30 anos de Itepa Revista CCI Instituto de Teologia e Pastoral

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1 Ano XXVII Agosto/2013 ISSN X 30 anos de Itepa Pe. Rogério L. Zanini Pe. Ivanir Antonio Rampon Pe. Nelson Tonello Equipe de Pesquisa sobre Religiosidade Popular Mariana Pe. Jair Carlesso Ir. Deuza Maria da Silva Moura Revista CCI Instituto de Teologia e Pastoral

2 2013, CCI, Caminhando Com o Itepa Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra poderá ser reproduzida, arquivada em qualquer sistema ou transmitida, por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônicos, mecânico, fotocopiado por outra qualquer) sem a prévia permissão por escrito dos diretores de Caminhando Com o Itepa. Diretoria do Itepa Diretor Executivo: Pe. Ivanir Rodighero Vice-Diretor Executivo: Pe. Ademir Rubini Administrador Tesoureiro: Pe. Cleocir Bonetti Secretário: Pe. Jair Carlesso Conselho Editorial : Pe. Alexander Mello Jaeger, Pe. Elli Benincá, Pe. Ivanir Rodighero, Pe. Clair Favreto, Pe. Claúdio Prescendo, Pe. Valter Girelli, Pe. Ivanir Rampon, Pe. Elisandro Fiametti, Pe. Ari Antônio dos Reis, Pe. José André da Costa, Pe. Leo Pessini, Pe. Leomar Brustolin, Pe. Maicon Rodrigo Rosseto, Pe. Neuro Zambam, João Carlos Tedesco, Neri Mezadri, Cláudio Almir Dalbosco. Diretoria Coordenação Cleber Pagliochi - Coordenador da Revista Tiago André Guimarães Vice-coordenação André Varisa Tesoureiro Alencar Caratti Secretário Eunice Maria Mallmann Revisão Giovani Momo Revisão Eberson Fontana Revisão Douglas Batisti - Revisão Pe. Diego Tonet Professor Responsável Pe. Anderson Faenello - Professor Responsável Secretariado Geral FACULDADE DE TEOLOGIA E CIÊNCIAS HUMANAS ITEPA FACULDADES Revista Caminhando Com o Itepa - CCI Rua Senador Pinheiro, 350 Vila Rodrigues, Passo Fundo - RS CEP: Fone: (54) revista@itepa.com.br

3 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação - CIP C183 Caminhando com o Itepa, Vol. 1, n. 1 (1984-) / Instituto de Teologia e Pastoral. Passo Fundo: ITEPA, v. Trimestral ISSN X 1. Teologia - periódicos I. Instituto de Teologia e Pastoral - ITEPA Catalogação na fonte: Bibliotecário Rodrigo Silva Caxias de Sousa CRB-10/1448 A revista Caminhando com o Itepa é uma publicação trimestral do Instituto de Teologia e Pastoral (Itepa), fundada em setembro de Os artigos são de inteira responsabilidade de seus autores e estarão sujeitos à revisão.

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5 SUMÁRIO EDITORIAL Diác. Eberson Fontana... 7 ARTIGOS O Reino de Deus e as vítimas da história: uma abordagem segundo a cristologia de Jon Sobrino Pe. Rogério L. Zanini O Caminho Espiritual de Dom Helder Camara Dr. Ivanir Antonio Rampon A Bíblia no Itepa Pe. Nelson Tonello Romaria de Nossa Senhora Aparecida: um encontro solidário entre religiosidade popular e teologia oficial Equipe de Pesquisa sobre Religiosidade Popular Mariana Salmos: a oração do povo de Deus Pe. Jair Carlesso A misericórdia de Deus: raiz de toda profecia Ir. Deuza Maria da Silva Moura Pe. Nelson Tonello... 73

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7 Editorial Somos berço de esperança! Buscando tornar cada vez mais vivo o seu lema, o Itepa Faculdades chega aos seus 30 anos de existência. Foi uma caminhada que se deu entre alegrias e dificuldades, tendo em vista a construção do Reino de Deus. A revista Caminhando com o Itepa também faz parte desta história e, por isso, preparamos uma edição comemorativa, brindando você, amigo leitor, com reflexões intimamente ligadas à vida do Instituto. Queremos, nesta data marcante, estender o nosso abraço a todos os responsáveis por esta história de amor e doação chamada Itepa Faculdades. Muitas pessoas doaram o melhor de suas vidas e de seu esforço para manter em pé este projeto que muito contribuiu com a formação teológico-pastoral de centenas de sacerdotes das dioceses do Norte do Rio Grande do Sul e do Oeste de Santa Catarina, além de milhares de leigos destes locais. É um processo que não pode parar. Buscando expor de alguma forma a riqueza das reflexões já desenvolvidas no Itepa, o primeiro artigo desta edição, intitulado O Reino de Deus e as vítimas da história: uma abordagem segundo a cristologia de Jon Sobrino, é de autoria do Pe. Rogério L. Zanini. O escrito foi feito a partir de sua dissertação de mestrado e visa averiguar a consistência da relação entre Reino de Deus e as vítimas da história. A temática e a abordagem estão ligadas com a vida do Itepa, na medida em que tem presente a Boa Notícia de Jesus ao povo pobre e necessitado de esperança. Na sequência, o Pe. Ivanir Antonio Rampom brinda a todos com o texto O Caminho Espiritual de Dom Helder Camara. O artigo apresenta sua tese de doutorado, que carrega o mesmo título, recentemente publicada pela Editora Paulinas. Como reflete o autor, a originalidade de sua obra reside na busca por delinear o caminho espiritual trilhado por aquele que foi um dos mais influentes bispos presentes no Concílio Vaticano II. Seu testemunho de vida e ideais marcaram a vida de fé do povo brasileiro e transformaram a face da Igreja latino-americana. Caminhando Caminhando com o Itepa - ano com XXVII o Itepa - n Ano - agosto/2013 XXVII - n agosto/ p. 7-9

8 Editorial A Bíblia no Itepa. Com este título, Pe. Nelson Tonello apresenta os elementos centrais que marcam a construção da identidade do Itepa. Foi do Pe. Comblim a provocação segundo a qual A Bíblia deve ser sempre o coração e a espinha dorsal de uma instituição de reflexão teológica e pastoral. Sendo fonte e alma para a vida do cristão, sabemos que a Palavra Viva foi um dos principais pilares para a consolidação da espiritualidade experienciada e semeada no Itepa. Outra marca do Itepa é o empenho dos grupos de pesquisa. A partir de sua experiência de reflexão que atravessa décadas, a Equipe de Pesquisa sobre Religiosidade Popular Mariana partilha seu texto Romaria de Nossa Senhora Aparecida: um encontro solidário entre religiosidade popular e teologia oficial. A profundidade do escrito, que nasceu de um ousado processo de pesquisa e reflexão, tem muito a contribuir para a compreensão da religiosidade popular em suas especificidades, tanto na região, quanto em âmbito nacional. Os salmos estão entre as grandes fontes da espiritualidade cristã. Buscando explicitar sua profundidade e riqueza, o Pe. Jair Carlesso partilha a pesquisa: Salmos, a oração do povo de Deus. Sua vasta experiência na área bíblica possibilita ao leitor penetrar no complexo terreno da exegese bíblica em um texto que se torna rico por ser acessível em sua linguagem e profundo na sistematização do conhecimento bíblico em relação aos Salmos. Como diz o autor, eles são a síntese da Bíblia feita oração. Encerramos esta edição especial com o texto A misericórdia de Deus: raiz de toda profecia. Escrito pela Ir. Deuza Maria da Silva Moura, em conjunto com o Pe. Nelson Tonello, esta breve reflexão aprofunda a analogia entre a profecia e misericórdia. É um texto de esperança, pois Só a misericórdia nos faz apostar no sonho da fraternidade, alicerçado na justiça e no direito (Am 5,24). A equipe da Revista CCI, juntamente com todos os estudantes, professores e a direção do Itepa Faculdades, deseja que você, amigo leitor, possa comemorar conosco este momento ímpar em nossa história. Que 8 Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n agosto/2013

9 os artigos desta edição possam lhe ajudar a resgatar o espírito dentro do qual o Itepa Faculdades sempre caminhou, e possibilitem vislumbrar luzes para os próximos passos a serem dados. Abraços fraternos! Diác. Eberson Fontana Diác. Eberson Fontana Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n agosto/2013 9

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11 Artigos

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13 O Reino de Deus e as vítimas da história: uma abordagem segundo a cristologia de Jon Sobrino 1 Pe. Rogério L. Zanini Pe. Rogério L. Zanini 2 O objetivo de nossa pesquisa foi compreender a categoria Reino de Deus e sua relação com as vítimas da história. Buscou-se averiguar o que existe de consistência entre Reino de Deus e as vítimas segundo o pensamento cristológico de Jon Sobrino. Até que ponto é possível afirmar que o Reino de Deus é das vítimas da história? Outros teólogos, não obstante, questionam esta aliança. Falar das vítimas não é assumir um pensamento vitimista ou sacrificialista? A perspectiva das vítimas não obscurece a transcendência de Deus? A descoberta da centralidade do Reino de Deus na vida de Jesus é algo muito recente. Por muito tempo o Reino de Deus não foi considerado elemento estruturante na vida de Jesus. Segundo Jon Sobrino, foi somente a partir do começo do século XX que se descobriu a importância do Reino de Deus no centro da pregação de Jesus. Significa dizer que, por mais de dezenove séculos, nem a cristologia nem os concílios levaram em conta o Reino de Deus pregado por Jesus. 3 Com a descoberta, no entanto, muitas cristologias, sobretudo as de caráter conciliar, o converteram em tema central. 4 Foi sobretudo a partir da década de 1960, com o impacto da modernidade, que a América Latina se comprometeu com uma cristologia que deu aos cristãos a base da práxis para conduzir os processos históricos de 1 Pesquisa de mestrado apresentada na PUC do Rio Grande do Sul sob a orientação do professor Érico J. Hammes. 2 Mestre em Teologia Dogmática pela PUC-RS. Graduado em Teologia, Itepa, Passo Fundo, RS; Graduado em História, UNOESC, Chapecó, SC. 3 SOBRINO, Jon. O reino de Deus e Jesus. In. Concilium. n. 326, p Ibidem, p. 67. Caminhando Caminhando com o Itepa com - ano o XXVII Itepa - n Ano -agosto/2013 XXVII - n agosto/ p

14 O Reino de Deus e as vítimas da história: uma abordagem segundo a cristologia de Jon Sobrino libertação. A reflexão teológica latino-americana levantou suspeitas sobre certas cristologias clássicas e contemporâneas que ignoravam valores fundamentais da pregação e atuação de Jesus de Nazaré. 5 A figura de Jesus ficava obscurecida, e disso decorriam funestas consequências, especialmente estas três: 6 a) redução de Cristo à abstração, mesmo que sublime separação do Cristo total da história concreta de Jesus; b) apresentação do Cristo como reconciliação universal sem nenhuma dialética, sem denúncia profética do Jesus das bem-aventuranças sem as mal-aventuranças, do Jesus que ama indistintamente a todos os homens sem dar atenção ao pobre e ao oprimido; c) tendência à absolutização de Cristo sem vinculá-lo a dialética alguma. Essa volta a Jesus foi muito fecunda para a construção de uma cristologia com novos marcos interpretativos a partir da realidade latino-americana, bem como para tomar-se consciência da impossibilidade de reconhecer Jesus sem sua referência ao Reino de Deus. Ambos os polos foram, então, se esclarecendo mutuamente. Atualmente, não sem dificuldades, são muitos os teólogos que consideram a realidade do Reino de Deus central na teologia. Esta pesquisa, no entanto, se concentra no pensamento teológico de Jon Sobrino. Mais especificamente: interessa averiguar a importância do Reino de Deus e sua relação com as vítimas da história. Tomamos este teólogo porque seu pensamento teológico é considerado, seja pelo seu volume, seja pela contundência de seus conteúdos, uma obra monumental. Sua vasta produção de escritos teológicos, tornam-se passagem obrigatória para uma reflexão teológica, sobretudo se tratando da cristologia, pois é onde sua reflexão mais caminhou durante os últimos trinta anos. Prova disso são as pesquisas já realizadas sobre sua teologia. Dentro da proposta teológica de Jon Sobrino, as vítimas da história, Jesus histórico e o seguimento de Jesus mantêm uma relação profunda entre si. Por três eixos perpassam a originalidade e a relevância de sua cristologia. Sem considerar esta articulação, dificilmente compreende-se a proposta vital e radicalmente comprometida com as vítimas da história. 5 Cf. Idem. Cristologia a partir da América Latina, p Cf. SOBRINO, Jon. Cristologia a partir da América Latina, p ; Cf. GIBELLINI, Rosino. A Teologia do Século XX, p Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n agosto/2013

15 Jon Sobrino, ao tomar como ponto de partida metodológico o Jesus histórico, percebe que Jesus não fez de si o centro do seu anúncio, mas que articulou sua vida tendo como horizonte escatológico o Reino de Deus. Jesus anunciou, viveu e morreu pela causa do Reino de Deus. O Reino foi a razão absoluta da vida e o motivo da sua morte na cruz. Essa centralidade do Reino de Deus na vida de Jesus foi uma descoberta muito importante para a teologia. No entanto, aos poucos foi desaparecendo do pensar cristológico, a tal ponto que séculos seguintes tomaria uma direção na qual o Reino praticamente desapareceria da fé cristã. Com esse eclipse, não se vê mais a necessidade de historização do Reino de Deus anunciado por Jesus. Tipificando, apareceram na história três formas de distorcer ou enfraquecer o Reino de Deus. 1. A personificação do Reino na pessoa de Jesus. Jesus é o Reino de Deus em pessoa. Central e utópico é somente a pessoa de Jesus. É evidente que na pessoa de Jesus existem valores do Reino; mas não exclui seus limites. O Reino de Deus deixa de ser o tipo de realidade histórico-social-coletiva que Jesus pregou para vir a ser outro tipo de realidade, agora pessoal. 2. A eclesialização do Reino de Deus. Aqui trata-se de uma desvalorização mais grave do Reino de Deus. A Igreja se torna o lugar do Reino de Deus, ou seja, identifica-se o Reino de Deus à Igreja. Esta forma perdurou até o Concílio Vaticano II. 3. Reino de Deus centrado no além da História. Tendência que já se impôs com força no século VI, com a deslocação do Reino de Deus para o além, o a-histórico. A consequência mais grave é a desistoricização e o desaparecimento da relação entre Reino de Deus e libertação dos pobres. Depois de quase dois mil anos de Jesus, o Reino de Deus, como mensagem central de Jesus, volta a estar novamente no centro da teologia. 7 Voltar a colocar no centro o Reino de Deus tem sido para a Igreja e a teologia a melhor notícia de muitos séculos. Suas consequências se fizeram notar em todos os temas teológicos fundamentais (teologia, eclesiologia, moral, pastoral), não só na cristologia. Pode-se dizer que a missão da Igreja, a fé em Cristo e em Deus, não seriam iguais se Jesus não tivesse anunciado Pe. Rogério L. Zanini 7 Cf. SOBRINO, Jon. A fé em Jesus Cristo, p Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n 109 -agosto/

16 O Reino de Deus e as vítimas da história: uma abordagem segundo a cristologia de Jon Sobrino o Reino de Deus. Paradoxalmente, no entanto, permanece lacunosa a compreensão do que seja o Reino de Deus. Apesar de expressão Reino de Deus ser muito utilizada nos Evangelhos, não encontramos sistematicamente uma definição. Jesus, também, mesmo oferecendo novidade e falando muitas vezes do Reino de Deus, jamais o define, apenas o compara: o Reino de Deus é semelhante. Isso exige que se encontre um método que ajude a descobrir o que Jesus pensava sobre o Reino de Deus. Na tentativa de verificar a compreensão oferecida por Jesus do Reino, seguiu-se, praticamente, o caminho das três vias: nocional, prática e destinatários. A teologia moderna se utiliza mais da via nocional e algumas utilizam também a via da prática. Mas costuma-se ignorar a via do destinatário fortemente atuante na Teologia da Libertação. Jon Sobrino, por sua vez, baseando-se no exegeta Joaquim Jeremias irá afirmar que o Reino de Deus é unicamente dos pobres. Significa dizer, então, que a centralidade das vítimas está implícita à centralidade do Reino. E a destinação universal do Reino biblicamente se concretiza na pertença preferencialmente às vítimas da história. Isso explicita que o Reino de Deus e as vítimas também se esclarecem mutuamente. Grande é a tentação humana de separar ou manter distante esta aliança. E, no dizer de Jon Sobrino, a dificuldade principal para não aceitar a centralidade do Reino de Deus consiste em que este não só remete a Jesus de Nazaré, mas inclui central e preferencialmente os pobres deste mundo. Adotar esta perspectiva, no entanto, não significa assumir um caminho reducionista da transcendência de Deus, como criticam algumas teologias. Nesse sentido, é sumamente esclarecedora a reflexão de José Maria Vígil a respeito da opção pelos pobres. Para ele, a opção pelos pobres é uma dimensão transcendental do cristianismo, dimensão que essa teologia (latino-americana) teve o mérito de redescobrir para o cristianismo universal como vinculada à própria essência de Deus. 8 Portanto, se existe uma relação intrínseca entre Reino de Deus e vítima, torna-se pertinente averiguar em que sentido ambos se apoiam mutuamente. Por um lado, perguntar-se o que a categoria Reino de Deus 8 É muito interessante o artigo de José Maria Vígil A opção pelos pobres é opção pela justiça, Disponível em: < 16 Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n agosto/2013

17 tem a oferecer às vítimas da história. E, por outro lado, o que as vítimas podem oferecer de ajuda para compreendermos mais do Reino de Deus. A perspectiva das vítimas ajuda a oferecer concretude histórica ao Reino de Deus para que não seja compreendido de forma abstrata, ou universalista simplesmente. Sabe-se que os conceitos universais impedem de captar o conteúdo da fórmula como expressão de revelação. Sabe-se igualmente que, diante dos conceitos abstratos, fica a critério da razão preenchê-los de conteúdos concretos, o que pode ser extremamente perigoso. A razão crente pode conferir os conteúdos cristãmente e deixar-se guiar pela história de Jesus. Poderá fazê-lo também inadequamente, mesmo com boa vontade, lendo seletivamente essa história de Jesus, eliminando tudo o que se encaixa no conceito universal prévio que tem de Natureza, humana e divina. E pode-se fazê-lo ainda pecaminosamente, decidindo por conta própria o que é o humano e o que o divino, mesmo contra a realidade de Jesus. A falta de concretude pode trazer consequências graves para a fé cristã. É nesse sentido que caminham as observações de Jon Sobrino, por exemplo, a respeito do Concílio de Niceia. 1. Em lugar de um Deus que atua concretamente e historicamente, persiste um Deus que atua universal e transcendental, o criador. 2. Em lugar de um Deus que se assenhoreia de pessoas históricas, persiste um Deus Senhor universal. 3. Em lugar de um Deus que salva oprimidos, pobres, marginalizados, persiste um Deus salvador universal. Assim, Deus deixa de ser Pai dos órfãos e viúvas no AT e também deixa de ser o Abba, a quem podem os pequenos invocar, ou seja, o Deus do Reino que traz esperança para os oprimidos do NT. O perigoso desta precipitação universal poderia ser superado caso se aplicasse na plenitude o concreto e parcial. 9 Por isso, as vítimas ajudam a detectar lacunas importantes nas afirmações conciliares. Ausência do Reino de Deus e do Deus do Reino. A presença do antirreino e dos ídolos, no nível teologal. Ausência de Jesus de Nazaré e sua relação constitutiva com respeito ao Reino, no nível cristológico. Ajudam ainda a detectar o reducionismo da salvação, no nível soteriológico. Tudo isso costuma passar despercebido em outras perspectivas. Pe. Rogério L. Zanini 9 Cf. SOBRINO, Jon. A fé em Jesus Cristo, p Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n 109 -agosto/

18 O Reino de Deus e as vítimas da história: uma abordagem segundo a cristologia de Jon Sobrino As vítimas têm um poder de reverter a história em outra direção. As vítimas não são metáfora, mas indicam que o mundo está tomando a direção contrária ao Reino de vida em abundância anunciado por Jesus. Por mais difícil que seja, é preciso nos perguntar: o que se entende melhor a partir do lugar teológico das vítimas? a) as vítimas como o lugar da universalidade, ou seja, a partir de onde todos têm possibilidade de encontrar Deus, de entendê-lo e de receber a salvação universal ; b) visualizam melhor quem é Cristo, uma vez que Ele se identificou com os pequenos (Mt 25); c) fazem perceber que o ser humano é frágil como a flor de um dia e necessitado de socorro; d) entende-se melhor a partir das vítimas essência e a identidade da Igreja como servidora; e) ajudam a compreender quem é Deus, seu modo de atuar e de ser: amante das vítimas. Ora, assim as vítimas têm autoridade para abrir os olhos à relação entre Deus e o pequeno. Deus assume e se abaixa até o humano, e respeita não só como diferente dele, mas enquanto pequeno e limitado. Mais: que o ser humano assumido, em sua pequenez, manifesta Deus, embora às vezes como Deus absconditus. Deus se autodetermina a ligar-se ao humano respeitando-o. E inversamente, o humano e o frágil do humano é declarado capaz de ser portador de Deus, sem deixar de ser humano fraco. Pode-se, então, perguntar: há em Deus uma audeterminação a expressar-se no fraco e pequeno, no pobre e na vítima, no serviçal e no solidário? E, inversamente, há nesse pobre e solidário uma conaturalidade ao divino? Esta é uma pergunta cristã. O Deus que se aproxima das vítimas permanece sendo o Deus Santo e Transcendente. A santidade não é afastamento do histórico, mas sim a máxima encarnação com o objetivo de que os seres humanos possam chegar a ser perfeitamente bons como o é o Pai Celeste (cf. Mt 5,49). O erro consiste em pensar que se vive tanto mais no mundo do Reino de Deus quanto menos se vive no mundo histórico. Portanto, Reino de Deus e as vítimas na história se relacionam concomitantemente e se esclarecem consequentemente. Por um lado, o Reino de Deus mantém o horizonte da história aberto à plenitude 18 Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n agosto/2013

19 escatológica que pertence exclusivamente a Deus, pois o Reino é de Deus. Por outro lado, as vítimas servem de critério para medir o já do Reino de Deus que se faz presente na história. Manter a centralidade das vítimas, portanto, não tem nada de masoquismo, pois o que ele deseja é ser honesto com a realidade e responsável diante dela. No entanto, apesar da importância irrenunciável dessa perspectiva cristológica, dentro do contexto latino-americano, nem todos comungam desta proposta, de modo particular, o Magistério da Igreja. O Magistério na verdade teme que, ao colocar Jesus histórico como ponto de partida metodológico, conduza-se inegavelmente à negação ou, ao menos, ao obscurecimento da divindade de Jesus. E ao fazer dos pobres o lugar social e eclesial, acaba-se viciando toda a reflexão, provocando a negação do significado escatológico e salvífico-universal de Jesus. Jon Sobrino aceita que pode haver acertos e erros e está disposto a corrigir o que está errado. Mas pensa que o caminho mais adequado para corrigir não seja o do monopólio da verdade, e até mesmo o do mistério de Jesus Cristo, mas o do diálogo e da fraternidade, em vez do caminho das notificações. Pe. Rogério L. Zanini Referências bilbiográficas SOBRINO, Jon. A Fé em Jesus Cristo: ensaio a partir das vítimas. Petrópolis: Vozes, A oração de Jesus e do cristão. São Paulo: Loyola, Cristologia a partir da América Latina: esboço a partir do seguimento de Jesus histórico. Petrópolis: Vozes, Cristología sistemática: Jesucristo, el mediador absoluto del reino de Dios. In: ELLACURÍA, I.; SOBRINO, J. (orgs.). Mysterium Liberationis: conceptos fundamentales de la teología de la liberación. Madrid: Trotta, v. 1, p , Centralidad del reino de Dios em la teología de la libertación. In: ELLACURÍA, I.; SOBRINO, J. (orgs.). Mysterium Liberationis: conceptos fundamentales de la teología de la liberación. Madrid: Trotta, v. 1, p , Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n 109 -agosto/

20 O Reino de Deus e as vítimas da história: uma abordagem segundo a cristologia de Jon Sobrino. Espiritualidade da Libertação: estrutura e conteúdo. São Paulo: Loyola, Fora dos pobres não há salvação: pequenos ensaios utópicos- -proféticos. São Paulo: Paulinas, Jesus na América Latina: seu significado para a fé e a cristologia. São Paulo: Vozes Loyola, Jesus, o Libertador: a história de Jesus de Nazaré. Petrópolis: Vozes, Jesus de Nazaré. In: SAMANES, C. F.; TAMAYO-ACOSTA, J. J. (orgs.). Conceptos fundamentales de pastoral. p , La centralidad del reino de Dios en la teología de la liberación. In: ELLACURÍA, I.; SOBRINO, J. (orgs). Mysterium Liberationis: conceptos fundamentales de la teología de la liberación. Madrid: Trotta, v. 1, p , O Princípio Misericórdia: descer da cruz os povos crucificados. Petrópolis: Vozes, Onde está Deus? São Leopoldo: Sinodal, O Reino de Deus anunciado por Jesus: reflexões para o nosso tempo. In: AMERINDIA (org.). Caminhos da Igreja na América Latina e no Caribe: novos desafios. São Paulo: Paulinas, p , Os povos crucificados, atual Servo Sofredor de Javé. Concilium. Petrópolis, n. 232, p , 1990/2.. O Reino de Deus e Jesus: compaixão, justiça, mesa compartilhada. In: Concilium. Petrópolis, n. 326, p , 2008/3.. Opção pelos pobres. In: SAMANES, C. F.; TAMAYO-ACOS- TA, J. J. (org.). Dicionário de conceitos fundamentais do cristianismo. São Paulo: Paulus, p , Os povos crucificados, atual servo sofredor de Javé: à memória de Ignácio Ellacuría. Concilium. Petrópolis, n. 232, p , 1990/2.. Ressurreição da verdadeira Igreja: os pobres, lugar teológico da eclesiologia. São Paulo: Loyola, Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n agosto/2013

21 . Relação de Jesus com os pobres e marginalizados. Concilium. Petrópolis, n. 150, p , 1979/10.. Reverter a história. Concilium. Petrópolis, n. 308, p , 2004/5.. Ser cristão hoje. Concilium. Petrópolis, n. 340, p , 2011/2. Pe. Rogério L. Zanini. Seguimento de Cristo e espiritualidade. In: BEOZZO, J. O. (org.). Vida, clamor e esperança: reflexão para os 500 anos de evangelização a partir da América Latina. São Paulo: Loyola, p , Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n 109 -agosto/

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23 O Caminho Espiritual de Dom Helder Camara Dr. Ivanir Antonio Rampon 1 Tu sabes muito bem Homem, meu irmão, que és sufi cientemente fraco para fazer defl agrar a 3ª e última Guerra Mundial com o tristíssimo poder de suprimir a vida na face da Terra. E que tu és sufi cientemente forte para suprimir da terra a miséria e, sobretudo, a dominação. Dom Helder Camara A Revista Caminhando com o Itepa pediu-me um pequeno artigo sobre a tese O Caminho Espiritual de Dom Helder Camara. Partilho aspectos da tese transformada em livro pela Editora Paulinas 2. Trata-se de um livro com mais de 500 páginas que aborda o caminho espiritual de Dom Helder por dois vieses complementares. Nos primeiros cinco capítulos faz-se uma 1 Possui graduação em Filosofia pela Universidade de Passo Fundo (1996), graduação em Teologia pelo Itepa Faculdades (2000), mestrado em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (2004), doutorado em Teologia Espiritual pela Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma (2011). Atualmente é professor titular de Fundamentos de Espiritualidade, Teologia da Espiritualidade e Teologia da Graça no Itepa Faculdades. Assessora cursos na área de Teologia e Espiritualidade. Tem experiência na área de Teologia, com ênfase em Teologia Espiritual, atuando principalmente nos seguintes temas: espiritualidade, ecologia, oração, compromisso sócio-evangélico, liturgia, antropologia cristã, graça... 2 Ivanir Antonio Rampon, O Caminho Espiritual de Dom Helder. São Paulo: Paulinas, Caminhando com o Itepa - Ano XXVII - n agosto/ p

24 O Caminho Espiritual de Dom Helder Camara descrição da cronologia espiritual helderiana, mostrando como Dom Helder aplicou sua força místico-espiritual no concreto da vida. Nos outros quatro capítulos disserta-se sobre como ele cultivou a força-mística que o sustentava na estrada de Jesus. Por que estudar Dom Helder? Helder Pessoa Camara ( ) é, para muitas pessoas, em particular no Brasil, uma das personalidades mais importantes do século XX. Sua grandeza abrange várias dimensões. É considerado, por exemplo, expoente da profecia; figura exemplar de Bispo-Pastor; símbolo mundial da não violência ativa, juntamente com Gandhi e Martin Luther King 3. Paulo VI, com propriedade, considerava-o um místico e um poeta, um grande homem para o Brasil e para a Igreja, alguém com um coração incapaz de odiar: que só sabe amar, que recebeu de Deus a missão de pregar a justiça e o amor como caminho para a paz. João Paulo II, por sua vez, chamava-o de Irmão dos Pobres, meu Irmão. Neste tempo de mudança de época em que se carece de grandes testemunhas, o testemunho espiritual de Dom Helder é um farol a iluminar a estrada de quem quer viver banhado de Evangelho. De fato, Dom Helder consegue ser uma síntese da melhor tradição espiritual da América Latina, pois no dizer do historiador Beozzo, nele encontramos o profetismo e a veia literária de Pedro Casaldáliga, a intrepidez e o senso político de Ivo Lorscheiter, a atenção aos pobres e a capacidade de conciliação de Dom Luciano Mendes de Almeida, a bondade e a intuição teológica de Aloísio Lorscheider, a coragem e a defesa intransigente dos direitos dos pequenos de Evaristo Arns 4. A pesquisa identificou que a Vigília (oração) e a Santa Missa (Eucaristia) foram fundamentais para que Dom Helder se tornasse a síntese da melhor tradição espiritual da América Latina : sem elas, provavelmente, ele 3 Nelson Piletti Walter Praxedes, Dom Helder Camara: o profeta da paz. São Paulo: Contexto, 2ª Ed., José Oscar Beozzo, Apresentação, in Helder Camara, Vaticano II: Circulares conciliares, I, XIX (Org. Luiz Carlos Luz Marques Roberto de Araújo Faria). Recife: CEPE, Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n agosto/2013

25 não teria sido o Bispo das Favelas do Rio de Janeiro, o Arcebispo dos Pobres no Nordeste, o Advogado do Terceiro Mundo, o Apóstolo da não-violência ativa, a Esperança de uma sociedade renovada segundo o ideal cristão, o Poeta-Místico e Profeta de uma fé jovem e forte 5. Sem a Vigília e a Santa Missa não seria possuidor desta espiritualidade madura que nos leva a ver nele um monumento espiritual para a América Latina e para o Terceiro Mundo 6 ; a vê-lo como o DOM : o Dom da paz, do amor, da justiça, da libertação... o Dom de Deus! 7. No livro, cada um dos elementos acima citados, são aprofundados a partir de textos e falas do próprio Dom Helder. Além disto, destaco que quando se celebrava o centenário do nascimento de Dom Helder, muitas atividades comemorativas foram realizadas na América Latina e no mundo, a fim de louvar a Deus pelo amor que Ele nos revelou através do Bispinho. Na ocasião, centenas de estudiosos, autoridades civis e eclesiásticas, comunidades, pastorais, universidades, movimentos populares... lançaram o apelo de que se aprofundasse a herança espiritual helderiana. Baseado naquele contexto, aceitei o desafio de estudar o caminho espiritual de Dom Helder Camara, a fim de contribuir com uma reflexão teológico-espiritual acerca dele. Com este estudo, ainda, desejava tributar honra a Dom Helder. Porém, somos obrigados a reconhecer que, estudá-lo, é uma honra aos estudiosos. Honra que se traduz, sobretudo, em compromisso, pois como disse o decano de Teologia, da Universidade de Friburgo, quando lhe concedeu o títuto de Doctor Honoris Causa em Teologia Espiritual 8 por sua vida, por sua atuação de pastor, por seu testemunho, Dom Helder é um autêntico doutor da fé, um genuíno intérprete da verdade evangélica, ante quem os catedráticos de teologia se levantam de suas cátedras e se inclinam. Ainda destaco um episódio que ficou gravado em minha memória. Apresentei a tese em 21 de junho de 2011, dia de São Luís Gonzaga, estu- Dr. Ivanir Antonio Rampon 5 José de Broucker, Helder Camara: la violenza di un pacifico. Roma: Edizioni Saggi ed esperienze, Tipografia Città Nuova, Nelmo Roque Ten Kathen, Uma vida para os pobres: espiritualidade de D. Hélder Câmara, p São Paulo: Loyola, Ainda na década de 50, o povo começou a chamá-lo de Dom. Carinhosamente, também era chamado de Padrezinho e Bispinho. 8 Benedicto Tapia de Renedo, Hélder Câmara: proclamas a la Juventud, p. 73. Salamanca: Ediciones Sigueme, Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n 109 -agosto/

26 O Caminho Espiritual de Dom Helder Camara dante ilustre da Gregoriana. Naquela ocasião, o professor que coordenou a banca disse que aquele dia era importante por dois motivos básicos. O primeiro por se tratar do dia de São Luís, padroeiro da juventude generosa. O segundo, porque pela primeira vez, naquela Universidade era defendida uma tese sobre Dom Helder, místico e profeta do nosso tempo, que muito nos tem a ensinar no seguimento a Jesus Cristo. Enfim, as ideias de Dom Helder que não são dele apenas, mas nossas como o Dom gostava de dizer precisam ser espalhadas a fim de que haja não mais um primeiro, um segundo, um terceiro mundo, mas sim um mundo, um mundo de irmãos!. Neste sentido, pode-se dizer que o livro é destinado à agentes de pastoral e outros líderes populares que sonham com um mundo fraterno, justo e sustentável. Sem dúvida, como Helder é modelo de pastor, destina-se aos pastores do povo de Deus. Enfim, é recomendável à Vida Religiosa, aos Seminaristas, aos Acadêmicos de Teologia e a quem busca uma graciosa fonte de Espiritualidade cristã e quer fazer parte da abençoada Família do Bispinho. Parafraseando o querido Papa Francisco com o qual Dom Helder estaria/está vibrando podemos dizer que o Dom de fato, colocou em jogo a pele e o próprio coração, sendo um Pastor com cheiro das ovelhas, levando a unção pela qual foi consagrado a todos, especialmente nas periferias onde o nosso povo fiel o aguardava e o apreciava 9. Através de suas palavras, escritos, obras e prece, Dom Helder continua a nos oferecer o óleo da alegria que Jesus veio trazer (Lc 4,14ss). Qual a originalidade do estudo? A originalidade do estudo está no fato de apresentar o caminho espiritual de Dom Helder. Em outras palavras, não se trata, apenas, de descrever características de sua espiritualidade a partir de um momento fixo de sua vida, mas de caminhar com ele, percebendo quais foram as constantes, as novidades, as mudanças e os progressos (ou as conversões, as humilhações, os novos acentos ) no seu modo de viver sob a orientação do Espírito Santo. Por isso, foi dada grande importância aos próprios textos e relatos do Arcebispo. 9 FRANCISCO, Santa Missa Crismal: Homilia do Papa Francisco. Roma, 28 de maio de In: < acesso 28 de maio de Na década de 50, Dom Helder passou a ser conhecido como Bispo das Favelas. 26 Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n agosto/2013

27 Ao caminhar com Dom Helder, percebe-se, numa perspectiva diferente e mais profunda, como ele viveu unido à Vida divina da Santíssima Trindade e, em união com Cristo, no decorrer do processo histórico- -espiritual, que envolveu sua vida e ministério. A análise leva a afirmar que o Dom pode ser apresentado como um modelo de pessoa que se doou sublimemente, na caridade, por amor a Cristo e a sua Igreja. Ele, movido pelo Espírito Santo, ouviu a voz do Pai, adorando-o em espírito e verdade, e seguiu a Cristo pobre, humilde e crucificado-ressuscitado, progredindo no caminho da fé viva, que acende a esperança e age por meio da caridade. Seu relacionamento pessoal e profundo com Cristo era expresso no calor do seu amor, na bondade do seu coração, na verdade de suas palavras, no alento dado à esperança, na beleza da sua prece. Terminada sua vida terrena, Dom Helder continua recebendo admiração, afeto, reconhecimento e orações; permanecendo assim, vitalmente unido aos seus irmãos ainda peregrinos na estrada de Jesus. Por meio da partilha de bens espirituais, nossa fragilidade é mais amparada por sua fraterna solicitude. Dr. Ivanir Antonio Rampon Que métodos foram usados? A Teologia Espiritual é uma disciplina teológica que estuda a experiência espiritual cristã, descreve o seu desenvolvimento, suas estruturas e suas leis. Devido a sua complexidade, exige um conhecimento interdisciplinar, porque, em sua natureza participam, além da teologia, a antropologia, a história, a psicologia... com suas exigências práticas. Para efetivar a pesquisa, foram utilizados métodos que fossem capazes de garantir o caráter teológico-espiritual. O método narrativo nos permitiu descrever o caminho. O histórico- -crítico foi importante para efetivar a hermenêutica do contexto em que foi possível a caminhada, percebendo as constâncias e novos acentos na caminhada espiritual helderiana. O fenomenológico nos permitiu considerar a singular experiência espiritual helderiana, comparando-a com outras experiências, e analisá-la a partir das leis e das estruturas da Teologia Espiritual. Deste modo, colocamos em diálogo quatro exigências importantes para o nosso estudo: a experiência, a hermenêutica, a sistemática e a mistagogia. Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n 109 -agosto/

28 O Caminho Espiritual de Dom Helder Camara A pesquisa foi fundamentalmente bibliográfica e contamos com muitas fontes, pois Dom Helder era um constante e exímio escritor. Seus textos podem ser classificados em cinco grupos: Conferências, Meditações, Crônicas, Circulares e Entrevistas. Além destas fontes principais, utilizamos outros importantes escritos sobre o Arcebispo. De fato, inúmeros são os textos em jornais, revistas, sites, livros, monografias, dissertações, teses e biografias, que analisam a pessoa e o pensamento de Dom Helder, abordando-os a partir de diferentes áreas do saber humano. Qual é o itinerário dos conteúdos? Nos primeiros cinco capítulos, apresentamos como Dom Helder aplicou a sua força místico-espiritual no apostolado e no ministério sacerdotal, servindo a Igreja, a sociedade e os pobres. Nos outros quatro, analisamos como ele cultivou esta força, que lhe dava sustento no caminho do Senhor. O primeiro capítulo abrange o período em que Helder viveu no Ceará ( ) e foram abordados seus primeiros passos no caminho espiritual. Além de descrever a sua infância e juventude, colocaram-se em destaque ensinamentos espirituais recebidos, que marcaram a sua personalidade. Evidenciou-se a origem das Meditações do Pe. José, a experiência da primeira grande humilhação, a opção radical de realizar Vigílias para salvar a unidade e o pecado de juventude. O segundo capítulo engloba os anos em que o Pe. Helder residiu no Rio de Janeiro ( ), vivenciando forte experiência mística e realizando intensas atividades pastorais, através das quais, efetivou um vigoroso progresso espiritual caracterizado, sucessivamente, pela busca de um novo estilo de santidade ( ), uma nova metodologia e espiritualidade na ação pastoral ( ) e uma nova aplicação para a sua força mística ( ). O terceiro capítulo abrange os dois primeiros anos de Dom Helder em Recife ( ). Analisou-se, primeiramente, o Discurso de Chegada, no qual, o Arcebispo adjetivou a sua espiritualidade pastoral. Em seguida, através das Circulares Interconciliares, visualizam-se alguns dramas sócio- 28 Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n agosto/2013

29 -pastorais vivenciados pelo Pastor, em uma das regiões com alto índice de pobreza, devido, entre outras causas, ao colonialismo interno e a injustiça internacional do comércio. O quarto capítulo se refere ao período em que Dom Helder esteve em Roma, participando do Vaticano II ( ). O Arcebispo brasileiro considerado entre os mais importantes Padres Conciliares realizou o apostolado oculto, principalmente nos espaços informais: organizou o Ecumênico e o Opus Angeli, além de ser notável no Grupo dos Pobres e muito apreciado pelos jornalistas. Através das Circulares Conciliares nas quais ele reza, medita e partilha o Concílio com a Família vislumbra-se a sua ação em prol de um cristianismo aberto, renovado, libertador e promotor da paz. O quinto capítulo compreende o período em que Dom Helder foi difamado, caluniado, execrado e silenciado pela repressão militar, instalada no Brasil pelo regime político autoritário ( ). Além de registrar a ação das forças que se declararam inimigas do Arcebispo, evidencia-se o crescimento da fama de sua santidade e o auge de sua notoriedade internacional, quando foi indicado quatro vezes consecutivas ao Nobel da Paz e agraciado com dezenas de doutorados honoris causa. Nas páginas deste capítulo, é saliente o modo como o Dom padeceu o sacrifício da cruz que celebrava em cada Santa Missa, sofrendo, solidário, com os presos, torturados, silenciados, martirizados... O sexto capítulo trata do modo como Dom Helder cultivava a sua espiritualidade, merecendo destaques: a vivência de uma forte amizade espiritual com um grupo de pessoas especiais, que ele chamava de Família; a Vigília, na qual meditava a sua união à Vida divina da Santíssima Trindade e mantinha uma relação pessoal, de camaradas, com Cristo, os Anjos e Santos; as Circulares, nas quais descreve, de modo orante e com pureza de coração, sua missão, sonhos, utopia e espiritualidade; a Santa Missa, ponto mais alto e mais importante do seu dia. No sétimo capítulo analisamos algumas devoções, através das quais, Dom Helder cultivava a sua espiritualidade. Ele se relacionava intensamente com Maria, tendo a liberdade de chamá-la, carinhosamente, com novos Dr. Ivanir Antonio Rampon Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n 109 -agosto/

30 O Caminho Espiritual de Dom Helder Camara títulos, oriundos da situação sócio-existencial; conversava com seu Anjo da Guarda, a fim de considerar os acontecimentos a partir de uma visão multidimensional; fazia planos com os Santos sobre as lidas em prol da justiça, da paz, da renovação da Igreja; venerava e seguia as orientações do sucessor de Pedro e, por isso, comentam-se alguns dos encontros de Dom Helder com João XXIII, Paulo VI e João Paulo II. No oitavo capítulo analisa-se a experiência mística de Dom Helder expressa nas Meditações do Pe. José. Para isto, utilizaram-se alguns critérios analíticos, oriundos de São João da Cruz e ressaltam-se as principais afinidades espirituais de Dom Helder com Francisco de Assis, Terezinha do Menino Jesus, Teilhard de Chardin, Irmão Roger de Taizé e Thomas Merton, e, enfim, colocamos em evidência certas semelhanças do Bispinho com Catarina de Sena, Inácio de Loyola e os místicos cearenses Pe. Ibiapina, Antônio Conselheiro, Pe. Cícero, Beato Lourenço e Dom Hélio Campos. O último capítulo apresenta, de modo sintético, o legado profético-espiritual helderiano, especialmente sua participação no caráter fundacional da Igreja na América Latina; seu esforço para garantir a tradição espiritual libertadora latino-americana; sua peregrinação pelo mundo, pregando a paz e conclamando as Minorias Abraâmicas, a fim de se unirem, para o exercício da pressão moral libertadora, e seu apostolado, irradiante da mística evangélica, na Arquidiocese de Olinda e Recife. Por fim, recorda-se Dom Helder, no grande silêncio, recolhido em oração, qual místico no deserto, preparando-se para a grande viagem. Que aspectos do legado helderiano merecem mais estudos? Antes de tudo, é importante dizer que o horizonte para estudos da espiritualidade helderiana é vastíssimo. O Instituto Dom Helder Camara dispõe, por exemplo, de Poemas-Meditações do Pe. José, a grande maioria inéditos. Estudos da experiência místico-espiritual expressa através das Meditações renderia excelentes monografias, dissertações e teses de Teologia Espiritual. 30 Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n agosto/2013

31 Uma parte importante do desenvolvimento espiritual de Dom Helder e que ainda merece mais pesquisas aconteceu durante o período em que ele habitou no Rio de Janeiro. Há uma grande quantidade de registros inéditos desta época que, provavelmente, serão fontes de inovadores conhecimentos em diversas áreas, tais como a Pedagogia, a Mística, a Espiritualidade... Da mesma forma, as Circulares Pós-Conciliares, recentemente publicadas, nos ajudariam a compreender com mais profundidade a meditação helderiana justamente no período em que eram vividos momentos importantes da eclesiologia, da teologia e da espiritualidade latino-americana, ou seja, durante a primavera conciliar e a fecundidade de Medellín e Puebla. Portanto, podemos dizer que os escritos helderianos permanecem como uma herança preciosíssima, não somente para nós, mas também para as gerações futuras. Através deles, elas poderão realizar estudos e meditações, sonhar e fazer a paz acontecer. E, assim, o Bispinho continuará cuidando da Família e conclamando as Minorias Abraâmicas para a união... O Pe. José continuará ajudando-nos a contemplar o mundo com os olhos transfigurados pela poesia e pela fé, nos remetendo ao essencial: Dr. Ivanir Antonio Rampon Reparte teu pão porque há irmãos famintos que não podem esperar... Reparte justiça porque há irmãos oprimidos cansados de tanto esperar... Reparte amor porque a terra inteira anda sedenta de compreensão e de amor-amor Hélder Câmara, Ano 2000: 500 anos de Brasil, p. 48. São Paulo: Edições Paulinas, Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n 109 -agosto/

32 O Caminho Espiritual de Dom Helder Camara Referências bibliográficas BEOZZO, José Oscar. Apresentação, in Helder Camara, Vaticano II: Circulares conciliares, I, XIX (Org. Luiz Carlos Luz Marques Roberto de Araújo Faria). Recife: CEPE, BROUCKER, José de. Helder Camara: la violenza di un pacifico. Roma: Edizioni Saggi ed esperienze, Tipografia Città Nuova, FRANCISCO, Santa Missa Crismal: Homilia do Papa Francisco. Roma, 28 de maio de In: < acesso 28 de maio de Na década de 50, Dom Helder passou a ser conhecido como Bispo das Favelas. KATHEN, Nelmo Roque Tem. Uma vida para os pobres: espiritualidade de D. Hélder Câmara, p São Paulo: Loyola, PILETTI, Nelson; Praxedes, Walter. Dom Helder Camara: o profeta da paz. São Paulo: Contexto, 2ª Ed., RAMPON, Ivanir Antonio. O Caminho Espiritual de Dom Helder. São Paulo: Paulinas, RENEDO, Benedicto Tapia de. Hélder Câmara: proclamas a la Juventud, p. 73. Salamanca: Ediciones Sigueme, Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n agosto/2013

33 A Bíblia no Itepa Pe. Nelson Tonello 1 Na abertura das comemorações dos 30 anos do Itepa Faculdades, o Professor Pe. Nelson Tonello abordou o tema a Bíblia no Itepa. Publicamos a seguir o texto-base usado em sua conferência. 1. Início de conversa Os que me precederam lembraram que o ITEPA nasceu de um forte grito levantado por leigos, religiosos e seminaristas que frequentavam o curso de teologia na PUC de Porto Alegre. Também nasceu do sonho de criar um espaço alternativo de formação teológica e que fizesse diferença ao que lhes era oferecido. 2. Muitos temores Pensar na criação de um Instituto de Teologia interiorano parecia ousadia demais. Na verdade, os Senhores Bispos foram corajosos e rápidos. Dúvidas e questionamentos de toda ordem pipocaram por toda parte. As necessidades eram evidentes e o ponto de partida era claro bem como o ponto de chegada também era claro. O caminho, porém devia ser construído passo a passo. 1 Presbítero da Arquidiocese de Passo Fundo. Especialista em Ciências Bíblicas, Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora Assunção, SP; Licenciado em Filosofia, UPF, Passo Fundo, RS; Licenciado em Pedagogia e Especialização em Filosofia, FAFIMC, Viamão, RS; Bacharel em Teologia, Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, SP; Título Superior de Religião e Catequese, Instituto Nacional de Pastoral, Estado da Guanabara; Caminhando Caminhando com o Itepa com - ano o XXVII Itepa - n Ano -agosto/2013 XXVII - n agosto/ p

34 A Bíblia no Itepa 3. Pequenas e grandes perguntas As questões a serem resolvidas eram muitas: espaço físico? Direção? Biblioteca? Estatutos? Currículo? Metodologia? Que espaço deveria ser reservado às diversas disciplinas? Em especial, que espaço devia ser reservado à Bíblia? 4. A Sagrada Escritura Tomada a decisão de enfrentar um instituto de teologia e pastoral, muitas reuniões se tornaram necessárias e muitas pessoas foram ouvidas. Entre tantas questões, nos inquietava o lugar que deveríamos dar à Bíblia. Ninguém duvidava que a Palavra de Deus deveria ser o fio condutor que devia perpassar por dentro as diversas disciplinas a serem ministradas. Também estávamos de acordo que a Sagrada Escritura não devia ser apenas uma disciplina entre as demais. Quem poderia nos ajudar nesse discernimento? Soubemos que o Padre José Comblin se encontrava em Caxias do Sul assessorando uma semana de estudos. Padre Elli e eu madrugamos e fomos conversar com Comblin. Expusemos a ele nosso projeto, nossas intuições e dúvidas. Ele nos ouviu com simpatia, interrogou e fez ponderações sobre vários aspectos, sobretudo o lugar que devíamos reservar às Sagradas Escrituras. 5. Duas metáforas Nas suas ponderações, o Pe. Comblin formulou duas metáforas: A Bíblia deve ser sempre o coração e a espinha dorsal de uma instituição de reflexão teológica e pastoral. Ao retornar, conversamos muito, tentando entender o que Comblin queria dizer com essas duas metáforas: coração e espinha dorsal. Entendemos que o coração é o órgão do corpo humano que garante a vida enquanto bombeia sangue para todas as células do nosso organismo. Sangue é vida. Onde não chega sangue, a vida se esvai. Por outro lado, a espinha dorsal sustenta todo o organismo. Qualquer problema na coluna vertebral 34 Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n agosto/2013

35 desarticula o corpo todo. Então, coração e espinha dorsal têm funções específicas e de fundamental importância. É, pois, necessário prestar muita atenção para o coração e para a coluna. 6. O gancho da Dei Verbum Pe. Nelson Tonello Comblin também nos remeteu ao Concílio Vaticano II, sobretudo ao documento que trata da Sagrada Escritura. Pesquisamos na Dei Verbum e encontramos duas palavras-chave: A Sagrada Escritura deve ser a FONTE e a ALMA da teologia e da pastoral (DV 24). A palavra fonte bateu nas nossas raízes. Quando vamos a uma fonte retirar água, quanto mais recolhemos, mais água vai brotando. Em outras palavras a Bíblia, como uma fonte, é inesgotável. Lida e relida, sempre nos surpreende com água fresca e limpa. Por outro lado, a Bíblia é a alma, isto é, a Bíblia deve animar o pensamento teológico e o agir pastoral, dar-lhe vida e consistência. No ITEPA, entendemos, pois, que a Bíblia deve fazer o papel do coração. E foi isso que procuramos fazer nesses 30 anos de Itepa. Procuramos nos encaixar dentro do movimento bíblico suscitado pelo Concílio Vaticano II. A Bíblia foi sendo resgatada das garras do clericalismo, redescoberta como fonte e alma, recuperada e devolvida a todo o povo de Deus. Sabemos que resta um longo caminho ainda a ser percorrido. No entanto, os passos dados confirmam o rumo e a direção. 7. Algumas pontuações 1) Entendemos a Bíblia não apenas como um conjunto de livros, mas como Palavra viva, vivida no cotidiano do Povo de Israel e de Jesus de Nazaré, contada e recontada nas famílias e nas comunidades e, posteriormente, recolhida e escrita. Tanto o Antigo Testamento como o Novo Testamento nasceram assim. 2) A Bíblia é fonte e alma enquanto apresenta modelos de vida, aponta horizontes e proporciona um olhar de síntese provocando continuamente um olhar para trás... para o chão... e para frente. Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n 109 -agosto/

36 A Bíblia no Itepa 3) A Bíblia desempenha papeis fundamentais na reflexão teológica e na prática pastoral enquanto encontramos nas suas páginas uma LUZ para a vida e a comunidade... enquanto encontramos o SAL necessário e na medida certa para saborearmos a vida com alegria e dignidade... e o FERMENTO que nos provoca e motiva para uma contínua e perene conversão. Uma leitura correta da Bíblia jamais nos deixa indiferentes e no mesmo lugar. 4) A Bíblia sempre foi objeto de pesquisa e de muito estudo. A exegese nos oferece muitos instrumentos e bons caminhos desde a crítica literária... a crítica histórica ou a crítica sociológica. Certamente nenhum caminho esgota a fonte e nenhum caminho é absoluto. Quando conseguimos interpretar a vida e a fé à luz da Palavra de Deus, estamos, certamente, num bom caminho. 5) Por outro lado, devemos continuar vigilantes e muito atentos com: * O BIBLISMO: não é verdade que a Bíblia cura, salva ou dá prosperidade... Também não é verdade que a Bíblia responde a tudo. A Palavra de Deus é maior do que os 72 livros que a compõem! * O FUNDAMENTALISMO: a Bíblia não pretende ensinar ciências ou fazer história, simplesmente. A Palavra de Deus vai muito além da palavra escrita! * A DESCONTEXTUALIZAÇÃO, certamente, a maior dificuldade. O texto escrito nasceu dentro de um contexto sócio-econômico-político- -cultural e religioso. É preciso prestar atenção para os três ângulos: o texto, o pretexto e o contexto, como sempre nos ensina Carlos Mesters. CONCLUINDO: A LEITURA ORANTE é um bom caminho desde que sejamos rigorosamente fiéis ao método proposto. A recomendação do livro de Daniel (Dn 3), levada a sério, nos recolocará, cada dia, no horizonte maior. Evidentemente não se trata de comer, engolir ou ruminar o papel, mas de ler, reler, estudar, meditar para entender o que o texto diz... o que o texto nos diz e o que o texto nos faz dizer. 36 Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n agosto/2013

37 Romaria de Nossa Senhora Aparecida: um encontro solidário entre religiosidade popular e teologia oficial Equipe de Pesquisa sobre Religiosidade Popular Mariana 1 Coordenadores: Dr. Elli Benincá e Ms. Selina Maria Dal Moro Por acreditar que a reflexão é o caminho mais seguro para a realização de uma sólida formação (Constituições Itepa), o Itepa Faculdades instituiu a pesquisa como um dos meios, junto com o ensino e a pastoral, para realizar seus projetos formativos. Fruto dos estudos realizados sobre a Religiosidade Mariana, este texto constituiu-se um primeiro e parcial resultado dos trabalhos realizados, tendo como foco de reflexão, as Romarias Marianas da Província Eclesiástica de Passo Fundo. Esta pesquisa, em andamento, visa como meta abrangente, contribuir para o reconhecimento da religiosidade popular e suas práticas. Sobretudo, deseja oferecer subsídios para qualificação das romarias, especialmente das romarias marianas, sempre na perspectiva do fortalecimento da fé e da cidadania humana e cristã. O texto foi planejado e é apresentado em três partes. Inicia com uma breve contextualização da devoção mariana manifestada, especialmente pela religiosidade popular; a segunda parte, de modo muito sintético, apresenta a história da aparição de Nossa Senhora nas águas do Rio Paraíba, em São Paulo e a difusão dessa devoção em Passo Fundo. A terceira parte tece algumas reflexões tendo como base registros de entrevistas realizadas com romeiros em duas romarias (2011/2012) em louvor a Nossa Senhora Aparecida, em Passo Fundo. 1 A autoria do texto é da Equipe de Pesquisa sobre Religiosidade Mariana: Pe. Elli Benincá-ellibeninca@bol.com.br; Pe. Ivanir Rodighero <ivanir.itepa@bol.com. br>; professora Selina Maria Dal Moro-dalmoro@upf.br; Profª Aneli Terezinha Bourscheidt; Profª Maria Inês Busato-mariabusato@gmail.com; Acadêmicos: Jorge Francisco H. Hahn-franciscohahn_1234@yahoo.combr e Cassiano Pertile - cassianopertile@hotmail.com; Caminhando com o Itepa - Ano XXVII - n agosto/ p

38 Romaria de Nossa Senhora Aparecida: um encontro solidário entre religiosidade popular e teologia oficial 1. Maria na Igreja e na devoção popular A devoção a Maria, Mãe de Jesus, sob as mais diversas denominações, remonta aos primórdios do cristianismo, ganhando, no decurso do tempo, centralidade na religiosidade cristã universal. De modo particular, na história do Ocidente, Maria exerceu no espaço público, grande influência. Diante dessa realidade histórica, Clodovis Boff (2006, p.18), referenciado em estudos mariológicos, 2 em sua prática pastoral e teológica, afirma que Maria não é na vivência da Igreja uma figura qualquer, é antes, uma figura central, embora não seja o centro, que é sempre Jesus Cristo Herdeiro da milenar cultura europeia, trazida primeiramente na bagagem dos conquistadores ibéricos e pelos missionários, especialmente franciscanos e jesuítas 3, o contexto hispânico-americano e brasileiro está, indelevelmente, marcado pela presença de Maria. Missionários e conquistadores trouxeram a Virgem às terras da América com as características da contra-reforma, envolta na original religiosidade popular luso-hispânica e expressa em imagens e devoções de marcado cunho ocidental. Mas, ao chegar às novas terras, Maria adquire imediatamente uma nova, original e ambígua configuração, especialmente para os indígenas que se sentiam agredidos pelos conquistadores. Porém, para estes, sua chegada às terras americanas configurou-se como fruto do auxílio da Virgem na conquista, a partir disso, os conquistados tiveram que, gradativamente, configurar-lhe uma nova face, a face libertadora (Cfe. DORADO, 1992). Do alto do morro Tepeyac ao eleger o nativo Juan Diego como porta-voz de sua mensagem às autoridades religiosas e ao mundo, dando visi- 2 Andrew M. Greeley afirma que Maria é, no Ocidente, o símbolo cultural mais poderoso e popular dos últimos tempos (apud: Boff, 2006, p.19). Miguel Unamuno (1936) declara que Maria se tornou em nossa cultura um símbolo perene (apud: Boff, 2006, p. 19). Embora protestante, o pedagogo cristão Friedrich W. Forster declarou em suas considerações: O que a Virgo Immaculata foi para a cultura humana supera de longe tudo o que fez a técnica moderna 3 Os primeiros missionários traziam consigo uma profunda devoção a Maria e realmente a propagaram. Ficou célebre o Poema à Virgem, composto em dísticos latinos pelo Apóstolo do Brasil, o beato José de Anchieta, quando se encontrava refém dos Índios Tamoios durante a perigosa negociação da aliança entre eles e os portugueses (1563). (BOFF, 1995, p. 13). 38 Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n agosto/2013

39 bilidade a todos os povos indígenas dominados e explorados, Maria revelou seu papel mediador e libertador. Do mesmo modo, em terras brasileiras, em tempos de escravidão, Maria torna a dar visibilidade ao seu caráter libertador, deixando-se pescar nas redes de pescadores empobrecidos e desolados, pela falta de pesca no sempre piscoso rio Paraíba (mais adiante este tema será melhor explicitado). Em outras palavras, fazendo-se presente entre os marginalizados (índios, negros, caboclos), quando da constituição das nações latino-americanas inicialmente, alcunhada de Conquistadora, pelos conquistadores do território, posteriormente, apropriada pelos desvalidos, Maria toma o título de Libertadora (apud: Boff, 2006, p. 20). A Cruz de Cristo e a imagem da Virgem Maria foram, assim, desde os primórdios da colonização, símbolos da latinidade cristã americana. Diante desta realidade incontestável, o Papa João Paulo II, durante a sua visita à basílica nacional de Aparecida, em 4 de julho de 1980, declarou publicamente que a devoção mariana é um dos traços característicos da religiosidade do povo brasileiro (1980. In: BOFF, 1995, p. 24). No Brasil independente, e posteriormente republicano, o matiz iluminista- positivista dos protagonistas da independência e da república não propiciou a relação de Maria com a constituição oficial da nova nação. Os esforços dos propagadores dessa nova matriz de sociedade, no entanto, não obtiveram êxito no ofuscamento da devoção mariana cultivada no âmbito dos espaços familiares e comunitários. O ânimo mariano da religiosidade popular 4, silenciosamente cultivado, foi a força que fundiu histórias cristãs individuais na mesma história compartilhada, construída à luz do evangelho e tornou-se, sem dúvida, um dos eixos da evangelização que se inseriu na cultura brasileira (Cfe. JOÃO PAULO XII, 1991). Equipe de Pesquisa sobre Religiosidade Popular Mariana 4 A locução religiosidade popular tem um sentido amplo. Tem a ver com religião, ou seja, com a relação do ser humano com a divindade, seja ela cristã ou não. Ela é compreendida também como sendo a religião do povo, ou religião popular. Na América Latina, usa-se também a expressão catolicismo popular, referindo-se ao catolicismo vivido pelo povo a partir de sua evangelização. É chamado também de catolicismo tradicional, em oposição ao catolicismo romano ou romanizado que foi se estabelecendo a partir de meados do século XIX, herdado de Portugal e da Espanha na primeira evangelização, acrescido de elementos da religiosidade natural dos povos indígenas e de procedência africana. (CIPOLINI, 2010). Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n 109 -agosto/

40 Romaria de Nossa Senhora Aparecida: um encontro solidário entre religiosidade popular e teologia oficial Reflexo da profunda influência exercida pelo catolicismo popular 5 e da devoção mariana, num cenário de profundos conflitos entre o poder hegemônico e a organização popular, provocados pelas políticas excludentes do centro do poder republicano, registram-se as presenças de atores e de movimentos de resistência ou reivindicativos articulados em torno à devoção mariana 6. Inserindo-se na sociedade brasileira a partir de meados do século XIX, isolados nas matas do centro e do norte do Rio Grande do Sul, reunindo-se em oração junto a uma imagem de Maria, imigrantes e descendentes europeus preservaram os princípios de sua identidade católica e implantaram, sobretudo nas terras do sul, os princípios e valores cristãos. (Cfe. BENINCÁ apud, RODIGEHRO, 2011). Assim, pode-se afirmar que a piedade mariana foi com frequência, e ainda o é, um vínculo resistente que conservou e conserva fiel à Igreja a massa dos cristãos (PUEBLA, 1979/284) que foram se localizando em terras latino-americanas, incluindo aqueles que não contaram com atenção pastoral adequada (Cfe. CIPOLINI, 2010). O reflexo do longo processo de introdução de Maria, tanto nos espaços privados, quanto no espaço público, hoje no contexto do norte do RS, especialmente na área de abrangência da Arquidiocese de Passo Fundo, 5 Marca da presença histórica da religião católica no contexto brasileiro, especialmente, no início da colonização ibérica. Com seus personagens sacros e seu calendário festivo, a instituição eclesial católica marcou fortemente a cultura popular brasileira, adquirindo seu ritual diferentes matizes, associados à etnia e à região. 6 Entre eles, pela sua repercussão histórica não há como ignorar o movimento de Canudos liderado por Antonio Vicente Mendes Maciel, conhecido por Antonio Conselheiro. Peregrinando pelo sertão ressequido, perseguido pelos poderes constituídos, Antonio Conselheiro apresentava, Maria, como modelo de paciência e de perdão. Sua arma principal de luta contra as injustiças ele a trazia no seu velho surrão de couro. Tratava-se de dois manuscritos de caráter religioso, dentre os quais se destacava o texto Prédicas e Discursos. Neste, Antonio Conselheiro apresentando Maria como modelo de vida exortava os seus seguidores ao não uso da violência e ao perdão dos inimigos. Relacionando Maria e Dor exortava o povo a acompanhar a Senhora em suas penas e longe de meditar vinganças(...) lembrar-se que Maria nunca se queixou de ser tão maltratada na pessoa de seu querido Filho, antes sempre teve um coração cheio de compaixão para com aqueles mesmos cuja impiedade lhe têm causado tantas amarguras (NOGUEIRA, 1978, P. 78) 40 Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n agosto/2013

41 foi conferindo à Maria um lugar central, tanto pelo número de paróquias e capelas que a tem como padroeira 7, como pelo número de eventos que anualmente se realizam em seu louvor. Fortemente inscrita nas consciências, a devoção mariana reúne famílias na oração do terço (Cfe. depoimento de romeiros da 32ª romaria-2012), mobiliza massas em romarias e peregrinações, preservando a fé em Cristo e o senso de pertencimento à Igreja. É neste contexto que se localiza a mais concorrida romaria de Nª Sª Aparecida da Arquidiocese de Passo Fundo, alicerçada no papel catalisador desta Diocese que tem a histórica devoção à Mãe Aparecida, aqui implantada desde os tempos do tropeirismo sul-sudeste (século XIX e início do século XX). 2. Devoção a Nossa Senhora Aparecida: de São Paulo a Passo Fundo Equipe de Pesquisa sobre Religiosidade Popular Mariana O tema da aparição de Nossa Senhora nas águas do Paraíba mereceu de diversos autores descrições detalhadas e profundas reflexões (RODIGHE- RO, 1996, BRUSTOLONI, J.J., 1994, REIS, 1996, QUEIROZ, santuário.com). Neste texto, com base em tais trabalhos, faz-se uma breve descrição dos fatos visando contextualizar a devoção e compreender as razões da influência desta devoção na região norte do estado do Rio Grande do Sul, especialmente na Arquidiocese chamada Passo Fundo. No início do século XVIII, as marcas do colonialismo português, da escravidão negra e da dominação do trabalhador, da audácia de bandeirantes, que buscando riquezas minerais preciosas, romperam com os limites traçados pelo Tratado de Tordesilhas (1494), se expandiam sobre todo o território brasileiro, já então considerado Reino Unido a Portugal e 7 Entre as 54 paróquias da Arquidiocese de Passo Fundo, 18 são dedicadas a Maria. Muitos títulos referem-se denominações de Paróquias europeias da origem dos migrantes: Nª Sª dos Navegantes (Barra Funda; Nª Sª da Glória e Nª Sª de Fátima (Carazinho); Nª Sª do Rosário (Charrua); Nª Sª de Lourdes (Nova Alvorada); Nª Sª dos Navegantes (Nova Boa Vista); Nª Sª Aparecida (Catedral); Nª Sª da Conceição (Passo Fundo); Nª Sª de Fátima (Passo Fundo); Santuário Nª Sª Aparecida (Passo Fundo); Nª Sª dos Navegantes (Passo Fundo, Bairro Operário) Nª Sª dos Navegantes (Ronda Alta); Nª Sª do Rosário (Serafina Correa); Nª Sª da Saude (Tapejara); Nº Sª do Rosário de Pompeia (Tapera); Nª Sª do Rosário (União da Serra); Imaculado Coração de Maria (Victor Graeff); Nª Sª da Saude (Vila Maria). Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n 109 -agosto/

42 Romaria de Nossa Senhora Aparecida: um encontro solidário entre religiosidade popular e teologia oficial a Algarves. Corriam muitas lendas sobre descobertas de jazidas riquíssimas de ouro e outras preciosidades. A miragem verde das esmeraldas, valiosíssimas pedras encravadas em montanhas em plena selva, brilharam por várias décadas na mente de muitos brasileiros do Planalto de Piratininga. Fulgurou, sobretudo no espírito aventureiro de Fernão Dias Paes Leme, cuja morte em plena selva, transferiu para Sebastião Raposo Tavares o fascínio de desvendar o segredo daquela descoberta alucinante. O fim desastrado da jornada de Raposo Tavares, em 1713, no entanto, assinalou o último sonho das esmeraldas, deixando em São Paulo um profundo sentimento de frustração. Ainda que a esperança de enriquecimento, baseada na exploração dessas pedras, tenha sido uma fantasia que não se transubstanciou em realidade, este mesmo destino não aconteceu com o ouro explorado nas Minas Gerais. Num período de transição de duas economias: da canavieira para a do ouro (RODIGHERO, 1996), desordens, mortes e traições cobriam as províncias de Minas Geras e São Paulo. Frente à impopularidade de D. Braz da Silveira, governador da Província de São Vicente (atual estado de São Paulo), e das Minas Gerais, e da sua incapacidade de reprimir as desordens e, especialmente o contrabando, El Rei D. João V nomeou como governador da Província, o Capitão General, D. Pedro de Almeida, Conde de Assumar. Competia ao Governador recém-empossado restabelecer a justiça, recolher os tributos e exigir o retorno da ordem. Ao cumprir sua função, em viagem às Minas Gerais, na passagem pelo Vale do Paraíba, em 12 de outubro de 1717, o Conde de Assumar foi recebido pelas autoridades locais, civis e religiosas, as quais planejavam oferecer-lhe um lauto banquete preparado com peixes do piscoso rio Paraíba. Coube aos experientes pescadores, Domingos Martins Garcia, João Alves e Felipe Pedroso, a tarefa de prover a pesca para a mesa desse dia. No entanto, ao se lançarem às águas do Paraíba, vivenciaram uma profunda decepção, uma vez que seu esforço, sempre coroado com êxito, nesse dia, se revelava improfícuo. Num esforço derradeiro, João Alves, lançou sua rede, e, surpreendemente, da profundeza de um poço de águas, alçava-se o 42 Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n agosto/2013

43 corpo de uma imagem, sem cabeça. Ao tornar a lançar a rede, mais abaixo, viu surgir à cabeça da mesma estátua. Daquele momento em diante, os esforços, antes improfícuos, tornaram-se recompensados de êxito com pescaria abundante. A cabeça ajustou-se exatamente ao corpo da imagem e, maravilhados, os pescadores viram ambas as partes colarem-se fixamente, apenas encostadas, revelando-se ser uma estátua de Nossa Senhora da Conceição. Felipe Pedroso, piedosamente levou o achado para sua casa, onde o conservou pelo espaço de seis anos. Fiéis da redondeza, sabedores do milagre ocorrido e, desde então, venerando Maria naquela imagem, especialmente aos sábados, dirigiam-se à casa de Pedroso para rezar diante do tosco oratório familiar. Em 1743, diante do fervor popular e da crença no poder da Santa, já então, denominada de Aparecida, os descendentes de Pedroso construíram uma pequena capela na área de sua propriedade, o que permitiu o livre acesso dos devotos à Maria. Em 1846, iniciaram-se as obras de construção de um templo mais vasto, concluídas em dezembro de 1888, ano da abolição da escravatura negra no Brasil, obra que permanece ainda hoje no espaço da atual Basílica em Aparecida. Em meados do século XX, quando da realização do Congresso Eucarístico Nacional, em São Paulo, a Senhora Aparecida das águas do Rio Paraíba foi intitulada Peregrina do Congresso. Em maio de 1931, a imagem foi levada ao Rio de Janeiro para ser coroada Rainha e Padroeira do Brasil. Equipe de Pesquisa sobre Religiosidade Popular Mariana 2.1. Mãe Aparecida em Passo Fundo. Em meados do século XIX, Passo Fundo se tornara caminho obrigatório dos tropeiros, que vindos de São Paulo, interiorizavam-se pelas terras gaúchas em busca do gado bravio, disperso nas vastas planícies do noroeste do estado. Qual seria seu destino? Provavelmente a feira de Sorocaba. Junto com seu espírito explorador, esses primeiros viandantes trouxeram junto a sua bagagem cultural, a devoção a Nossa Senhora Aparecida, expressa na imagem trazida em suas bruacas de couro cru, junto aos seus pertences, Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n 109 -agosto/

44 Romaria de Nossa Senhora Aparecida: um encontro solidário entre religiosidade popular e teologia oficial e também pelas orações que, memorizadas desde a infância, os levava a implorar o amparo da Virgem Aparecida nos momentos difíceis de sua caminhada exploratória (Cf. NASCIMENTO e DAL PAZ). Em 1827, o cabo Manuel José das Neves assume o comando do território, hoje município de Passo Fundo. Fiel a sua religiosidade, o Cabo Neves, como era conhecido, doou à Igreja metade das terras que havia recebido do Império (meia sesmaria), como prêmio por sua lealdade. Ali mandou erguer, em 1835, com autorização das autoridades eclesiáticas, uma capela dedicada a Nossa Senhora da Conceição Aparecida, onde hoje selocaliza a Catedral Nossa Senhora Aparecida de Passo Fundo 8. Desde então, nos espaços públicos e familiares, a devoção a Nossa Senhora Aparecida passou a marcar a religiosidade do povo passofundense. Por sobre esse terreno fértil, com capacidade para congregar e convocar o povo católico, captando o vasto âmbito do espírito mariano do povo da região, a Diocese de Passo Fundo passou a realizar, a partir do início da década de 1980, romarias em louvor a Nossa Senhora Aparecida. Protagonista da ideia, Dom Ercílio Simon, então Reitor do Seminário Nossa Senhora Aparecida, em reunião com os padres da Diocese na Casa de Retiros, no mês de março de 1982, propôs a realização de romarias a Nossa Senhora Aparecida. O então, Pe. Ercílio justificava sua proposta apresentando quatro motivos, entre os quais se destacam três: O povo de Passo Fundo tem demonstrado muito amor a Nossa Senhora Aparecida, podendo ser notado em numerosos nomes de firmas, bares, lojas, casas de comércio com as placas de Nossa Senhora Aparecida (grifo do autor); b- O povo necessita, dentro de uma visão da religiosidade popular e de pastoral urbana, expressar sua fé em grandes movimentos de massa, como são as romarias (SIMON, 2005, p. 250). Com o apoio de D. Cláudio Colling, então bispo da Diocese, do referendo dos Srs. bispos que o sucederam e do atual Arcebispo, D. Anto- 8 Conforme escritura encaminhada pela filha legítima do Cabo Neves, Maria da Rocha Prates, no Cartório de Passo Fundo. Cf. < informacoes/7953/passo-fundo-rs.html>. Acesso em 30 de junho de Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n agosto/2013

45 nio Carlos Altieri, depois de três décadas, a Virgem Negra, esculpida em madeira, doação do Monsenhor Fioravante Magrim, (na época atuante na Diocese de Erexim), continua atraindo junto a si milhares de peregrinos, fundindo histórias individuais em uma única história coletiva. O constante referendo dos Srs. Bispos da Diocese tornou a romaria de Nossa Senhora Aparecida, hoje às vésperas de sua 32ª edição, não apenas uma marca da Arquidiocese, mas sim, um importante momento de consolidação e renovação da fé cristã, de solidariedade humana e fidelidade à Igreja, tendo como eixo-motor a Devoção Popular Mariana articulada pela Teologia Mariana Oficial. 3. Caminhando com Maria, irmãos no mesmo Amor Equipe de Pesquisa sobre Religiosidade Popular Mariana Os processos de exploração e proletarização do trabalhador, os conflitos sociais, as divergências na conduta e de princípios, etc. que permeiam sociedade atual, que têm como base a divisão de classes sociais e consequentes processos discriminatórios de natureza étnica e de gênero, parecem ficar em segundo plano quando as pessoas reúnem-se aos milhares para caminhar em direção a casa de Maria o Santuário de Nossa Senhora Aparecida de Passo Fundo. No gesto significativo de locomover-se se expressam aspectos indentitários comuns. Estes vão construindo na consciência de cada romeiro um sentimento de unidade coletiva e de solidariedade para com o irmão que caminha ao lado 9. Além disso, permeiam o caminhar motivações semelhantes, que muitos romeiros trazem consigo para depositar aos pés de Maria, tais como: pedidos de saúde, de emprego, de moradia; ou gestos de agradecimento por graças e conquistas alcançadas e que são atribuídas à intercessão de Nossa Senhora Aparecida. Assim, pode-se afirmar que o desejo de realização da vida pessoal, familiar/comunitária, a vivência do mesmo sentimento filial por Maria, sob o título de Nossa Senhora Aparecida, são alguns dos aspectos que congregam e irmanam o povo romeiro. 9 Cf. Relat. da reunião da Equipe de Pesquisa de Religiosidade Mariana - 19 de outubro de Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n 109 -agosto/

46 Romaria de Nossa Senhora Aparecida: um encontro solidário entre religiosidade popular e teologia oficial Conforme inúmeros relatos registrados, o fator agradecimento aparece como grande força motivadora para participação na romaria 10. Mas o que exatamente o povo agradece? Na verdade, trata-se de um acordo pessoal e íntimo entre a Mãe (Nossa Senhora Aparecida), e o filho/a (romeiro/a). Por isso, os pedidos são, sobretudo, produto de uma conversa estabelecida no cotidiano da vida entre Mãe e filhos/as, resultante de um ato de amor que é nutrido a partir do diálogo, da escuta e tornado público no sinal da visita ao Santuário Todo o significado do caminhar peregrino brota de um gesto de amor, e é esse mesmo amor que permite identificar o outro como irmão caminhante, porque a mãe é uma só (Fala de romeiro na 31ª romaria-2012). Assim, ainda que a Igreja defina oficialmente o tema e o conteúdo da Romaria, os romeiros ocupam com liberdade tempos e espaços do percurso peregrino, organizando-se autonomamente em grupos de oração e de reflexão. No entanto, as constatações da Equipe de Pesquisa não autorizam afirmar que a hierarquia eclesial caminha na contramão do processo popular. É ela que convoca e congrega os romeiros/as e lhes oferece as condições para caminhar. É ela que lhes garante a recepção de bens espirituais que permeiam a romaria e que são sua marca desde o início: as bênçãos individuais recebidas das mãos do sacerdote, e o caráter vocacional desse evento, que se realiza anualmente no mesmo espaço do Seminário Nossa Senhora Aparecida 11. Entretanto, como já afirmado, não se deve alimentar a certeza de que o povo romeiro se mantenha sempre atento às reflexões e motivações preparadas e emitidas pelas equipes de animação, potencializadas por aparelhos de som ou transmitidas via meios de comunicação social ao longo do percurso da peregrinação. Diante dessa constatação, a Equipe de Pesquisa registrou em relatório de reunião de estudos e análise das entrevistas com romeiros: 10 Cf. Relat. da reunião da Equipe de Pesquisa de Religiosidade Mariana - 19 de outubro de Cf. Relat. da reunião da Equipe de Pesquisa sobre Religiosidade Mariana - 18 de setembro de Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n agosto/2013

47 Ainda que não se tenha averiguado com profundidade quais são os fatores que agem no sentido de agregar os romeiros, pode-se antecipar a ideia de que o congraçamento dos fiéis dá-se com base no encontro, na solidariedade e no sentimento de irmandade, fortalecido no diálogo entre os filhos e a mãe e identificado como princípio comum que une os caminhantes 12. Não é preciso que os pedidos e agradecimentos sejam os mesmos e que o código de comunicação também seja o mesmo, pois cada caminhante expressa com linguagem forjada pelo amor, pela devoção e pela fé, os motivos primeiros que o levam a empreender a caminhada. A Romaria é o encontro dos irmãos a caminho, tendo Maria como ponto de referência e de chegada. Neste sentido, os símbolos que são carregados pelos romeiros (velas, flores, imagens) expressam a relação íntima entre cada fiel e Maria. Tornam-se um presente que será entregue com o mesmo sentimento de afeto que se tem pela mãe terrena 13. Junto aos demais motivos para o caminhar, inserem-se pedidos de segurança e de amparo. Por isso, alguns romeiros caracterizam o gesto de caminhar, metaforicamente falando, como sendo semelhante aos primeiros passos que uma criança dá. Se ela não se sentir segura e amparada não tentará mais caminhar 14. Em Nossa Senhora Aparecida, o processo é semelhante, a busca de segurança e amparo nas estradas da vida são um elemento marcante entre os inúmeros sentimentos que são levados por cada caminhante. São sentimentos que refletem as angústias e as incertezas vivenciadas no dia-a-dia. Se os que caminham lado a lado não se sentirem amparados durante o percurso da vida faltar-lhes-ão as condições para sua realização humana e espiritual. Onde faltar a paz, o amor e o bem-estar junto ao irmão, também, faltará as condições para o cuidado com o coletivo com a sociedade/comunidade. O cuidado com cada indivíduo e com o social, se expressa como um anseio profético no caminhar solidário que tem como ponto de chegada o encontro pessoal e de todos com a Senhora Aparecida. Equipe de Pesquisa sobre Religiosidade Popular Mariana 12 Idem. 13 Idem. 14 Cf. Relat. da reunião da Equipe de Pesquisa de Religiosidade Mariana - 09 de outubro de Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n 109 -agosto/

48 Romaria de Nossa Senhora Aparecida: um encontro solidário entre religiosidade popular e teologia oficial Além disso, é importante destacar que a coragem para enfrentar os desafios do peregrinar, e também o bem-estar vivido ao lado do irmão que caminha junto, é conquistado ao longo do percurso, e vem carregado de um espírito profético e desafiador. Por isso, vários caminhantes recordam em suas conversas que Nossa Senhora Aparecida foi encontrada durante uma pescaria pobre, nas águas sujas de um rio sem vida, onde não mais brotava o sustento, a segurança e o alimento para a mesa. A partir deste encontro, recorda o romeiro (31ª Romaria ), a pescaria foi abundante, ou seja, a vida, o sustento, a segurança, as fontes do amor foram reavivadas e alimentadas pela esperança 15 esperança grávida de significado e amor por um povo, uma nação que vivia explorada. Em vista disso, na compreensão da maioria dos caminhantes, Maria como mãe de Jesus, é a mãe de todos. Com seu amor universal (Fala de romeiro-31ª Romaria) ela coloca o homem em contato direto com o Salvador. Cada romeiro, sem excluir o outro (FREIRE, 1987, p. 46) é o sujeito de sua trajetória romeira e de vida, é protagonista da assunção (FREIRE, 1987, p. 47) de sua autonomia e identidade pessoal. Esse novo modo de ser individual, refletindo-se na comunidade, constitui-se um contributo primordial para a construção da paz e da justiça. Em outras palavras, o sentimento solidário que une os viandantes ao longo da vida, é, sem dúvida, o fator primordial para a construção da verdadeira comunidade, inspirada na prática do amor e da caridade, fontes da fé e do compromisso social-transformador. Considerações finais A romaria de Nossa Senhora em Passo Fundo, para muitos, constitui-se, num grandioso evento turístico. Para os cristãos, no entanto, é um momento de expressão coletiva de fé e religiosidade. A presença constante de aproximadamente duzentos mil romeiros desafia a Arquidiocese e a todos quantos têm a responsabilidade de organizar o evento, de receber os peregrinos, de conduzir as preces. Desafia, igualmente, a pesquisa no sentido de descortinar a complexidade de motivos, 15 Idem 48 Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n agosto/2013

49 necessidades, aspirações e princípios que agregam, num só ato, milhares de caminhantes e direção a Cristo, por meio de Maria. Referências bibliográficas BENINCÁ, Elli. A pesquisa no ITEPA. In: RODIGHERO, Ivanir Antonio, NEGRI, Rudinei, PALU, Vanderlei (orgs.). O que a sociedade pensa e espera da Igreja Católica Passo Fundo? ITEPA, 2011 (Cultura e Religiosidade Popular; 5). BOFF, Clodovis. Maria na cultura brasileira. Aparecida, Iemanjá, Nossa Senhora da Libertação. Petrópolis: Vozes, Mariologia social. O significado da Virgem para a Sociedade. São Paulo: Paulus, Equipe de Pesquisa sobre Religiosidade Popular Mariana BRUSTOLONI, Júlio J. A mensagem da Senhora Aparecida. Aparecida/S.P.: Ed. Santuário, CNBB, Pronunciamentos do Papa no Brasil. Petrópolis: Vozes, In: BOFF, C. Maria na Cultura Brasileira. Petrópolis: Vozes, CIPOLINI, Pedro Carlos. A devoção mariana no Brasil. Teo comunicação Porto Alegre: v. 40 n. 1, p , jan./abr CONSELHO EPISCOPAL LATINO-AMERICANO-CELAM. Conferência geral do Episcopado Latino-Americano. Conclusões de Puebla. A Evangelização no Presente e no futuro da América Latina. São Paulo, Edições Loyola, FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. São Paulo, Paz e Terra, GONZALES DORADO. A mariologia popular latino-americana. São Paulo: Loyola, ITEPA. Constituições do Instituto de Teologia e Pastoral de Passo Fundo-RS NASCIMENTO, Welci., DAL PAZ, Santina. Vultos da história de Passo Fundo. < Acesso em 30 de junho de NOGUEIRA, Ataliba. Antonio Conselheiro e Canudos. São Paulo: Ed. Nacional, Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n 109 -agosto/

50 Romaria de Nossa Senhora Aparecida: um encontro solidário entre religiosidade popular e teologia oficial REIS, Aníbal Pereira dos. A histórica aparição de Nossa Senhora Aparecida. São Paulo, Caminhos de Damasco, 1968, 2ª edição. RODIGHERO, Ivanir Antônio. Mãe Aparecida no Embate Entre Ciclo do açúcar e do Ouro. Leitura histórico-teológico-pastoral. Revista Eclesiática Brasileira, Província Franciscana da Imaculada Conceição do Brasil, Fasc. 222, p. 364 a 386, Jun RODIGHERO, IvanirAntonio, Rudinei Negri, Vanderlei Palu (orgs.) O que a sociedade pensa e espera da Igreja Católica. Passo Fundo: Itepa, (Coleção Cultura e Religiosidade Popular). SANTOS, Pe. Antonio Queiroz dos, C.SS.R. Nossa Senhora Aparecida- -Histórico. Acesso em 30 de julho de SIMON, Pedro Ercílio. Uma diocese chamada Passo Fundo. Passo Fundo, Ed. Berthier, Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n agosto/2013

51 Salmos A oração do povo de Deus Pe. Jair Carlesso 1 Do fundo dos vossos corações, cantai a Deus salmos, hinos e cânticos espirituais (Cl 3,16). Os Salmos constituem o livro bíblico que trata especificamente da vida de fé de Israel. Estudar os Salmos significa entrar no universo orante deste povo. Porém, somente uma parte das orações de Israel está no livro dos Salmos. Para Segundo Galilea, a oração é a forma mais eminente e insubstituível da experiência cristã. Ela é uma das poucas atividades que realizamos puramente pela fé e por causa de Deus. Por isso, ela constitui o ingresso no nível da fé e da relação exclusiva com Deus, que é sempre maior do que o nosso coração e a nossa razão 2. Por isso, se por um lado, os Salmos foram a oração de Israel, por outro, eles fazem parte da nossa oração cotidiana na Igreja, razão pela qual nos propomos refletir. 1. A Bíblia, livro de oração Em seu conjunto, a Sagrada Escritura é o grande testemunho da confiança de Israel em Deus. Além de ser o criador e o libertador, Deus é o pastor que caminha com o seu rebanho. Ele está onde o povo está, é o Emanuel (Is 7,14; Mt 1,23). Neste sentido, Israel compreendeu Deus sempre 1 Mestre em Teologia Dogmática com concentração em Estudos Bíblicos, Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, São Paulo, SP; Pós-Graduação em Teologia Bíblica, habilitação em Metodologia do Ensino Bíblico, Universidade Católica de Pelotas, RS e Itepa, Passo Fundo, RS; Pós- Graduação em Metodologia Pastoral, URI, Santo Ângelo, RS e Itepa, Passo Fundo, RS; Graduado em Teologia, Itepa, Passo Fundo, RS; Licenciado em Filosofia, Faculdade de Ciências Humanas Arnaldo Busato, Toledo, PR. 2 Segundo GALILEA, O caminho da espiritualidade, p Caminhando Caminhando com o Itepa com - ano o XXVII Itepa - n Ano -agosto/2013 XXVII - n agosto/ p

52 SalmosA oração do povo de Deus próximo, dialogando frente a frente (Gn 12,1s), atencioso e misericordioso (Ex 34,6; Dt 4,31; Sl 103,8; 145,8; Ez 16,63). O salmista expressou isto quando disse: Quantas maravilhas realizaste, Javé meu Deus, quantos projetos em nosso favor: ninguém se compara a ti (Sl 40,6). E o livro da Sabedoria encerra o Primeiro Testamento com o seguinte testemunho: Senhor, em tudo engrandeceste e glorificaste o teu povo, sem perdê-lo de vista, em todo o tempo e lugar o socorreste! (19,22). Por isso, as ações de Deus na história se tornam motivo de oração e objeto de anúncio: O que nós ouvimos e conhecemos, o que nos contaram nossos pais, não o esconderemos aos filhos; nós o contaremos à geração seguinte (Sl 78,3-4). Assim, para Israel, a oração é o momento em que a História da Salvação se faz atualidade na consciência do orante e, consequentemente, fonte de esperança. É pela contemplação do passado histórico que o fiel vai se educando na convicção de que é a História o lugar da contemplação autêntica de Deus 3. O povo de Israel, desde o início de sua história, foi convidado a ouvir e confiar sua vida em Deus, a manter com Ele uma relação de escuta e acolhida de sua Palavra, pois é n Ele que as pessoas de todos os tempos encontram a vida: Ouve, ó Israel... (Dt 6,4); Escutai-me e vinde a mim, ouvi-me e haveis de viver (Is 55,3). Por sua vez, desta relação com Deus decorre um compromisso de vida que, para Israel, estava expresso nestas palavras: Amarás a Javé teu Deus com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua força (Dt 6,5) e Amarás o teu próximo como a ti mesmo (Lv 19,18). Assim como Israel foi convidado a ouvir atentamente a Deus e a estar aberto a Ele, da mesma forma ele devia rezar: com todo o coração, com toda a alma e com todas as forças, ou seja, com todo o seu ser e sua vida. A oração bíblica não é, portanto, uma palavra que sai meramente da boca-para-fora, mas algo que parte do fundo da existência e da vivência de cada pessoa. Israel é um povo orante. Sua vida é marcada pela oração. A Sagrada 3 SOARES, Sebastião A. G. Salmos: História, Poesia e Oração, Estudos bíblicos, n. 10, p Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n agosto/2013

53 Escritura mostra muito bem isto, pois está repleta de orações, tanto nos textos veterotestamentários como nos neotestamentários, constituindo-se num de seus grandes eixos 4. Mas é no livro dos Salmos, e justamente o maior dela, que está a grande riqueza de oração do povo de Israel. O próprio Jesus fez dos Salmos a sua oração em muitos momentos importantes e decisivos de sua vida. Ao tomarmos os Salmos, hoje, fazemos da oração de Israel oração nossa. Por isso, ler, aprofundar e rezar os Salmos é mergulhar na vida de oração e de fé de Israel. Assim, a oração dos Salmos acompanha e proclama a ação de Deus na História da Salvação. Por isso, o Papa Paulo VI dizia que a Sagrada Escritura deve se tornar a fonte principal de toda a oração cristã 5 Para Paulo Lockmann, a experiência de oração, no mundo judaico, é antes de tudo uma experiência comunitária, pois um judeu, mesmo quando orava só, sua oração era na condição de membro do povo de Deus [...]. Quando a oração era uma súplica individual, profundamente íntima, o Deus invocado era o Deus dos pais, o Deus da comunidade 6. Desta forma, a Escritura nos desafia a resgatar o valor da vida e da oração comunitárias e a sair da oração individualista e desligada da realidade da comunidade e da sociedade. Pe. Jair Carlesso 2. O livro dos Salmos Fazendo um resgate de muitas orações do povo de Israel, o livro dos Salmos lê a sua história a partir da ótica da fé, de sua espiritualidade. A palavra salmo significa oração cantada e acompanhada de instrumentos musicais 7. Os Salmos nasceram para serem cantados, por 4 A CRB, em Sabedoria e poesia do povo de Deus, da coleção Tua Palavra é Vida, 4, faz um elenco dos Salmos e orações em geral que aparecem fora do livro dos Salmos (cf. p ). Interessante perceber que estão presentes desde o Gênesis até o Apocalipse. 5 Constituição Apostólica, n. 8, 1970, Apud Liturgia das Horas I, p LOCKMANN, Paulo. Perdoa-nos as nossas dívidas. Uma meditação sobre a oração: uma forma de luta e resistência à opressão. Ribla, 5-6, p BALANCIN; STORNIOLO; BORTOLINI, Salmos, a oração do povo que luta, p. 7. Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n 109 -agosto/

54 SalmosA oração do povo de Deus isso, a melhor forma de rezá-los é cantando-os. Para Bortolini, o livro dos Salmos é a mais rica coleção de orações que a humanidade conhece. Apesar de serem muito antigos, os salmos são eternamente jovens, capazes de falar à alma dos homens e mulheres de todos os tempos e lugares 8. Trata-se de um livro formado por 150 poemas. São textos que nem sempre coincidem no conteúdo. Na Bíblia Hebraica, é uma coletânea que se insere depois da Lei e dos Profetas, dando abertura à terceira parte, chamada os Escritos. Desta forma, o livro dos Salmos mostra uma continuidade no pensamento judaico. Deus nos deu a Torá, os Profetas são aqueles que reorientam o povo para o Caminho (Torá), quando ele envereda por outros caminhos. Segundo Jacir de Freitas Faria, os Salmos são a oração, a fé rezada, no desejo e na certeza de um caminho que não se pode desviar. A oração nos coloca no caminho. Desta forma, os Escritos, iniciando-se com os Salmos, querem ser a Sabedoria e a História de Israel, marcada pela fé 9. Os Salmos foram compostos a partir da vida de fé do povo da Bíblia e constituem a síntese da Bíblia feita oração. Neles encontram-se pessoas e fatos históricos e de fé que juntos formam a experiência de Israel com Deus 10. Neles, a história da salvação, a natureza, os sentimentos, a esperança, os sofrimentos e muitas outras realidades do povo de Israel são transformados em oração 11. Por isso, os Salmos são expressão dos anseios de um povo que encontra razões para viver e lutar, mesmo quando tudo parece estar perdido. Desta forma, os Salmos são orações que nos conscientizam e engajam na luta dentro dos conflitos, sem dar espaço para qualquer tipo de pieguismo, individualismo ou alienação BORTOLINI, Jose. Conhecer e rezar os Salmos, p FARIA, Jacir de Freitas. O livro dos Salmos no seu contexto literário, Ribla, n. 52, p FARIA, Jacir de Freitas. A história como motivo de oração nos Salmos, Estudos bíblicos, n. 71, p FARIA, Jacir de Freitas. O livro dos Salmos no seu contexto literário, Ribla, n. 52, p E. M. BALANCIN, I. STORNIOLO, J. BORTOLINI, Salmos, a oração do povo que luta, p Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n agosto/2013

55 3. Origem e compilação dos Salmos Os Salmos na sua individualidade trazem experiências concretas das mais diversas épocas da história de Israel. Cada Salmo é a expressão de uma experiência particular, ou de uma família, ou de um grupo de pessoas, ou de uma comunidade. Na sua maioria, é difícil especificar a data ou mesmo o lugar de seu surgimento. Pode-se dizer que muitos deles possivelmente sejam relativamente antigos e outros mais recentes. De forma genérica, pode-se dizer que eles foram surgindo ao longo da história de Israel. Antes de serem escritos, eles foram vividos, rezados oralmente ou mesmo cantados por muitas pessoas. Assim, podemos dizer que os Salmos são portadores de uma experiência forte de uma pessoa ou grupo, e essa experiência foi sendo conservada e passada adiante 13. Por isso, eles são diferentes uns dos outros. Os Salmos nasceram do chão da vida. Como os demais livros da Bíblia, os salmos, em especial, não caíram prontos do céu, mas brotaram dos sofrimentos e emoções das pessoas. Não eram, originalmente, orações ou cantos para o templo, nem para a sinagoga, mas para expressar a fé do povo judeu, em sua vida concreta 14. Eles são, portanto, a vida, com tudo o que ela encerra, feita oração, prece ou louvor que sobe a Deus, na confiança que Israel sempre teve naquele que é o Deus vivo (Sl 42,3), a fonte da vida (Sl 36,10), cuja palavra é para sempre (Sl 119,89). O livro dos Salmos é como uma grande casa com muitos quartos. Cada quarto tem uma chave própria, diferente das outras. Para entrar em cada um desses quartos, é preciso procurar e encontrar a chave certa. Esta é a situação vivida pelas pessoas ou pelo grupo que criou o salmo. Por isso, é de grande importância conhecer a situação de vida que está por trás de cada Salmo para entendê-lo e rezá-lo melhor. A experiência concreta do salmista é transmitida através do texto que chegou até nós. Este se torna como que a ponte entre a nossa experiência e a experiência da pessoa que viveu séculos atrás 15. Pe. Jair Carlesso 13 BORTOLINI, José. Op. cit., p SILVA, Valmor da. Os Salmos como literatura, Ribla, n. 45, p BALANCIN; STORNIOLO; BORTOLINI, Salmos, a oração do povo que luta, p. 9. Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n 109 -agosto/

56 SalmosA oração do povo de Deus Segundo Víctor Morla Asensio, o Saltério é formado por 150 poemas individuais, que muito raramente coincidem no conteúdo de modo geral só em expressões ou em versículos isolados 16. Em relação à data da compilação do Saltério, Asencio reporta-se ao período final do AT. Segundo ele, o Saltério é uma coleção de poemas compostos num espaço de tempo de vários séculos, cuja compilação final ocorreu nos séculos III/II a.c. 17. Pode-se dizer, portanto, que a história da formação do Saltério é a própria história do povo de Israel. Seus grandes momentos estão nos Salmos em forma de oração. 4. Orações em forma de poesia Literariamente falando, os Salmos são orações que o povo de Israel foi criando, em forma poética. A poesia é um veículo religioso por excelência, um dos mais adequados para expressar e transmitir a experiência do ser humano com Deus 18. Para Asensio, a poesia constitui o elemento ideal para transmitir estruturas de significado compactas, dificilmente transmissíveis por meio de outros gêneros do discurso. Segundo este autor, os poemas do Saltério foram escritos de profundis e ao ritmo de uma fé apaixonada. Isto mostra que a poesia constitui o meio mais adequado para articular em sólidas estruturas verbais a emoção de sentir-se perante Deus. Além disto, a poesia é o meio mais apropriado para reconstruir à luz da fé o tempo e o espaço, a ordem da história e da sociedade 19. Por meio dela, é possível dizer o que não se consegue de outra forma. Os salmos são orações e como tais devem ser entendidos. Mas são orações em forma de poesia e, como obras poéticas, também devem ser interpretados ASENSIO, Victor Morla. Livros sapienciais e outros escritos, p ASENSIO, Victor Morla. Op. cit., p Segundo John B. Gabel e Charles B. Wheeler, cerca de um terço do AT é poesia, não havendo nenhuma em apenas sete livros (não cita em quais). Para estes, a única parte que os leitores do passado considerariam normalmente poesia é o Livro dos Salmos (A Bíblia como literatura, p. 44). Isto mostra que os Salmos foram sempre vistos como poesia e é desta forma que devem ser lidos/rezados/cantados. 19 ASENSIO, Victor Morla. Op. cit., p SILVA, Valmor da. Op. cit., p Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n agosto/2013

57 Em relação aos Salmos, Valmor da Silva lembra que é no âmbito da poesia que se deve rezá-los. Aí a palavra serve como símbolo, e se faz necessário ultrapassar a letra para ir ao sentido expresso pelas palavras. Sendo poesia hebraica, os Salmos refletem expressões e costumes tipicamente orientais, por isso, nem sempre bem compreensíveis à nossa cultura ocidental. Para Valmor da Silva, a linguagem da poesia é inesgotável. Ela está ligada à experiência original de alguém que a compõe, mas a supera. Significa que o texto vai além daquilo que seu autor quis expressar. Noutra pessoa que o lê, o salmo pode despertar sentimentos diferentes e mais amplos do que as palavras em si traduzem. Por isso se diz que a palavra é bem mais ampla que o texto. Segundo este autor, as imagens poéticas contidas nos salmos provêm da cultura judaica ou de povos vizinhos. Trata-se de cultura típica, tão diferente da nossa que a chamamos de oriental, em contraste com a do ocidente. Nesse aspecto há expressões raras, vocábulos incompreensíveis, situações estranhas. Para além disto, o autor ressalta que os Salmos eram cantados, e não apenas recitados. Infelizmente, as traduções não podem devolver este valor estilístico exatamente como no original. Na poesia hebraica não se rimam as palavras, mas sim o pensamento, o que torna, por sinal, a rima mais bem forte. A isso se chama paralelismo, porque uma ideia se coloca logo após a outra, de forma paralela. Quer dizer que uma frase expõe uma ideia, e a frase seguinte repete a mesma ideia com palavras diferentes 21. Desta forma, podemos dizer que os Salmos, por terem nascido da vida do povo, são a forma que Israel encontrou para expressar sua fé. Por isso, permanecem como fonte inesgotável para judeus, cristãos, e quaisquer outras religiões [...]. Quanto mais se mergulha em seu sentido poético, mais se compreende a sua riqueza orante 22. Os Salmos, em linguagem poética e metafórica, recolhem múltiplas situações de vida, de fácil e de difícil entendimento e superação, possibilitam quebrar o silêncio e direcionam a vida das pessoas a Deus. Eles relacionam Pe. Jair Carlesso 21 SILVA, Valmor da. Op. cit., p SILVA, Valmor da. Op. cit., p. 22. Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n 109 -agosto/

58 SalmosA oração do povo de Deus a Deus as mais variadas experiências, tanto as alegres quanto as contraditórias e cheias de sofrimento, pois somente Ele é portador do desígnio maior do ser humano, a salvação. Todos os Salmos, de certa forma, respondem à pergunta do Salmo 121: De onde virá o meu socorro? O meu socorro vem de Javé, que fez o céu e a terra (v. 1-2) 23. Concluindo este aspecto, podemos dizer que uma boa interpretação teológico-espiritual de um Salmo está ligada à sua compreensão literária. Para Jacir de Freitas Faria, os Salmos expressam a beleza da poesia hebraica. Nesta está o modo como o povo da Bíblia rezou a sua experiência com Deus. Ao longo da história, os Salmos sempre alimentaram e continuam fortalecendo a vida de fé das pessoas. Desta forma, resgatar os Salmos é o mesmo que beber no próprio poço de nossa espiritualidade 24. Nos Salmos encontramo-nos, direta ou indiretamente, com os temas dos grandes blocos do Antigo Testamento, ou seja, do Pentateuco, dos livros Históricos, dos Proféticos e dos Sapienciais. Ou como diz a introdução geral sobre a Liturgia das Horas, eles expressam muito bem as dores e esperanças, a miséria e a confiança dos seres humanos de qualquer época ou nação, sobretudo a fé em Deus, e cantam a revelação e a redenção Uma coleção de coleções Com 150 Salmos 26, o Saltério é o maior livro da Sagrada Escritura. Como será possível sua organização interna? Entre os estudiosos há maneiras diferentes de dividir e organizar os Salmos. Segundo Bortolini, há 14 tipos diferentes de Salmos. O processo de formação do livro dos Salmos foi acontecendo aos poucos. Inicialmente os Salmos foram aparecendo oralmente. Depois, progressivamente, foram sendo postos por escrito e agrupados em pequenas 23 SCHMIDT, Werner A. A fé do Antigo Testamento, p FREITAS FARIA, Jacir de. O livro dos Salmos no seu contexto literário, Ribla, n.52, p Liturgia das Horas, p Interessante perceber que a Tradução Grega dos Setenta (LXX) contém 151 Salmos, sendo o último não considerado canônico. A Bíblia Tradução Ecumênica (TEB) apresenta-o, depois de uma breve introdução, como Salmo Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n agosto/2013

59 coleções. Bortolini diz que antes de fazerem parte daquele que conhecemos hoje como o livro dos Salmos, muitas dessas orações pertenciam a coleções menores 27 que, aglutinadas, constituíram o Saltério. Estes aspectos nos dão a certeza que o Saltério não constitui obra de um único autor e nem é fruto de uma só época. Trata-se de uma coleção de coleções 28. Isto revela um dado positivo em relação ao testemunho de oração do povo de Israel, que em todas as épocas deixou-se guiar pela Palavra divina. Hoje, é bastante difícil reconstruir as etapas da formação do Saltério, por ser fruto de um longo processo. Diante disto, diversas são as possibilidades de classificar os Salmos. Destacamos: Pe. Jair Carlesso 1ª) O Saltério como uma coleção de 5 livros Esta divisão, em 5 partes, faz um paralelo com o Pentateuco. Ela indica a dimensão orante da Lei. É uma divisão litúrgica. Cada uma das partes encerra com a fórmula de bênção: Bendito seja Javé, o Deus de Israel, desde agora e para sempre! Amém! Amém! (Sl 41,14; 72,18; 89,53; 106,48). As partes são: 1ª) Sl 1 41; 2ª) Sl 42 72; 3ª) Sl 73 89; 4ª) Sl ; 5ª) Sl Esta subdivisão não é muito clara. Parece haver uma certa arbitrariedade na subdivisão, onde o modelo de base tenha sido o Pentateuco. O agrupamento não corresponde a interesses de caráter literário, como poderia ser a disposição por tipos ou gêneros. Ela nos dá 5 grupos desiguais em tamanho e heterogêneos em conteúdo. 2ª) O Saltério conforme o nome de Deus O Saltério pode ser visto como uma coleção de orações com as quais o povo invocava a Deus como Javé (Adonai) ou como Elohim (Deus). Os Salmos diferem entre si pela preferência que dão a um ou outro dos nomes de Deus. Assim: 1º) os blocos dos Salmos 3 41 e se referem a Deus como Javé, usando o tetragrama YHWH ; 27 BORTOLINI, José. Op. cit., p SCHÖKEL-CARNITI, Salmos I (Salmos 1-72), p. 72. Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n 109 -agosto/

60 SalmosA oração do povo de Deus 2º) o bloco dos Salmos se refere a Deus como Elohim. Isto faz supor a existência de, pelo menos, duas coleções, uma javista e outra eloísta, ou várias agrupando os Salmos a partir deste aspecto. Esta divisão é também um tanto complexa, pois não segue questões literárias e nem teológicas como critérios de classificação, além de ser um tanto desproporcional em relação ao número de Salmos que cada uma compõe. 3ª) O Saltério a partir da vida Segundo Marc Girard, o Saltério é um livro que se parece com um dicionário, isto é, não pode ser lido de uma só vez. É um livro para ser consultado continuamente e não ser buscado apenas como Palavra de Deus para nós, mas também como nossa palavra a Deus 29. Nele o povo de Israel colecionou suas mais belas orações. Cada Salmo é uma obra-prima que a tradição judaica nos deixou. Eles podem ser divididos em 4 grandes famílias, conforme o quadro que segue: Família do Salmo Palavra-chave Evento bíblico correspondente 1. Salmos de libertação Drama Opressão-êxodo 2. Salmos de instrução Lição Eleição-aliança 3. Salmos de louvor Admiração Criação 4. Salmos de celebração da vida Festa Ocasiões especiais 29 Cada vez que recitamos ou rezamos um salmo, de fato pedimos a Deus uma palavra emprestada. Pois Deus assumiu toda a experiência do seu povo e, através dela, a da humanidade inteira. Quantas pessoas estão tão abatidas, demolidas pela vida de todos os dias, que já não chegam a gritar a sua mágoa e até a sua revolta interior! A medida que lhes faltam as palavras, a Bíblia as põe na boca deles com uma profundidade simbólica incomparável (GIRARD, Marc. Como ler o livro dos Salmos, p. 13). 60 Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n agosto/2013

61 Para M. Girard, tudo o que faz parte da vida cotidiana das pessoas está contemplado na experiência do povo da Bíblia. Esta é a base de onde surgiram os Salmos. Segundo Girard, o povo tem quatro necessidades fundamentais a satisfazer: livrar-se dos problemas, deixar-se instruir, maravilhar-se com o que é belo e bom e fazer festa. Cada um desses quatro eixos determina uma família de salmos 30. Pe. Jair Carlesso 4ª) O Saltério como um conjunto de famílias Bortolini agrupa os Salmos em 5 famílias 31. Para se ter uma visão de conjunto e em vista de nosso maior aproveitamento, apresentamos, de forma sintética, esta classificação, por ser um tanto detalhada. 1ª Família: os Hinos a) Hinos de louvor: 8; 19; 29; 33; 100; 104; (105); 111; 113; 114; 117; 135; 136; 145 a 150; b) Salmos da realeza do Senhor: 47; 93; 96 a 99; c) Cânticos de Sião: 46; 48; 76; 84; 87; 122; (132); 2ª Família: Salmos individuais a) Súplica individual: 5; 6; 7; 10; 13; 17; 22; 25; 26; 28; 31; 35; 36; 38; 39; 42; 43; 51; 54; 55; 56; 57; 59; 61; 63; 64; 69; 70; 71; 86; 88; 102; 109; 120; 130; 140; 141; 142; 143; b) Ação de graças individual: 9; 30; 32; 34; 40; 41; 92; 107; 116; 138; c) Confiança individual: 3; 4; 11; 16; 23; 27; 62; 121; 131; 30 GIRAR, Marc. Como ler o livro dos Salmos, p.19. O quadro referente à classificação dos Salmos encontra-se na p BORTOLINI, José Conhecer e rezar os Salmos, p e Sobre este assunto, importante analisar SCHÖKEL-CARNITI, Salmos I (Salmos 1-72), p ; WEISSER, Artur. Os Salmos, p ; SERRANO, Gonzalo F. Salmos, in OPORTO, Santiago G. e GARCIA Miguel S. (Com. Edit.), Comentário ao Antigo Testamento II, p ; KSELMANN, John S. e BARRÉ, Michael L. Salmos, in BROWN, Raymond E.; FITZMYER, Joseph A. e MURPHY, Roland E. (Edit.), Novo comentário bíblico São Jerônimo: Antigo Testamento, p Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n 109 -agosto/

62 SalmosA oração do povo de Deus 3ª Família: Salmos coletivos a) Súplica coletiva: 12; 44; 58; 60; 74; 77; 79; 80; 82; 83; 85; 90; 94; (106); 108; 123; 126; 137; b) Ação de graças coletiva: 65 a 68; 118; 124; c) Confiança coletiva: 115; 125; 129; 4ª Família: Salmos reais: 2; 18; 20; 21; 45; 72; 89; 101; 110; 132; 144; 5ª Família: Salmos didáticos a) Liturgia: 15; 24; 134; b) Denúncia profética: 14; 50; 52; 53; 75; 81; 95; c) Históricos: 78; 105; 106; d) Sapienciais: 1; 37; 49; 73; 91; 112; 119; 127; 128; 133; Repetições e numeração dos Salmos Na vida do povo de Israel, experiências de oração de muitas pessoas serviam de luz para outras pessoas melhor poderem rezar. Estas experiências foram se tornando orações escritas, lidas e meditadas por muita gente. Assim, na vida de oração muitos Salmos eram retomados e relidos, a ponto de, no próprio Saltério, alguns deles estarem repetidos: a) 14,1-7 = 53,1-7; b) 40,14-18 = 70,1-6; c) 57,8-12 = 108,1-6; d) 60,7-14 = 108,7-14. Além destas repetições, encontramos outras, como o caso do Sl 18, que se encontra em 2Sm 22 (e outras possivelmente sejam encontradas). Isto expressa o quanto os Salmos eram utilizados na tradição cúltica de Israel. Com relação à numeração dos Salmos, ocorre uma diferenciação, dependendo da fonte utilizada para a tradução, se a Bíblia Hebraica (BH) ou a Bíblia Grega (BG), chamada Septuaginta, ou mesmo a Bíblia Latina (BL), conforme segue: BH BG e BL Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n agosto/2013

63 Pe. Jair Carlesso 8. A teologia dos Salmos Os Salmos não pretendem expor um tratado de teologia, pois são expressões poéticas de experiência peculiar de fé 32. Conforme sua classificação, eles são portadores de aspectos teológicos comuns. Por sua vez, cada Salmo, sendo expressão de uma realidade específica, apresenta uma teologia própria, sendo, por isso, todos eles merecedores de um aprofundamento particular. Os Salmos são a oração de Israel. Dirigidos a Deus, eles constituem a experiência religiosa deste povo, vivida ao longo dos séculos. Neles, louva-se a Deus pelo que é, por sua grandeza, pelas maravilhas que realizou na natureza e na história do homem, por sua lealdade, por sua fidelidade, por sua capacidade inesgotável de perdoar, de fazer justiça.... Ao mesmo tempo, suplica-se-lhe o perdão, a vida, a prosperidade.... Nos Salmos, as pessoas se dirigem a Deus como a um amigo 33. É desta forma que eles revelam Deus. Por isso, a imagem de Deus que os Salmos apresentam não se distancia daquela apresentada pelos demais livros do Antigo Testamento. Neles, o Deus de Israel apresenta-se basicamente como Deus salvador e criador. Somente ele é o salvador de Israel, o povo a quem ele criou quando o tirou do Egito (Ex 15,16). Tal salvação é vista como salvar da doença, da morte e dos inimigos ou mesmo como aquele que provê saúde, felicidade e vida longa. Não há ainda uma compreensão escatológica da vida. Esta se torna mais explícita na fase final do Antigo Testamento, com os livros 32 ASENSIO, Victor Morla. Op. cit., p SERRANO, Gonzalo F. Salmos, in: OPORTO, Santiago G. e GARCIA, Miguel S. (Com. Edit.), Comentário ao Antigo Testamento II, p Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n 109 -agosto/

64 SalmosA oração do povo de Deus de Daniel (12,1-4), 2 Macabeus (7,1-42) e Sabedoria (2,23; 5,15). Por isso, as atenções de Deus estarem voltadas para o aqui e agora. Mesmo assim, por ser o criador e o salvador, os Salmos enfatizam os aspectos do poder e da providência de Deus 34. Segundo Asensio, a fé israelita tinha sólido fundamento histórico. Os israelitas são testemunhos das implicações históricas dessa fé. Os Salmos 78, 105, 106 e 136 mostram muito bem isto. Neles estão presentes as tradições histórico-salvíficas básicas de Israel: patriarcas, êxodo do Egito, revelação no Sinai e estada no deserto 35. Tais tradições foram memoradas no culto, fazendo parte do conteúdo rezado por Israel através dos Salmos. Em muitos Salmos, Javé, o Deus de Israel, tinha morada no céu, com uma presença essencialmente dinâmica. Do céu Ele atende as súplicas dos indivíduos e do povo em geral. A Ele as pessoas recorrem em busca de socorro: A ti levanto meus olhos, a ti que habitas nos céus (Sl 123,1). Este aspecto revela a onipresença e onipotência divinas. Isto mostra que Deus, desde o início da Sagrada Escritura, define-se pela alteridade: Deus é Deus-para-o-homem 36. Este é um dado teológico fundamental. Suas manifestações, as teofanias, revelam um Deus dinâmico, que se abaixa e vem ao encontro do ser humano para erguê-lo. Sua visita e sua Palavra são sempre benfazejas. Por meio delas expressa sua vontade. Na tradição do Antigo Testamento, Javé comunicou-se de diversos modos a patriarcas, juízes, reis e profetas. Porém, se nos centrarmos nos salmos, descobriremos que o santuário de Sião constitui o lugar privilegiado da palavra de Javé. Por ser o Templo de Jerusalém a morada de Javé (Sl 76,3) e o lugar central do culto, os Salmos nele recitados eram a expressão da realidade concreta que envolvia a vida do povo, seja de dor ou de alegria. Após sua reconstrução, em 515 a.c., o Templo tornou-se o local de três grandes festas religiosas anuais israelitas: a Festa da Páscoa, celebrada no início da primavera; a Festa do Pentecostes, celebrada sete semanas mais 34 KSELMANN, John S. e BARRÉ, Michael L. Salmos, in: BROWN, Raymond E.; FITZMYER, Joseph A. e MURPHY, Roland E. (Edit.), Novo comentário bíblico São Jerônimo: Antigo Testamento, p ASENSIO, Victor Morla. Op. cit., p ASENSIO, Victor Morla. Op. cit., p Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n agosto/2013

65 tarde; e a Festa da Colheita, também chamada Festa das Tendas, celebrada no início do outono. O povo dirigia-se ao Templo para encontrar-se com Deus. A ele dirigia-se o orante para escutar e acolher uma palavra que explicasse e aliviasse seus sofrimentos. Ia em busca de uma palavra de salvação, pois sabia que o Senhor abençoa a partir de Sião (Sl 128,5; 134,3) 37. Por isso, o Saltério foi chamado de o livro de cânticos do templo [...]. O templo era o palácio da deidade [...]. Deste palácio (hêkal) Deus reinou na terra, trazendo salvação e bênçãos (Sl 18,7; 20,2.7; 36,10), e julgando a humanidade (9,8-9; 11,44-6; 33,13-15). O israelita ia ao templo, onde esperava ver Deus 38. Outro aspecto significativo que aparece nos Salmos diz respeito à santidade de Deus. Para Asensio, a santidade constitui o atributo por antonomásia do Deus de Israel: Javé é santo (Sl 22,4; 71,22; 78,41; 89,19; 99,3.5.9). Javé é o santo de Israel, que escolheu o povo e o converteu no objeto de suas promessas. Por isso, mostra-se próximo do homem em sua justiça, sua bondade, sua lealdade, sua firmeza, sua sinceridade, sua misericórdia e sua compaixão. Ao mesmo tempo, os Salmos mostram também que Javé é conhecido por sua fidelidade e sinceridade. A fidelidade de Javé se manifesta na sua palavra (Sl 119,160) e seus mandamentos (Sl 119, ) 39. É praticamente consenso entre os estudiosos que o conjunto dos Salmos, independentemente de sua classificação específica, foram surgindo desde épocas muito remotas, talvez dos inícios do Estado Monárquico, com Saul ( a.c.) e Davi ( a.c.), até o movimento dos Macabeus ( a.c.). Segundo Sandro Gallazzi, como expressão desta longa caminhada, os Salmos refletem os acontecimentos da história, o progresso da revelação e da fé de Israel. Ao mesmo tempo, eles são memória viva de um diálogo milenar entre Deus e seu povo: com eles os orantes se rejubilam e se entristecem, relembram as promessas antigas e alimentam suas esperanças. Sandro Gallazzi faz um questionamento interessante: Além da teocracia monárquica davidita, está presente no livro dos Salmos, também, a Pe. Jair Carlesso 37 ASENSIO, Victor Morla., Op. cit., p KSELMANN, John S. e BARRÉ, Michael L. Op. cit., p ASENSIO, Victor Morla. Op. cit., p Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n 109 -agosto/

66 SalmosA oração do povo de Deus teocracia sacerdotal sadocita? 40. Se está, como ela aparece e se faz sentir? Esta pergunta é pertinente, pois foi neste contexto pós-exílico que o Saltério foi compilado. Os sacerdotes do segundo Templo, principais lideranças da comunidade judaíta, interferiram diretamente na redação final do Pentateuco, legitimando o projeto teocrático. A questão é se o Saltério, livro que representa a fé e a oração de Israel, também foi influenciado por este grupo? Para Sandro Gallazzi, o templo ocupa um lugar central no livro dos Salmos. Não podia ser diferente, visto que o templo talvez seja melhor chamá-lo de santuário é um dos lugares privilegiados da peregrinação popular e espaço do encontro entre Deus e Israel. Segundo este autor, em nenhum momento os Salmos usam palavras típicas do segundo templo. Nunca aparece, por exemplo, a expressão santo dos santos para indicar o centro santíssimo da presença divina [...]. Outro aspecto que chama atenção é que o altar, fundamental para os sacrifícios, nos Salmos tem uma presença mínima, quase insignificante. Somente cinco citações lembram diretamente o altar (26,6; 43,4; 51,21; 84,4; 118,27) [...]. A única vez em que o altar é associado ao sacrifício é para dizer que este não será aceito (51,21). Para Gallazzi, o sacrifício pelo pecado era um elemento central na teocracia do segundo templo: era instrumento privilegiado para garantir a lógica da retribuição e o poder mediador do sangue e do sacerdote, únicos elementos capazes de segurar a ira do Altíssimo e garantir o perdão ao povo. No livro dos Salmos, o sacrifício pelo pecado nunca é apresentado como elemento litúrgico do perdão de Deus. O sacrifício de reparação não é mencionado e o sacrifício pelo pecado só aparece uma vez e num contexto de contestação: Não quiseste sacrifícios nem oferenda, mas abriste-me os ouvidos; não exigiste holocausto nem sacrifício pelo pecado (40,7). Para S. Gallazzi, o livro dos Salmos não conservou nem nos transmitiu uma religiosidade baseada na lógica discriminante da pureza e da impureza [...]. Palavras como santificar, ser santo, profano, impuro, impureza, 40 GALLAZZI, Sandro. O Senhor reinará eternamente Uma contestação à teocracia sadocita, Ribla, n. 45, p Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n agosto/2013

67 tão centrais na teologia do segundo templo, parecem conceitos estranhos à experiência religiosa que os Salmos nos comunicam. Sequer são usadas! Nos Salmos a pureza e a impureza não são coisificadas. As coisas, os lugares, os animais, as comidas, os líquidos que saem do corpo do homem e da mulher, os cadáveres, as doenças... não são puros ou impuros em si. Nem por si contaminam ou santificam. A dimensão ética, vinda dos profetas, se sobrepõe à dimensão mecânica da legislação levítico-sacerdotal. A conversão do coração, as mãos limpas, o coração novo, são meios suficientes para alcançar a vida e a santidade que vem de Deus. Nos Salmos o sacerdote nunca aparece exercendo seu papel propiciatório, de intermediário necessário para expiar os pecados do povo. E o sangue nunca é lembrado como elemento de expiação que lhe consignou o Levítico. No segundo Templo, o sangue estava no centro cultual das celebrações. Isto não aparece nos Salmos. A única vez em que o sangue é associado aos sacrifícios é para questionar-lhe a importância: Acaso hei de comer carne de touros e beber sangue de bodes? Como sacrifício, oferece a Deus a confissão e cumpre teus votos diante do Altíssimo! (50,13-14). O que os Salmos propõem são votos no lugar de sacrifícios, compromisso no lugar de ritos sangrentos! A purificação, então, não passa por gestos mágicos ou ritualistas [...]. O perdão é sinal e fruto do amor gratuito de Deus, fiel ao seu nome de salvador. Isto parece mostrar porque, no livro dos Salmos, os sacerdotes, também, têm um papel reduzido. Bem poucas vezes eles são mencionados. Nunca os levitas, tão importantes na liturgia do segundo templo. Diante disto, Gallazzi conclui que o livro dos Salmos manifestação sublime da religiosidade de Israel não incorporou a experiência religiosa oficial do Judá do segundo templo, nem assumiu a proposta teocrática do poder religioso que dominava desde Jerusalém. Os sacerdotes ligados ao segundo Templo de Jerusalém não puderam intervir na redação final do livro dos Salmos 41. Pe. Jair Carlesso 41 GALLAZZI, Sandro. Op. cit., p Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n 109 -agosto/

68 SalmosA oração do povo de Deus Considerações finais Concluindo nossa reflexão sobre os Salmos, destacamos alguns aspectos. Os Salmos são uma síntese da Bíblia feita oração. Neles, encontramos a vida de um povo cheio de esperança. A esperança foi uma característica marcante de Israel. Somos um povo que espera. Essa foi a experiência do povo da Bíblia, nossos pais e mães na fé 42. Os Salmos expressam, de um ou de outro modo, o clamor e a esperança dos oprimidos. Dirigem-se, não a um ídolo que tem boca, mas não fala; ouvidos, mas não ouve (cf. Sl 115) e não se interessa pela vida do povo, mas conversam com o Deus Vivo que responde às orações dos que anseiam e trabalham pela justiça 43. Fazem parte da vida as mais diversas situações de alegria e de dor e sofrimento das pessoas. O sofrimento é uma experiência humana universal, podendo ser individual ou coletivo e ter inúmeras causas. Ele não deve ser compreendido de forma isolada, mas como parte do conjunto da vida. O sofrimento leva o ser humano a rezar, a se entregar a Deus, aquele que é capaz de salvar, com profunda confiança, procurando nele uma resposta. Por isso, muitos Salmos são provenientes de experiências de sofrimento. O sentimento é de que sem Deus o sofrimento seria maior ainda. O sofrimento interioriza a relação com Deus 44. Por isso, a expressão que mais aparece nos salmos é o apelo por salvação 45. A liturgia, por um lado, aparece como o berço de muitos Salmos. Por outro, ela é um dos espaços privilegiados de uso dos Salmos, hoje. Segundo Marcelo Barros, a tradição cristã sempre realçou o princípio teológico lex orandi, lex credendi : o modo como se reza revela aquilo que se crê. É desta forma que entendemos a natureza e o sentido dos Salmos. 42 FARIA, Jacir de Freitas. Esperança dos pobres nos Salmos, Ribla, n. 39, p SOUZA, Marcelo de Barros. Os Salmos nas lutas das comunidades cristãs, Estudos bíblicos, n.10, p FARIA, Jacir de Freitas. Salmos de sofrimento Expressão da interiorização das relações com Deus! Ribla, n. 45, p BARROS, Marcelo. Amor que une vida e oração Os Salmos bíblicos e a Liturgia, Ribla, n. 45, p Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n agosto/2013

69 Para este autor, a oração dos salmos supõe uma espiritualidade de aliança e expressa uma forma de orar ligada à vida concreta 46. Se os Salmos são orações concretas, são ao mesmo tempo uma escola de oração, freqüentada também por Jesus que, nos momentos mais difíceis de sua vida, fez deles a sua oração: Pai, em tuas mãos entrego o meu espírito (Lc 23,46; Sl 31,6); Deus meu, Deus meu, por que me abandonaste? (Mc 15,34; Sl 22,2); A minha alma está triste até a morte. Permanecei aqui e vigiai (Mc 14,34; Sl 42,5-7). Em muitos momentos, nas discussões com os judeus, Jesus também retomou os Salmos. A CRB lembra-nos que os Salmos desconhecem a fé na ressurreição. Por isso, para nós, cristãos, é bom rezar os salmos à luz do Cristo ressuscitado. Ao mesmo tempo também, os Salmos desconhecem a vida trinitária em Deus. Por isso, ao final da oração dos Salmos é sugerido fazer a louvação: Glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo! 47. Pe. Jair Carlesso Referências bibliográficas AGOSTINI FERNANDES, L. e GRENZER, M. Dança, ó terra!: interpretando os Salmos. São Paulo: Paulinas, 2013 (Coleção exegese). ASENCIO, Victor Morla. Livros sapienciais e outros escritos. São Paulo: Ave Maria, 1997 (Introdução ao estudo da Bíblia, 5). BALANCIN, E. M., STORNIOLO, I., BORTOLINI, J. Salmos, a oração do povo que luta. São Paulo: Paulinas, BALANCIN, E. M.; STORNIOLO, I. e BORTOLINI, J. Salmos, a oração do povo que luta. São Paulo: Paulinas, BARROS, Marcelo, Amor que une vida e oração Os Salmos bíblicos e a Liturgia, Ribla, n. 45, p , Petrópolis: Vozes, 2003 BORTOLINI, José. Conhecer e rezar os Salmos: comentário popular para nossos dias. São Paulo: Paulus, BARROS, Marcelo. Amor que une vida e oração Os Salmos bíblicos e a Liturgia, Ribla, n. 45, p CRB, Sabedoria e poesia do povo de Deus, p.49. Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n 109 -agosto/

70 SalmosA oração do povo de Deus BROWN, Raymond E., FITZMYER, Joseph A. e MURPHY, Roland E. (Edit.), Novo comentário bíblico São Jerônimo: Antigo Testamento. São Paulo: Academia Cristã; Paulus, CEBI. Livro dos Salmos. O Rio dos Salmos das Nascentes ao Mar. São Leopoldo: CEBI, CRB. Sabedoria e poesia do povo de Deus. São Paulo: Loyola, 1993 (Tua Palavra é Vida, 4). CRB. Seguir Jesus: os Evangelhos. São Paulo: Loyola, (Tua Palavra é Vida, 5). FARIA, Jacir de Freitas. A história como motivo de oração nos Salmos, Estudos bíblicos, n. 71, p , FARIA, Jacir de Freitas. Esperança dos pobres nos Salmos, Ribla, n.39, Petrópolis: Vozes, p.61-73, FARIA, Jacir de Freitas. O livro dos Salmos no seu contexto literário, Ribla, n. 52, Petrópolis: Vozes, p.11-28, CRB. Seguir Jesus: os Evangelhos. São Paulo: Loyola, (Tua Palavra é Vida, 5). FARIA, Jacir de Freitas. Salmos de sofrimento Expressão da interiorização das relações com Deus! Ribla, n. 45, p , Petrópolis: Vozes, GABEL, B. John e WHEELER, Charles B. A Bíblia como literatura. São Paulo: Loyola, 1993 (Bíblica Loyola, 10). GALILEA, Segundo. O caminho da espiritualidade. 2. ed., São Paulo: Paulinas, GALILEA, Segundo. O caminho da espiritualidade. 2.ed., São Paulo: Paulinas, 1983 (Tempo de Libertação, 5). GALLAZZI, Sandro. O Senhor reinará eternamente Uma contestação à teocracia sadocita, Ribla, n.45, Petrópolis: Vozes, p.63-72, GAMELEIRA SOARES, Sebastião A. Salmos: História, poesia e oração (Uma leitura do Salmo 77). Estudos Bíblicos, 10, Petrópolis: Vozes, p.8-27, Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n agosto/2013

71 GIRARD, Marc. Como ler o livro dos Salmos: espelho da vida do povo. 2. ed., São Paulo: Paulus, GRÜN, Anselm. A oração como encontro. 5.ed., Petrópolis: Vozes, Liturgia das Horas, I, Aparecida: Santuário, Vozes, Paulinas, Paulus, Ave-Maria, Pe. Jair Carlesso LOCKMANN, Paulo, Perdoa-nos as nossas dívidas Uma meditação sobre a oração: uma forma de luta e resistência à opressão, Ribla, n.5-6, Petrópolis: Vozes, p.7-13, LOCKMANN, Paulo. Perdoa-nos as nossas dívidas. Uma meditação sobre a oração: uma forma de luta e resistência à opressão. Ribla, 5-6, Petrópolis: Vozes, p. 7-13, 1990 MARTÍN NIETO, Evaristo. Pai-Nosso: a oração da utopia. São Paulo: Paulinas, OPORTO, Santiago G. e GARCIA, Miguel S. (Com. Edit.), Comentário ao Antigo Testamento II. São Paulo: Ave Maria, SCHMIDT, Werner. A fé do Antigo Testamento. São Leopoldo: Sinodal, SCHÖKEL-CARNITI, Salmos I (Salmos 1-72), São Paulo: Paulus, 1996 (Coleção grande comentário bíblico). SILVA, Valmor. Os Salmos como literatura, Ribla, n.45, Petrópolis: Vozes, p.9-23, SOBRINO, Jon. Jesus, o Libertador. Vozes: São Paulo, 1994 (Coleção; Teologia da Libertação: Série II: O Deus que liberta seu povo. I. A história de Jesus de Nazaré). SOUZA, Marcelo de Barros. Os Salmos nas lutas das comunidades cristãs, Estudos bíblicos, n.10, Petrópolis: Vozes, p.58-60, WEISER, Artur. Os Salmos. São Paulo: Paulus, 1994 (Coleção grande comentário bíblico). Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n 109 -agosto/

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73 A misericórdia de Deus: raiz de toda profecia Ir. Deuza Maria da Silva Moura 1 Pe. Nelson Tonello 2 O Primeiro Testamento registra a relação amorosa entre o Criador e a humanidade; mas também a ruptura dessa relação quando a liberdade, dom de Deus para o ser humano, foi usada irresponsavelmente. Desde lá temos ciência de que a infidelidade a Deus nos desumaniza, desfigura em nós a imagem e semelhança à qual fomos criados 3 (Gn 1, 26), afetando também a criação em sua integridade e beleza. É então que a experiência da misericórdia, ou seja, do amor gratuito de Deus, surge como realidade mais essencial a ser por nós acolhida, para que o Reino de Deus se efetive. É a misericórdia que nos possibilita recuperar a imagem mais fiel de Deus e de nós mesmos. A profecia foi e é uma forma radical que Deus encontrou para nos dar ideia do tamanho e da qualidade do seu amor. Como entender isso? A atuação dos profetas deu-se, em geral, em períodos conturbados da história de Israel, em meio a guerras, crises de fé e infidelidades. A idolatria foi a transgressão mais frequente na caminhada desse povo, que fora eleito para ser luz das nações (Is 42,6), mediante a fé no Deus único. Mas a ela seguia-se a exploração dos pobres e o que é pior a justificação da mesma como pretexto religioso. Contra isso se levantaram os profetas, homens que, escutando o chamado de Deus, puseram-se a denunciar as si- 1 Graduanda em Teologia, Itepa Faculdades. 2 Presbítero da Arquidiocese de Passo Fundo. Especialista em Ciências Bíblicas, Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora Assunção, SP; Licenciado em Filosofia, UPF, Passo Fundo, RS; Licenciado em Pedagogia e Especialização em Filosofia, FAFIMC, Viamão, RS; Bacharel em Teologia, Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, SP; Título Superior de Religião e Catequese, Instituto Nacional de Pastoral, Estado da Guanabara; 3 As citações bíblicas utilizadas no texto são da Bíblia de Jerusalém, Ed. Paulus. Caminhando com o Itepa - Ano XXVII - n agosto/ p

74 A misericórdia de Deus: raiz de toda profecia tuações de pecado e de injustiças cometidas contra os mais frágeis e pobres. Eles anunciavam o que aconteceria, caso o povo não mudasse de conduta: seriam invadidos por nações pagãs que imporiam o julgo da escravidão e também seus próprios deuses; perderiam o território, a liberdade e até mesmo a identidade. Mas, o anúncio fundamental dos profetas estava na possibilidade da conversão. Por isso usavam imagens e uma linguagem simbólica eloquente, a fim de conduzir o povo ao arrependimento. Pintaram para o povo o retrato de um Deus que é como um oleiro capaz de remodelá-los, recriá-los (Jr 18, 6), como uma mãe que ama, ensina a andar e é incapaz de esquecer seu bebê (Is 49, 15), que os toma nos braços e envolve com laços de bondade e ternura (Os 1.3); ainda como o esposo que ama e acolhe sua esposa infiel. Para os profetas, a experiência da misericórdia era a via obrigatória para a mudança da estrutura social corrompida e opressora. Neles, a misericórdia de Deus produziu um grito único que se expressou de várias formas, de acordo com seus contextos: o grito pela justiça. Fez deles pessoas apaixonadas por Deus e pelo povo. Por isso, se de um lado denunciavam duramente a infidelidade do povo, por outro, anunciavam que a misericórdia nos é dada como dom gratuito e remédio para tratar as feridas abertas pelo pecado, devolvendo a integridade e a paz. Para Ezequiel ela é como água pura que lava as imundícies dos ídolos, colocando no peito um coração de carne, ao invés do de pedra (Ez 36,25-26), e só ela possibilitaria a ressurreição do povo que estava como ossos secos. E Isaías a anuncia como bem que Deus dá, gratuita e abundantemente, como água ao sedento e pão ao faminto (Is 55,1). A experiência pessoal da misericórdia e do amor gratuito de Deus, vivida pelos profetas, potencializou a denúncia, o anúncio e todo o seu testemunho, e está na raiz de toda profecia! É ela que também desperta e sustenta em nós a confiança no amor incondicional de Deus, em nós mesmos, no outro e no futuro, e nos abre para a necessidade de assumir, dia-a-dia, o processo de conversão. A misericórdia, só ela, nos permite reescrever a história pessoal e coletiva, voltar dos nossos exílios 4, escravidões, depen- 4 Expressão usada por Milton Schwantes no seu livro Sofrimento e esperança no exílio: Sinodal, Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n agosto/2013

75 dências Só ela produz a benfazeja mudança de mentalidade que incide nos atos, fazendo-nos crer no broto novo (Is 11,1), em meio às opressões de hoje, e dizer não a tudo que nos fragmenta enquanto pessoa, enquanto povo. Só a misericórdia nos faz apostar no sonho da fraternidade, alicerçado na justiça e no direito (Am 5,24). Ir. Deuza Maria da Silva Moura Pe. Nelson Tonello Caminhando com o Itepa - ano XXVII - n 109 -agosto/

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77 Oração de São Francisco Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz Onde houver ódio, que eu leve o amor Onde houver ofensas, que eu leve o perdão Onde houver a discórdia, que eu leve a união Onde houver dúvida, que eu leve a fé Onde houver erro, que eu leve a verdade Onde houver desespero que eu leve a esperança Onde houver a tristeza, que eu leve alegria Onde houver trevas, que eu leve a luz Ó mestre, fazei-me que eu procure mais, consolar que ser consolado Compreender que ser compreendido Amar, que ser amado Pois é dando que se recebe É perdoando que se é perdoado E é morrendo que se vive para a vida eterna.

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