Literatura sem fins pragmáticos
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- Rebeca Costa Domingos
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1 Literatura sem fins pragmáticos Vanessa Regina Ferreira da Silva (UNESP/Assis) O ensino de literatura, nas instâncias de ensino, como escolas e cursinhos pré-vestibulares, principalmente estes, encontra muitos entraves para sua efetiva realização, os quais vão dos mais elementares aos mais complexos. Quanto aos primeiros, que não são tão simples assim, pode-se apontar a questão da leitura, pois, em um país onde os índices de analfabetismo, ainda, em pleno século XXI, são elevadíssimos e as políticas sociais de incentivo à leitura restringem-se mais à entrega de livros nas escolas do que a práticas efetivas que propiciem o ato de leitura, fica difícil a plena inserção do objeto literário em qualquer âmbito educacional. Desse modo, este é tido como uma prática social especifica de leitura e de escrita, e, se a sociedade, principalmente a instância escolar, não propicia essa prática, não há como fazer circular o texto literário (LAJOLO; ZILBERMAN, 1991, p. 9). Além dessa condição sine qua non, há outras exigências: Para que a escola possa produzir um ensino eficaz da leitura da obra literária, deve cumprir certos requisitos como: dispor de uma biblioteca bem aparelhada, na área da literatura, com bibliotecários que promovam o livro literário, professores leitores com boa fundamentação teórica e metodológica. [...] (AGUIAR; BORDINI, 1993, p. 17). Já os entraves mais complexos, os quais dificultam a efetiva prática do ensino literário, esbarram nas diretrizes escolares, uma vez que, segundo Zilberman, para a inclusão do ensino da literatura, no ensino secundário, aquele necessitou de uma justificativa, que coube [...] ao vestibular, de cujo programa invariavelmente a literatura faz parte, converte-se no limite e na razão de ser do ensino daquela. (ZILBERMAN, 1998, p. 134). E, além da disciplina ser justificada pelo vestibular, este também direciona a perspectiva e o que deve ser abordado na matéria a ótica histórica e evolucionista e a literatura brasileira, com autores do passado respectivamente. Assim, não é à toa a imagem que se tem [...] de um curso de literatura é que ele transforma os alunos em sherlocks competentes na caça e identificação de estilemas românticos ou realistas, castroalvices e metáforas. (ZILBERMAN, 1985, p. 61). Recusando a iconografia do professor formador de sherlocks, para outro viés a formação de leitores, a minha prática docente
2 em literatura começou este ano, em um cursinho comunitário do município de Assis. Logo de início, senti dificuldade em abordar o objeto literário nas aulas, pois, por inexperiência e por ser também a prática mais comum, segui meus antigos professores de literatura do cursinho, da escola e a apostila que o referido curso adota, ou seja, transformei minha aula de literatura em, somente, história da literatura. O resultado disso não poderia ser outro: aula maçante, centrada em um manual de características estéticas, desempenhos desanimadores (dos alunos) nos simulados etc. Em acréscimo, esse tipo de aula literária infringe o objeto literário, porque os alunos tinham (têm) a concepção de que cada obra literária apresenta estilos de épocas bem delimitadas, cada um em seu tempo, com um conjunto de temas e procedimentos estilísticos precisos. Na verdade, isso não é verídico. Somente para ilustrar, como falar em Machado de Assis ou em Manuel Antonio de Almeida, em uma aula com esses parâmetros? Não é possível, porque, além da inovação de cada autor, própria do oficio de qualquer artista, no texto literário, [...] o leitor, longe de se reduzir a decifrador da mensagem, é chamada a explorar os sentidos, a ampliar significadamente o texto, com sua leitura que complementa a escritura. (YUNES; PONDÉ, 1989, p. 70). Ou seja, o leitor literário estabelece um pacto com o texto co-autoria e para que essa relação seja efetivada, o ensino de literatura tem que se voltar, antes, para uma abordagem textual, pois, através do texto, os elementos estilísticos e temáticos devem ser explorados e não como ocorre; ou, como diz Lajolo, o texto não pode ser pretexto. Ainda é importante destacar que esse enfoque textual nas aulas de literatura, nesta modalidade de ensino curso pré-vestibular não prejudica o objetivo primeiro dos alunos passar no vestibular, pelo contrário, uma vez que, atualmente, grandes vestibulares do país dão ênfase antes à interpretação do texto do que a características isoladas de um dado período literário, como exemplificam alguns exercícios do Anexo I. Quanto aos resultados, ainda é muito cedo para estabelecê-los com precisão, mas, como professora e corretora dos simulados da disciplina em questão, já pude perceber progressos por parte de alguns alunos, conforme se pode ver, no Anexo II, em que segue o ultimo simulado do primeiro bimestre. Referências Bibliográficas BORDINI, M. G.; AGUIAR, V. T. Literatura a formação do leitor. 2.ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, CANDIDO, A. Na sala de aula: caderno de análise literária. 4.ed. São Paulo: Ática, 1993.
3 CARVALHO, N. C. A leitura. Proleitura. UNESP/UEM/UEM. n 15. Ago, LAJOLO, M.; ZILBERMAN, R. A leitura rarefeita: Livro e Literatura no Brasil. São Paulo: Brasiliense, MARTHA, A. A A representação do professor. Proleitura. UNESP/UEM/UEL. n 24. Dez, YUNES, E.; PONDÉ, G. Leitura e leituras da literatura infantil. 2.ed. São Paulo: FTD, ZILBERMAN, R. A leitura e o ensino da literatura. São Paulo: Contexto, (org). A leitura em crise na escola: as alternativas do professor. 4.ed. Porto Alegre: Mercado Aberto, (PUC-SP) ANEXO I Há de tomar o pregador uma só matéria, há de defini-la para que conheça, há de dividi-la para que se distinga, há de prova-la com a Escritura, há de declarala com a razão, há de confirma-la com exemplo, há de amplifica-la com causas, com os efeitos, com as circunstâncias, com as conveniências que se hão de seguir, com os inconvenientes que se deve evitar; há de impugnar e refutar com toda a força da eloqüência os argumentos contrários, e depois disto há de colher, há de apertar, há de concluir, há de persuadir, há de acabar. Padre Antônio Vieira
4 Este trecho do Sermão da sexagésima, de autoria do Padre Antônio Vieira, aponta as partes que compõe o discurso argumentativo e ilustra o Barroco, em seu estilo conceptista. Em que consiste esse estilo? Exemplifique-o com o texto citado. (UFPB) Sermão vigésimo sétimo Os senhores poucos, os escravos muitos; os senhores rompendo galas, os escravos despidos e nus; os senhores banqueteando, os escravos perecendo à fome, os senhores nadando em ouro e prata, os escravos carregados de ferros,; os senhores tratando-os como brutos, os escravos adorando-os e temendo-os como deuses; os senhores em pé apontando para o açoite, como estátuas, como estátuas da soberba e da tirania, os escravos prostrados com as mãos atadas atrás como imagens vilíssimas da servidão e espetáculos da extrema miséria. Padre Antônio Vieira No texto, verificam-se os seguintes traços do Barroco: I. A presença de um grande número de antíteses. II. A predominância dos aspectos denotativos da linguagem. III. A utilização do recuso da hipérbole para melhor traduzir o sofrimento dos escravos. IV. O envolvimento político dos escravos. Estão corretas, de acordo com o textos, as afirmativas: a) I e II d) I e IV b) III e IV e) I e III c) II e III Leia os trechos dos poemas a seguir para responder a questão de número abaixo. Texto 1 Goza, goza da flor da mocidade, Que o tempo trata a toda ligeireza E imprime em toda flor a sua pisada. Ó não aguardes, que a madura idade Te converta essa flor, essa beleza, Em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada. Gregório de Matos
5 Texto 2 Pois se sabes que a tua formosura Por força há de sofrer da idade os danos, Pó que me negas hoje esta ventura? Basílio da Gama (Vunesp) A expressão latina carpe diem, que significa aproveite o dia (presente), foi uma constante nos dois períodos literários representados pelos poemas de Gregório de Matos e Basílio da Gama. a) Transcreva, de cada um dos poemas, um verso em que a idéia do carpe diem esteja explicitamente apresentada. b) Que metáfora é comum aos dois poemas? (Fuvest-SP) Quando da bela vista e doce riso, Tomando estão meus olhos mantimento, Tão elevado sinto o pensamento Que me faz ver na terra o Paraíso. Tanto do bem humano estou diviso, Que qualquer outro bem julgo por vento; Assi, que em caso tal, segundo sento Assaz de pouco faz quem perde o siso. Em voz louvar, Senhora, não me fundo, Porque quem vossas cousas claro sente, Sentirá que não pode merece-las. Que de tanta estranheza sois ao mundo, Que não é d estranhar, Dama excelente, Que quem vos fez, fizesse Céu e estrelas. Camões a) Caracterize brevemente a concepção de mulher que este soneto apresenta. b) Aponte duas características desse soneto que o filiam ao Classicismo, explicando-os sucintamente. Referência Bibliográfica ABAURRE, M. L. M., PONTARA, M. N. Uno especial: Língua Portuguesa (guia do mestre). São Paulo: Moderna. [2004]. p
6 Anexo 2
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