DE_COMPOSIÇÃO? ARLINDO DE SOUSA ABREU - ASA

Transcrição

1 DE_COMPOSIÇÃO? ARLINDO DE SOUSA ABREU - ASA

2 DE_COMPOSIÇÃO? De_Composição?, dentro do universo da representação, é um processo de transformação da matéria sonora em matéria gráficovisual. A dialética música-imagem, que engloba toda a combinação de elementos sonoros destinados a serem percebidos pela audição e visão, inclui: altura, duração, intensidade e timbre nos elementos gráficos de intensidade da cor; ritmo, melodia e harmonia no movimento e complexidade geométrica e forma em textura e projeção arquitetónica. Na forma de perceção música-imagem, os estímulos ocorrentes do órgão dos sentidos geram uma subjetividade controversa de interpretação, na medida em que, do ponto de vista da hermenêutica, o criador/compositor/artista encerra em si os segredos de toda e qualquer interpretação e forma de criação. Os materiais apresentados no projeto De_Composição? não são estáticos pois são passíveis de transformação de pigmentação e de forma ao longo dos anos: - Papel pautado - apresentando sinais do tempo por se tratar de papel pautado de edições musicais antigas (de 1900 a 1940), prosseguem o seu envelhecimento natural de transformação da pigmentação; - Goma laca - que tem no processo de preparação a transformação da goma laca asa de barata e goma laca desparafinada em verniz viscoso mediante a dissolução em álcool com pigmentação, intensificando a cor ao longo dos tempos; - Textura - as projeções gráfico-visual apresentadas, dado o seu relevo, poderão ceder com o tempo mas sempre deixando antever a estrutura inicial. De_Composição?, partindo de uma seleção músico-visual subjetiva, é um projeto em constante movimento de transformação de homenagem a todos os músicos do Concelho de Câmara de Lobos que, na Região Autónoma da Madeira, apresenta uma predisposição natural para o ensino e aprendizagem da música. Arlindo de Sousa Abreu - ASA

3 Ritmos, Musicalidades, Materiais transformados com ritmo, Movimento. Materiais brutos, Aplicados com suavidade formal, Com continuidade descontínua. Como fruidora procuro a musicalidade das formas, os meus olhos percorrem cada linha, cada material, cada conjugação à procura de alimentar a alma com os sons que saem de cada uma das obras. Sinto a união entre as várias formas de expressão. A geometrização das formas com delicados toques de cor que permitem todo um conjunto de formas equilibradas, musicadas e capazes de prender o olhar com espetativa e avidez de seguir um som silenciado auditivamente e musical visualmente. Lurdes Ferro

4 DES_COM_TEXTO Fecho os olhos e as memórias dizem-me o Mar. Retorno ao lugar inicial e vejo a dança bruta do vento com as ondas, a ir e a vir nos sons primitivos desse tempo. Tapo os ouvidos e pressinto o movimento das vespas em redor da Angústia, em volta do Eu-ser. A massa sonora invade-me. Perplexizo e recolho-me. Abro as mãos e recolho os meus fragmentos dispersos. Milimétricos. Enrolo-os, compondo mentalmente as verdades que anseio. Espero. Tateio as linhas organizadas do meu texto. Materializo na simetria a busca do Azul, Espaço-Tempo a que almejo chegar. E partir. Escuto o inefável no pulsar universal que a rutura não adivinha. Do indefinido nasce a linha que ascende ao Sonho. Da noite surge a possibilidade, hibridez onde talvez possa sitiar o meu éden. Levanto os olhos e vejo. O Jardim. E nessa frondura apaziguo todos os outonos. Desconstruo então os complexos, urbanos, eus diversos, emprensados na negrura que vivemos. Fecho os olhos. Encontro e perco o Azul no vai e vem, foge e volta dos sentidos. Regresso à Ilha perdida. Daí partirei sempre. Helena Marques

5 CLUSTER Conjunto de nove lâminas compostas pela sobreposição em três camadas de papel aguarela e papel pautado recortado, tendo como ponto de partida a obra musical Cluster de Henry Cowel x91.5 ( mancha 121x83.5 )

6 PARC DEL LABERINT - Barcelona

7 Parc del Laberint - Barceloina, da série Le Jardin Féerique de M. Ravel, é uma projeção arquitetónica composta por uma folha de papel aguarela recortada e pintada a aguarela. 40x40 (mancha 30x30)

8 CLAPPING MUSIC Transposição gráfica da partitura da obra Clapping Music do compositor Steve Reich para um formato 3D, composto por quatro placas de sobreposição de papel pautado e papel aguarela, cada uma com cinco folhas, tendo sido pintadas com aguarela. 76.5x69 ( mancha 58x49.5)

9 COSMIC PULSES Placa composta pela sobreposição de cinco folhas de papel aguarela e papel pautado, apresentando intervenção de caneta de feltro. O padrão apresenta uma progressão geométrica do canto inferior direito para o canto superior esquerdo, tendendo para o infinito cósmico. O ponto de partida é a obra Cosmic Pulses de K. Stockhausen. 58.5x46 ( mancha 40x28.5)

10 DIE KUNST DER FUGE Placa composta pela sobreposição de cinco folhas de papel aguarela e papel pautado, apresentando intervenção de lápis de grafiti. O padrão encontra-se espelhado do centro para o topo superior e inferior, numa explícita referência à fuga espelhada contida no diversificado trabalho de fugas que constam no livro Die Kunst der Fuge de J.S. Bach. 58.5x46 ( mancha 40x28.5)

11 LUX AETERNA Lux Aeterna apresenta uma progressão e profundidade geométrica do centro para as periferias, mantendo a mesma intensidade de pigmentação da aguarela, numa constante referência tímbrica vocal e formal à obra do compositor G. Ligeti. 46X56 ( mancha 21x28.5 )

12 600 LINES CITY LIFE Linhas paralelas verticais, de cores tímbricas suaves, que nos remetem para os constantes e repetitivos flashes sonoros da obra de Philip Glass. Combinação de vários tipos de papel de diferentes texturas prensados e recortados. 64x55 ( mancha 48x39 ) O frenético quotidiano citadino, de constantes gestos rotineiros stressantes, que nos remetem para um condensado número de imagens arquitetónicas com ordem e desordem, numa paisagem sonora ruidosa. São imagens de equilíbrio e caos numa imaginária referência às favelas, cidades proibidas e guetos. Da obra musical de Steve Reich, e numa clara referência aos elementos simples e repetitivos, à composição da mancha formada por 700 cubos de papel de diferentes texturas, formando um relevo desnivelado em constante movimento. 67x55 ( mancha 54x39 )

13 ATONALITY Desintegração resultante da passagem do sistema tonal para o sistema atonal, estabelecendo um corte com o antigo ao introduzir uma linguagem musical cromática com recurso à escala dodecafónica, dando igual destaque a todas as notas. Trata-se de uma pontual referência ao expressionismo musical introduzido por A. Schöenberg. Obra pertencente ao colecionador particular João Miguel Gonçalves Rodrigues.

14 GALLUS GALLUS Gallus Gallus é uma serigrafia de Pedro Kaliambai em coautoria, que, dada a sua textura, mereceu um certificado de exemplar único pelo Centro Português de Serigrafia. A obra é composta aproximadamente por 1400 rolinhos de papel pautado de diferentes tamanhos, resultando numa volumetria de clara referência à imagem projetada por Pedro Kaliambai. Trabalho pertencente ao colecionador particular Vitor Freire

15 LE JARDIN DE DOLLY Partindo de Le Jardin de Dolly (da obra Dolly op. 56 de G. Fauré), é projetado este trabalho como um estudo para os bordados típicos da Madeira, sendo composto por 1200 rolinhos de papel pautado e âmbar oriundo de San Cristóbal de las Casas, México. 57x38 ( mancha 52x33 )

16 13x7 E 7X13 THRENODY I: NIGHT OF THE ELECTRONIC INSECTS, Black Angels 3x7 e 7X13 Threnody I: NIght of the Electronic Insects, primeiro fragmento da obra Black Angels de G. Crumb, é o ponto de partida para a construção deste trabalho em forma de favo de insetos formado por 3200 rolinhos de papel pautado, alguns com aplicação de pequenos pontos de pigmentação preta em grupos de 13 ou 7, numa clara referência aos andamentos da obra que são substituídos pelos números e que aqui pretendem representar excrementos de insetos. A textura do trabalho projeta nele sombras que lhe conferem movimento e densidade, fruto do primeiro impacto auditivo que nos remete para um intermitente zumbido provocado pelos insetos. 38x53 ( mancha 20x35.5 )

17 GOD MUSIC, Black Angels O trabalho apresentado em torno de God Music, décimo fragmento da obra Black Angels de G. Crumb, integrando a secção do retorno, é uma referência ao ponto de partida do anjo banido do céu, num plano simbólico do bem. As delineadas formas fazem referência a um todo coeso, ordenado e equilibrado, projetado numa combinação dos números 7 e 13. A obra é composta aproximadamente por 1500 rolinhos de papel pautado de diferentes tamanhos. 36x36 ( mancha 18x18 )

18 LA MER DE L`AUBE À MIDI SUR MER JEUX DES VAGUES DIALOGUE DU VENT ET DE LA MER "Não ouço, não vejo e não sinto o mar!" (Pierre Lalo). Tríptico constituído por 3 litogravuras feitas através da pedra basalto da Ilha da Madeira, tendo por base a obra impressionista de C. Debussy, La Mer, numa intenção sonora de "lembranças e sentimentos que evocam o mar." Três imagens de uma adolescência... Dimensão de cada litogravura 77x29.8 ( mancha 60x19 )

19 SPIEGEL IM SPIEGEL Da obra Spiegel im Spiegel, espelhos dos espelhos, do compositor Arvo Part, nasce esta projeção arquitetónica realizada sobre uma placa espelhada e pretende conferir e refletir uma infinidade de projeções que, num primeiro olhar, não desvenda as trajetórias das linhas de uma pauta, ficando confinada à imagem refletida do observador. 48x48 (mancha 29x29 )

20 POÈME SINFONIQUE POUR 100 MÉTRONOMES Do hipnotizante movimento contínuo dos pêndulos dos metrónomos de formato triangular ao complexo interlaçado dos triângulos da obra. A complexidade rítmica e de movimentos do pêndulo dos metrónomos da obra Poème Sinfonique de G. Ligeti marca todo o movimento e projeção de sombras deste trabalho. 45.5x45.5 ( mancha 28x28 )

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22 METASTASIS Metastasis, da obra do compositor grego Iannis Xenakis, onde a partitura quase parece um projeto, é uma projeção arquitetónica que cria um jogo de sombras provocados pelo interlaçado jogo do corte do papel. 49x49 ( mancha 30x30 )

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24 LE JARDIN FÉERIQUE, Ma Mère L` Oye Da obra Le Jardin Féerique de Ma Mère L`Oye de M. Ravel, surge este labiríntico jogo de recortes de papel de evocação à diversidade floral da Ilha da Madeira. 49x49 ( mancha 30x30 )

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26 LA CATHEDRAL ENGLOTIE Do traço marcado, direcionando o olhar em múltiplas direções, à janela que insinua um movimento rotativo e vivo... um constante imaginário idealizado na tentativa de deixar antever uma catedral submersa. A inquietante cor tímbrica da harmonia, o sugerir sem descrever, as contidas e exageradas sequências de dinâmicas constantes na obra La Cathedral Englotie de C. Debussy, são transpostos para o trabalho numa insinuosa fragilidade da projeção. 164x125 ( mancha 153x112 )

27 LE JARDIN SUSPENDU "O Jardim Suspenso, é o ideal perpetuamente perseguido e fugitivo do artista, é o refúgio inacessível e inviolável." Palavras do próprio compositor, Jehan Alain 115x85 ( mancha 100x70 )

28 THE COMPOSER IS DEAD VERKLARTE NACHT METAMORPHOSIS V Três gomas lacas de calor tímbrico bem acentuado, das temáticas das obras musicais: The Composer is Dead de Nathaniel Stookey; Verklarte Nacht de A. Shoenberg e Metamorphosis V de Philip Glass. Dimensão de cada trabalho 77.5x63 (

29 OTOÑO EN ARANJUEZ NOCHES EN LOS JARDÍNES DE ESPAÑA "... fragrância das magnólias, o canto dos pássaros e o jorro das fontes nos jardins de Aranjuez." Segundo andamento do concerto de Aranjuez de J. Rodrigo. Goma laca sobre tela. 100x100 Noite nos Jardins de Espanha é uma obra sinfónica de Manuel de Falla, caraterizada pelo mesmo como "Impresiones sinfónicas." Partindo do trabalho do grande mestre espanhol, a obra aqui apresentada sugere impressões imaginárias dos jardins de Espanha, que na voz de Joaquín Turina se traduz em "um drama íntimo e apaixonado." 100x100

30 Arlindo Abreu, professor profissionalizado de Ed. Musical do 3º Ciclo, licenciado em Ciências Musicais pela Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa e pós-graduação em Música y Teoria pela Univerdad de Salamanca. Consultor dos manuais 100% Música da Texto Editora e autor da revista de passatempos do referido manual; frequentou vários cursos de pedagogia musical, análise, direção coral e frequentador, com alguma regularidade, de congressos de musicologia. A música é a base de todo os seus trabalhos artísticos iniciados em O início dos trabalhos ficou marcado por uma preciosa herança: um baú cheio de partituras para piano de edições antigas, prontas para serem recicladas, dando formas e texturas estéticas a tanto papel, ligando à paixão pessoal pela música contemporânea, numa tentativa de recriar a música ou as ideias dos compositores, dando-lhes formas, texturas, cor, sentido e alma. A ideia geral da obra está sempre na base dos trabalhos, umas vezes têm presente a forma musical, outras a linguagem, o colorido tímbrico, a mensagem, etc.

31 ARLINDO DE SOUA ABREU - ASA DES_COM_TEXTO