Sementes de feijão-caupi tratadas com óleos essenciais (1).

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1 Sementes de feijão-caupi tratadas com óleos essenciais (1). Ingrid Gomes Duarte (2) ; José Manoel Ferreira de Lima Cruz (3) ; Otília Ricardo de Farias (4) ; Hiago Antonio Oliveira da Silva (5) ; João Victor Silva Martins (6) ; Luciana Cordeiro do Nascimento (7). (1) Trabalho executado com recursos do Laboratório de Fitopatologia da Universidade Federal da Paraíba. (2) (3) Estudante de Agronomia; Universidade Federal da Paraíba; Areia, Paraíba Estudante de Agronomia; Universidade Federal da Paraíba, eng.agro.martins@gmail.com; Areia, Paraíba (4) Doutoranda do Programa de Pós Graduação em Agronomia, Universidade Federal da Paraíba (5) Estudante de Agronomia, Universidade Federal da Paraíba (6) Estudante de Agronomia; Universidade Federal da Paraíba; Areia, Paraíba (7) Professora, Universidade Federal da Paraíba. RESUMO: O emprego do tratamento em sementes é uma forma eficiente e, cada vez mais necessária no manejo de patógenos e dentre tratamentos, o uso de óleos essenciais têm se mostrado uma alternativa viável para o controle de patógenos associados a sementes. O objetivo desse trabalho foi avaliar os efeitos de óleos essenciais de alho, canela e -da-índia na concentração sobre a qualidade sanitária e fisiológica de sementes de feijão-caupi (Vigna unguiculata(l.) Walp), variedade BRS Patativa. O método utilizado para a análise e identificação de fungos em sementes foi a incubação em substrato de papel filtro Blotter Test. Utilizaram-se no teste de sanidade 200 sementes por tratamento, se ndo distribuídas em dez repetições de 20 sementes. As sementes foram imersas nos óleos essenciais por 5 minutos, em seguida incubadas em placas de Petri e mantidas por um período de sete dias a temperatura de 25 ±2 C sob fotoperíodo de 12h de luz branca fluorescente. Para a qualidade fisiológica foram utilizadas 100 sementes, sendo quatro repetições de 25 sementes por tratamento, distribuídas em papel germitest a temperatura 30 C, avaliando -se os efeitos dos óleos sobre a germinação, primeira contagem de germinação e índice de velocidade de germinação. Exceto para o gênero Penicillium, os óleos utilizados foram eficientes na redução da incidência dos fitopatógenos identificados. A aplicação dos óleos de alho e cravo-da-índia inibiram o desenvolvimento de Fusarium spp.. Todos os óleos inibiram o desenvolvimento da Macrophomina phaseolina. A aplicação dos óleos essências não afetou a qualidade fisiológica das sementes de feijão-caupi tratadas. Termos de indexação: Vigna unguiculata L. Walp.; patologia de sementes; controle alternativo. INTRODUÇÃO O feijoeiro-caupi (Vigna unguiculata L. Walp.) é uma leguminosa amplamente cultivada nas regiões Nordeste e Norte do Brasil, onde constitui uma importante alternativa de emprego e renda, bem como de alimento básico para população, que o consome sob a forma de grãos maduros e verdes, sendo bastante apreciado devido ao cozimento rápido, ser rico em proteínas, minerais e vitaminas (Freire Filho et al., 2011). Além disso, também é utilizado como forragem verde, feno, ensilagem, farinha para alimentação animal, adubação verde e proteção do solo (Batista et al., 2012). Um dos fatores limitantes para o sucesso do feijoeiro-caupi tem sido a dificuldade de adquirir sementes com qualidade fisiológica e sanitária adequada, a fim de se obter estandes de plantas uniformes, vigorosas e 1

2 livres de doenças. De acordo com Silva (2006), a utilização de sementes de baixa qualidade pelos agricultores, é responsável por danos significativos ao estabelecimento dessa cultura e, por perdas quantitativas e qualitativas na produção. A semente constitui um veículo eficiente de disseminação e sobrevivência de muitos patógenos de importância econômica, notadamente para o feijão-caupi (Silva, 2006). O inóculo presente na semente pode resultar em aumento progressivo de uma determinada doença no campo (Henning, 2005). Segundo Athayde Sobrinho et al. (2005), sementes contaminadas, quando introduzidas em áreas isentas, podem determinar o ciclo inicial da doença e infestar, de forma definitiva, o campo de cultivo. Vários danos podem ser provocados por patógenos associados às sementes, como: morte de plântulas (damping-off), podridão das raízes, podridão do colo, redução do crescimento, clorose, amarelecimento, deformação, subdesenvolvimento e murcha, fazendo com que a produção seja reduzida ou totalmente perdida. Assim, o uso de sementes de boa qualidade sanitária torna-se imprescindível no momento da implantação da cultura (Silva et al., 2008). O emprego do tratamento em sementes é uma forma eficiente e, cada vez mais necessária no programa de manejo de patógenos. Entre os tratamentos empregados, os métodos alternativos, nos últimos anos vêm ganhando expressão positiva frente aos produtos sintéticos (agrotóxicos), tendo em vista os efeitos negativos por estes produtos ao ecossistema e ao homem. Dentre os métodos alternativos, o uso de extratos de plantas medicinais, condimentares e/ou aromáticas têm se mostrado uma alternativa viável para o controle de patógenos associados a sementes, seja do ponto de vista econômico ou ambiental (Leite et al., 2012). Diversos autores já reportaram resultados eficientes com o uso de extratos vegetais no controle de patógenos em sementes de diversas culturas (Rodrigues et al., 2006; Gonçalves et al., 2009; Silva et al., 2012; Hillen et al., 2012; Flávio et al., 2014). Apesar do grande potencial de uso de extratos vegetais no manejo de patógenos, são escassas as informações sobre seus efeitos na qualidade sanitária e fisiológica de sementes, uma vez que estes extratos contêm substâncias químicas que podem resultar em perdas de germinação e vigor das sementes tratadas. Diante disso, objetivou-se com este trabalho avaliar o efeito de diferentes oleos essenciais (canela, cravo da índia e alho) na qualidade sanitária e fisiológica de sementes de feijão-caupi, variedade PRS Patativa. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi conduzido nolaboratório de Fitopatologia (LAFIT), pertencente ao Departamento de Fitotecnia e Ciências Ambientais (DFCA), do Centro de Ciências Agrárias (CCA), Campus II, da Universidade Federal da Paraíba (UFPB), localizado no município de Areia, Paraíba. Foram utilizadas sementes de feijão-caupi, variedade BRS Patativa. Os tratamentos foram arranjados em delineamento inteiramente casualizado (DIC). As sementes foram tratadas por imersão, durante 5 minutos, em solução contendo óleo de cravo, canela e alho a 1,0% e, com fungicida Captam na concentração de 240g do produto para 100kg de sementes. Em seguida, foram incubadas empregando-se o método Blotter test (Brasil, 2009), sendo utilizadas 200 sementes por tratamento (10 repetições de 20 sementes). As placas foram incubadas a uma temperatura de 25 C ± 2 C, durante sete dias e, transcorrido este período, procedeu-se com a identificação dos fungos com o auxílio de microscópio óptico e estereoscópico. Os resultados obtidos foram expressos em porcentagem de incidência de fungos. Para avaliar a influência do óleo essenciais sobre a qualidade fisiológica das sementes de feijão caupi. foi realizado os seguintes testes: Teste de germinação: realizado conforme prescrições das Regras para Análise de Sementes RAS (Brasil, 2009). Foram utilizadas 100 sementes, distribuídas em quatro repetições de 25 sementes, e colocadas em substrato de papel germitest umedecido com 2,5 vezes o peso do papel seco, e distribuídos em câmera de germinação do tipo Biochemical Oxigen Demand (B.O.D.) regulada a 25 C e fotoperíodo de oito horas. Após o semeio os rolos foram acondicionados em sacos plásticos transparentes com a finalidade de evitar a perda de água. As contagens foram realizadas no 5 e 8 dia (Brasil, 2013), considerando as plântulas normais. 2

3 Primeira contagem de germinação: conduzida conjuntamente com o teste de germinação, onde foram computadas as sementes germinadas no 5º dia após a semeadura (Brasil, 2009). Índice de velocidade de germinação (IVG): foi registrado diariamente do 5 ao 8 dia (Brasil, 2013) o número de sementes germinadas. O índice foi determinado de acordo com a equação abaixo, proposta por Maguire (1962). Os dados foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Scott -Knott ao nível de 5% de probabilidade através do software estatístico Sisvar versão 5.4 (Ferreira, 2010). RESULTADOS E DISCUSSÃO Os fungos identificados nas sementes de feijão-caupi, variedade BRS Patativa foram Aspergillus flavus (41,5%); Penicillium sp. (4,5%); Fusarium sp. (27,5%); Colletotrichum sp. (50%) e Macrophomina phaseolina (3,5%) (Tabela1). Micoflora semelhante foi identificada por Gomes et al. (2008) ao avaliar a incidência de fungos em doze cultivares de sementes de feijão-caupi cultivadas no estado do Ceará. Silva et al. (2014) também observaram a presença de Macrophomina phaseolina e Fusarium sp. em sementes de feijão-caupi, agentes causais da podridão cinzenta do caule e podridão do colo e raiz, respectivamente. Tabela 1. Incidência de fungos em sementes de feijão-caupi, variedade BRS Patativa, submetidas a diferentes tratamentos com óleos essenciais. Fungos Tratamento Testemunha Canela (1%) Cravo (1%) Alho (1%) Fungicida Colletotrichum sp. 50,0a 30,0b 18,0c 11,5c 0,0d Fusarium spp. 27,5a 4,0b 0,0b 0,0b 0,0b Macrophomina phaseolina 3,5a 0,0b 0,0b 0,0b 0,0b Aspergillus flavus 41,5a 11,0b 6,5b 6,5b 2,0b Penicillium sp. 4,5a 4,0a 1,5ª 2,0a 0,0a Médias seguidas da mesma letra não diferem pelo teste de Scott-Knott ao nível de 5% de probabilidade Na variedade BRS Patativa verificou-se que com exceção do gênero Penicillium sp.,houve efeito dos tratamentos óleo de canela, óleo de cravo-da-índia e óleo de alho sobre o desenvolvimento dos demais fitopatógenos avaliados em comparação com a testemunha (Tabela 1). Constatou-se por ocasião do tratamento de sementes uma redução na porcentagem da incidência de 73, 84 e 84% de Aspergillus flavus com a utilização dos óleo de canela, cravo-da-índia, e alho, respectivamente, quando comparados com a testemunha, evidenciando a importância do tratamento preventivo. Em geral, os gêneros Aspergillus e Penicillium são os mais frequentes em sementes, considerados fungos de armazenamento, causam a deterioração das sementes e, além disso, são produtores de micotoxinas altamente toxicas para homem, animais e plantas (Iamanaka et al., 2010). Quanto ao gênero Fusarium sp., verificou-se os tratamentos com óleo de alho e cravo-da-índia apresentaram um efeito fungitóxico, inibindo totalmente (100%) o desenvolvimento do mesmo, podendo assim, ser uma alternativa viável no controle deste patógeno em sementes de feijão-caupi. Com base nos resultados observou-se ainda que, o tratamento com óleo de canela apresentou efeito inibitório satisfatório, reduzindo cerca de 85% da incidência do fungo nas duas variedades quando comparado com a testemunha (Tabela 1). Em sementes, o Fusarium spp., pode causar redução da germinação, descoloração, formação de manchas, apodrecimentos, mofos e alterações bioquímicas. No campo, quando presente é responsável por importantes danos econômicos à cultura, ocasionando doenças como a podridão do colo e r aiz, altamente prejudicial ao feijão-caupi, sendo capaz de reduzir tanto a quantidade como a qualidade da produção, além disso, este fungo pode produzir micotoxinas (Gomes et al., 2008). Os resultados obtidos no presente estudo reforçam a importância do uso do tratamento de sementes a 3

4 partir do uso de óleos essenciais principalmente sobre patógenos como o fungo Fusarium. Para o gênero Colletotrichum sp., os tratamentos com óleo de alho e cravo-da-índia foram os mais eficientes, proporcionando uma redução de 77 e 60% na incidência deste fungo, respectivamente, quando comparados com a testemunha (Tabela 1). Observou-se baixa incidência (3,5%) de Macrophomina phaseolina nas sementes de feijão-caupi (Tabela 1). Resultados semelhantes foram reportados por Gomes et al. (2008) em sementes de feijão-caupi, onde constataram baixas incidências de Macrophomina phaseolina. Todavia, os mesmos autores ressaltam que, mesmo sendo baixa a incidência nas sementes, este patógeno pode comprometer a sanidade das sementes e, quando introduzido ao campo pode ocasionar a podridão cinzenta do caule nas plantas. Constatou-se que os tratamentos com óleo de canela, cravo-da-índia e alho inibiram completamente a incidência de Macrophomina phaseolina (Tabela 1). Os óleos essenciais não afetaram as características fisiológicas (germinação, primeira contagem e o índice de velocidade de germinação) das sementes de feijão-caupi tratadas. CONCLUSÕES Nas sementes da variedade BRS Patativa as maiores incidências foram dos fungos Colletotrichum e Aspergillus flavus. O uso do óelo de alho proporcionou menores incidências de fungos fitopatogênicos nas sementes de feijão caupi, variedade BRS Patativa. A aplicação dos óleos essenciais não afetou a qualidade fisiológica das sementes tratadas. REFERÊNCIAS ATHAÍDE SOBRINHO, C.; VIANA, F. M. P.; SANTOS, A. A. et al. Doenças fúngicas e bacterianas. In: FREIRE FILHO, Francisco Rodrigues; LIMA, José Albérsio de Araújo. RIBEIRO, Valdenir Queiroz. Feijão-Caupi: Avanços Tecnológicos. Brasília-DF: Embrapa, p BRASIL. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Regras para análise de sementes. Secretaria Nacional de Defesa Agropecuária. Brasília: MAPA/ACS, p. BATISTA, N. A.S.; LUZ, P.B, SOBRINHO, S.P. et al. Avaliação da qualidade fisiológica de sementes de feijão-caupi pelo teste de condutividade elétrica. Revista Ceres, Viçosa, v. 59, n. 4, p , FERREIRA, D.F. Sisvar: Versão 5.1 (Build 72). DEX/UFLA FLÁVIO, N. S. D. S.; SALES, N.L.P.; AQUINO, C.F. et al. Qualidade sanitária e fisiológica de sementes de sorgo tratadas com extratos aquosos e óleos essenciais. Semina: Ciências Agrárias, Londrina, v. 35, n. 1, p.7-20, FREIRE FILHO, F. R. et al. Produção e importância socioeconômica. In: FREIRE FILHO, Francisco Rodrigues et al. Feijão- Caupi no Brasil: Produção, melhoramento genético, avanços e desafios. Teresina-PI: Embrapa, p GOMES, D. P.; SILVA, G. C.; KRONKA, A.Z. et al. Qualidade fisiológica e incidência de fungos em sementes de feijão caupi produzidas do estado do ceará. Revista Caatinga, Mossoró, v. 21, n. 2, p , GONÇALVES, G. G.; MATTOS, L. P. V.; MORAIS, L. A. S. Óleos essenciais e extratos vegetais no controle de fitopatógenos de grãos de soja. Horticultura Brasileira, v. 27, n. 2, p , HENNING, A. A. Patologia e tratamento de sementes : noções gerais. Londrina: Embrapa Soja, p. 52. HILLEN, T.; SCHWAN-ESTRADA, K.R.F.; MESQUINI, R.M. et al. Atividade antimicrobiana de óleos essenciais no controle de alguns fitopatógenos fúngicos in vitro e no tratamento de sementes. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, Botucatu, v. 14, n. 3, p , IAMANAKA, B. T.; OLIVEIRA, I. S.; TANIWAKI, M. H. Micotoxinas em alimentos. Anais da Academia Pernambucana de 4

5 Ciência Agronômica, Recife, v. 7, n. 1, p , LEITE, C.D.; MAIA, A.J.; BOTELHO, R.V. et al. Qualidade fisiológica de sementes de sabiá (Mimosa caesalpiniaefolia Benth) tratadas com extratos vegetais. Scientia Plena, Sergipe, v. 8, n. 4, p.1-5, MAGUIRE, J. D. Speed of germination aid in selection and evaluation of seedling emergence and vigor.crop Science, Madison, v.2, n.1, p , RODRIGUES, E. A.; SCHWAN-ESTRADA, K. R. F.; STANGARLIN, J. R. et al. Potencial da planta medicinal Ocimum gratissimum no controle de Bipolaris sorokiniana em sementes de trigo. Acta Scientiae Agronomy, Maringá, v. 28, n. 2, p , SILVA, G.C. Qualidade sanitária e fisiológica de sementes de feijão caupi (Vigna unguiculata (L.) Walp). Dissertação (Mestrado em Agroecologia), Universidade Estadual do Maranhão, São Luís -MA, SILVA, A. C.; SOUZA, P. E.; MACHADO, J. C. et al. Effectiveness of essential oils in the treatment of Colletotrichum truncatum-infected soybean seeds. Tropical Plant Pathology, v. 37, n. 5, p ,2012. SILVA, G. C.; SANTOS, C. C.; GOMES, D. P. Incidência de fungos e germinação de sementes de feijão -caupi (Vigna unguiculata L. Walp) tratadas com óleo de nim (Azadirachta indica A. Juss). Revista Brasileira de Plantas Medicinais, v. 16, n. 4, p ,