EDS. Prof. Diego Araujo Azzi

Transcrição

1 EDS Prof. Diego Araujo Azzi

2 Clássicos da Teoria Social Max Weber

3 Max Weber ( ) Assim como Durkheim e Marx, W e b e r é m o v i d o p e l a necessidade de compreender as mudanças da sociedade moderna e do capitalismo em relação a outras formas de organização social N ã o c o m p a r F l h a v a d a concepção materialista da h i s t ó r i a e d a v a m e n o r importância à luta de classes, mas não se trata de um anfmarxismo!

4 Weber era jurista e economista, nunca foi um filósofo. Tornou-se um sociólogo na fase final da vida Pesquisou os campos do direito, da economia, da religião, da filosofia e da história, além da sociologia Sua abordagem foi definida como uma Sociologia Compreensiva (no senfdo de ser interpretafva, explicafva), em oposição à sociologia PosiFvista (empírico- normafva)

5 Weber vê a Sociologia como uma ciência dos indivíduos agindo socialmente; não como uma ciência dos grupos. Os grupos não agem A teoria de Weber não nega a lógica capitalista desenvolvida por Marx, mas a completa com outra perspecfva, que enfafza os aspectos sociais e culturais As ideias e valores da cultura tem tanta importância quanto os fatores econômicos. Interesses ideais O grande motor da vida social é de fato a economia (Marx), mas o que define o sen0do e a direção em que se move a sociedade são as ideias: filosóficas, religiosas, cien[ficas, etc

6 A economia exerce uma influência racionalizadora sobre as pessoas (as sociedades) O capitalismo ocidental é dominado pela ascensão da ciência e da burocracia (Estado): organizações racionais de grande escala

7 Weber argumentava que a sociologia deve se focar na análise dos nexos da ação dos indivíduos e não das estruturas sociais. Individualismo metodológico O trabalho da sociologia é entender os significados por trás dessas relações. Ela deve ser libertada dos conceitos colefvos personalizados, como consciência colefva, etc As estruturas não existem fora dos indivíduos (Durkheim; Marx), elas são formadas por uma complexa inter-relação de ações individuais

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10 Preocupações fundamentais em Weber Metodologia de pesquisa social (Ciência) Processo de Racionalização (e sociedade) Surgimento e expansão da Burocracia (Estado) Relações sociais de Autoridade (dominação legít.) Religião (e economia) Economia (e religião)

11 Processo de Racionalização A sociedade moderna trouxe novos padrões de ação social. Processo histórico colefvo de desenvolvimento da ciência, da burocracia e da tecnologia moderna Afastamento das crenças tradicionais baseadas em supersfção, religião, costumes e hábitos anfgos. Cresce a ação fundamentada em cálculos racionais e instrumentais, levando em conta a eficiência e o conhecimento técnico (custo-beneacio; viabilidade) e as consequências futuras A ciência é a um só tempo resultado histórico e agente motor do processo de racionalização Processo de Desencantamento do Mundo: a maneira como o pensamento cien[fico-racional no mundo moderno vai varrendo as forças mísfcas e religiosas do passado

12 Pessimismo de Weber sobre a Racionalização A disseminação da lógica burocráfca para cada vez mais esferas da vida social criaria uma jaula de ferro inescapável A dominação burocráfca, ainda que baseada em princípios racionais, poderia esmagar a humanidade (efeitos desumanizantes) tentando regular todas as esferas da vida social (socialismo real na arte, por exemplo) Riscos também para o desfno da democracia, confrontada com a dominação burocráfca e procedimental pelas regras do regime O progressismo do Iluminismo do séc. XVIII (avanço cien[fico, aumento da riqueza e da felicidade, rejeitando costumes tradicionais e supersfções) também mostrava o seu lado obscuro e perigoso

13 A objelvidade do conhecimento nas Ciências Sociais Oposição crífca ao posifvismo (Comte- Durkheim) neutralidade de valores do cienfsta busca de leis totalizantes busca de ordem e controle

14 Tradição sociológica alemã: ênfase no estudo de aspectos limitados da realidade Ciências da Cultura: Sociologia e História não existe cultura sem valores os valores são inerentes a estas ciências Cultura (sociedade): um campo permanente de disputa de força, de conflitos e de luta entre os homens lutas para definir o significado e as qualidades das coisas, dos ideais, das condutas e das ocorrências uma arena de significados em que os homens atribuem valor e senfdo ao que eles próprios fazem

15 Em nome de quê determinadas ocorrências são tratadas como objeto de pesquisa e outras não? a força motriz da pesquisa é dada por valores os valores dão senfdo à escolha do objeto de estudo objefvidade não significa desligamento dos valores O conhecimento cien[fico não é um reflexo fidedigno da realidade social (posifvismo) a ciência faz um ordenamento conceitual da realidade para determinados fins validade obje0va: a objefvidade do conhecimento cien[fico social será medida pela sua validade universal, que está vinculada a determinados fins

16 Requisitos de objelvidade em Weber a) neutralidade axiológica b) parcialidade (recorte do objeto) c) consideração do substrato subjefvo dos fenômenos d) metodologia própria: 0pos ideais

17 Requisitos de objefvidade em Weber a) neutralidade axiológica Axiologia s.f. [Filosofia]: Qualquer teoria que esteja relacionada com a questão dos valores (especialmente os valores morais); ciência dos valores. (dicio.com.br) Uma ciência empírica jamais pode se propor a fornecer normas e ideais obrigatórios, dos quais devem derivar receitas para a práfca Uma ciência pode dizer o que se pode fazer, mas não o que se deve fazer Ainda que seja permeada por valores, a ciência não deve criar visões morais do mundo

18 Requisitos de objefvidade em Weber a) neutralidade axiológica (2) Diferença entre Juízo de valor: afirmação moral ou opinião pessoal que pode ser refutada ou contestada por outros Referência a valores: procedimento de seleção e organização da ciência objefva Quando se define determinado objeto de estudo, se está implicitamente afirmando sua maior importância em relação a outros

19 Requisitos de objefvidade em Weber b) parcialidade Por ser infinita e complexa, a realidade não é passível de apreensão na sua totalidade. São necessárias abstrações conceituais São necessários cortes metodológicos. A ciência não parte do real, ela constrói o real com seus métodos e teorias CríFca às pretensões totalizantes e materialmente determinadas do materialismo histórico como metodologia de pesquisa A totalidade cien[fica tem limites pré-estabelecidos. Isso possibilita que tenha eficácia enquanto explicação obje0va

20 Requisitos de objefvidade em Weber b) parcialidade (2) Weber está interessado nas relações de causalidade dos fenômenos sociais aquilo que é indispensável para a ocorrência de um fenômeno tal como ocorreu ( efeito borboleta ) Todos os fenômenos sociais possuem causas econômicas, históricas, culturais e psicológicas (subjefvas) A quanfdade de causas para cada fenômeno é infinita e não há como definir cienfficamente qual é mais importante, pois isto seria um julgamento de valor Não existe nas próprias coisas critério algum que permita escolher dentre elas uma parte que possa entrar isoladamente em consideração pelo cienfsta

21 Requisitos de objefvidade em Weber c) consideração do substrato subjelvo dos fenômenos Os valores do cienfsta e sua visão de mundo é que o guiam na seleção dos problemas a serem trabalhados A escolha do objeto de estudo é fortemente subjefva Categorias como sociedade, estado, catolicismo, protestanfsmo, racionalidade, comunidade não são realidades empíricas, são subje0vas, mas existem de verdade

22 Requisitos de objefvidade em Weber c) consideração do substrato subjelvo dos fenômenos (2) Se essas insftuições sociais não são realidades empíricas, só é possível reduzi-las às ações dos indivíduos A ação individual é a realidade empírica para Weber A tarefa das ciências sociais é entender por que os fenômenos são assim e não de outra maneira. Compreensão dos antecedentes causais da ação A busca posifvista e materialista por leis gerais teria o efeito de negar a complexidade e as singularidades da realidade

23 Requisitos de objefvidade em Weber d) metodologia própria: formulação de 6pos ideais Premissa epistemológica: os conceitos não derivam da realidade, mas são construídos para a análise aliás, só possuem senfdo na análise O que é essencial ou importante na realidade é simplesmente aquilo que é interessante para o cienfsta num momento histórico dado 0po ideal é uma construção conceitual e analífca que não existe na realidade na sua forma pura.

24 Requisitos de objefvidade em Weber d) metodologia própria: formulação de 6pos ideais (2) É uma abstração que serve como um ponto de referência fixo para comparações com o real Não tem uma intenção normafva, ou seja, de prescrever alguma conduta desejada ou lei social O Fpo ideal é um meio, é uma ferramenta, não um fim da análise sociológica. Ele ajuda a compreender os problemas em questão, os reais fins de toda pesquisa

25 Requisitos de objefvidade em Weber Weber enxerga a ciência como uma espécie de fato social Durkheimeano: ela tem uma lógica e uma dinâmica autônoma e exterior aos indivíduos que a prafcam ela exerce coerção sobre os indivíduos que a prafcam ela interfere no modos de agir, pensar e senfr dos indivíduos que a prafcam ciência deve ser prafcada como profissão; a especialização é vista como inevitável

26 Ação Social em Weber construção através do método [pico-ideal ação feita com referência ou na expectafva de uma ação de outra pessoa, ou de outras, ou de muitas antecipação de reações orientam a ação a própria frequencia das relações leva os indivíduos a imaginar as reações uns dos outros

27 Tipologia da Ação Social Ação racional relafva a fins Ação racional relafva a valores Ação tradicional Ação afefva A ação social supõe um sen0do colocado pelo sujeito da ação. Esse senfdo está imerso na cultura de cada grupo social O senfdo de uma ação se realiza na sua orientação pelo senfdo da ação do outro

28 Ação racional relafva a fins é aquela que busca um objefvo e escolhe os meios mais adequados para afngi-lo. A escolha do objefvo também é racional. Pode-se agir com uma previsão racional bastante razoável sobre as consequências que a realização do objefvo pode trazer Pode-se efetuar uma escolha entre consequências futuras desejáveis e indesejáveis Por pressupor sen0do e orientação pela ação dos outros, essa é a forma de ação social por excelência É também a ação mais evidente de ser estudada pela sociologia

29 Ação racional relafva a valores é aquela que é racional apenas nos meios, pois o seu fim, um valor, é algo inquesfonável mesmo que a ação orientada por esse valor possa ter consequências trágicas, o valor permanece sagrado (Kamikasi; Hara-Kiri; Auto-imolação, Terrorismo suicída, etc) se o valor é algo inquesfonável, significa que ele não é racionalmente sustentado

30 Ação tradicional é aquela sobre a qual o ator talvez nem saiba porque age como tal sempre foi assim ; não há outra maneira de fazer ; não há porque pensar sobre isso (fato social) é uma ação quase sem senfdo (sem orientação à ação do outro)

31 Ação afefva é aquela comandada por emoções, por senfmentos e não necessariamente possui um senfdo e uma orientação a outros na vida real os Fpos de ação se alternam, se sobrepõem e se misturam (o suicídio pode não ser apenas uma ação afefva, p. ex.)

32 Relação Social Implica uma ação complementando a outra (compravenda; mando-obediência; pergunta-resposta, etc) Dependência recíproca de referenciais, de senfdo entre os atores sociais (ex. Durkheim - idioma) Sem a referência ao outro, qualquer ação perderia a ideia de senfdo Ex. Pessoas na rua abrindo guarda-chuva ao mesmo tempo