I CIPLOM. Abordagem funcional da gramática na Escola Básica



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Abordagm funcional da gramática na Escola Básica Vania Lúcia Rodrigus Dutra UERJ UFF 1- Introdução Os rsultados d avaliaçõs oficiais vêm apontando o fracasso da scola brasilira, d uma forma gral, no qu s rfr ao nívl d conhcimnto sprado, m língua matrna, d um aluno qu conclui sus studos no Ensino Básico. Uma das causas dss fracasso scolar ntr tantos outros nm smpr dirtamnt rlacionados à scola ao qu nla s faz dv-s ao ntndimnto quivocado d qu studar a língua é studar gramática. Por muito tmpo a scola vm tratando a gramática como algo a sr invstigado d forma apartada do txto, havndo, muitas vzs, profssors difrnts rsponsávis por uma por outro. D um tmpo para cá, a gramática toria nomnclatura passou a sr tratada como o contúdo d nsino m si, prdndo su vínculo com o txto oral scrito, produto por mio do qual a comunicação s dá. Tratado dssa forma, o studo da gramática na scola prd su propósito: nsinar os studants a falar scrvr além d comprndr ficintmnt, objtivo qu s alcança por mio d um trabalho produtivo com a gramática, privilgiando a função qu as struturas lxicogramaticais cumprm no txto os sntidos qu las constrom. Prdndo su propósito, o trabalho dsnvolvido com a gramática na scola s banalizou (GOUVEIA, 2009). O aluno não vê uma aplicabilidad ftiva dos contúdos qu studa nas aulas d gramática m sua vida, o profssor snt-s como qu malhando frro frio, ou sja, invstindo tmpo sforço m um trabalho m sala d aula qu não trará os bnfícios sprados para o aprndizado d sus alunos. Embora o problma sja sério suas consquências, gravíssimas para a vida scolar a vida m socidad dos alunos, sua solução não stá fora d nosso alcanc: é prciso associar novamnt, nas aulas d Língua Portugusa, gramática txto tarfa xquívl caso s lja uma toria d bas adquada aos objtivos do nsino d língua na scola básica. I CIPLOM: Foz do Iguaçu - Brasil, d 19 a 22 d outubro d 2010 ISSN - 2236-3203 - p. 1-10 1133

Há consnso m torno do qu s considram os objtivos a srm alcançados plo nsino d língua matrna na scola: ampliar a comptência discursiva dos alunos. O qu não xist é consnso m rlação à prática pdagógica. Trabalhando com txtos ou não m sala d aula, o fato é qu o trabalho dsnvolvido s basia m uma msma concpção d gramática: a gramática normativa. Lvar o txto para a sala d aula não é garantia d um trabalho voltado para as comptências discursivas dos alunos. A situação qu ainda prdomina no contxto scolar d nsino d língua matrna é a d s usar o txto para dl rtirar os nunciados qu srão objto d anális gramatical. Essa anális gramatical, por sua vz, privilgia concitos, dcomposição d nunciados classificaçõs. Aproximar txto gramática numa prspctiva produtiva d trabalho com a língua é xplorar os sntidos do txto por mio d sua strutura gramatical, por mio dos lmntos lxicogramaticais nl prsnts m rlação aos lmntos do contxto d cultura d situação qu o caractrizam. Tr o txto como foco, como mio como fim é uma prática qu gralmnt s obsrva nas aulas d português para strangiros, cujo objtivo é fazr com qu o aluno aprnda a língua para comprndr, falar scrvr, ou sja, para intragir por mio dla. Nss contxto, a gramática é xplorada naquilo qu pod auxiliar no procsso d aquisição da língua, instrumntalizando o aprndiz para utilizar a strutura lxicogramatical da língua alvo na construção dos sntidos qu prtnd. Na vrdad, ss dvria sr, basicamnt, o caminho para o nsino d Língua Portugusa como língua matrna na scola básica. Primiramnt porqu o aluno, falant nativo, conhc alguma(s) das varidads do português, mas não a varidad padrão da língua, aqula qu é ou dvria sr o principal objto d nsino da scola. El prcisa, portanto, adquiri-la. Dpois, porqu a composição d um txto scrito aprndizado qu s dá, para a maioria d nossas crianças, xclusivamnt na scola dmanda habilidads divrsas daqulas qu dizm rspito ao txto oral, já dominadas por ls na varidad qu usam. Ou sja, falamos aqui d aquisição d uma varidad padrão d uma modalidad oral d língua dsconhcidas plos alunos. Entndmos, ntão, qu a prática pdagógica dv xplorar a corrlação xistnt ntr os fatos gramaticais a constituição dos txtos, rtomando uma postura há muito abandonada pla scola, mas qu du bons rsultados m uma outra época. I CIPLOM: Foz do Iguaçu - Brasil, d 19 a 22 d outubro d 2010 ISSN - 2236-3203 - p. 1-10 1134

Para qu isso sja possívl, é prciso qu s lja uma toria linguística d bas adquada aos objtivos do nsino d língua, uma toria linguística qu adot uma difrnt concpção d gramática qu promova a tão ncssária aproximação ntr gramática txto. 2- Gramática Sistêmico-Funcional Partindo d concpçõs difrnts d língua, d função d gramática, a Linguística Sistêmico-Funcional aprsnta-s como uma altrnativa para mbasar o trabalho com a língua matrna na scola. Para os funcionalistas principalmnt para a corrnt sistêmico-funcional, d Mickal Halliday, língua é uma frramnta para a intração social; função é o qu dá forma à língua, moldando-a historicamnt, por conta dos objtivos qu la tm d cumprir na vida m socidad; gramática é um potncial para a construção d significados. Nas palavras d Halliday (2004, p.xiv): Uma língua é intrprtada como um sistma d significados, acompanhado d formas por mio das quais os significados podm sr ralizados. A qustão é ants: como sss significados são xprssos? [ não o qu ssas formas significam? ]. Isso põ as formas da língua numa prspctiva difrnt: como mios para um fim, mais qu como um fim m si msmas. A xploração das formas da língua tm como fim, ntão, a comprnsão a construção d txtos. A anális linguística é mramnt mio para s chgar à construção dos sntidos do txto, fim qu dvria sr prsguido nas aulas d língua. Na scola, a unidad básica da anális linguística é o txto, ntndido como uma possibilidad ralizada a partir do potncial total d significados da língua. E é nssa prspctiva qu s dimnsiona o lugar da gramática: Um txto é uma unidad smântica, não gramatical. Mas os significados são ralizados por frasados; sm uma toria dos frasados isto é, uma gramática não há manira d tornar xplícita a intrprtação qu s faz do sntido d um txto. Assim, o atual intrss na anális do discurso stá d fato provndo um contxto dntro do qual a gramática tm um lugar cntral. (idm, p. Xvii) No modlo d Halliday (2004), função significado stão intimamnt rlacionados. Há três tipos d significado codificados na linguagm, corrspondnts às três funçõs básicas qu a linguagm dsmpnha na vida m I CIPLOM: Foz do Iguaçu - Brasil, d 19 a 22 d outubro d 2010 ISSN - 2236-3203 - p. 1-10 1135

socidad. A linguagm é usada para rprsntar a ralidad, para intragir com os outros para organizar as próprias mnsagns como txto. Para rprsntar a ralidad, a linguagm rcorta o mundo da xpriência m ntidads procssos, nos quais as ntidads dsmpnham papéis significado idacional. Como frramnta da intração, a língua constitui as rlaçõs sociais, já qu é por mio dla qu os falants atribum papéis a si msmos aos intrlocutors, marcam suas atituds na situação d intração significado intrpssoal. Além disso, a linguagm srv para construir mnsagns rlvants m rlação ao contxto m qu são usadas cornts intrnamnt, ou sja, srv para organizar txtos significado txtual. Para Halliday, o significado é indissociávl da função,, para cada uma das funçõs (rprsntar a ralidad, intragir organizar os txtos) corrspondm, rspctivamnt, os tipos d significado dnominados idacional, intrpssoal txtual (DUTRA, 2007). As funçõs grais qu a linguagm dsmpnha na vida humana struturam, dssa forma, o componnt smântico do sistma linguístico, qu s configura como um sistma d scolhas à disposição do falant. 2.1- Escolha m contxto Sgundo Halliday (2004), uma caractrística fundamntal da construção dos nunciados por mio língua é a noção d scolha por isso msmo a prsnça da palavra sistêmico na xprssão qu dnomina a toria aqui discutida. Cada nunciado produzido rprsnta, simultanamnt, o rsultado d scolhas fitas plo falant no potncial d opçõs disponívis na língua, para cada um dos três tipos d significado. Comparm-s, por xmplo, os dois nunciados: (a) O bandido ntrgou os comparsas à polícia. (b) Os comparsas, o bandido ntrgou à polícia. Tm-s, nos dois nunciados, o msmo significado idacional: trata-s do msmo procsso (a ação d ntrgar) dos msmos participants (ator: o bandido; mta: os comparsas; bnficiário: a polícia) na situação nunciada. I CIPLOM: Foz do Iguaçu - Brasil, d 19 a 22 d outubro d 2010 ISSN - 2236-3203 - p. 1-10 1136

Tm-s, também, o msmo significado intrpssoal: a validad do nunciado stá na dclaração O bandido ntrgou X. Não há, nl, a ngociação dssa validad ntr os participants do ato nunciativo, por xmplo, m trmos d atitud (O bandido talvz tnha ntrgado os comparsas à polícia / podia tr ntrgado / dv tr ntrgado / parc tr ntrgado). Entrtanto, não s tm, nos dois nunciados obsrvados, o msmo significado txtual: m (a), aquilo sobr qu o falant prtnd falar é o bandido; já m (b), é os comparsas. Essas outras difrnts possibilidads d combinação ntr significados idacionais, intrpssoais txtuais, ralizam-s plas difrnts opçõs d configuração lxicogramatical qu a língua disponibiliza. A noção d scolha é, ntão, cntral na abordagm sistêmico-funcional. Produzir txto, portanto, é scolhr algumas ntr as inúmras possibilidads d sntido disponívis no sistma linguístico. 3- Gramática Sistêmico-Funcional prática pdagógica Por partilharm, m larga mdida, os msmos rcursos lxicogramaticais é qu a intração linguística ntr os mmbros d uma msma comunidad é possívl. Sus falants dominam o msmo conhcimnto sobr as opçõs disponívis m sua língua matrna, o qu os torna capazs d scolhr, ntr os rcursos lxicogramaticais, aquls qu stão convncionalmnt disponívis na gramática da língua, para a ralização dos significados qu prtndm construir. Portanto, para intragir ficintmnt por mio do uso da língua, o falant prcisa sabr qu codificação lxicogramatical raliza adquadamnt os significados prtndidos num contxto spcífico d intração linguística. Eis a tarfa do nsino scolar da língua matrna: favorcr o dsnvolvimnto dss tipo d conhcimnto plo aluno, para qu l possa fazr as scolhas adquadas a cada situação d comunicação (HAWAD, 2009). Entrtanto, as scolhas qu o falant prcisa fazr não s rstringm somnt a qustõs gramaticais. Além d slcionar os rcursos lxicogramaticais qu ralizam suas intnçõs comunicativas, m conformidad com as condiçõs da situação d intração, l também prcisa slcionar rgistros, gênros, imagns I CIPLOM: Foz do Iguaçu - Brasil, d 19 a 22 d outubro d 2010 ISSN - 2236-3203 - p. 1-10 1137

sociais para si msmo para o intrlocutor. Dssa prspctiva, studar gramática na ducação básica é rfltir sobr as scolhas possívis na língua portugusa, considrando as formas lxicogramaticais m função d sus fitos d sntido m contxto. Analismos um pquno txto, a título d xmplo do qu pod sr fito, m sala d aula, para trazr à consciência do aluno o qu l já faz intuitivamnt. As scolhas fitas conscintmnt trarão, sm dúvida, uma prcisão maior para os nunciados construídos m trmos do sntido qu constrom, um rsultado mais ficaz da atuação do falant sobr o ouvint no qu s rfr à prsuasão por mio do discurso. 3.1- A gramática no txto uma aplicação Rud doloroso Minha posição quanto à convniência ou não d s unificar o português falado no mundo é um dstmido não si. Talvz não valha o trabalho qu dará para mudar rgras hábitos sm falar m dicionários pod-s prvr qu as mudanças, s virm, lvarão tmpo para pgar. Mas os scritors m português têm um intrss mnos acadêmico do qu prático na unificação do su idioma, qu aumntaria o mrcado m potncial para sus livros. O rud doloroso idioma d Bilac é falado por mais gnt do qu fala francês, mas tmos razõs para nos quixar da sua rlativa obscuridad. Ao contrário da Espanha, qu prdu su império amricano, mas dixou um imnso mrcado para o Garcia Marqus o Vargas Llosa, Portugal não foi muito pródigo com a sua língua. (VERISSIMO, L. F. O Globo, 18/10/2007. Fragmnto.) O autor do txto m tla tm diant d si uma tarfa profissional d scrita. Essa tarfa impõ um gênro txtual spcífico (a crônica), com spaço garantido m crta sção do jornal (Opinião). O gênro o suport impõm crtas rstriçõs crtas librdads d qu o autor lançará mão para cumprir sua tarfa profissional sua intnção comunicativa. I CIPLOM: Foz do Iguaçu - Brasil, d 19 a 22 d outubro d 2010 ISSN - 2236-3203 - p. 1-10 1138

A tmática d qu trata o txto (o Novo Acordo Ortográfico), por xmplo, podria sr abordada por outros gênros, ntrtanto, a opção pla crônica s dá justamnt plas rstriçõs já mncionadas. Não s spra qu o autor aprsnt, ao su ditor, um poma ou um artigo cintífico para figurar no spaço dstinado à crônica no suport jornal. O gênro slcionado xig um formato uma strutura caractrísticos, dixando, ao autor, uma margm rlativamnt pquna d librdad no qu s rfr a sua suprstrutura. Diant da situação comunicativa qu s aprsnta, o autor assum a imagm d alguém qu qustiona um fato qu inquita a socidad, assumindo sua voz. Ao msmo tmpo, vê como sus provávis intrlocutors, por um lado, rprsntants dssa msma socidad, qu s sntirão imagina l rprsntados por sua fala; por outro, os mntors da suposta unificação proposta para o português, qu trão um rtorno d como sua ação vm s rfltindo ntr os falants da língua no Brasil. No qu s rfr às varidads d língua, o autor opta por utilizar, m su txto, o rgistro formal, a norma padrão. Essa opção também s dá por força da situação comunicativa qu a l s impõ. O gênro crônica jornalística o jornal ond srá publicado o txto impdm, por xmplo, a utilização d um rgistro informal distnso. Esss são aspctos rlvants qu dtrminaram qu o txto produzido por Vríssimo foss ss não outro. São as scolhas qu o sistma disponibiliza. Cab ao falant scolhr o qu mais adquadamnt cumprirá sua intnção comunicativa m consonância com o contxto d situação. São sss aspctos, ntão, qu dvm fazr part da discussão m torno da scrita na scola, além dos aspctos linguísticos propriamnt ditos. Como já dito antriormnt, o componnt smântico do sistma linguístico configura-s como um sistma d scolhas à disposição do falant. Considrandos as formas lxicogramaticais usadas no txto analisado, focarmos nossa atnção m dois aspctos spcíficos, m função d sus fitos d sntido no contxto: o mprgo d trmos a organização do príodo. No trcho do txto analisado, o autor mprga os sguints trmos: talvz, pod-s prvr, aumntaria, qu marcam uma posição d não compromtimnto com o qu stá sndo dito. O autor protg sua fac, não assgurando ao litor I CIPLOM: Foz do Iguaçu - Brasil, d 19 a 22 d outubro d 2010 ISSN - 2236-3203 - p. 1-10 1139

qu o acordo não val o trabalho qu dará, qu as mudanças lvarão tmpo para pgar (a oração condicional s virm rforça isso) qu a unificação do idioma aumntará o mrcado m potncial para os livros dos scritors d língua portugusa. Essa scolha do autor tm razão d sr: l busca ngociar com su intrlocutor a validad d suas proposiçõs num momnto ainda d indfinição sobr os rumos qu os paíss nvolvidos dariam ao Acordo. Quanto à organização do príodo, analisarmos a composição do sguint trcho:...(a Espanha) prdu su império amricano, mas dixou um imnso mrcado para o Garcia Marqus o Vargas Llosa,... Diant da intnção d construir uma rlação d oposição, d contrast ntr as idias viculadas plas duas oraçõs m tla, o autor optou pla coordnação, com o mprgo da conjunção coordnativa advrsativa mas. Podria tr optado plo procsso d subordinação, com o mprgo, por xmplo, da conjunção subordinativa advrbial concssiva mbora. Essa opção, concrtizada no trcho construído, coloca o foco do discurso na oração iniciada plo mas, sugrindo qu, para o autor, ssa é a informação mais important do trcho. Caso a opção tivss sido plo mbora, o litor construiria um sntido txtual difrnt para o trcho: o foco staria na oração principal não na oração iniciada plo mbora....(a Espanha) prdu su império amricano, mbora tnha dixado um imnso mrcado para o Garcia Marqus o Vargas Llosa,...) A prcpção dssas d outras sutilzas nos txtos orais scritos é uma habilidad d litura a sr dsnvolvida pla scola, assim como também o é sabr mprgá-las conscintmnt. As scolhas fitas plo autor é qu dlinarão o txto qu l produzirá, assim como guiarão o litor/ouvint na construção do sntido do txto, auxiliando-o no rconhcimnto da intnção comunicativa d qum o construiu. 4- Considraçõs finais I CIPLOM: Foz do Iguaçu - Brasil, d 19 a 22 d outubro d 2010 ISSN - 2236-3203 - p. 1-10 1140

O nsino da gramática na ducação básica vm aprsntando um rsultado muito pouco significativo m rlação ao objtivo d ampliar a comptência discursiva do aluno, pois a gramática vinha sndo ntndida tão somnt como a doutrina contida nos compêndios normativos. A concpção funcionalista d gramática dscortina, porém, as rlaçõs ncssárias ntr os rcursos lxicogramaticais a constituição smântica dos txtos, sndo, por isso, uma toria qu pod contribuir, d fato, para um nsino mais produtivo da língua matrna. À luz do qu propõ a LSF, os contúdos d nsino rlvants na scola básica são fatos da língua portugusa ralizados m txtos. Dsnvolvr um nsino d gramática qu sja part intgrant do trabalho pdagógico com litura produção d txtos é valorizar a dimnsão comunicativa da linguagm, mais ainda, é valorizar a língua como objto d invstigação na scola. A Gramática Funcional propõ a anális dos fatos gramaticais sm qu ssa prática s confunda com a sgmntação a classificação das formas gramaticais ou com a mmorização d sus concitos. Analisar as formas lxicogramaticais qu ntram na constituição do txto, considrando sua funcionalidad, é, sm dúvida, uma contribuição importantíssima para o dsnvolvimnto da comptência discursiva do aluno para a valorização da gramática como o conjunto dos rcursos linguísticos disponívis para a construção d sntidos. O modlo sistêmico-funcional, mais do qu qualqur outro, tm uma contribuição muito important a dar no qu s rfr ao nsino d línguas. Com bas m suas orintaçõs, o profssor slcionará adquadamnt os fatos da língua qu dvrão figurar como contúdos d nsino dcidirá sobr o tratamnto pdagógico a sr dado a sss fatos, tndo m vista a ampliação da comptência comunicativa dos alunos. Mais não só: ss modlo dvrá orintar, também, a concpção a organização dos matriais didáticos; o planjamnto a condução das dinâmicas do trabalho m sala d aula; a avaliação do aprovitamnto dos alunos. Somnt sndo trabalhada nssa prspctiva é qu a gramática passará a sr valorizada, plo aluno, na scola. I CIPLOM: Foz do Iguaçu - Brasil, d 19 a 22 d outubro d 2010 ISSN - 2236-3203 - p. 1-10 1141

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