LETRAMENTO COMO PRÁTICA DOS ALFABETIZADORES BORGES, Isabel de Lourdes Lopes Souza 1 SILVA, Neuza Inácio da 2 SOUZA, Vivian Rosa Garcia de Almeida 3

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1 LETRAMENTO COMO PRÁTICA DOS ALFABETIZADORES BORGES, Isabel de Lourdes Lopes Souza 1 SILVA, Neuza Inácio da 2 SOUZA, Vivian Rosa Garcia de Almeida 3 Esta comunicação visa participar o trabalho desenvolvido em nosso município - o impacto dos estudos sobre o letramento para as práticas alfabetizadoras. As pessoas se alfabetizam, aprendem a ler e a escrever, mas não necessariamente adquirem competência para usar a leitura e a escrita. Letramento é um estado, uma condição de quem interage com diferentes portadores de leitura e de escrita, com diferentes gêneros e tipos de leitura e de escrita, com as diferentes funções que estas desempenham na nossa vida. Os educadores são modelos de referência e precisam apropriar-se dessa prática, por isso desenvolvemos esse trabalho com grupos de educadores e queremos socializar os resultados já alcançados. Palavras-chave: práticas alfabetizadoras, professor formador, diferentes funções. gêneros textuais, O que é letramento? Kate M. Chong 4 Letramento não é um gancho em que se pendura cada som enunciado, não é treinamento repetitivo 1 Graduada em Geografia pela UFMS Universidade de Mato Grosso do Sul e Pedagogia pela FAR Faculdade Reunida de Ilha Solteira, Especialista em Didática e Educação Especial, Coordenadora de Núcleo do Departamento de Desenvolvimento Pedagógico da Secretaria de Educação e Cultura do município de Três Lagoas / MS, Formadora do Programa de Formação de Professores Alfabetizadores e Professora Coordenadora na Rede Estadual de MS. 2 Graduada em Pedagoria peka UFMS Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Especialista em Didática e Metodologia de Ensino, Coordenadora de Núcleo do Departamento de Desenvolvimento Pedagógico da Secretaria de Educação e Cultura do município de Três Lagoas / MS, Formadora do Programa de Formação de Professores Alfabetizadores e Professora Alfabetizadora da Rede Estadual de MS. 3 Graduada em Pedagogia pela UFMS Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Especialista em Gestão Escolar, Coordenadora de Núcleo do Departamento de Desenvolvimento Pedagógico da Secretaria de Educação e Cultura do município de Três Lagoas / MS, Formadora do Programa de Formação de Professores Alfabetizadores. 4 Uma estudante norte-americana, de origem asiática, ao escrever sua história pessoal de letramento, define-o assim: 1

2 de uma habilidade, nem um martelo quebrando blocos de gramática. Letramento é diversão é leitura à luz de vela ou lá fora, à luz do sol. São notícias sobre o presidente, o tempo, os artistas da TV e mesmo Mônica e Cebolinha nos jornais de domingo. É uma receita de biscoito, uma lista de compras, recados colados na geladeira, um bilhete de amor, telegramas de parabéns e cartas de velhos amigos. É viajar para países desconhecidos, sem deixar sua cama, é rir e chorar com personagens, heróis e grandes amigos. É um atlas do mundo, sinais de trânsito, caças ao tesouro, manuais, instruções, guias, e orientações em bulas de remédios para que você não fique perdido. Letramento é, sobretudo, um mapa do coração do homem, um mapa de quem você é, e de tudo que você pode ser. O Brasil enfrenta o problema do analfabetismo sob vários prismas: tanto de crianças que em algum momento de suas trajetórias de vida já freqüentaram a escola; como de adultos que por diferentes razões não tiveram a oportunidade de acesso a ela; e, portanto, assim como as crianças também não se apropriaram da leitura e da escrita. É comprovado, não apenas pelas estatísticas oficiais, mas à qualquer momento pelas observações cotidianas, que o nosso país possui um número significativo de indivíduos que não adquiriram o saber necessário para atender às exigências de uma sociedade letrada. Fazemos esta afirmação partindo do pressuposto que nos coloca o educador Paulo Freire, de que o ato de ler e escrever deve começar de uma compreensão muito abrangente do ato de ler o mundo, coisa que os seres humanos fazem muito antes de ler a palavra (codificada). Esse é um ponto de suma importância para aqueles que pretendem despojar-se dos restritos, e incisivos, conceitos em que a alfabetização é estabelecida em termos mecânicos, e funcionais. 2

3 De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (vol.2 p. 30) a importância e o valor dos usos da linguagem são determinados historicamente segundo as demandas sociais de cada momento. Atualmente exigem-se níveis de leitura e de escrita diferentes e muito superiores aos que satisfizeram as demandas sociais há pouco tempo. Para a escola, atender a essa demanda implica uma revisão substantiva das práticas de ensino que tratam à língua como algo sem vida e os textos como conjunto de regras a serem aprendidas, bem como a constituição de práticas que possibilitem ao aluno aprender linguagem a partir da diversidade de textos que circulam socialmente. Toda educação verdadeiramente comprometida com o exercício da cidadania precisa criar condições para o desenvolvimento da capacidade de uso eficaz da linguagem que satisfaça necessidades pessoais que podem estar relacionadas às ações efetivas do cotidiano, à transmissão e busca de informação, ao exercício da reflexão. De modo geral, os textos são produzidos, lidos e ouvidos em razão de finalidades desse tipo. São os textos que favorecem a reflexão crítica e imaginativa, o exercício de formas de pensamento mais elaboradas e abstratas, os mais vitais para a plena participação numa sociedade letrada. Com base nesses pressupostos, a Secretaria Municipal de Educação e Cultura da cidade de Três Lagoas, no estado de Mato Grosso do Sul, propõe uma Formação Continuada para os docentes da rede municipal através do Programa de Formação de Professores Alfabetizadores, procurando desenvolver competências profissionais necessárias aos educadores para um processo de alfabetização mais efetivo. É sobre esse programa, no qual desenvolvemos nossa prática educativa que vamos propor uma reflexão neste artigo. Nossos encontros acontecem semanalmente. São seis grupos de formação permanente, cada grupo com uma média de trinta professores, iniciados em setembro de dois mil e seis, com previsão de término em dezembro de dois mil e sete. Entendemos que o letramento não está restrito ao sistema escolar e, além do mais, saber ler e escrever palavras não é o bastante para capacitar o indivíduo para a leitura diversificada. Mas consideramos que cabe à escola, fundamentalmente, levar os educandos a um processo mais profundo nas práticas sociais que envolvem a leitura e a escrita, ou seja, a escola tem um papel fundamental no letramento do indivíduo, portanto, neste ponto surge a necessidade de se letrar os sujeitos envolvidos no processo de aprendizagem escolar. E, para o educador se tornar um professor-letrador necessário se faz que, primeiramente, obtenha informações a respeito do tema, as suas dimensões e, sobretudo, a sua aplicação. O trabalho mais importante da escola pública com os seus educandos menos favorecidos, assim que chegam, é levá-los a mergulhar no mundo da cultura escrita para que possam começar a pensar sobre o assunto. Quando conseguimos criar as condições adequadas, essas crianças percorrem rapidamente a distância que as separa das outras e aprendem a ler. Porém, se a escola não é capaz de ajudá-las a 3

4 transpor esse fosso, elas vão engrossar as estatísticas do fracasso escolar. Para ensinar a ler e a escrever, é preciso que a metodologia possa dialogar com as reais necessidades de aprendizagem dos alunos em cada momento do seu processo. Para conseguir esse diálogo, é preciso investir continuamente na qualificação profissional dos professores. Os professores em formação, inicialmente, entraram em contato com as expectativas de aprendizagem que expressam as competências profissionais consideradas atualmente imprescindíveis a todo alfabetizador: encarar os educandos como pessoas que precisam ter sucesso em suas aprendizagens para se desenvolver pessoalmente e para ter uma imagem positiva de si mesmos; desenvolver um trabalho de alfabetização adequado às necessidades de aprendizagem dos alunos; reconhecer-se como modelo de referência para os alunos; observar o desempenho dos alunos durante as atividades, para fazer intervenções pedagógicas adequadas. Não estão excluídas outras competências, necessárias, possibilitando aos mesmos que mobilizem recursos cognitivos, e afetivos para enfrentar situações complexas e assim serem capazes de: considerar estratégias realistas; identificar os obstáculos a serem superados, ou os problemas a serem resolvidos para realizar um projeto ou satisfazer uma necessidade; optar, planejar e pôr em uso a estratégia escolhida e quando necessário, reavaliar a situação e mudar de estratégia. Acreditamos que através do Programa de Formação de Professores Alfabetizadores, desenvolvemos as competências necessárias aos professores em formação por meio de metodologias pautadas na articulação teoria-prática, na resolução de situações-problema e na reflexão sobre a atuação profissional. Levamos em conta que há diferentes tipos e níveis de letramento, dependendo das necessidades, das demandas do indivíduo e de seu meio, do seu contexto social e cultural. Com modelo de trabalho pautado em metodologia de resolução de problemas, materiais escritos e videográficos especialmente preparados para o curso e uma programação de conteúdos que privilegia aqueles que são nucleares na formação dos educadores, propomos aos professores uma práxis, interagindo com diferentes portadores de leitura e de escrita, visando à construção da autonomia intelectual dos alunos, atendendo as diversidades em sala de aula. Este trabalho desenvolvido pela Secretaria Municipal de Educação e Cultura de Três Lagoas visa dar um suporte para os educadores que desejam reconstruir suas propostas pedagógicas, informando-se para gerar conhecimento crítico e analítico quanto às atividades do letramento versus a pedagogia mecânica e institucional por tanto tempo praticada em nossas escolas. 4

5 Analisamos que o indivíduo não é um depósito zerado antes da alfabetização, ele já possui sua peculiar capacidade de leitura dentro do seu contexto social para sobreviver em meio ao grupo em que vive. Através da análise do depoimento de algumas professoras da rede municipal de ensino de Três Lagoas, que estão nesse processo de formação continuada, pudemos constatar que no decorrer do programa concluíram que o letramento é algo imprescindível a todo alfabetizador: - Procuro de forma responsável conduzir meus alunos ao universo letrado, por isso participo ativamente de todos os cursos de capacitação propostos pela Secretaria de Educação, já que eles me conduzem à reflexões pertinentes ao ensino e aprendizagem da leitura e da escrita./ Desse modo, apesar de participar dos muitos cursos oferecidos pela equipe pedagógica do Município a fim de contribuir para o aprimoramento do professor, o curso que tem contribuído de maneira mais significativa com a minha prática de ensino é o Programa de Formação de Professores Alfabetizadores, por utilizar o método da pesquisa/ação e ser um curso instigante que fala e entende a língua dos professores alfabetizadores, além de ir ao encontro dos anseios e das dificuldades desses educadores que evidenciam a alfabetização, já que buscam compreender todas as propostas do letramento para inserir seus alunos no universo letrado./ Então, eu me sinto amparada, porque a cada encontro, tenho o privilégio de trocar experiências que minimizam as dificuldades dos meus alunos. Desse modo, adotei a prática do agrupamento produtivo; faço diariamente atividades de leitura e incentivo a produção de texto coletivo. / Percebo que meus alunos estão mais participativos e sempre trazem novidades no que se refere à leitura; são crianças seguras, que apesar de algumas dificuldades na leitura e na escrita buscam minimiza-las, pois agora produzem, reescrevem e revisam textos com muita tranqüilidade. (Professora A) - O Programa de Formação de Professores Alfabetizadores, veio me orientar quanto a alfabetização dos meus alunos. Trabalhar com textos leva o aluno a estar atento a aula e a participar ativamente das atividades. Muitas vezes percebo as críticas e comentários que meus alunos fazem sobre as estórias, parece que eles fazem parte do contexto em questão, ou seja, eles entram no lugar dos personagens e expõem suas idéias, é incrível./ A cada leitura, a cada exercício, ou atividade de produção de texto é que percebo a riqueza que meus alunos incorporam em suas atividades, as palavras, o emprego do vocabulário, suas alegrias e decepções, bem como a realidade e a fantasia, a coerência e a coesão./ Posso dizer com satisfação que cada vez mais o curso está contribuindo para meu crescimento, tanto em sala de aula quanto na vida pessoal. (Professora B) - Durante o curso uma das coisas mais surpreendentes que pude descobrir e/ou aprender diz respeito ao que pensam os alunos sobre a escrita. A partir de então, comecei a mudar o meu enfoque e a minha prática pedagógica, pois aprendi a perceber não mais o que meus alunos sabiam, mais quais saberes já possuíam. Tais conhecimentos começaram a ser o ponto de partida para o planejamento das atividades que seriam desenvolvidas./ Nessa perspectiva passei a dar mais ênfase ao trabalho com textos, reconhecendo suas capacidades de ler e escrever mesmo 5

6 antes de estarem alfabetizados. Diante disso, posso afirmar que o curso tem sido muito produtivo, pois chamou-me a atenção para a importância de se ler diariamente bons textos para os alunos e que essa prática requer planejamento./ Além disso, procuro utilizar os conhecimentos teóricos adquiridos, bem como as trocas de experiências ocorridas nos nossos encontros semanais, sobre o processo de aprendizagens e sobre a didática, para planejar situações desafiadoras pautadas na leitura e na escrita de textos. Essa prática tem contribuído para que eu possa autoavaliar o processo ensino-aprendizagem e constatar se os objetivos propostos estão sendo atingidos./ Em síntese, procuro recorrer às palavras do saudoso Martin Luther King para demonstrar a importância desse curso na minha prática, dizendo: Não somos o que gostaríamos de ser. Não somos o que deveríamos ser. Não somos o que iremos ser. Mas, graças a Deus, Não somos o que éramos!. (Professora C) O que julgamos fundamental deixar aqui registrado é que, nesse programa de formação continuada incentivamos nossos educadores a fazer uso do conhecimento nato de mundo que o educando possui e sua relação com a língua escrita, assim eles poderão alfabetizar letrando, pois, a alfabetização com a prática do letramento, trará aos nossos educandos capacidades, competências, habilidades diversas para que estes se envolvam com as variadas demandas sociais de leitura e escrita. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS FREIRE, Paulo; DONALDO, Macedo. Alfabetização: leitura da palavra leitura do mundo. Rio de Janeiro: Paz e Terra, KATO, Mary A. No mundo da escrita: uma perspectiva psicolingüística. 7ª ed. São Paulo: Ática, KLEIMAN, Ângela B. Os significados do letramento: uma nova perspectiva sobre a prática social da escrita. Campinas: Mercado de Letras, McLAUGHLIN, M. & VOGT, M.E. Portfolios in Teacher Education. Newark, De: International Reading Association, PERRENOUD, Philippe, In: Ensinar: agir na urgência, decidir na incerteza, Porto Alegre: Artmed, TFOUNI, Leda Verdiani. Letramento e alfabetização. 6ª ed. São Paulo: Cortez, WEISZ, Telma. O diálogo entre o ensino e a aprendizagem. São Paulo : Ática,

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