Mestrado em Ciências da Educação/Música Ensino, Aprendizagem e Avaliação II

Transcrição

1 Trabalho 3 Depois de fazer as leituras recomendadas de Peter Senge, apresente a sua reflexão sobre se Considera que a sua escola é, ou não, uma organização aprendente? E porquê? Grandes equipas são organizações que aprendem a desenvolver novas habilidades e capacidades que levam a novas percepções e sensibilidades que, por sua vez, revolucionam crenças e opiniões (Riche, G. e Alto, R., 2001, p.36) Uma grande equipa é assim que vejo a minha comunidade educativa, a minha Escola. Não só porque somos muitos (é a maior escola de música do país) nem porque temos muitos projetos em curso (basta ver o número de audições, concertos, recitais, etc, que se fazem por ano), mas porque dispomos de variadíssimas possibilidades e características que me levam a afirmar tal coisa. Ter uma direção forte, com visão sistémica, capaz de perceber que a verdadeira alavancagem está em compreender a complexidade dinâmica e não a de detalhes (Riche, G. e Alto, R., 2001, p.44) é um privilégio e permite que a escola onde trabalho cresça como uma organização aprendente. Apesar de sofrer de muitos erros e impasses também. Somos uma organização aprendente? Vou orientar a minha reflexão comparando-a com o texto de Georges A. Riche e Ricardo M. Alto As organizações que aprendem, segundo Peter Senge: A quinta disciplina. O domínio pessoal é o alicerce espiritual da organização que aprende (Riche, G. e Alto, R., 2001, p. 38). Nas organizações deve prevalecer o compromisso em vez da aceitação, o grupo e não o indivíduo. A visão compartilhada como a 4ª disciplina é essencial a uma organização aprendente e vem de encontro ao trabalho colaborativo que os modelos de coaching reflexivo também defendem (Marcos, A., et al., 2011). O pensamento sistémico é a 5ª disciplina e o elo de ligação entre todas as outras. As coisas não fazem sentido

2 isoladas, são parte de um todo. Metanóia, ou mudança de mentalidade é a palavra que se pode adequar melhor a uma organização que aprende. É preciso no entanto um novo tipo de profissional que saiba tirar partido do pensamento sistémico, já que ele só por si não basta. A falta de pensamento sistémico impede a aprendizagem rápida porque cada um fica preso nas suas próprias visões e convicções. Isso faz com que se perpetuem erros, se culpe o sistema pela falta de avanços e se cristalize de braços cruzados nas práticas adquiridas e perpetuadas durante anos. As nossas escolas sofrem deste mal em maior ou menor medida. Quantas vezes intuímos o que fazer mas cruzamos os braços porque é mais fácil culpar o sistema, a direção da escola, o ME, enfim o que for, pela inércia e falta de iniciativa? Quantas vezes esperamos que as reformas venham de cima e nos conformamos em perpetuar programas, currículos, metodologias desadequadas? Somos prisioneiros do sistema ou realmente do nosso próprio pensamento? Creio que podemos libertar-nos e trazer à nossa vida e à das nossas organizações uma verdadeira transformação, uma metanóia. Há no entanto que ter cuidado com alterações forçadas, para não provocar o efeito de feedback de compensação. As mudanças eficazes são as que são conversadas e graduais. O ditado português água mole em pedra dura tanto dá até que fura poderia aplicar-se a esta circunstância; é mais útil ir falando e insistindo, gradualmente, promovendo situações de partilha de experiências e ideias, num trabalho colaborativo e de aprendizagem contínua entre pares que impor mudanças rápidas que podem ser rejeitadas e contraproducentes. Mais rápido significa mais devagar (Riche, G. e Alto, R., 2001, p. 43) é uma máxima da maior utilidade se quisermos ter este pensamento sistémico. Cada vez que adotamos uma solução paliativa, aliviamos o stress, porém ele surge com maior intensidade em uma nova crise e tendemos a adotar outra solução paliativa, criando um círculo vicioso. (Riche, G. e Alto, R., 2001, p. 48). É como tapar buracos na estrada com remendos de alcatrão em vez de fazer obras mais profundas. Muitas vezes vejo que

3 adotamos este tipo de soluções, nunca resolvendo verdadeiramente a questão. Ou então revoltamo-nos quando a escola impõe que os problemas sejam resolvidos em profundidade porque é mais difícil, demora mais tempo e parece mais fácil resolver a questão com remendos. Esta questão, identificada elos autores como arquétipo 2 levou-me a refletir acerca das práticas de facilitismo em que muitas vezes caímos de forma irrefletida. Toda a comunidade educativa deveria dedicar algum tempo a compreender melhor esta visão sistémica das organizações, a perceber como o nosso pensamento pode ser libertado se aprendermos a pensar mais aprofundadamente e também a compreender melhor o que se passa a nível da direção. Eu reconheço a minha escola, como já disse, como aprendente e reconheço isso sobretudo pelo trabalho aprofundado da direção. Mas este trabalho poderia ser potenciado se houvesse mais partilha e comunicação com a comunidade educativa. frequentemente as áreas de maior alavancagem são as menos óbvias (Riche, G. e Alto, R., 2001, p.43); não descurar as ações pequenas e de menor visibilidade. Na escola isto pode passar por prestar atenção a pequenos aspetos a melhorar a gestão da sala de aula, o cuidado com a diferenciação pedagógica; o cuidado posto na planificação integrada, etc. São pequenas mudanças, que partem da iniciativa dos professores que podem realmente fazer a diferença mais tarde. Talvez não sejam as óbvias, mas serão com certeza eficazes. o pensamento sistémico é o antídoto para a sensação de impotência causada pela era da interdependência (Riche, G. e Alto, R., 2001, p. 44). Na escola incentiva-se a procura dos inter-relacionamentos e dos processos de mudança das coisas, pondo cuidado no olhar sobre a realidade no seu conjunto e complexidade, não focando apenas na realidade da escola. À luz da leitura feita compreendo melhor esta visão sistémica, preocupada com a circularidade do processo, consciente da estrutura global em que estamos inseridos e da qual fazemos parte. Por isso a preocupação com o meio envolvente, com a participação responsável na vida da comunidade alargada, a corresponsabilidade social. Somos parte de um todo, não seres ou organizações isoladas. Para nos compreendermos temos que compreender o todo.

4 Os autores do artigo apontam sete tipos de deficiências de aprendizagem que eu reconheço também na minha escola, em maior ou menor grau: 1. Eu sou o meu cargo; falta de visão e de empatia com os outros, fica-se fechado no papel que se desempenha com a consequente necessidade de culpar os outros por tudo o que corra mal. 2. O inimigo está lá fora; ficamos fechados na nossa própria visão, o que nos impede de ver que as nossas ações transcendem o cargo que ocupamos. Falta de visão sistémica. 3. Ilusão de assumir o controle; pró atividade é reatividade disfarçada. É necessário procurar a solução para os nossos próprios problemas. 4. Fixação em eventos; as ameaças não vêm de eventos pontuais mas de mudanças graduais. 5. A parábola do sapo escondido; é necessário reduzir o ritmo e prestar atenção aos pequenos eventos, para perceber quais são as ameaças reais. 6. A ilusão de aprender com a experiência; embora aprendamos com a experiência nunca experimentamos as consequências das nossas ações mais importantes. 7. O mito da equipe gerencial; negar que não se sabe tudo ou nunca afirmar que não se sabe a resposta impede novas aprendizagens, porque impede que outros partilhem as suas visões. Conhecer os pontos fracos ou zonas de fragilidade, não as escondendo ajuda a prestar-lhes atenção. Na verdade, somos atacados nos pontos fracos, não nos fortes. Nada de novo nesta regra de discernimento tão antiga como verdadeira e atual. Ler este texto sobre dinâmica organizacional deixa-me a certeza de que as organizações são organismos vivos, que se regem por leis tão naturais como as da vida. Lendo o que os autores escrevem sobre leis, máximas, fragilidades, vícios, corrobora esta minha visão. Talvez pudéssemos aprender a conhecer melhor a nossa comunidade educativa se aprendêssemos a olhar para

5 ela com o mesmo olhar com que olhamos para nós: um olhar de verdade, que reconhece as suas fortalezas mas que não esconde os seus pontos fracos e fragilidades, antes lhes presta atenção para não ser atacado por aí. Perceber esta visão sistémica aumenta o meu apreço pelo trabalho que se desenvolve na minha escola, aumenta também o meu sentido de corresponsabilidade pelo seu desenvolvimento, deixa em mim a vontade de aprender mais, de colaborar de forma positiva nos órgãos de gestão dos quais faço parte e de promover, junto dos colegas com quem desenvolvo trabalho colaborativo, esta visão sistémica da realidade de que fazemos parte.

6 Bibliografia: MARCOS, A. et al. (2011). Coaching reflexivo entre iguales en el Practicum de la formación de maestros (Refective peer coaching in the Practicum of teacher training). Revista Educación, 355. Mayo - Agosto 2011, pp RICH, G., A. e ALTO, R., M. (2001). As organizações que aprendem, segundo Peter Senge: a quinta disciplina. In Cadernos Discentes Coppead, Rio de Janeiro, nº9, pp