Pesquisa em Educação Física
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- Cláudia Azenha Esteves
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1 Pesquisa em Educação Física Volume 11, número 6, 2012 ISSN: Várzea Paulista, SP
2 Recebido: 10/11/2013 Emitido parece: 17/11/2013 Artigo original NÍVEL DE FLEXIBILIDADE DE JOVENS ATLETAS DE ATLETISMO: UMA COMPARAÇÃO ENTRE OS GÊNEROS Jefferson Verbena de Freitas 1, Lucas Machado Nascimento 1, Phelipe Henrique Cardoso de Castro 1, João Paulo Nogueira 1, Letícia Lemos Ayres da Gama Bastos 2, Jorge Roberto Perrout de Lima 1 RESUMO Introdução: A flexibilidade é definida pela capacidade de se movimentar por meio de uma imensa amplitude de movimentos disponível para determinada articulação ou grupo de articulações. É uma das principais variáveis da aptidão física relacionada à saúde e ao desempenho esportivo. Uma maneira de mensurar o nível de flexibilidade é através do instrumento Flexiteste Adaptado, que examina oito movimentos articulares. A flexibilidade é a qualidade física utilizada pelo maior número de esportes, sendo de fundamental importância para o desempenho no atletismo. O presente estudo teve como objetivo verificar o nível de flexibilidade de jovens atletas de atletismo da categoria pré-mirim, fazendo uma comparação entre os gêneros. Metodologia: Participaram do estudo 42 jovens atletas de ambos os gêneros, sendo 18 meninas e 24 meninos. Foram mensuradas a estatura e a massa corporal de todos os atletas e posteriormente realizada a avaliação do Flexisteste Adaptado. Os movimentos avaliados foram: Flexão de Quadril (FQ), Extensão de Quadril (EQ), Abdução de Quadril (ABDQ), Flexão de Tronco (FT), Flexão Lateral do Tronco (FLT), Extensão + Adução de Ombro (EADO), Adução Posterior de ombro a partir de 180º de abdução (ADPO), Extensão Posterior de Ombro (EPO). Resultados: Em ambos os gêneros, os valores maiores foram encontrados no movimento de ABDQ e os menores valores para o movimento de EPO. A partir dos resultados observados no Flexíndice, a flexibilidade foi classificada para o grupo das meninas e dos meninos em: muito grande (hipermobilidade) e grande, respectivamente. Não foram encontradas diferenças estatísticas significativas entre a flexibilidade dos praticantes de atletismo da categoria pré-mirim em ambos os gêneros. Conclusão: A partir dos achados apresentados neste estudo e verificando a escassez na literatura com relação à avaliação do nível de flexibilidade em atletas mais jovens, destaca-se a importância da elaboração de outros estudos neste contexto. Palavras-chave: Flexibilidade. Flexiteste. Jovens atletas. Atletismo. LEVEL OF FLEXIBILITY OF YOUNG ATHLETES OF ATHLETICS: A COMPARISON BETWEEN MEN AND WOMEN ABSTRACT Introduction: The flexibility is defined by the ability to move through a vast range of motion available to a particular joint or group of joints. It is one of the main variables of health-related physical fitness and sports performance. One way to measure the level of flexibility is through the instrument Flexitest Adapted, which examines eight joint movements. Flexibility is the physical quality used by the largest number of sports, which is paramount to performance in athletics. The present study aimed to verify the level of flexibility of young athletes track and field category pre-mirim, making a comparison between genders. Methodology: The study included 42 young athletes of both genders, 18 girls and 24 boys. We measured height and body mass of all athletes and subsequently performed the evaluation of Flexisteste Adapted. The motions were: Hip flexion (CF) Hip Extension (EQ), Hip Abduction (ABDQ), trunk flexion (FT), Lateral Trunk Flexion (FLT), Extension + Shoulder Adduction (EADO) Posterior Shoulder adduction from 180 of abduction (BFA), Extension of Posterior Shoulder (EPO). Results: In both genders, the highest values were found in the movement of ABDQ and lower values for the movement of EPO. From the results observed in Flexindex, flexibility was classified to the group of girls and boys: very large (hypermobility) and large, respectively. There were no statistically significant differences between the flexibility of practicing athletics category of pre-mirim in both genders. Conclusion: From the findings presented in this study and noting the paucity in the literature regarding the evaluation of the level of flexibility in younger athletes, highlights the importance of developing other studies in this context. Keywords: Flexibility. Flexitest. Young athletes. Track and field. Coleção Pesquisa em Educação Física - Vol.11, n.6, ISSN:
3 INTRODUÇÃO A flexibilidade é imprescindível para a realização de qualquer tarefa diária como banhar-se, abaixar para pegar algo no chão ou amarrar os sapatos, pentear-se, banhar-se, entre outras (ACSM, 1998). É definida pela capacidade de se movimentar por meio de uma imensa amplitude de movimentos disponível para determinada articulação ou grupo de articulações (HOFFMAN, SHELDAHL e KRAEMER, 2001). Pode se manifestar de maneira ativa e passiva, sendo: ativa a maior amplitude que um indivíduo possa realizar contraindo a musculatura agonista; e passiva a maior amplitude de movimento de uma articulação, podendo o indivíduo obter uma ajuda externa a articulação, como por exemplo, a de um parceiro, aparelho, ou outros seguimentos corporais (MATSUDO, 2010). Uma das principais variáveis da aptidão física relacionada à saúde e ao desempenho esportivo é a flexibilidade (ARAÚJO e ARAÚJO, 2000). Essencialmente, tal variável fisiológica é resultante da capacidade de elasticidade demonstrada pelos músculos e tecidos conectivos, combinados à mobilidade articular (WEINECK, 1991). A flexibilidade auxilia no treinamento do atleta, à medida que permite desenvolver determinados movimentos e habilidades com certa destreza, protegendo contra lesões. Quanto maior a dedicação aos exercícios de flexibilidade nos períodos de pré-puberdade e puberdade, menor o surgimento de problemas ao longo do treinamento (BOMPA, 2002). Existem diversos protocolos utilizados para avaliar a flexibilidade, sendo o teste de sentar e alcançar (Sit-and-reach Test) proposto por Wells e Dillon (1952) um dos mais conhecidos e comumente aplicado (HUI et al., 1999), apesar de haver limitação ao mensurar apenas a flexibilidade da musculatura isquiotibial e da região lombar. Sabe-se que o nível flexibilidade varia nas diversas articulações e nos movimentos corporais, sendo comum encontrar adequadas amplitudes para determinados movimentos e limitada para outras articulações em um mesmo indivíduo, representando o que convencionou denominar especificidade da flexibilidade (DICKINSON, 1968). Buscando avaliar a flexibilidade de modo mais específico, Pavel e Araujo (1980) desenvolveram o Flexiteste, instrumento utilizado para avaliar a mobilidade passiva de 20 movimentos articulares, os quais são quantificados em uma escala ordinal obtendo um escore global denominado Flexíndice. Objetivando reduzir o tempo e facilitar a avaliação da flexibilidade multiarticular, Farinatti e Monteiro (2000) desenvolveram o Flexiteste Adaptado envolvendo apenas oito movimentos articulares. A pretensão de analisar especificamente os resultados dos testes se dá com intuito de revelar quais são os efeitos dos exercícios de alongamento na saúde, na doença ou no esporte (ACHOUR JR., 1999). A flexibilidade é a qualidade física utilizada pelo maior número de esportes (SOARES et al., 2005), sendo de grande relevância para o desempenho no atletismo. Corbin (1984) aponta que tipos específicos de flexibilidade podem melhorar o desempenho no salto em distância, velocidade de corrida, arremessos e nas corridas com barreiras e obstáculos. Segundo Fernandes et al., (2002), o desenvolvimento da flexibilidade facilita o aperfeiçoamento das técnicas do treinamento desportivo, condiciona um aprimoramento na agilidade, velocidade e força, previne o aparecimento lesões, bem como aumenta a capacidade mecânica dos músculos e articulações, permitindo um aproveitamento mais econômico da energia durante o esforço. Corbin (1980) destaca que no período marcado por grandes modificações corporais pode haver a diminuição da capacidade de flexibilidade. No entanto, a literatura tem apresentado o nível de flexibilidade especificamente de atletas adultos de atletismo, sendo escassos os estudos que foquem níveis de flexibilidade de atletas da categoria pré-mirim desta modalidade. Devido à insuficiência de estudos que apresente o nível de flexibilidade de atletas mais jovens, além da importância de se verificar a variável nesta fase marcada por intensas modificações, o objetivo do presente estudo foi verificar o nível de flexibilidade de jovens atletas de atletismo, comparando esta variável entre os gêneros. MATERIAIS E MÉTODOS Amostra A seleção da amostra foi do tipo intencional não probabilística. Foram convidados a participar da 82 Coleção Pesquisa em Educação Física - Vol.11, n.6, ISSN:
4 pesquisa todos os alunos integrantes do Centro Regional de Iniciação ao Atletismo (CRIA-UFJF), projeto de extensão que é desenvolvido pela Universidade Federal de Juiz de Fora, em parceria com a Prefeitura Municipal de Juiz de Fora. Os atletas que apresentavam a assinatura do Termo de consentimento Livre e Esclarecido TCLE (Resolução nº. 196, de 10 de outubro de 1996 do Conselho Nacional de Saúde, que regulamenta pesquisas que envolvem seres humanos), por seus pais ou responsáveis, garantiam sua participação no estudo. Foram excluídos atletas que não completaram todas as avaliações propostas. Portanto, foram avaliados 42 jovens atletas, de ambos os gêneros e com idade entre 11 e 13 anos. Protocolo experimental O protocolo foi desenvolvido em apenas uma sessão experimental. Todas as avaliações foram realizadas pela equipe de professor e monitores do CRIA-UFJF, devidamente treinados, no Laboratório de Avaliação Motora da Faculdade de Educação Física e Desportos da Universidade Federal de Juiz de Fora. A coleta de dados foi realizada pelas duas seguintes etapas: Antropometria Para mensurar a massa corporal foi utilizada uma balança digital da marca Filizola, modelo ID1500, com precisão de 100g, na qual o atleta foi orientado a subir descalço e trajando roupas leves. A estatura foi mensurada por meio do estadiômetro Welmy, modelo W200/5, com precisão de 0,1cm, no qual o atleta foi orientado a subir descalço, se posicionar em pé, com cabeça, nádegas e calcanhares alinhados e encostados ao estadiômetro, com a cabeça no plano horizontal de Frankfurt. Por meio das medidas de massa corporal e estatura, calculou-se o índice de massa corporal (IMC) pela seguinte equação: [Massa (kg) / estatura (m)²] (POLLOCK e WILMORE, 1993). Flexibilidade Para avaliação da flexibilidade foi utilizado o protocolo do Flexiteste Adaptado proposto por Farinatti e Monteiro (2000), que avalia de forma indireta a amplitude passiva máxima de oito movimentos articulares. Foram avaliados os seguintes movimentos: Flexão de Quadril (FQ), Extensão de Quadril (EQ), Abdução de Quadril (ABDQ), Flexão de Tronco (FT), Flexão Lateral do Tronco (FLT), Extensão + Adução de Ombro (EADO), Adução Posterior de ombro a partir de 180 o de abdução (ADPO), Extensão Posterior de Ombro (EPO) (Figura 1). Figura 1. Movimentos do teste Flexiteste Adaptado proposto por Farinatti e Monteiro (2000). O protocolo desenvolvido foi previamente testado pelos avaliadores, que deveriam realizar a movimentação nos avaliados, respeitando seu limite máximo articular e comparavam o grau de amplitude atingido à escala de movimentos proposta por Pavel e Araujo (1980). Cada movimento é discriminado em pontuações que variam de zero a quatro, sendo que somente números inteiros podem ser atribuídos aos Coleção Pesquisa em Educação Física - Vol.11, n.6, ISSN:
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7 DISCUSSÃO Na modalidade relatada no presente estudo é fundamental a execução de alongamentos para o treinamento da flexibilidade, pois auxiliam a dissipar o lactato residual, sustentando a viscosidade e elasticidade do tecido conjuntivo, o qual recobre as fibras musculares (FARINATTI e MONTEIRO, 2000). Para análise da flexibilidade optou-se pelo Flexiteste Adaptado, pois se trata de um protocolo de fácil e rápida aplicação, não necessita de aparelhos sofisticados, além de estar sendo utilizado em muitos trabalhos, com intuito de avaliar esta variável fisiológica no ambiente desportivo (BARROS e AMORIM, 1999). Não foram encontradas diferenças entre a flexibilidade dos meninos e meninas. Este achado vai de encontro com diversos estudos apresentados na literatura, os quais relatam que a amplitude de movimento das meninas é maior do que a dos meninos (EGRI e YOSHINARRI, 1999; SECKIN et al., 2005). Assim, os resultados supracitados se assemelham aos encontrados por Melo et al.,(2011), que avaliaram a flexibilidade de 43 meninos e 60 meninas, e não foram observadas diferenças significativas entre os gêneros. Ainda, corroborando com estes achados, Lamari, Chueire e Cordeiro, (2005) avaliaram a flexibilidade de 214 japoneses, e não houve diferença significativa entre os gêneros. No presente estudo, uma hipótese que explique a semelhança entre os gêneros na flexibilidade, pode dever-se ao fato de que ambos os grupos fazem parte da mesma equipe, são treinados por um mesmo grupo de pessoas e realizam os mesmos exercícios, refletindo no aprimoramento da amplitude de movimento. Outro estudo, o qual apresenta concordância com os presentes resultados, buscou identificar as influências do gênero, da idade e sua interação com os níveis de flexibilidade em 292 alunos inscritos no ensino fundamental, porém, verificaram que embora não tenham observado influência significativa do gênero nos níveis de flexibilidade, o gênero feminino apresentou tendência para elevados níveis de flexibilidade de comparado aos meninos, com exceção da idade de nove anos (NOLL e SÁ, 2008). Analisando os oito movimentos de forma singular, foram encontrados valores satisfatórios de flexibilidade nos meninos para o movimento de ABDQ, sendo este resultado semelhante ao exposto por Paiva Neto, Peres e De Oliveira (2006), ao avaliar 629 homens com idade entre 17 e 60 anos. Apesar dos valores dos meninos terem sido superiores aos das meninas em alguns movimentos, não foram encontradas diferenças estatísticas significativas, sendo uma possível explicação a utilização de um modelo de treinamento de flexibilidade que envolva grande número de articulações por sessão de treino para todos os atletas. Araújo (2008) coloca que atletas tendem a apresentar níveis de flexibilidade melhores do que a população em geral, como é o caso do atual estudo, o qual se trata de jovens atletas de atletismo. Alter (1999) descreve que os melhores níveis de flexibilidade são atingidos na passagem da infância para a adolescência, fase esta em que se encontram os avaliados deste estudo. Por fim, tanto os meninos quanto as meninas apresentaram excelentes valores de flexibilidade, sendo classificados em muito grande (hipermibilidade) e grande, respectivamente. A energia consequente da juventude e a boa aceitação do programa de treinamento físico podem ser uma razão para a ocorrência de tal fato. CONCLUSÃO Não foram encontradas diferenças estatísticas na flexibilidade de meninos e meninas pertencentes à categoria pré-mirim de atletismo. Os jovens atletas de atletismo do estudo em questão apresentaram excelentes valores de flexibilidade. Conforme os resultados que o Flexiteste Adaptado fornece, é possível estabelecer quais grupos musculares precisam de maiores índices de alongamento, além de, no geral, respaldar quanto aos benefícios de tais exercícios na prática da iniciação esportiva. A partir dos achados apresentados neste estudo e constatando a escassez na literatura quanto à avaliação do nível de flexibilidade em atletas mais jovens, destacamos a importância da elaboração de novos estudos neste contexto com um maior número de atletas, em diferentes faixas etárias e de ambos os sexos. 86 Coleção Pesquisa em Educação Física - Vol.11, n.6, ISSN:
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