ACÓRDÃO PODER JUDICIÁRIO DO ESTADO DA PARAÍBA TRIBUNAL DE JUSTIÇA Apelação Cível re 095.2011.000090-8/001 Origem : Comarca de Arara Relator : Desembargador Frederico Martinho da Nóbrega Coutinho Apelante : Augusto César dos Santos Advogadas: Maria de Lourdes Silva Nascimento e Antônia Hernesto de Araújo Apelado : Adegilço Duarte dos Santos Advogada : Cleonice Virgínia Bruno Duarte APELAÇÃO. AÇÃO DE EXONERAÇÃO DE PENSÃO ALIMENTÍCIA. MAIORIDADE CIVIL. CESSAÇÃO DA OBRIGAÇÃO DE SUSTENTO. IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO. SUBLEVAÇÃO DO PROMOVIDO. ESTUDANTE QUE NÃO POSSUI OUTRO MEIO DE SUBSISTÊNCIA. ÔNUS DA PROVA. COMPROVAÇÃO NOS AUTOS. ALIMENTOS DEVIDOS. REFORMA DO DECISUM. PROVIMENTO. - A necessidade do alimentado, na ação de exoneração, é fato impeditivo do direito do autor, cabendo àquele a comprovação de que permanece tendo necessidade de receber alimentos. - A maioridade civil, por si só, não acarreta a extinção da obrigação alimentar, devend.o subsi tir a obrigação mesmo depois de alca çad\ a ca dade civil, quando ficar demonstrada que tado Apelação Mel tf 095.2011.000090-81001
não possui outros meios de sobrevivência ou encontra-se estudando. VISTOS, relatados e discutidos os presentes autos. de Justiça da Paraíba, por unanimidade, prover o recurso. ACORDA a Quarta Câmara Cível do Tribunal Trata-se de APELAÇÃO, fls. 65/68, interposta por Augusto César dos Santos em face de sentença, fls. 61/62, prolatada pela Juíza de Direito da Comarca de Arara que, nos autos da Ação de Exoneração de Alimentos, julgou procedente a pretensão disposta na inicial para exonerar o autor, Adegilço Duarte dos Santos, de pagar pensão alimentícia ao nominado recorrente, excluindo o desconto do percentual de 2/3 (dois terços) do salário mínimo dos proventos do autor, junto ao Governo do Estado da Paraíba. Inconformado com o édito judicial, o promovido interpôs recurso apelatório, pugnando pela reforma da decisão vergastada, sob a alegação de ainda depender da pensão recebida para prover suas necessidades, bem como para a conclusão do cursinho pré-vestibular. Contrarrazões ofertadas pelo apelado, fls. 71/74, refutando as alegações recursais, tendo em vista a decisão de primeiro grau não merecer reforma. A Procuradoria de Justiça, em parecer da lavra da Dra. Marilene de Lima Campos de Carvalho, fls. 81/83, opinou pelo provimento da apelação, para que seja reformada a sentença vergastada e mantida a pensão alimentícia, em favor do apelante. É o RELATÓRIO. VOTO Apelação Oval n 095.2011.000090-81001
Analisando o caderno processual, extrai-se que Adegilço Duarte dos Santos interpôs a presente Ação de Exoneração de Alimentos, em face de seu Augusto César dos Santos, alegando que este atingiu a maioridade civil, não sendo mais necessário arcar com a sua pensão alimentícia. Ao decidir a lide, a Magistrada de primeiro grau julgou procedente o pedido inserto na exordial para exonerar o autor do pagamento da verba de caráter alimentar, ocasionando, assim, a interposição do presente recurso. O cerne da questão posta à desate cinge-se acerca da 41 exoneração de alimentos, em razão da maioridade civil atingida pela prole. De início, convém ressaltar que a doutrina e a jurisprudência vêm considerando exigíveis dois tipos distintos de obrigações alimentares, quais sejam, o poder familiar e o parentesco. No tocante ao poder familiar, a obrigação com relação à prestação alimentícia extingue-se quando cessa a menoridade da alimentanda (art. 231, IV, do Código Civil). Já no que concerne ao parentesco (art. 1694 e seguintes do Código Civil), entende-se que, ao completar a maioridade civil, não ocorre a cessação automática do dever de prestar alimentos e, dependendo do caso, essas devidas prestações podem ser prorrogadas. Dessa forma, é comum que o filho, mesmo cessando a sua menoridade, ainda necessite de pensão alimentícia em razão de suas condições sociais, físicas, educacionais e financeiras, pois "o fator maioridade nem sempre significa não sejam devidas às contribuições dos alimentos" (Resp. 4347/CE). Em relação à persistência do dever de alimentar, advindo a maioridade, há corrente entendimento de que, prosseguindo o fi o nos estudos após a maioridade, é de se presumir a continuidade da ecessi de em receber alimentos, situação que desonera o alimentado de pr nte a Apelação Cível n 095 2011.000090-8/001
presunção, iuris tantum, da necessidade do estudante de curso universitário, técnico ou pré-vestibular. Nesse sentido: CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. PEDIDO DE EXONERAÇÃO DE ALIMENTOS. MAIORIDADE CIVIL DO FILHO. MANUTENÇÃO DA SENTENÇA. EXTENSÃO DO BENEFÍCIO ATÉ A CONCLUSÃO DO CURSO MÉDIO OU AOS 24 ANOS DE IDADE, O QUE SE DER PRIMEIRO. APELO IMPROVIDO. É de ser mantida a sentença que, em ação de exoneração de alimentos, reconhece que, mesmo cessado o poder familiar, persiste o encargo, pois o alimentado necessita do recurso até a conclusão do ensino médio, ou completar 24 anos, impossibilitado que está de prover seu próprio sustento, diante do mercado de trabalho exigir cada vez mais qualificação profissional. No caso, o alimentado tem 22 anos de idade e a pensão perdurará no máximo por dois anos, sendo seu valor irrisório diante da capacidade financeira do alimentado, sendo contra-producente postergar o implemento do direito que lhe seria conferido em decorrência da relação de parentesco. (Tf-PE; AC 130086-1; Recife; Terceira Câmara Cível; Rel. Des. Sílvio de Arruda Beltrão; Julg. 24/01/2006; DJPE 26/04/2006) negritei. Rolf Madaleno quanto ao tema: Sobre o tema, relevante citar o posicionamento de (...) subsiste a obrigação alim n--;\ dep is de alcançada a capacidade civil ais de os de Apelação Mel e 095.2011.000090-8/001,v;">"
idade, quando o crédito de alimentos é destinado para a mantença de filho estudante, especialmente porque continua dependente de seus pais por cursar a universidade, mesmo que frequente algum estágio, pois sabido que os valores pagos aos estagiários são em caráter simbólico e raramente atingem quantias capazes de dispensar o prolongamento da indispensável prestação alimentar (...). (In. Curso de Direito de Família, Rio de Janeiro: Forense, 2011, p. 902) destaquei. Assim, como já mencionado, esses alimentos, apesar de serem considerados como extensão da obrigação dos pais em relação a sua prole, e nesta situação vigorar a presunção iuris tantum da necessidade do alimentado, ainda assim são alimentos fundados no parentesco. Nessa linha de entendimento, chega-se à solução da questão central aqui debatida, pois a continuidade dos alimentos após a maioridade, somente subsistirá caso haja prova, por parte do filho, da necessidade de continuar a receber alimentos, o que caracterizará fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autortalimentante, a depender da situação. Guilherme Marinoni preleciona: Analisando, especificamente, o fato impeditivo, Luiz O fato impeditivo não impede a formação da fattispecie da qual o fato constitutivo faz parte e visa a constituir. O fato impeditivo não é um elemento que integra a fattispecie, mas sim algo que está do seu lado de fora, e assim apenas impede que o fato constitutivo produza os seus efeitos. Vale dizer, o fato constitutivo é sempre spira dar origem à fattispecie, mas o fato retira Apelação eive! n 095.2011.000090-81001
sua eficácia ou impede que ela produza efeitos. É nesse sentido que se diz que o fato impeditivo atua externamente sobre a eficácia do fato constitutivo, ou melhor, impede que a fattispecie produza efeitos ainda que seus elementos constitutivos estejam presentes. (In. Prova. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2009, p.166). Ressalta-se, ainda, que cabe ao autor a prova do fato constitutivo de seu direito extinção do poder familiar, e ao réu, a prova da existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito vindicado na inicial a permanência da necessidade. Dessa forma, torna-se indispensável a comprovação de que o alimentado não possui reais condições de subsistência ou pratique alguma ocupação educacional (faculdade, cursos profissionalizantes, etc.). Diante dessas considerações, vê-se que assiste razão ao apelante, quando postula a reforma da decisão vergastada, pois, consoante se depreende da documentação encartada, fl. 29, este encontra-se regularmente matriculado em estabelecimento de ensino, tornando-se necessária a manutenção do encargo alimentar. Corroborando essa alegação, calha transcrever 010 trechos dos depoimentos testemunhais: Que o promovido passa muitas dificuldades financeiras; (...); Que o promovido estuda em Campina Grande, pagando um cursinho que custa aproximadamente R$ 200,00; (Maria do Socorro Reis Caldeira - fl. 44). E, Apelação Cite! n" 095.2011.000090-8/001
Que o promovido estuda em Campina Grande, mas não sabe dizer em que curso; Que o promovido não trabalha (Dj alma Pereira - fl. 45). do Superior Tribunal de Justiça: No mesmo sentido, cumpre trazer à baila os escólios PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. FAMÍLIA. ALIMENTOS. EXONERAÇÃO. MAIORIDADE. NECESSIDADE. ÔNUS DA PROVA. 1. O advento da maioridade não extingue, de forma automática, o direito à percepção de alimentos, mas esses deixam de ser devidos em face do Poder Familiar e passam a ter fundamento nas relações de parentesco, em que se exige a prova da necessidade do alimentado. 2. A necessidade do alimentado, na ação de exoneração de alimentos, é fato impeditivo do direito do autor, cabendo àquele a comprovação de que permanece tendo necessidade de receber alimentos. 3. A percepção de que uma determinada regra de experiência está sujeita a numerosas exceções acaba por impedir sua aplicação para o convencimento do julgador, salvo se secundada por outros elementos de prova. 4. Recurso provido. (REsp 1198105/RJ, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado em 01/09/2011, DJe 14/09/2011) - negritei. Corroborando o entendimento acima esposado, calha transcrever os seguintes julgados desta Corte de Justiça: Apelação Ove! n. 095.2011.000090-8/001 7 "r
CIVIL. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE EXONERAÇÃO DE ALIMENTOS. FILHA MAIOR AUSÊNCIA DE PROVA DA SITUAÇÃO FINANCEIRA DA PROMOVIDA. REDUÇÃO DA CONDIÇÃO FINANCEIRA DO ALIMENTANTE E PROBLEMAS DE SAÚDE. INDEMONSTRADO. EXONERAÇÃO DOS ALIMENTOS. ESTUDANTE DE ENSINO TÉCNICO. IMPOSSIBILIDADE. DESPROVIMENTO DO RECURSO. Segundo entendimento dominante, o simples fato de a alimentada ter atingido a maioridade não é suficiente, por si só, para exonerar a obrigação alimentar do promovente. Conforme noticiam os autos, a apelada fez prova que ainda encontrasse estudando, curso técnico de enfermagem, o que faz presumir a continuidade de sua necessidade em receber alimentos. (TJPB; AC 200.2010.015667-4/001; Rel. Juiz Conv. Aluizio Bezerra Filho; DJPB 13/01/2012; Pág. 7) destaquei. E, APELAÇÃO CÍVEL. EXONERAÇÃO DE ALIMENTOS. MAIORIDADE CIVIL ATINGIDA. RELAÇÃO DE PARENTESCO. COMPROVAÇÃO. EXTINÇÃO DO PODER FAMILIAR. INOCORRÊNCIA. INOCORRÊNCIA. NECESSIDADE DE CONTINUAR RECEBENDO A PENSÃO. ALIMENTADA ESTUDANTE. DESPROVIMENTO. - O alcance da maioridade civil, via de regra, não caracteriza a obrigação de exone a ão da pensão alimentícia, notadamente quand e com. rovad que a alimentanda necessita dos ali estar Apelação Cível n 095.2011.000090-81001
desempregada e/ou estudante, inexistindo, portanto, - a extinção do poder familiar. (TJPB; AC 018.2007.003.595-3/001; Guarabira; Relê Desê Maria das Neves do Egito de A. D. Ferreira; DJPB 13/03/2009; p. 6). Assim, diante da demonstrada necessidade do alimentado, bem como de encontrar-se regularmente matriculado em cursinho preparatório, entendo que não se justifica a exoneração dos alimentos. APELAÇÃO. Ante o exposto, DOU PROVIMENTO À Fixo os honorários advocatícios no patamar de R$ 1.000,00 (mil reais), tomando-se como parâmetro o art. 20, 4 2, do Código de Processo Civil, entretanto, por ser o promovente beneficiário da justiça gratuita, o cumprimento dessa obrigação fica sobrestado, a teor do disposto no art. 12, da nq Lei 1.060/50. É como VOTO. Presidiu a sessão, o Desembargador Frederico Martinho da Nóbrega Coutinho, como Relator. Ainda, participaram do julgamento, os Desembargadores Romero Marcelo da Fonseca Oliveira e João Alves da Silva. representando o Ministério Público. Presente a Dra. Jacilene Nicolau Faustino Gomes, Sala das Sessõ de Justiça da Paraíba, em 31 de maio de 201 ta Câma cível do Tribunal Frederic Marti a NObrega Coutinho Des mbargador Relator Apelação Civel rt" 095.2011.000090-8/001 9
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