SOBEET Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica
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- Margarida Branco Alcântara
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1 OS CENÁRIOS MACROECONÔMICOS DA SOBEET PARA A inequívoca evolução positiva da economia brasileira ao longo de 2004 se traduz pelo crescimento acumulado até o terceiro trimestre de 5,3% e pelo fechamento do IPCA cerca de dois pontos percentuais menor do que a taxa de 2003, ou seja, em 7,6% este ano ante 9,3% em Tais resultados e os que apresentaremos no que segue, resultam: (i) da política econômica adotada, a qual vem tendo êxito em enquadrar as expectativas de inflação de um lado e, provavelmente ao longo do próximo ano, tenha êxito também em coordenar as expectativas de evolução da relação Dívida Líquida do Setor Público / PIB e, dessa forma, promover deslocamentos para baixo das curvas de juros; (ii) da evolução do crédito doméstico e (iii) da evolução da taxa de investimento. Além da política econômica, jogou a favor o desempenho da economia internacional (a pesar da evolução ascendente dos preços do petróleo, os quais vem recuando nas últimas semanas) caracterizada pela esperada elevação de 8,8% do quantum do comércio mundial além da ampla liquidez. Inicialmente, apresentamos um retrospecto da economia em 2004 sumariando a evolução de determinadas variáveis macroeconômicas, para posteriormente apresentarmos o cenário básico da SOBEET para Crescimento e estabilidade em 2004 No mercado de trabalho, embora a taxa de desemprego venha recuando consistentemente desde abril, os salários reais medidos na Região Metropolitana de São Paulo mostraram em setembro a primeira retração em relação ao mesmo mês do ano anterior desde outubro de A produção industrial acumula crescimento de 8,3% no ano até novembro mostrando algum ajuste nos últimos 3 meses. A produção de bens de capital é 20,4% maior no acumulado desse ano ante mesmo período do ano anterior e, segundo as contas nacionais trimestrais, a Formação Bruta de Capital Fixo mostrou elevação substantiva (20,1%) no terceiro trimestre desse ano ante mesmo período do ano anterior elevando a taxa de investimento medida a preços correntes elemento que, ao ampliar a capacidade instalada, diluirá pressões inflacionárias no próximo ano. No que diz respeito às contas externas, a obtenção de vultosos superávits comerciais (US$ 33,7 bilhões em 2004 e US$ 34,3 bilhões acumulados em 12 meses até janeiro desse ano) vem garantindo
2 resultados positivos na conta corrente do Balanço de Pagamentos. O superávit de 2004 chegou a US$ 11,7 bilhões ante US$ 4,2 bilhões em Em relação às exportações, seu valor vem mostrando as maiores taxas de crescimento desde janeiro de 1995 (Gráfico 1). Segundo produtos, as exportações vêm sendo puxadas pelas vendas de produtos básicos, com crescimento em valor de 36% e pelos produtos manufaturados com aumento de 32% (variações a partir de valores acumulados até novembro em relação ao mesmo período do ano anterior). A Argentina mostra o maior crescimento relativo das vendas brasileiras segundo destinos. A maior parte desse crescimento está associada a vendas de bens manufaturados. Gráfico 1 Taxas de variação do valor das exportações. (Var.% t/t-12 a partir de valores acum. em 12 meses). Jan/95-Jan/05. 35,0 30,0 25,0 20,0 15,0 10,0 5,0 0,0-5,0-10,0-15,0-20,0 jan/05 jul/04 jan/04 jul/03 jan/03 jul/02 jan/02 jul/01 jan/01 jul/00 jan/00 jul/99 jan/99 jul/98 jan/98 jul/97 jan/97 jul/96 jan/96 jul/95 jan/95 Fonte: Banco Central do Brasil. Elaboração: SOBEET No que tange as importações o crescimento de 29,9% acumulado no ano responde a dois elementos: primeiro, a elevação dos preços internacionais do petróleo pressionou o valor das importações uma vez que combustíveis e derivados foram a rubrica com maior participação na pauta. Segundo, a retomada do nível de
3 atividades, em especial da indústria de transformação a partir de fevereiro de 2004, forçou a elevação do valor das importações. O ajuste externo segue, contudo, com alguns pontos frágeis. Primeiro, o elevado valor de amortizações da dívida externa de US$ 33,3 bilhões nesse ano o que leva a necessidades de se captar US$ 25,6 bilhões (10,8% superior ao verificado em 2003) entre investimentos diretos e em carteira (Bônus, commercial papers) além de outros desembolsos como empréstimos e crédito de fornecedores. Segundo, a queda nos ingressos líquidos de IDE os quais acumularam em 2004 apenas US$ 8,7 bilhões ante US$ 9,9 bilhões em Os ingressos brutos são inflados pela operação de troca de participações entre duas cervejarias em setembro, e chegam a US$ 18,2 bilhões esse ano em relação a US$ 10,1 bilhões em O principal investidor em 2004 foi a Holanda (US$ 7,7 bilhões) em função de serem pontos de formações de holdings de empresas da União Européia. Os EUA aparecem como o segundo maior inversor, com US$ 4 bilhões. Do ponto de vista da distribuição setorial, a maior parte dos ingressos brutos em participações (exclui empréstimos intercompanhia) se concentrou no setor secundário (52,8%). Todavia, esse resultado é influenciado pelo elevado ingresso no segmento de indústria alimentícia e de bebidas devido a já mencionada operação de trocas de ações. Os serviços captaram 41,9% dos ingressos, em especial os serviços de Eletricidade, Comércio, Serviços prestados a empresas e Intermediação financeira receberam pouco menos de 1/3 do total dos ingressos entre janeiro e outubro desse ano. No lado fiscal, além da queda de 6,4 pontos percentuais da Dívida Líquida do Setor Público (DLSP) em relação ao PIB (51,8% em 2004 ante 58,2% em 2003), os resultados das necessidades de financiamento nominal caíram para menos de 3% a partir de agosto. O resultado primário acumulado em 2004 chegou a 4,61% do PIB, maior do que os 4,37% gerados em Os gastos com juros nominais recuaram de 9,6% do PIB em 2003 para 7,3% em 2004 fundamentalmente em virtude de uma taxa real de câmbio mais baixa, o que levou, por seu turno, a expressiva redução da participação de títulos cambiais no estoque da DLSP.
4 2. Cenário As expectativas do mercado para o PIB de 2005 giram ao redor de uma taxa de 3,5%. Acreditamos que a economia brasileira não estaria condenada a um crescimento dessa magnitude, pois poderia ser implementada uma política macroeconômica em parte semelhante a que vigorou nos dois últimos anos (ou mesmo desde 1999) e em parte com elementos pró-crescimento tais como: menor retenção no exercício do orçamento dos recursos destinados a investimentos públicos, taxa de câmbio mais desvalorizada e taxas de juros menores. Para 2005, espera-se que a evolução da economia internacional não seja tão favorável quanto em Basicamente o principal risco está associado à expectativa de piora do déficit público norte-americano, expectativa que se traduzirá na elevação das taxas de juros de longo prazo que em novembro estavam em 4,9% aa (T-Bond de 30 anos). Além disso, o déficit em conta corrente dos EUA alcançou US$ 570 bilhões (cerca de 5,2% do PIB) no segundo trimestre desse ano. Trata-se do maior déficit desde, pelo menos, 1990 o que trás pressões sobre as taxas nominais e reais de câmbio do dólar. O ponto central é a capacidade e a disponibilidade dos países asiáticos e da União Européia continuarem acumulando reservas (ativos) denominados em dólares numa circunstância em que a moeda norte-americana claramente manterá sua trajetória de desvalorização (11,4% em 12 meses até novembro a partir de variações mensais sobre a média de cada mês). Nesse sentido, pode-se esperar que 2005 apresente alguma desaceleração nas taxas de crescimento do comércio internacional, dada a redução das exportações líquidas da Zona do Euro (excluindo-se as exportações intra-regionais), do Japão e dos países do leste asiático, fazendo refluir os preços internacionais das commodities (metálicas e agrícolas). A redução do crescimento mundial seria resultado das esperadas elevações (ainda que graduais)das taxas de juros nos EUA e da parca contribuição das exportações líquidas na demanda agregada da União Européia (Zona do Euro) e do Japão. Dessa forma, diante de oscilações nas principais taxas de câmbio, diante da expectativa de uma política monetária pouco mais restritiva nos EUA, diante da expectativa de desaceleração do comércio e do
5 PIB mundiais, a SOBEET preparou o seguinte cenário básico para Contamos que a política econômica doméstica apresentará maior grau de aperto (em especial a política monetária conforme se depreende da útila ata do COPOM). Dessa forma, manter-se-á o êxito do sistema de metas de inflação em relação à coordenação das expectativas de inflação (com possíveis prejuízos para a taxa de desemprego); a manutenção de superávits primários em pelo menos 4,5% do PIB, o que poderia levar a queda nas taxas de juros cobradas sobre os títulos públicos levando à redução da relação DLSP/PIB. Mas de outro lado, acreditamos que seria possível (e desejável) a efetivação da política industrial e a busca por uma taxa real de câmbio mais competitiva. Todavia, dada a evolução esperada para a taxa de juros básica e o processo de ajuste do dólar norte-americano, revimos para baixo a cotação da taxa nominal de câmbio média e no final do período, elemento que nos fez rever também as projeções para a balança comercial. Dessa forma, abaixo apresentamos nosso cenário: Esperamos que o PIB cresça 3,5% neste ano. A revisão para baixo (prevíamos 4,3% anteriormente) se deve aos efeitos da política monetária sobre o nível de atividades e sobre a taxa de câmbio, eventos que podem reduzir os gatos privados em consumo e investimento e as exportações líquidas. Em relação á inflação, os núcleos do IPCA calculados a partir de diversas metodologias indicam que para 2005 pode-se esperar uma variação de 5,2%. O ciclo de elevações da taxa SELIC deverá terminar em meados do segundo trimestre de 2005 de tal sorte que a taxa esperada para o final de 2005 é de 17,5% ao ano. A taxa nominal de câmbio deve fechar 2005 em R$ 2,70/US$ em razão da elevação da taxa de juros básica e do processo internacional de desvalorização do dólar. No que diz respeito às contas externas, estimamos que a balança comercial feche 2005 com um superávit de US$ 27,4 bilhões, pois cremos que o crescimento do valor das exportações mostrará algum recuo, passando dos 30% desse ano para 15% em 2005, o que resultaria em vendas externas de US$ 110,9 bilhões. As importações, por sua vez, elevariam o crescimento alcançado nos últimos meses de 2004 de 30%
6 para 33%, finalizando o ano em US$ 83,5 bilhões. A conta de rendas e serviços ampliaria seu déficit para US$ 27 bilhões e as transferências unilaterais poderiam fechar o próximo ano na casa dos US$ 3,2 bilhões. Assim, o resultado em conta corrente seria novamente um vultoso superávit de US$ 3,6 bilhões. Os ingressos brutos de Investimentos Diretos Estrangeiros podem finalizar 2005 em US$ 18 bilhões em função dos avanços das regulamentações, da elevação dos investimentos em infra-estrutura e da instauração de uma política cambial mais orientada às exportações. Cenário SOBEET PIB (Var. % real) 5,2 3,5 IPCA/IBGE 7,3 5,2 IGP-M 12,5 6,5 R$ / US$ (em 31.12) 2,70 2,70 DESVALORIZAÇÃO CAMBIAL NOMINAL (%) -6,5 0,0 TAXA NOMINAL DE JUROS (SELIC - % a a em 31.12) 17,75 17,50 BALANÇA COMERCIAL (US$ BILHÕES) 33,7 27,4 EXPORTAÇÕES 96,5 110,9 IMPORTAÇÕES 62,8 83,5 BALANÇO DE TRANSAÇÕES CORRENTES (US$ BILHÕES) 11,7 3,6 BALANÇO DE TRANSAÇÕES CORRENTES (% DO PIB) 1,94 0,72 INVESTIMENTO DIRETO ESTRANGEIRO (US$ BILHÕES) 18,2 18,0
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