12ª Conferência Internacional da LARES Centro Brasileiro Britânico, São Paulo - Brasil 19, 20 e 21 de Setembro de 2012

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Transcrição:

12ª Conferência Internacional da LARES Centro Brasileiro Britânico, São Paulo - Brasil 19, 20 e 21 de Setembro de 2012 HABITAÇÃO POPULAR - FINANCIAMENTO Prof. Dr. Eng. Alfredo Mário Savelli 1, Prof. Dr. Eng. Henrique Dinis 2 1 Instituição, endereço do autor principal, país e e-mail 2 Instituição e e-mail do segundo autor RESUMO O estudo objetiva a indicação de fonte de recursos para o programa Minha Casa, Minha Vida, que já atendeu 3.565 municípios. A metodologia consiste em pesquisa junto aos órgãos de fomento. A primeira fase programa Minha Casa, Minha Vida, até 2010, contratou 1.005.128 moradias, 41,6% já entregues. Na segunda etapa, com a elevação do teto de investimento da menor faixa de renda (R$ 1.600,00 a R$ 5.000,00), de R$ 52 mil para R$ 65 mil por unidade, a meta de dois milhões de moradias foi atendida por 457 mil unidades em 2011, 335 mil já entregues, 104 mil para famílias de baixa renda. Em 2012 serão mais 496 mil unidades, 57% para famílias de baixa renda. No primeiro trimestre deste ano, 39% do total do investimento da União, de R$ 6,2 bilhões, destinaram-se ao programa Minha Casa, Minha Vida. Em 2011 os recursos de cadernetas de poupança proporcionaram R$ 79,9 bilhões e os recursos do FGTS R$ 34,2 bilhões, respondendo por 95% do funding imobiliário para baixa renda. Em 2011 o saldo das cadernetas de poupança cresceu apenas 10%, de R$ 302 bilhões para R$ 332 bilhões, com a expectativa de em três anos não mais haver disponibilidade de recursos provenientes da poupança das famílias. As aplicações em Letras de Credito Imobiliário (LCIs) e em Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) têm crescido significativamente. Entre dezembro de 2010 e 2011 o estoque de LCIs passou de R$ 29,2 bilhões para R$ 46,8 bilhões e o estoque de CRIs de R$ 18,9 bilhões para R$ 27,7 bilhões. Concluímos que, mantida a atual tendência, as Letras de Credito Imobiliário (LCIs) e os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) despontam como fontes alternativas para contornar o iminente risco de escassez de recursos para habitações de interesse social. Palavras-chave: habitação popular, políticas públicas, financiamento

12ª Conferência Internacional da LARES Centro Brasileiro Britânico, São Paulo - Brasil 19, 20 e 21 de Setembro de 2012 POPULAR HOUSING FINANCE ABSTRACT The program Minha Casa, Minha Vida has served 3 565 municipalities in reducing the country's housing deficit of 7.2 to 5.5 million units. The first phase by 2010 hired 1,005,128 households, 41.6% have already been delivered. The lowest income group, R$ 1,600.00 to R$ 5,000.00, has high ceiling from R$ 52,000 to R$ 65,000 per unit. In the second step, the goal of two million homes in 2011 was attended by 457 thousand units already delivered 335,000, 104,000 for low income families. In 2012, over 496,000 units will be 57% for low income. In the first quarter of this year, investment in the program Minha Casa, Minha Vida of R$ 6.2 billion, accounted for 39% of total investments of the Union. In 2011 the resources of savings banks provided R$ 79.9 billion and FGTS resources R$ 34.2 billion, accounting for 95% of funding for low-income housing. In 2011 the balance of savings accounts grew only 10%, from R$ 302 billion to R$ 332 billion. It is expected in three years there is no more resource available from the household saving. The Letters of Credit Real Estate (LCIs) and Real Estate Receivables Certificates (CRIs) emerge as alternative to circumvent this impending shortage. Between December 2010 and 2011 the stock of LCIs rose from R$ 29.2 billion to R$ 46.8 billion and the stock of CRI of R$ 18.9 billion to R$ 27.7 billion. Key-words: housing, public policy, funding

Página 1 de 7 1. O Objetivo e a Metodologia O estudo objetiva a indicação de fontes de recursos para o programa Minha Casa, Minha Vida, que já atendeu em todos os estados brasileiros 573 municípios com população acima de 100 mil habitantes e 254 municípios com população entre 50 e 100 mil habitantes (SHIMIZU, 2010). A metodologia consiste em pesquisa junto a órgãos de fomento para investimento em programas habitacionais. 2. O Mercado Imobiliário em São Paulo O mercado imobiliário brasileiro vive um grande momento. Na Região Metropolitana de São Paulo, em 2011, foram lançando 67.359 unidades habitacionais, totalizando 8.265.908 m2 de área construída, registrando R$ 25 bilhões em Valor Geral de Vendas (VGV). Na cidade de São Paulo, em 2011, foram lançadas 37.670 unidades habitacionais, totalizando 4.947.729 m2 de área construída, R$ 13,3 bilhões de VGV, em grande parte para atender à classe C beneficiada pelo programa Minha Casa, Minha Vida. O Índice de Velocidade de Vendas de 57,2% na cidade de São Paulo foi próximo da média entre 2004 e 2011 de 60,2%. A oferta em dezembro de 2011 de 19,7 mil unidades foi maior do que a oferta do mesmo mês no ano anterior de 16,5 mil unidades. 3. O Programa Minha Casa, Minha Vida De acordo com dados da Fundação João Pinheiro a carência habitacional no Brasil em 2006 era de 7.902.699 moradias, o que significa 14,9% do total do estoque de domicílios. Desse total, 28,9% se situavam nas regiões metropolitanas. As projeções da Organização das Nações Unidas (ONU) estimam que no final da próxima década 25% dos brasileiros estarão vivendo em favelas, no caso de não serem tomadas as providências devidas quanto à solução habitacional para a população da base da pirâmide social. O programa Minha Casa, Minha Vida, desde sua implantação, já reduziu o déficit habitacional do país para 5,5 milhões de unidades, com investimento concentrado entre as famílias com renda até três salários mínimos, sobretudo nas regiões Sudeste e Nordeste. (YUASO, L., 29/03/2012). A primeira fase do programa Minha Casa, Minha Vida foi encerrada em 2010, cumprindo a meta de contratar a construção de 1.005.128 moradias. Na segunda etapa, o desafio está sendo dobrado, aumentando a quantidade de moradias a serem executadas para dois milhões de famílias, incrementando o valor de subsídios, a área das habitações e o limite de renda das famílias. O teto do subsídio para a mais baixa faixa de renda, entre R$ 1.600,00 e R$ 5.000,00, foi elevado de R$ 52 mil para R$ 65 mil por unidade. (EXMAN, F., 12/04/2012). Em 2011, a segunda edição do programa atendia a construção de 457 mil unidades habitacionais, já tendo sido entregue 33%, sendo 104 mil destinadas a famílias de baixa renda. Para 2012 a expectativa é de contratar 496 mil novas unidades, destinando 57% desse total para população de baixa renda.

Página 2 de 7 No primeiro trimestre deste ano, o investimento no programa Minha Casa, Minha Vida foi de R$ 6,2 bilhões, ou seja, 39% do total de todo investimento efetuado pela União no período (LAMUCCI, S., 16/04/2012). O governo gastou nos últimos dezoito meses R$ 324,3 bilhões através do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para ampliar obras de infra estrutura. Conforme indicado na Ilustração 1, o setor de habitação respondeu por 39,8% deste total, sendo R$ 108,6 bilhões em financiamento habitacional mais R$ 20,7 bilhões do programa Minha Casa, MinhaVida. No período as estatais investiram R$ 91,9 bilhões e as empresas privadas R$ 69,1 bilhões (DANTAS, I., 27/07/2012). Ilustração 1. Volume global de investimentos realizados pelo PAC 2, desde janeiro 2012,OESP. O valor das obras concluídas desde o início do PAC 2 correspondem a R$ 211 bilhões, tendo sido 34% concluídas do primeiro semestre de 2012 (DANTAS, I., 27/07/2012). A Caixa Econômica Federal a partir de 11 de junho de 2012 está financiando habitações em prazo de até 35 anos, com taxa de juros a partir de 7,8% ao ano (FROUFE, C., 2012). 4. Os recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo e do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço Os recursos para o crédito habitacional tem sido relevantes. Em 2011, os recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE), com captação pelas cadernetas de poupança, proporcionaram crédito de R$ 79,9 bilhões, com crescimento de 17% sobre 2010. Com relação aos recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), em 2011 houve crédito de R$ 34,2 bilhões (MORENO, M., 29/03/2012). Segundo a Associação Brasileira das Entidades de Credito Imobiliário e Poupança (Abecip), o índice de inadimplência tem sido o mais baixo dos últimos oito anos, 2% em 2011. Os recursos dos trabalhadores depositados nas contas do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e as cadernetas de poupança tem respondido por mais de 95% do funding utilizado nas operações de financiamento imobiliário para baixa renda.

Página 3 de 7 De fevereiro de 2011 a janeiro de 2012 o saldo das cadernetas de poupança avançou apenas 10%, de R$ 302 bilhões para R$ 332 Bilhões. Há a possibilidade de, dentro de até três anos, não existir mais recurso disponível desta fonte para atender à crescente demanda. O orçamento do FGTS em 2012 de R$ 43,9 bilhões prevê a aplicação de R$ 26 bilhões em moradias populares, R$ 2,5 bilhões em Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs), R$ 10 bilhões para saneamento básico e infra estrutura urbana e R$ 4,5 bilhões para subsídios. (OESP,15/04/2012). 5. A possível formação de uma bolha imobiliária Há sempre o grande temor da formação de uma bolha de crédito no Brasil, embora o estoque de crédito atual seja de 50% do PIB, com o crescimento dos financiamentos habitacionais de 15,3% em doze meses. O temor de estouro de bolha imobiliária, semelhante ao de sub prime nos EUA em 2007, tem pouco fundamento. Naquele caso, as operações hipotecárias eram refinanciadas várias vezes, para prover dinheiro novo que o devedor queimava no consumo, o que, aparentemente, ainda não ocorre no Brasil. Impressionados com os maus antecedentes dos Estados Unidos e a rápida expansão do crédito no Brasil, 13% ao ano, os analistas do Banco Internacional de Compensações (BIS), que funciona como banco central dos bancos centrais, já emitiram um alerta (MING, C., 2012). 6. A qualidade da garantia imobiliária Há fatores a serem considerados no caso específico do Brasil: a) A aquecida demanda proveniente do Programa Minha Casa, Minha Vida tem concorrido para elevação no preço dos terrenos. b) Com o momentâneo aumento dos salários, em apenas doze meses o custo da mão de obra cresceu 11,5%, ocasionando a disparada no custo da construção. c) O aumento no custo dos insumos da construção civil, por conta da insuficiência da produção industrial em atender o aumento da demanda. d) A renda familiar que deverá ter seu crescimento em ritmo reduzido, em comparação ao ano anterior. A possível ocorrência de saturação do mercado imobiliário poderá contribuir com um achatamento nos preços de comercialização das unidades habitacionais para níveis inferiores ao avanço da inflação, o que pode comprometer a qualidade da garantia. (MING, C., 03/07/2012). 7. As Letras de Credito Imobiliário e os Certificados de Recebíveis Imobiliários Retomando a questão dos financiamentos, o desenvolvimento do mercado imobiliário não deverá depender exclusivamente da poupança popular das famílias. As Letras de Credito Imobiliário (LCIs) e os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs), criados a partir da regulamentação do Sistema Financeiro Imobiliário (SFI) em novembro de 1997, despontam como fontes alternativas para contornar a possível escassez de recursos para o financiamento de imóveis.

Página 4 de 7 Os instrumentos LCIs e CRIs são títulos lastreados em recebíveis imobiliários para a emissão e venda no mercado de capitais, como alternativa para que as instituições financeiras tenham recursos a oferecer para novos financiamentos. A LCI pode ser emitida por banco detentor de recebíveis imobiliários, que reúne diversas operações em um único papel, garantido pelo banco emissor, da mesma forma que um Certificado de Depósito Bancário (CDB). O CRI pode ser emitido por uma securitizadora imobiliária para um tipo de empreendimento específico, sendo a garantia de pagamento dada pelo próprio emissor, geralmente uma construtora. A Comissão de Valores Imobiliários (CVM) estabelece um investimento mínimo de R$ 300 mil para CRI, sendo este título negociado entre investidores qualificados (SILVA, A., 29/03/2012). Segundo a Central de Custódia e Liquidação Financeira de Títulos (Cetip) a evolução do saldo em estoque de títulos LCIs e CRIs tem apresentado aumento expressivo de sua participação nos financiamentos do mercado imobiliário. Entre dezembro de 2010 e 2011 o estoque de LCIs apresentou um salto de 60%, passando de R$ 29,2 bilhões para R$ 46,8 bilhões e o estoque de CRIs subiu 47% de R$ 18,9 bilhões para R$ 27,7 bilhões. Nos três primeiros meses de 2012 o estoque de LCIs cresceu 10%, passando para R$ 51,8 bilhões e o estoque de CRIs subiu para R$ 28,5 bilhões. A Caixa Econômica Federal (CEF), além de agente operador do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) é responsável pela análise das propostas, tendo no início de abril se apropriado de 88% dos R$ 2,5 bilhões, recursos destinados pelo Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) para a compra de CRIs, superando as demais instituições que participam do processo: Banco do Brasil, Itaú, HSBC e Santander (PINHEIRO, 15/04/2012). De acordo com a CEF as propostas de vendas de CRIs somaram R$ 40 bilhões, dos quais R$ 36,6 bilhões referentes a imóveis para a menor faixa de renda. 8. Conclusão As estimativas de profissionais do mercado indicam o risco de em até três anos poder se esgotar os recursos do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) e das cadernetas de poupança para atender à crescente demanda de operações de financiamento imobiliário para baixa renda. Na securitização, os bancos transformam parte da carteira de créditos em títulos que são vendidos para investidores no mercado, abrindo espaço para novos financiamentos. A aplicação de recursos de trabalhadores na compra de recebíveis imobiliários, a exemplo das Letras de Credito Imobiliário (LCIs) e Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs), é uma forma de ampliar as fontes de captação dos bancos para a concessão de crédito para a compra de casa própria, em benefício do sistema. 9. Bibliografia EXMAN, F., Dilma lança Minha Casa, Minha Vida para 2,5 mil cidades. Valor. Política A7,São Paulo, 12/04/2012.

Página 5 de 7 FROFE, C., Caixa amplia prazo de financiamento para 35 anos. OESP, Economia B6, São Paulo, 06/06/2012. DANTAS, I., Credito habitacional infla o PAC. OESP, Economia B3, São Paulo, 27/07/2012. FUNDAÇÃO JOÃO PINHEIRO, Deficit habitacional no Brasil. Centro de Estatísticas e Informações. Belo Horizonte, 2006. LAMUCCI, S.,Investimento público cai 18% no 1º. Trimestre sem o Minha casa, Minha vida.valor. Brasil A3,São Paulo, 16/04/2012. MING, C., Ainda sem sinais de bolha. OESP, Economia B2, São Paulo, 03/07/2012. MORENO, M., Mercado Imobiliário - Um ano de ajuste e de equilíbrio.oesp, Especial H2,São Paulo, 29/03/2012. MORENO, M., Valor de venda chegou a R$ 25 bilhões. OESP, Especial H6, São Paulo, 29/03/2012. O ESTADO DE SÃO PAULO. Regras mais rígidas de aplicação de FGTS. Economia B2, São Paulo, 15/04/2012. PINHEIRO, V., Caixa Econômica Federal domina linha do FGTS para compra de carteira imobiliária. Valor. Finanças C1, São Paulo, 05/04/2012. SHIMIZU, J. Y., Projeção de impactos econômicos do Programa Minha Casa, Minha Vida: uma abordagem de equilíbrio geral computável. Tese de mestrado. Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 29/03/2012. SILVA, A., Certificados de Recebíveis Imobiliários e Letras de Credito Imobiliário são opções de financiamento. Valor Especial G2, São Paulo, 29/03/2012. YUASO, L., Minha Casa, Minha Vida. OESP, Especial H10, São Paulo, 29/03/2012.