas realizadas, algumas hipóteses foram levantadas sobre modelos etiológicos do autismo, sendo divididos em três partes: o psicodinâmico, o orgânico e o intermediário. O psicodinâmico foi pesquisado por mais de vinte anos. A criança é considerada normal ao nascer, e a síndrome vai se desenvolvendo, devido à convivência inadequada parental que vive perto dela, ou seja, nos propõe o desenvolvimento do autismo derivado do funcionamento patológico próprio dos pais da criança, provocando assim o aparecimento da síndrome. (LEBOYER, 1987). O segundo modelo pode ser caracterizado por dois grupos autistas, em que o primeiro grupo se destaca por causa da associação do autismo com uma patologia neurológica, chamado de autismo orgânico, e o segundo grupo é destacado por causa de fatores psicogênicos, ou seja, autismo anorgânico. (LEBOYER, 1987). O terceiro aspecto, adotado por Kanner, em 1955, defende a hipótese de que o relacionamento pai e filho e o psicológico próprio da criança podem promover o autismo. A partir dessas hipóteses, inúmeras pesquisas foram realizadas, assim, reagrupadas em quatro eixos, que serão destacados a seguir. Em uma pesquisa, realizada por Leboyer (1987), foi identificado, como primeiro eixo de reagrupamento do autismo, o stress precoce. Pesquisado através de acontecimentos traumatizantes ou lares desorganizados, sendo observado que o maior número de crianças, que apresentavam essa patologia, vinha de lares que sofreram acontecimentos traumatizantes como: separação de pais, nascimento de um irmão. 13

Outra hipótese acerca do desenvolvimento do autismo, desenvolvida pelo mesmo autor, foi também levantada neste estudo, observou-se que os pais não demonstravam afetividade para com seus filhos, fazendo com que a criança se retraísse e se fechasse em si mesma. Desta forma, Leboyer destaca: A criança, por conseguinte, percebe seu ambiente e sua mãe como hostis e responde a esse mundo ameaçador retraindo-se sobre si mesma. (LEBOYER, 1987, p. 42). Resultados de estudos realizados mostram que stress precoce leva a aumentos de distúrbios psiquiátricos, destacando que, neste tipo de patologia, é muito raro a criança se tornar autista. Durante muitos anos, a síndrome do autismo desenvolvida nas crianças era atribuída aos seus pais, dizendo que estes eram pouco emotivos, frios, formais e introvertidos. No entanto, pesquisas mais recentes revelam que pais de autistas apresentam variações de comportamentos, podendo ter diferentes relacionamentos. Essas pesquisas também mostram que, apesar de ser mais freqüente encontrar autistas em famílias de classe econômica mais elevada e com uma inteligência maior, há o autismo em filhos de pais de classe econômica menos favorecida. Além disso, há a observação de que as famílias de classes mais favorecidas procuram mais consultas médicas, possibilitando, com isso, um diagnóstico mais preciso e precoce, os resultados, inclusive, demonstraram superioridade intelectual de pais que tenham filhos autistas (LEBOYER, 1987). Pesquisas traziam a síndrome do autismo como uma patologia de pais e filhos: Numerosos teóricos sugeriram que o autismo era a conseqüência de uma interação patológica de pais e filhos, propondo entre outras hipóteses: um excesso ou uma insuficiência de estimulações, uma estrutura familiar demasiadamente maleável, ou ao contrario, excessivamente forte e intrusa, uma ausência de reforço positivo, uma falta de identidade e de papéis familiares precisos e uma comunicação pais-filhos inadequada ou anormal. (QUAY e WERRY, 1972 apud LEBOYER, 1987, p.45). Porém nenhuma comprovação científica foi demonstrada a respeito, sendo que apenas alguns teóricos como Quay e Werry defendiam este pensamento, mas sem fundamentos maiores. De acordo com Leboyer (1987), a linguagem dos pais de crianças com autismo, pode ser considerada inadequada. Assim, duas suposições foram desenvolvidas a respeito: a primeira traz que a interação pais e filhos e a comunicação, em particular, da mãe é anormal. A outra hipótese fala que não só a comunicação é anormal, e também que a linguagem 14

materna é um modelo para o filho e esta é deficiente para o desenvolvimento lingüístico da criança. Desta forma, o conteúdo da linguagem materna, foi visto por alguns autores como deficiente, as mães, também, seriam maus modelos para essas crianças. Algumas mães adaptam a sua linguagem em relação ao desenvolvimento do seu filho. A carência materna por sua vez, não pode caracterizar o autismo, pois essa doença é desenvolvida de forma diferente. Essas crianças que têm carência não possuem os mesmos sintomas e nem o mesmo diagnóstico das crianças autistas. Assim, em 1954, Kanner destaca o autista como um indivíduo que têm certo receio do mundo externo. Ao pesquisar a incidência 1 do autismo, observou-se que esta encontra-se mais acentuada nos meninos em relação as meninas, no entanto, quando se manifesta nas meninas elas tendem a se apresentar mais grave que nos meninos: O quadro, entretanto, é mais grave nas meninas do que nos meninos. Na maioria dos estudos, quase todas as meninas têm um retardo mental (moderado, severo ou profundo) e frequentemente uma patologia orgânica associada. (LEBOYER, 1987, p.52). Outros olhares foram apresentados por pesquisadores, associando o autismo infantil pode ser associado com diferentes doenças orgânicas, essa patologia pode ser causada por fatores pré 2, peri 3 e neo- natais 4, doenças metabólicas, doenças neurológicas, doenças hereditárias e, também, infecções virais neonatais 4 todos esses fatores podem causar disfunção cerebral que prejudica o sistema nervoso central, e essa síndrome é associada a ele, em pelo menos um quarto dos autistas é diagnosticado. (LEBOYER, 1987). No caso de acidentes pré, peri e neonatais, os autistas apresentam antecedentes, como complicações na gravidez, pode ser também associado a um trabalho difícil no parto, destacase uma taxa muito elevada sobre sangramentos uterinos durante a gravidez. Entretanto, esses acidentes variam muito de um estudo para outro, pois essas pesquisas que apontam maior índice de crianças com autismo por causa de tais acidentes são incompletas e pouco precisas. 1. Incidência: Ação de incidir, qualidade de incidente. 2 Peri: Compreende o período após 28 semanas completas de gestação até o fim do sétimo dia completo de vida. 3 Peri: Compreende o período após 28 semanas completas de gestação até o fim do sétimo dia completo de vida. 4 Infecções neonatais: A infecção neonatal constitui-se uma grande preocupação por ser uma patologia difícil de ser reconhecida e comprovada e ser simultaneamente grave. Pode ser congênita, adquirida durante o parto, ou adquirida na vida pós-natal. As características epidemiológicas, a evolução clínica e o prognóstico diferem entre estes tipos de infecções. No presente estudo, iremos apontar além da definição de infecção neonatal, as principais vias, doenças e agentes causadores. 15

Já outras pesquisas mostram um estudo mais preciso sobre os acidentes pré e peri-natais, divulgando que ocorrem com muita freqüência em autistas. (LEBOYER, 1987). Os fatos descritos até o momento foram procurando apenas a causa e o efeito do autismo. No entanto, uma outra ideia pode ser possível, como um acidente durante a vida ou até mesmo sequelas que podem ter afetado o seu sistema nervoso, assim, desenvolvendo a patologia. Leboyer acredita que: [...] um acidente ocorrido, por exemplo, durante a vida fetal perturbou uma etapa do desenvolvimento do sistema nervoso central, levando assim à aparição de manifestações patológicas decorridas no tempo, ainda que mais nenhum traço de acidente inicial e primum movens 5 seja detectável. Se fosse esse o caso, seria necessário levar em conta os diferentes sinais patológicos do autismo como sendo seqüelas que deveriam permitir retomar o fio condutor do acidente inicial. (LEBOYER, 1987, p. 73). A produção alterada da serotonina 6 pode estar relacionada à síndrome do autismo, uma vez que a serotonina controla a modulação de estados afetivos, responsável pela regulação do sono, pelo controle térmico, pela sensação de dor, pela reação de agressividade e comportamento sexual, ao observar as características fisiológicas. No entanto, ao avaliar as mentais, hiperatividade, entre outras reações, alguns autores perceberam um aumento da serotonina plasmática e plaquetária 7 nos indivíduos que possuem o autismo. (LEBOYER, 1987). Segundo o autor, a dopamina 8 representa alguns sintomas ligados à atividade excessiva de neurônios dopaminérgicos centrais, levando assim, alguns autores a relacionarem o autismo com a dopamina. Esta é muito freqüente na esquizofrenia 9, estudada a priori, destaca-se que as drogas utilizadas no tratamento da esquizofrenia não são as mesmas usadas no autismo, representando assim, que apenas alguns sintomas podem ser os mesmos, mas descartam a possibilidade do autismo. 5 Primum movens: em Inglês geralmente referido como a Primeira Causa. 6 Serotonina: A serotonina é um neurotransmissor, isto é, uma molécula envolvida na comunicação entre as células do cérebro (neurônios). 7 Plasmática e plaquetária: Formado por plasma, membrana plasmática, a que envolve a célula viva Anatomia. Plaqueta sangüínea, elemento do sangue de grande influência em sua coagulação (número normal de 250.000 por mm3). 8 Dopamina: A dopamina é um neurotransmissor, precursor natural da adrenalina e da noradrenalina. Tem como função a atividade estimulante do sistema nervoso central. 9 Esquizofrenia: é um transtorno psíquico severo que se caracteriza classicamente pelos seguintes sintomas: alterações do pensamento, alucinações (visuais, cinestésicas, e sobretudo auditivas), delírios e alterações no contato com a realidade. 16

A catecolamina 10 foi estudada em autistas e descobriu-se que ela é extremamente importante, pois ela está relacionada com vários comportamentos, tanto os que podem ser de situações fisiológicas como o sistema cardiovascular, sono, apetite, movimento, estimulação, atenção, memória e aprendizagem. (LEBOYER, 1987). O autor relata ainda que na investigação do sistema cardiovascular em autistas, foram descobertas anomalias que podem estar relacionadas com dificuldades de percepção e também de atenção. Algumas crianças com a síndrome foram pesquisadas e concluiu-se que em repouso a sua freqüência cardíaca é mais acelerada que a de uma pessoa normal. Nos estudos voltados ao eletro encefalograma padrão (EEG), os resultados obtidos são variáveis. No entanto, Leboyer afirma que: De fato, nenhuma uniformidade no tipo, distribuição ou gravidade das anomalias do EEG permite sugerir uma anomalia cerebral localizada ou generalizada. (p. 129). Ou seja, não pode ser identificada nenhuma irregularidade através de exames do eletro encefalograma e não podendo definir ao certo nenhuma anormalidade cerebral nessas crianças autistas. Segundo Leboyer (1987), o pesquisador Small (1975) encontra resultados anormais com eletro encefalograma em mais da metade de autistas pesquisados, identificando anomalias no funcionamento do sistema nervoso central como se fosse uma deficiência mental. Estudos foram também realizados através do eletro encefalograma do sono, a priori, nenhuma anomalia foi identificada, pois os autistas possuem um ciclo de sono normal. Mas diferentes estudos foram feitos e (...) no decorrer do estagio de movimentos oculares rápidos (REM), os fusos são menos numerosos e há menos manifestações de movimentos oculares que na criança normal. (ORTIZ e col., 1961, apud LEBOYER, 1987, p. 130). Tal afirmação sugere possível anormalidade e a existência de uma dificuldade de amadurecimento do sistema nervoso central. Essa anomalia é mais identificada em deficientes mentais, porém, foi identificada em uma grande parte dos autistas: Assim, os estudos de EGG revelam a presença de anomalia em uma maioria de autistas; no entanto, a extrema dispersão tanto quantitativa (porcentagem variável de autistas tendo anomalias no EGG) como qualitativa (variabilidade de descrições) e a ausência de reprodutibilidade dos resultados tornam impossível a descrição de uma anomalia especifica do autismo. (LEBOYER, 1987, p.130). 10 Catecolamina: As catecolaminas são solúveis em água, e 50% circulam no sangue ligadas a proteínas plasmáticas. As catecolaminas mais abundantes são a adrenalina, noradrenalina e dopamina. 17

Ou seja, o autista possui uma anomalia detectada pelos exames do EEG, mas esta não pode ser determinada como uma anomalia especifica nos autistas. Estudos realizados revelam que crianças com autismo possuem alterações no movimento ocular, que podem explicar alterações de equilíbrio, resultado verificado através de estimulações visuais realizadas por meio de exames da função do labirinto em crianças. Alguns autores como Kolvin, Ritvo, Ortiz, entre outros, afirmam que o autista não consegue eliminar as respostas alteradas quando é solicitado pela fixação do olhar. (LEBOYER, 1987). Os autores Cohen e Lake (1980), acreditavam que crianças autistas poderiam ter alterações na freqüência cardíaca, entretanto, estudos realizados mostraram que os resultados não tinham uma diferença significativa na profundidade de respiração e nem da freqüência cardíaca. Mac Culloch, discordar desses resultados, desenvolveu uma pesquisa sobre esse assunto, comparando crianças autistas de várias idades, subnormais e crianças normais, assim, descobriu-se que a freqüência cardíaca em autistas é mais variável, mas essas afirmações devem ser aceitas com cuidado, pois foram comparadas crianças de várias idades, e, também, as atividades não estavam igualmente distribuídas e os estímulos ambientais não estavam sendo controlados. (LEBOYER, 1987) Hutt (1975) faz uma comparação de crianças autistas com crianças normais de mesma idade relacionada à freqüência cardíaca, e trás o seguinte resultado: [...] mostra que a freqüência cardíaca é idêntica para os grupos e diminui normalmente com a idade, mas a variabilidade do pulso é maior em autistas e depende do comportamento que o acompanha: aumenta quando a criança apresenta estereotipias e diminui quando ela se concentra sobre uma determinada tarefa. (HUTT, 1975 apud LEBOYER, 1187, p.139). Assim, podemos identificar que crianças autistas apresentam variabilidade de pulso apenas, e não um aumento significativo da freqüência cardíaca é importante compreender que este item pode ter ligação com a dificuldade de concentração. Psicólogos e psiquiatras começam a estudar e tentam definir comportamentos de crianças que tenham a síndrome do autismo, demarcando algumas capacidades como: cognitivas, intelectuais, perceptivas e lingüísticas. Em primeiro lugar, tentaram descobrir a forma perceptiva própria dos autistas, analisando a maneira da percepção e apreensão do ambiente. Em segundo lugar, tentaram analisar a forma de definir diferentes tipos de respostas consideradas anormais, como: capacidades e jogos de imitação, memória, atenção, anomalias da audição, conduta sensório motoras. (LEBOYER, 1987). 18

No estudo de processos perceptivos, as crianças autistas receberam a solicitação de cumprir algumas funções, porém, se restringem a alguns estímulos, respondendo, assim, apenas um pequeno número deles. Desta forma, o autor acredita que a criança pode selecionar as informações que são apresentadas para ela com aquelas que já estão em seu ambiente, considerado como hiperseleção de estímulos. Crianças autistas se isolam e não se socializam, entretanto, Vygotsky defendia que o desenvolvimento intelectual da criança se baseia através da interação com o outro, interações da vida, contato social e a construção do conhecimento através de trocas e saberes (FERNANDES apud GOLDFARD, 1998), sendo assim, crianças com autismo, não tendo essa capacidade de relacionamento, não conseguem se desenvolver intelectualmente, não aproveitam produzidas pela interação social. Lovaas e outros (1971), comparando crianças normais com autistas e deficientes mentais, quando solicitados a respondem a um estimulo complicado, sendo sinais visuais, táteis ou auditivos, apresentaram respostas certas, sendo assim recompensadas. (LEBOYER, 1987). Foi percebido que os autistas conseguem apenas responder a um dos três sinais, já as crianças normais respondem aos três sinais. No entanto, os deficientes mentais têm um resultado com respostas intermediárias quando são simplificados esses sinais apenas em dois como um barulho e uma luz, a maior parte de crianças com autismo respondem a apenas um dos sinais. Ao observar os resultados destas pesquisas, a hipótese levantada por Goldfard e outros é de que as crianças autistas utilizavam mais o tato, olfato e paladar os receptores proximais, do que a audição e a visão, receptores distais. (GOLDFARD e outros, 1998). Os autistas podem apresentar um mecanismo similar à hiperseletividade, fazendo com que sejam incapazes de adquirir técnicas de aprendizagem que pode facilitar a compreensão. Esse mecanismo em autistas pode até mesmo atrasar a sua aprendizagem. Podendo assim explicar também a dificuldade dessas crianças em perceberem emoções. O problema lingüístico do autista pode ser atribuído a sua dificuldade de juntar diferentes informações auditivas, como o timbre, o ritmo e o som. Daglish (1975), afirma que as crianças com autismo identificam apenas uma palavra em uma frase: (...) não podem decodificar os elementos de uma frase. (apud LEBOYER, 1187, p.141). Desta forma, as crianças autistas não possuem a capacidade de decifrar todas as palavras. 19

As crianças autistas apresentam certo domínio a aptidões visuo-espaciais, alguns clínicos descrevem ainda que os autistas percebem detalhes mínimos e também reagem a qualquer mudança em seu ambiente. Apresentando, assim, em todas as pesquisas um desempenho bom e notável. Em relação ao estudo de processos cognitivos, os autistas são considerados pela maioria dos autores com um déficit cognitivo fundamental. A cognição é responsável por guardar e tratar as informações, ou seja, tais processos incluem a atenção, o julgamento ou pensamento, a memória e a aprendizagem. Assim, os jogos, a memória, as capacidades de abstração e imitação, podem ser usados para entender esses processos cognitivos em indivíduos que possuem o autismo. De acordo com Leboyer (1987), o pesquisador Black e outros (1975), afirmam que as crianças autistas apresentam jogos sem riqueza alguma, sem criatividade e sem capacidade de abstração. Observando os autistas em vários tipos de ambientes, conclui-se que eles usam os brinquedos ou objetos de um jeito muito repetitivo, se interessam mais por jogos motores simples. Os autistas se colocados num espaço confinado, apresentam uma certa capacidade de imitação e cópia, assim, os seus jogos são considerados, a partir de estudos obtidos, repetitivos, estereotipados e sem qualquer capacidade de simbolização. O déficit cognitivo foi estudado também por Sigman e Ungerer (1984), através de testes com crianças autistas, que comparadas a crianças com déficit mentais e crianças normais, em suas atitudes sensório-motoras e os jogos, os resultados foram idênticos, quando estas são de mesma idade mental. No entanto, crianças autistas apresentam certo interesse pela imitação gestual e vocal, apresentam também, dificuldade na utilização racional de um objeto, ou seja, nos jogos funcionais ou nos jogos simbólicos, mesmo após estimulações. (LEBOYER, 1987). Estudos mostram também que os autistas, até mesmo os com mais gravidade, compreendem gestos mais simples, ao contrário do que se acreditava na sugestão clínica clássica de que essas crianças que possuem a síndrome não tinham a capacidade de tal compreensão, mesmo limitadas a expressarem gestos espontâneos. Entretanto, Leboyer (1987) afirma em sua pesquisa que: Os autistas nunca utilizam gestos expressivos (gestos de consolação, de amizade, cordialidade, de embaraço), apesar de utilizarem os gestos instrumentais. Portanto, é provável que os autistas não tenham contato afetivo porque não reconhecem e não utilizam mímicas expressivas. (p.145). 20

Por não obterem um jeito mais afetivo e sem contatos expressivos, os autistas são denominados crianças ou até mesmo adultos frios, isolados, sem interesse de socialização, assim, não conseguindo desenvolver empatia e amizade. Acredita-se que os autistas possuem uma incapacidade de imitação antes dos três anos de idade. Baseando-se nesta afirmação, foram levantadas duas hipóteses de anomalias: um grande déficit de linguagem abstrata e uma dispraxia 11, impedindo assim, a aprendizagem e reprodução de linguagem. Autores citados por Leboyer (1987), como De Myer (1981) sugeriram que estas alterações podem ocorrer devido à falta de capacidade de memória visual ou por uma certa deficiência em passar a memória visual para o sistema motor. Alguns estudos das capacidades musicais de crianças autistas mostraram que elas sabem imitar de forma idêntica crianças normais de mesma idade ou até mesmo ter um melhor desempenho ao identificarem diferenças no ritmo, na duração de uma série de sons produzidos pela voz humana ou pelo piano. Mas, contrariamente outras pesquisas mostraram que os autistas apresentam desempenhos musicais sem maturação, falta de coordenação, não possuem um bom ritmo e também apresentam uma certa deficiência nas capacidades cognitivas. (LEBOYER, 1987). Desta forma, é possível ver que dados de pesquisas que envolvem habilidades musicais são inconclusivos, pois eles se contradizem. No que diz respeito à memória dos autistas, há afirmações de que eles possuem uma memória de repetição e de ritmos muito considerável. A memória de acontecimentos recentes em autistas também foi pesquisada, e os resultados mostraram que eles têm capacidade inferior comparada a de crianças normais e crianças com deficiência mental. Esta incapacidade pode estar relacionada com suas capacidades linguísticas. Outras pesquisas realizadas mostram que os autistas têm uma grande capacidade de estocar, codificar e utilizar informações. [...] os autistas estocam informações verbais de forma não reestruturar as informações como o fariam os indivíduos normais. Na memorização imediata, os autistas utilizam pouco a estratégia de codificação semântica, ainda que a codificação acústica seja relativamente boa(...). (HERMELIN e O CONNOR, 1970 apud LEBOYER, 1987, p.148). 11 Dispraxia: é uma disfuncão motora neurológica que impede o cérebro de desempenhar os movimentos corretamente. É a chamada "síndrome do desastrado". 21

Os autistas têm uma capacidade de obter e guardar informações, mas não conseguem desenvolvê-la e nem compreendê-la como os indivíduos normais. Crianças normais e crianças deficientes mentais conseguem identificar e lembrar melhor de uma frase que está estruturada em relação a palavras colocadas aleatoriamente, sem sentido. Já crianças com autismo lembram-se com mais facilidade de palavras colocadas ao acaso em relação às palavras organizadas em uma frase, contudo, não conseguem codificá-la, ou seja, não conseguem atribuir um significado a elas. Em testes não verbais, ao colocar fichas coloridas tanto em sequência quanto ao acaso, crianças normais e com deficiência mental lembram-se com mais facilidade das fichas seqüenciais, já os autistas se lembram com facilidade tanto das fichas postas ao acaso quanto das fichas colocadas em sequência. A partir disto, autores defendem que o autismo, (...) é a incapacidade de avaliar a ordem e a estrutura e de utilizar a noção de repetição. (LEBOYER, 1987, p.148). Portanto, para o autor o autismo é a incapacidade de executar regras e fazer estruturas de experiência assim nos domínios não-verbais e também nos domínios verbais. Os autistas são considerados, por alguns autores, com o Q.I 12 muito baixo, mesmo assim, não podem ser considerados com certo retardo mental. Em testes realizados, com crianças que possuem essa síndrome e crianças com deficiência mental não sendo autistas, foi observado que, em ambas as situações, as crianças fracassaram ou obtiveram sucesso em inúmeras tarefas cognitivas. Desta forma, o autismo pode ser atribuído ao nível muito baixo de suas qualidades intelectuais. Em diferentes leituras foi observado que pesquisas na área do autismo devem continuar sendo desenvolvidas, uma vez que para descobrir uma anomalia cognitiva atribuída somente ao autismo é preciso comparar crianças autistas com crianças de mesma idade mental, o que nos permite observar o funcionamento global e o nível de desenvolvimento dessas crianças. O autismo é classificado, portanto, como um transtorno invasivo do desenvolvimento, significando que o autista tem um desenvolvimento anormal ou comprometido, essas características se manifestam antes dos três anos de idade, (...) pelo tipo característico de funcionamento anormal em todas as três áreas: de interação social, comunicação e comportamento restrito e repetitivo. (BALLONE, 2004). 12 Q.I.: Quociente de inteligência - é uma medida obtida por meio de testes desenvolvidos para avaliar as capacidades cognitivas (inteligência) de um sujeito, em comparação ao seu grupo etário. A medida do QI é normalizada para que o seu valor médio seja de 100 e que tenha um determinado desvio-padrão, como 15. 22

A análise da incidência demonstra que para cada dez mil nascidos vivos há cerca de vinte crianças que apresentam a síndrome do autismo, sendo quatro vezes mais comum entre meninos que entre as meninas. Entretanto, o autista apresenta as seguintes características: Comprometimento qualitativo em interação social e na comunicação. Padrões de comportamentos, interesse ou atividades repetitivos ou estereotipados. Atraso ou funcionamento anormal antes dos três anos, em pelo menos uma das seguintes áreas: interação social, linguagem de comunicação social e jogos simbólicos ou imaginativos. O distúrbio não se enquadrar na síndrome de Rett ou no Distúrbio Desintegrativo da criança. (GAUDERER, 1997). Tais caracteristicas fazem parte do comportamento de crianças com autismo, muitas vezes, essa síndrome é confundida com a síndrome de Rett, é preciso tomar cuidado para que o tratamento seja feito de forma correta. O tratamento para o autismo tem como meta promover um desenvolvimento para que o autista consiga se relacionar com o ambiente tirando-o de seu isolamento, auxiliando-o a lidar com as suas dificuldades, estimulando assim suas habilidades cognitivas, habilidades de comunicação e socialização. Desta forma, faz-se necessário uma variedade de tratamentos, baseados, em orientações teóricas diversas e de diferentes níveis de abrangência (medicamentos, terapia psicanalítica, terapia comportamental, terapia de orientação cognitiva, terapia de integração sensorial, terapia de contenção). 23

CAPÍTULO 2: COMUNICAÇÃO E LINGUAGEM DE CRIANÇAS AUTISTAS A linguagem verbal é uma forma de comunicação com o outro, entretanto, a criança precisa de incentivo para desenvolvê-la, pois desde o ventre materno o bebê já ouve a voz de sua mãe. Desde o nascimento da criança a sua forma de comunicação é pelo olhar, a audição, o choro, sorrisos ou gestos. Por hora é necessário entendermos o termo linguagem apenas como qualquer meio de comunicação (...). (FERNANDES apud GOLDFARD, 1998), no entanto, linguagem possui um conceito mais amplo do que a língua. A linguagem é adquirida através do meio em que vivemos, ou seja, é necessária a interação e comunicação com o outro para que possamos desenvolver a nossa fala. No entanto, a linguagem verbal não é a única existente e nem a primeira, sendo que a linguagem visual também é uma forma de comunicação. Segundo Launay (1989): A linguagem visual é, na realidade, de dois tipos. Existe uma linguagem visual inteiramente derivada da linguagem habitual, e da escrita: é a linguagem por código, por sinais convencionais e, atualmente, a linguagem programada utilizada pelos computadores; a linguagem gestual dos deficientes auditivos também é derivada da linguagem comum. (LAUNAY, 1989, p. 4). Para tanto, existem várias formas de linguagem além da verbal, além das citadas acima, temos a linguagem gestual e a mímica, que podem ser usadas para auxiliar a fala. A linguagem auxilia o sujeito a introduzir-se na vida social, entretanto, para a criança a comunicação amplia os seus conhecimentos e faz com que ela desenvolva seu pensamento através da linguagem. (LAUNAY, 1989). Para ajudar o desenvolvimento verbal do autista é preciso a orientação de um fonoaudiólogo para realizar uma terapia da fala e linguagem : Geralmente as crianças autistas apresentam atraso na comunicação. Algumas são não verbais, outras apresentam atraso ou não usam a linguagem da maneira adequada (...) um fonoaudiólogo especializado em diagnóstico e terapia de linguagem pode ajudar a criança a se comunicar com mais eficácia. (ACCIOLY, 2009). Para que o autista consiga desenvolver a sua fala, é preciso do auxílio de um profissional adequado, que saiba fazer o tratamento certo. 24

A criança autista possui um atraso na aquisição da fala, sendo assim, não desenvolve a linguagem como as outras crianças, sua comunicação é limitada e nem mesmo com seus pais expressam muito apego. Desta forma, essas crianças com autismo apresentam um certo desinteresse, a princípio, em ouvir o que as pessoas falam, também a ausência de linguagem se torna presente, sendo que, por apresentarem essas reações elas podem ser rotuladas como surdas, mas ao realizar exames audiológicos, conclui-se que esta hipótese não se confirma. A criança autista pode desenvolver a linguagem de formas diversas: A criança autista pode, ao redor dos 5 anos, sair de seu silêncio e emitir sons verbais analógicos às primeiras palavras da idade de um ano, quer sem um incidente novo, quer após um movimento emocional. (LAUNAY e MAISONNY,1989, p.144). O autismo é uma síndrome que apresenta muitas dificuldades na comunicação, no entanto, a linguagem pode se desenvolver nestas crianças, ainda que com grande atraso em relação as crianças normais. A repetição de palavras ou frases que a criança autista ouviu, é muito frequente. Geralmente o que ela diz ou se refere não tem haver com coisas vivenciadas e também não é resultado de um contato visual com quem ela fala, para Kanner (1955), esta não é uma verdadeira comunicação verbal. Pois os autistas não buscam a socialização, impedindo assim uma comunicação efetiva. Muitas vezes, essas crianças só repetem palavras ou frases de proibições de pessoas adultas. A criança deve ter contato com outras pessoas para que aconteça a socialização e consiga assim, se desenvolver e aprender com maior facilidade (Launay e Maisonny, 1989). O autista não interage com o meio onde vive, apenas cria o seu mundo e somente vive dentro dele, podemos dizer então, que para a criança se desenvolver é preciso que ela se comunique com outras pessoas. Para autistas, isto pode ser visto como uma experiência nova, o relacionamento com outras crianças normais, mesmo que difícil pode trazer aprendizado devido sua dificuldade na parte da linguagem. A limitação na linguagem além de prejudicar o desenvolvimento da criança, pode causar distúrbios na aprendizagem. Entretanto, a limitação na linguagem prejudica além do desenvolvimento da criança, distúrbios na aprendizagem. O autista não interage com o meio onde vive, apenas cria o seu 25

mundo e somente vive dentro dele, podemos dizer então, que para a criança se desenvolver é preciso que ela se comunique com outras pessoas. Crianças autistas não possuem a capacidade de comunicação, de linguagem e nem a interação com outras crianças, entretanto, Vygotsky defende que o desenvolvimento da fala ou de qualquer tipo de comunicação vem através da interação com o outro. Desta forma, para nos desenvolvermos precisamos da mediação de uma outra pessoa. No caso da criança com autismo, se comparada com a posição de Vygotsky, ela não conseguirá se desenvolver, pois ela não se socializa com outras pessoas, vive num mundo isolado. (MORAES,1998) Para Moraes (1998), a ideia que Vygotsky desenvolve sobre a interação é muito importante: [...] Vygotsky enfatiza o valor da interação e das relações sociais no processo de aprendizagem. Nessa interação surge a fala que a criança utiliza como meio de comunicação e que, mais tarde, quando convertida em linguagem interior, organiza a aprendizagem e o pensamento. (MORAES, 1998, p.40). A dificuldade de interação se manifesta inclusive no momento da brincadeira. Ao brincar com outras crianças, os autistas apresentam uma forma de brincadeira diferente, não se interessam pela imitação ou brincadeira simbólica, podendo afetar em suas amizades. Na comunicação o autista também apresenta atrasos na aquisição da fala e dos gestos, fazendo uso da repetição da fala de outras pessoas quase sempre sem atrair a esta palavra seu significado, e assim, consequentemente apresentando dificuldade em estabelecer uma conversação. A partir de um ano de idade, a criança autista possui verbalizações pobres, sendo muito pouco ou quase nada comunicativa, a maioria destas crianças preferem isolar-se e não ter contato com outro ser humano. A criança autista também apresenta pouco interesse em situações de socialização, não manifestando os mesmos interesses de uma criança normal: Parece haver, por exemplo, menor freqüência da atividade social gestual (dar tchau, soprar beijos, acenar com a cabeça em sinal de assentimento ou negação); mostrar ou trazer objetos para o campo visual do adulto (fora do contexto de socialização de assistência); virar a cabeça em direção do adulto, quando chamado pelo nome; apontar (como forma de fazer comentários e não para pedir coisas), etc. (BOSA e HÖHER, 2009, p. 193). 26

Mas, mesmo que com grandes limitações na socialização, segundo Bosa (2006), algumas estratégias devem ser utilizadas pelos pais para possibilitar a comunicação com o filho autista: Chamou-se a atenção para a necessidade de os pais utilizarem estratégias efetivas e consistentes para encorajar a fala e desenvolver as habilidades imaginativas. Por exemplo, os pais podem manter os brinquedos e guloseimas longe da criança, mas à sua vista, utilizando recipientes transparentes, que atraem a atenção da criança. Esta estratégia simples ajuda a criança a ter de se comunicar com os adultos para conseguir o que ela quer. (BOSA, 2006, p. 68). Para tanto, é preciso que os pais estimulem de várias formas a fala da criança, assim, podendo encorajá-la para que consiga ou pelo menos tente desenvolve-la. Os pais devem também estimular o desenvolvimento das habilidades imaginativas explorando os interesses estereotipados do autista, levando aos poucos a desenvolver interesses por outros objetos ou pessoas. Para facilitar a aprendizagem da criança autista é necessário que seja estimulado seu interesse, usando formas criativas, observando sempre suas linguagens corporais e expressões faciais, o que ela quer dizer, assim, pode ser possível verbalizar para os autistas o que eles estão tentando se expressar. Através da linguagem ela aprenderá que pode ter algum controle sobre si na sua própria vida, tornar as suas necessidades conhecidas claramente... (OAKLANDER, 1980, p. 304). Com isso, podendo perceber que através da fala conseguimos nos expressar e demonstrarmos o que precisamos ou o que queremos de forma verbal ou gestual. Quando a criança autista se interessa por um determinado tema, ela fica perguntando sobre ele por vários dias ou até mesmo por semanas. Kanner (1943) observou que crianças autistas repetiam incansavelmente tudo o que era dito, na hora em que era dito ou o que foi dito anteriormente. Este interesse obsessivo acontece por apresentarem dificuldades em desenvolver frases espontâneas, porém, pode ser aproveitado pelo adulto para estimular uma interação com trocas de informações e estimulo ao aprendizado. Launay e Maisonny (1980) retrata que esta postura pode ocorrer devido a certa angustia em torno do tema: Uma criança de 8 anos, tomada pela ideia de morte, ou pela palavra velho, faz incansavelmente perguntas sobre este tema: por que ele é velho?, você é velho?, o que é velho?, tema que reaparece por vários dias ou várias semanas consecutivamente. Uma outra criança psicótica interessa-se pelo aspecto das veias da mão de seu interlocutor e depois de sua própria mão e se inquieta: são as veias, 27