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- Fernanda Ferrão Lima
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1 Edição número 1886 segunda-feira, 15 de agosto de 2011 Fechamento: 09h00 Veículos Pesquisados: Clipping CUT é um trabalho diário de captação de notícias realizado pela equipe da Secretaria Nacional de Comunicação da CUT. Críticas e sugestões com Leonardo Severo (leonardo@cut.org.br) Isaías Dalle (isaias@cut.org.br) Paula Brandão (paula.imprensa@cut.org.br) Luiz Carvalho (luiz@cut.org.br) William Pedreira (william@cut.org.br) Secretária de Comunicação: Rosane Bertotti (rosanebertotti@cut.org.br)
2 Estadão Bloco 'informal' dos aliados confronta Dilma (Política) Único partido governista a reclamar publicamente da presidente Dilma Rousseff, o PR está sendo usado como cavalo de Troia por parte dos aliados, em especial pelo PMDB, para expor a insatisfação da base com o governo. A estratégia é se esconder atrás do PR para enfrentar o governo e, dessa maneira, tentar se preservar de eventuais represálias futuras do Palácio do Planalto. A tática da base para peitar a presidente Dilma na Câmara e, ao mesmo tempo, não se expor foi posta em prática com a criação de um bloco informal, integrado por PR, PMDB, PTB, PSC e PP. Juntos, os cinco partidos somam mais de 200 deputados, o suficiente para impedir qualquer votação e paralisar os trabalhos da Câmara. Idealizado por peemedebistas, o bloco rapidamente contou com a adesão dos quatro partidos. Partidos não vão colocar fogo no circo, diz especialista (Política) Os sucessivos escândalos no governo - resultando, por vezes, no afastamento de apadrinhados de partidos aliados ao Palácio do Planalto - não devem ameaçar a maioria governista no Congresso, na avaliação do cientista político Fábio Wanderley Reis, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Reis considera que a prioridade dos partidos fisiológicos que compõem a base da presidente Dilma Rousseff é manter-se no governo, para usufruir o máximo possível de benesses como cargos e liberação de emendas parlamentares. "Esses partidos, em última análise, não vão colocar fogo no circo", argumenta. O cenário mais provável para os próximos anos do governo Dilma, na análise do cientista político, é um arranjo "precário e instável" entre Executivo e Legislativo. "Essa é a aposta mais provável, tendo em vista o ânimo briguento da presidente." Governo espera IPCA para definir juro Se ficar comprovado o recuo dos preços, como apostam Banco Central e Ministério da Fazenda, haverá espaço para redução da taxa Selic Iuri Dantas (Economia) O governo prefere esperar os dados de inflação do mês de agosto, que serão divulgados mês que vem, antes de decidir sobre cortes nos juros. Se ficar comprovado o recuo dos preços, como apostam Banco Central e Ministério da Fazenda, haverá espaço para redução da taxa Selic. Analistas acreditam que uma desaceleração da economia no segundo trimestre, cujo resultado sai no início de setembro, também pode levar o BC a cortar juros na reunião seguinte. O Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador oficial da inflação brasileira, deu um alívio no mês passado e pode permitir cortes nos juros ainda neste ano, avaliou o deputado Claudio Puty (PT-PA), presidente da Comissão de Finanças, Tributação e Controle da Câmara.
3 "O resultado da inflação foi bem razoável, com deflação em algumas cidades. Pode se preparar para uma queda de juros, até como tentativa de reduzir a diferença da taxa em relação à média mundial", disse Puty. Outro interlocutor da equipe econômica, o senador Delcídio Amaral (PT-MS), que preside a Comissão de Assuntos Econômicos do Senado, não descarta a possibilidade de o governo retirar travas ao consumo adotadas no início do ano, as chamadas medidas macroprudenciais. A cobrança de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) em empréstimos e a exigência de maior valor de entrada no financiamento de automóveis são exemplos de medidas desse tipo. "O governo não vai ficar procrastinando, vai agir pontualmente, em casos localizados. Não vai ficar parado", diz o senador. Crescimento. Serve de conforto ao Comitê de Política Monetária (Copom) a decisão do governo de seguir à risca o corte de R$ 50 bilhões no Orçamento deste ano, confirmado na semana passada pela ministra do Planejamento, Miriam Belchior. "A probabilidade de corte de juros subiu bastante, de fato", disse Carlos Kawall, exsecretário do Tesouro e economista-chefe do banco J.Safra. "Se o cenário apontar o crescimento da economia indo para 3%, a probabilidade de o BC agir na política monetária, dada a premissa de rigor fiscal, é muito grande." Para sacramentar um corte de juros, faltaria uma queda nas cotações internacionais de commodities, o que ainda não ocorreu por causa da volatilidade dos mercados nos últimos dias. As apostas se baseiam em um estudo do Banco Central no relatório de inflação de junho. Segundo a autoridade monetária, "a dinâmica dos preços das commodities esteve, na última década, correlacionada com as taxas de inflação em nível global em graus superiores aos observados em décadas anteriores". Brasil depende da China para evitar crise Sem o efeito China, superávit da balança se transformaria em déficit e saldo negativo da conta corrente saltaria de 2% para 4% do PIB Raquel Landim (Economia) No mercado financeiro, o Brasil é considerado hoje um "derivativo" da China. Derivativos são contratos cujos preços dependem da cotação de outro ativo. "A performance do mercado brasileiro é muito ligada à China. O Brasil tem o ônus e o bônus dessa relação", diz Ricardo Lacerda, presidente da BR Partners, uma das principais empresas de fusões e aquisições do País. Traduzindo para a economia real: se a crise nos Estados Unidos e na Europa atingir a China, o Brasil será castigado. A percepção dos investidores vem do aumento da dependência do País em relação ao gigante asiático depois da quebra do Lehman Brothers em O apetite chinês garantiu a alta das commodities em meio à recessão global, reduzindo a vulnerabilidade externa brasileira. Nos 12 meses até junho, o Brasil teve déficit em conta corrente (inclui todas as transações com exterior) de US$ 49 bilhões, ou 2% do Produto Interno Bruto (PIB). Sem o "efeito China" da alta das commodities, o superávit comercial se
4 transformaria em déficit e o saldo negativo da conta corrente chegaria a US$ 89 bilhões, ou 4% do PIB, revela cálculo da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex). É por isso que a economia chinesa está no radar do governo. Segundo uma fonte do Ministério da Fazenda, o Brasil tem um mercado interno robusto, o que limita o contágio externo, mas a situação asiática é seguida com lupa. "A China é o ponto mais crucial, porque afetaria a economia real imediatamente", disse o secretário executivo do Ministério da Fazenda, Nelson Barbosa, esta semana em Brasília. Nos últimos três anos, a China se consolidou como o maior parceiro comercial do Brasil e anunciou investimentos bilionários no País. Para driblar o real forte, a indústria brasileira compra mais insumos na China. "A dependência dos fornecedores chineses cresceu. Se a crise piorar e secar o crédito para a importação, a indústria para. Estamos mais vulneráveis", disse José Roberto Mendonça de Barros, sócio-diretor da MB Associados. Cliente preferencial. Em 2008, a China absorvia 6,7% das vendas externas do País. No primeiro semestre deste ano, representou 17%. "A demanda dos países ricos caiu, enquanto a China continuou a consumir ", explica Mônica de Bollle, sócia da Galanto Consultoria. Em 2008, a Vale vendia 28% do seu minério de ferro para a China. No segundo trimestre deste ano, destinou aos chineses 41,9% do total. O apetite chinês baliza os preços das commodities, que representam quase 70% do que o Brasil vende no exterior, conforme cálculo da Rede Agro. A alta das commodities pós-2008 proporcionou termos de troca recordes para o Brasil, variável que compara preços de produtos exportados e importados. "É um ganho de renda para o País, que pode importar mais com a mesma quantidade de exportação", diz José Júlio Senna, sócio-diretor da MCM Consultores. Até agora o Brasil colheu o bônus da relação com a China, mas se o país asiático sucumbir à crise pode ser a hora do ônus. Os especialistas esperam uma desaceleração gradual da China e manutenção de demanda forte por commodities. Mas, se a situação piorar, o efeito para o Brasil seria em cascata: commodities em queda, menos exportação, mais déficit em conta corrente, queda do real e inflação. Para Fernando Ribeiro, economista-chefe da Funcex, essa "catástrofe" reduziria a capacidade do governo de reagir à crise com corte de juros ou estímulos fiscais. "É o dilema que o governo Dilma quer evitar: perder o controle da inflação ou deixar o País entrar em recessão?", questionou. Só resta torcer pela China. Emprego em alta não freia ações trabalhistas Apesar da queda do desemprego, Justiça recebeu 3 milhões de processos em 2010 Marcelo Rehder (Economia) Apesar da queda do desemprego para um dos níveis mais baixos da história, o número de reclamações trabalhistas na Justiça brasileira já chega perto de 3 milhões de ações por ano - média que não se compara a nenhum país. Em 2010, foram abertos mais de 2,8 milhões de processos em todo o País, segundo o Tribunal Superior do Trabalho (TST). É mais que o total de postos de trabalho formais abertos no período, que atingiu o recorde de 2,5 milhões de novas vagas, de acordo com o Ministério do Trabalho.
5 São múltiplos os fatores que contribuem para essa sobrecarga de processos, a começar pela alta rotatividade da mão de obra no mercado brasileiro, o que gera milhares de ações de empregados demitidos. Só no ano passado, o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) registrou quase 17,9 milhões de demissões. Contudo, o ritmo de contratações foi maior, de 20,4 milhões, resultando no saldo positivo de 2,5 milhões de vagas. Entre os problemas, os especialistas apontam a legislação trabalhista, considerada anacrônica, detalhista e protetora do empregado. "O sujeito que já perdeu o emprego sabe que não vai sofrer consequência alguma se entrar com um processo na Justiça, ainda que reclame de má-fé, sabendo que não são devidos alguns pedidos", diz o advogado Márcio Magano, sócio da Bueno Magano Advocacia. É diferente do que acontece, por exemplo, nos Estados Unidos. Lá, se o trabalhador perde a ação, tem de pagar todas as despesas da outra parte. "As pessoas pensam duas, três, dez vezes antes de entrar com uma ação", compara o advogado. "Ninguém entra com processo trabalhista porque gosta ou porque não tem ônus", afirma o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Artur Henrique. "O ônus já aconteceu, na medida em que o trabalhador não recebeu seus direitos." O sindicalista avalia que cerca de 70% dos processos que sobrecarregam a Justiça do Trabalho dizem respeito a direitos trabalhistas não pagos pelas empresas. "Estamos falando de horas extras, de salário igual para uma mesma função e de um conjunto de direitos que estão garantidos em acordos coletivos ou na própria lei, mas as empresas não cumprem." O advogado Almir Pazzianotto Pinto, ex-ministro do Trabalho e do TST, diz que não é bem assim. "Existe o bom empregador e o mau empregador, mas não acredito que haja um número tão grande de violações como as que estão nesses processos." Ele argumenta que, diferentemente do que ocorre em ações civis, o pedido trabalhista nunca é único. "Ninguém entra na Justiça para pedir só aviso prévio." Informalidade. O Brasil tem um potencial imenso de ações trabalhistas, na medida em que os trabalhadores informais, estimados em 32 milhões, e os chamados "PJ", têm uma relação estreita com empregador só enquanto estão trabalhando. Ao serem dispensados, vão à Justiça, Ao onerar igualmente empreendedores desiguais, como microempresários e empresas de grande porte, a legislação contribui para a informalidade e o aumento de ações na Justiça. Uma reforma da CLT que elimine as distorções sempre é lembrada, mas o debate costuma esbarrar nas divergências entre os representantes das empresas e dos trabalhadores. Os empresários querem retirar direitos e os trabalhadores defendem a manutenção da proteção oferecida pela Justiça do Trabalho. Além disso, a Justiça amplia os direitos dos trabalhadores por meio de suas decisões. Há cerca de duas semanas, um cortador de cana obteve, na Justiça do Trabalho, o reconhecimento do direito ao adicional de insalubridade com base em laudo pericial que comprovou exposição intensa ao calor em níveis acima dos limites previstos na regulamentação da matéria.
6 Para o TST, a insalubridade não se caracterizou pela simples exposição aos efeitos dos raios solares, mas pelo excesso de calor em ambiente de elevadas temperaturas, em cultura em que sua dissipação torna-se mais difícil que em outras lavouras. "Imagine se todo cortador de cana começar a abrir processo para adicional de insalubridade", diz um desembargador que pediu para não ser identificado. "Vai obrigar as usinas a acabarem de vez com o corte manual da cana, afetando sobretudo o pequeno agricultor, que não tem condições financeiras para mecanizar a colheita." Justiça do Trabalho custa R$ 61,24 a cada brasileiro Marcelo Rehder (Economia) Se o Estado resolvesse pagar todas as reclamações trabalhistas, sairia mais barato do que manter a estrutura da Justiça do Trabalho em funcionamento. Em 2010, a despesa foi de R$ 61,24 para cada brasileiro, 8,64% a mais do que no ano anterior (R$ 56,37), totalizando R$ 11,680 bilhões. Em igual período, foram pagos aos reclamantes R$ 11,287 bilhões, ou 10,3% mais que em Os dados são do Tribunal Superior do Trabalho (TST) e indicam que, mesmo com a arrecadação de R$ 3,137 bilhões decorrentes das decisões, o custo é alto. O contribuinte sustenta uma enorme estrutura, com varas e pelo menos um tribunal em cada Estado (exceto Acre, Roraima e Tocantins), além do TST. E os números vão crescer. A presidente Dilma Rousseff autorizou 68 novas varas do trabalho em São Paulo e 2 no Maranhão. "Não será criando novas varas que se vai resolver o problema", diz o advogado Almir Pazzianotto Pinto. "Quanto mais botequim, mais pinguço - ou seja, a afluência de processos aumenta." Para Artur Henrique, da CUT, a atual quantidade de processos reflete a falta negociação no local de trabalho. Segundo ele, as empresas que têm comissão ou representação sindical enfrentam menos ações, já que boa parte dos conflitos é resolvida sem intervenção judicial. Folha de S.Paulo Intelectuais ligados ao PT se unem em apoio a Haddad Aliados querem que grupo que se reuniu com ministro na sexta divulguem manifesto favorável à sua pré-candidatura Novato em disputas na sigla, favorito de Lula para a Prefeitura de SP em 2012 busca vencer resistências no partido Vera Magalhães (Poder) Um grupo de cerca de 30 intelectuais ligados ao PT se reuniu na sexta-feira na casa do ministro Fernando Haddad (Educação) em um jantar de apoio à sua précandidatura a prefeito de São Paulo no ano que vem.
7 Aliados do ministro articulam a divulgação de um manifesto de acadêmicos em apoio à candidatura, embora o tema não tenha sido debatido durante o jantar. Entre os participantes do encontro estiveram os filósofos Vladimir Safatle, que é colunista da Folha, e Marilena Chauí, o cientista político André Singer, o jornalista Eugenio Bucci e a psicanalista Maria Rita Kehl. Novato em disputas na sigla, Haddad iniciou há duas semanas um périplo pelos diretórios zonais do partido, em caravanas que reúnem todos os pré-candidatos. Paralelamente, busca apoios que legitimem sua candidatura para além da preferência já manifestada pelo ex-presidente Lula. A Folha apurou que, no jantar, Haddad fez um diagnóstico da cidade e criticou o "esgarçamento" da relação entre o PT e setores médios da sociedade, entre os quais a intelectualidade. Disse que deseja implantar o ensino integral em toda a rede da cidade, criticou a parceria com Organizações Sociais na saúde e disse que a prefeitura deveria conter a especulação imobiliária. Alguns dos participantes do jantar têm antiga relação de amizade e profissional com Haddad. Eugenio Bucci e ele militaram no mesmo grupo político no Centro Acadêmico XI de Agosto, da Faculdade de Direito da USP, no início dos anos "O ministro Haddad é a pessoa mais vocacionada que conheço para exercer um cargo no Executivo", disse Bucci há duas semanas. COSTURA POLÍTICA Paralelamente à aproximação com os acadêmicos, Haddad conta com Lula e seus aliados mais próximos no PT para tentar vencer resistências da militância. Graças ao apoio do presidente estadual do partido, Edinho Silva, um dos diretórios zonais, do Ipiranga, anunciou que não fará parte do ciclo de debates entre os postulantes e antecipou a preferência por Haddad. Lula procurou um dos principais apoiadores da senadora Marta Suplicy, o líder do governo Candido Vaccarezza, e lhe pediu ajuda para evitar as prévias na capital. Outra tentativa de mostrar força política, porém, fracassou. "Haddadistas" como Edinho e os prefeitos Emídio Souza (Osasco) e Luiz Marinho (São Bernardo) tentaram articular uma moção de apoio da corrente CNB (Construindo um Novo Brasil), que tem 25% do diretório da capital, ao ministro. As expectativas foram frustradas quando o deputado Ricardo Berzoini se recusou a assiná-la e criticou a tentativa de cercear a democracia interna. Governo cancela concessões de rádio e TV Decisão foi tomada porque empresas vencedoras de licitações não pagaram o preço combinado pelas outorgas Ao todo, serão anulados 42 contratos de rádio e um de TV; especulação e interesse de políticos e igrejas inflam propostas Elvira Lobato (Poder)
8 O Ministério das Comunicações vai anular 42 concessões de rádio e 1 de TV. Elas foram vendidas em licitações públicas da União, mas os compradores não pagaram o preço combinado. Oito das outorgas em vias de cancelamento são de rádios FM em localidades no interior de São Paulo: São José do Rio Preto, São Carlos, Marília, Santo Antônio da Alegria, Pitangueiras, Guapiaçu e Coronel Macedo. Constam na lista duas rádios -em Viçosa do Ceará (CE) e em Guapiaçu (SP)- adquiridas pela Igreja Renascer, através da Ivanov Comunicação e Participações. Os sócios da empresa não foram localizados para explicar a razão da inadimplência. Segundo a Folha apurou, o governo vai convocar o segundo colocado em cada licitação. Em alguns casos, a diferença de preços do segundo para o primeiro colocado chega a 300%. Se não houver interessados entre os classificados, o ministério fará outra concorrência pública com novas regras, que serão anunciadas até o fim do mês. PREÇO ELEVADO O principal motivo da inadimplência nas licitações foi o preço muito elevado das outorgas de rádio e TV. Empresas ligadas a igrejas e políticos, além de especuladores interessados em revender as licenças com lucro mais adiante, puxaram os valores para cima. A única concessão de TV da lista -para a localidade de Três Lagoas (MS)- foi vendida na licitação por R$ 5,27 milhões. O segundo colocado ofereceu R$ 1,46 milhão na concorrência. A consultoria jurídica do ministério avalia que as empresas inadimplentes não têm direito adquirido sobre as outorgas. Desta forma, o cancelamento poderá ser feito por ato administrativo, sem a necessidade de o governo recorrer à Justiça. A Advocacia-Geral da União endossou o entendimento. O cancelamento da concessão de TV, no entanto, será feito por meio de um decreto assinado pela presidente Dilma Rousseff. Os assessores do Palácio do Planalto argumentam que o direito à concessão só fica configurado depois que o vencedor da licitação paga 50% do valor da outorga e assina o contrato de concessão. O questionamento se deve à complexidade do processo de concessão, que envolve o Executivo e o Legislativo. Após a licitação, o Executivo outorga o canal ao vencedor e envia o ato ao Congresso Nacional, para aprovação. Depois que o Senado publica o decreto autorizando a concessão, o vencedor tem 60 dias para pagar a primeira parcela e assinar o contrato. Após assinado, ele só pode ser revogado com aprovação de deputados e senadores. A dúvida era se o fato de o Congresso ter aprovado as outorgas daria direitos ao vencedor da licitação, mesmo estando inadimplente.
9 Kassab cedeu a gays, diz autor do dia do hétero (Cotidiano) Apolinário afirma que prefeito quebrou acordo O vereador Carlos Apolinario (DEM) acusa o prefeito Gilberto Kassab (PSD) de ter rompido um acordo pelo qual não sancionaria nem vetaria o projeto de lei que cria o Dia do Orgulho Heterossexual em São Paulo. Autor do projeto, Apolinario disse, em nota enviada ontem à imprensa, que Kassab foi pressionado pelos gays para romper o acordo. "Ele [Kassab] tirou a Marcha por Jesus e a CUT da Paulista com o argumento de que, na região, há muitos hospitais. Mas manteve lá a Parada Gay! É mais fácil tirar Jesus da Paulista do que os gays...", afirmou Apolinario. Em entrevista ao jornal "Agora São Paulo", do Grupo Folha, publicada ontem, Kassab disse que vetará o projeto por ser uma medida "despropositada". No início do mês, o prefeito havia dito que o projeto não incentivaria a homofobia pois este "é um projeto como qualquer outro". Valor Econômico Reajustes concedidos por Lula ainda elevam custos salariais Ribamar Oliveira As reestruturações de carreiras dos servidores públicos, realizadas pelo expresidente Luiz Inácio Lula da Silva nos três últimos anos do seu segundo mandato, continuam repercutindo sobre as contas públicas. Este ano, os aumentos de remuneração dos servidores decorrentes dessas reestruturações elevarão as despesas da União com o pagamento de pessoal em R$ 6,9 bilhões, de acordo com o Anexo V das leis orçamentárias de 2010 e No próximo ano, ainda haverá uma conta superior a R$ 800 milhões para ser paga. Devido a essas reestruturações, os gastos com o pagamento de servidores de janeiro a junho deste ano cresceram 11,3% em comparação com o igual período de 2010, mesmo com a decisão da presidente Dilma Rousseff de não conceder novos reajustes e de suspender os concursos públicos e as contratações de mais funcionários. A despesa passou de R$ 78,2 bilhões no primeiro semestre de 2010 para R$ 87 bilhões no primeiro semestre deste ano - R$ 8,8 bilhões a mais, de acordo com a Secretaria do Tesouro Nacional (STN). O aumento real desses gastos no primeiro semestre foi de 4,3%, considerada a inflação do período medida pelo IPCA. Os aumentos salariais, decorrentes das reestruturações de numerosas carreiras de servidores, foram concedidos em até quatro parcelas anuais, de acordo com as leis /2008, /2009 e /2010. No ano passado, os reajustes a funcionários de nível superior variaram de 19,4% a 31,4%, enquanto os funcionários de nível médio obtiveram aumentos entre 3,1% e 15,2%.
10 O impacto dessa parcela sobre a folha de pagamento em 2010 foi de R$ 7,2 bilhões, pois o reajuste não repercutiu sobre todos os meses do ano (as diversas categorias receberam os aumentos em meses diferentes). O custo anualizado dessa parcela foi de R$ 13,3 bilhões. Assim, uma parte da despesas do aumento dado em 2010 só foi paga este ano - a conta que ficou para 2011 foi de R$ 6 bilhões. Ainda houve este ano um "resíduo" dos aumentos concedidos por Lula - a última parcela, que incidiu sobre os salários de julho, pagos em agosto. O custo dessa parcela será de R$ 868,2 milhões em O custo anualizado é de R$ 1,686 bilhão. Assim, ficará para ser pago no próximo ano uma conta de R$ 818 milhões (R$ 1,686 bilhão menos R$ 868,2 milhões). Dos R$ 8,8 bilhões de aumento da despesa com pessoal no primeiro semestre, em comparação com igual período de 2010, R$ 1,6 bilhão deve-se a reajustes salariais dos servidores do Legislativo e do Judiciário em anos anteriores, com repercussão em Os parlamentares aprovaram este ano, pelo Decreto Legislativo 805, a revisão do subsídio dos membros do Legislativo. O custo foi de R$ 144,4 milhões este ano e de R$ 155,7 milhões, anualizado. O DL 805 promoveu também a revisão do subsídio do presidente e vice-presidente da República e dos ministros de Estado. Mas essa conta não ultrapassa R$ 8,5 milhões este ano e é de R$ 9,2 milhões anualizada. Do gasto adicional com pessoal de R$ 8,8 bilhões no primeiro semestre deste ano, R$ 7,2 bilhões refere-se ao Executivo. Do total, R$ 1 bilhão decorreu do ingresso de novos servidores na administração pública federal no último semestre do ano passado e nos primeiros meses deste ano, segundo informação do Planejamento. A decisão da presidente Dilma de suspender as contratações de mais servidores não atingiram aqueles que estavam em processo de contratação. Houve ainda um aumento de R$ 800 milhões no pagamento de precatórios e sentenças judiciais de pessoal, que passou de R$ 3,7 bilhões no primeiro semestre de 2010 para R$ 4,5 bilhões em igual período deste ano. A Secretaria do Tesouro Nacional não informou como esse gasto adicional foi dividido entre os três Poderes. Economistas divergem sobre efeitos de médio e longo prazo da crise João Villaverde O governo dispõe de instrumentos para contrabalançar os efeitos de curto prazo do recrudescimento da crise internacional sobre a economia brasileira, entre eles o menor crescimento. Seis economistas consultados pelo Valor apresentam preocupações distintas sobre os riscos associados ao médio e longo prazo, mas a lista embute perda de valor das commodities (e sua consequência sobre a balança comercial), redução nas intenções de investimentos e corte prematuro da taxa de juros. O temor de alguns é que o governo adote medidas de combate à crise e não as reveja no momento adequado, quando a poeira externa baixar. "Mesmo relativamente fechado ao mundo, em comparação com a maior parte dos países ricos e entre os emergentes, o Brasil cresce mais quando o mundo rico está bem", afirma José Alexandre Scheinkman, doutor em economia pela Universidade de Rochester e professor na Universidade de Princeton, ambas nos EUA. Para ele, o biênio 2009 e 2010 é um "desenho perfeito" disso. Em 2009, com a recessão dos EUA, União Europeia e Japão, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro caiu 0,6%.
11 No ano seguinte, com o início do que parecia ser uma recuperação global, o PIB brasileiro deslanchou, com alta de 7,5%. "Não podemos olhar a crise e cometer o erro de achar que é fechando que se cresce", afirma Scheinkman. "Seria um desastre achar que o crescimento pode ser sustentado apenas pelo mercado doméstico", diz. Para ele, o principal canal de intercâmbio do país com o resto do mundo - a exportação de commodities - deve ter prioridade, e não preocupa. "A China está mudando seu crescimento, focando mais o mercado doméstico, e com isso consumirá ainda mais commodities nossas", prevê. Já para Júlio Sérgio Gomes de Almeida, professor da Unicamp e ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, é a "dependência" das commodities o principal alerta dado pelo acirramento global. Em apenas 27 dias, entre 13 de julho e 9 de agosto, o índice de preços das principais commodities, o CRB, negociado na Bolsa de Valores de Chicago, caiu 9,5%, atingindo o menor valor desde dezembro de Com crescimento "pífio" nos Estados Unidos e um mercado interno em formação na China, o PIB chinês deve registrar taxas menores de elevação. "Com uma demanda global um pouco menor e menos liquidez, as commodities podem oscilar em torno de preços menores, o que reduzirá nosso saldo comercial, quase todo dependente de produtos básicos", diz. Outro efeito produzido pela queda verificada nas últimas semanas nos preços das commodities é o enfraquecimento da inflação. Sinal festejado pela equipe econômica do governo, o barateamento das commodities não deve prejudicar o produtor brasileiro porque o fenômeno tem sido acompanhado por leve desvalorização cambial, que compensa, em parte, a remuneração oriunda das exportações. "Essa desaceleração da economia e das commodities era tudo o que o governo queria fazer e não estava conseguindo", avalia Luís Eduardo Assis, professor da Fundação Getulio Vargas em São Paulo (FGV-SP) e ex-diretor de política monetária do Banco Central (BC). Para Assis não há "nenhuma necessidade" de um corte preventivo na taxa de juros básica, atualmente em 12,5% ao ano. "O cenário mudou muito rápido, e, tal como mudou rápido para um lado, pode mudar na mesma velocidade para outro", afirma Assis, para quem a economia brasileira está "praticamente blindada" de um contágio externo. "A não ser que o governo fique tentado a usar a crise para descontinuar o aperto fiscal que vêm promovendo", diz. Mas é justamente o aperto fiscal que o governo Dilma Rousseff pratica em e que a presidente se comprometeu publicamente a manter em que pode influenciar em uma "internalização" da crise no médio prazo, de acordo com Armando Castelar, matemático pela UFRJ e economista pela Universidade de Berkeley (EUA). Para Castelar, que foi chefe do Departamento Econômico do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), o governo sustenta o aperto fiscal reduzindo os investimentos. "Haverá menos disposição para investimentos em vários agentes. O investidor externo vai pensar duas vezes antes de se arriscar nos emergentes. No Brasil, como o crescimento será menor, também haverá menos investimentos por parte da iniciativa privada. Ao mesmo tempo, o governo deve combater a crise, como defende Dilma, via aperto na política fiscal. E aperto fiscal só ocorre nos investimentos públicos, que é onde dá para cortar", avalia Castelar.
12 Para David Beker, chefe de economia e estratégia para Brasil do Merrill Lynch, a forte elevação, já contratada, no salário mínimo de 2012 servirá como "colchão" de um contágio externo, que, no entanto, já ocorreu. Beker reduziu na semana passada sua estimativa para o avanço do PIB brasileiro para 2011, de 4,1% previstos até o fim de julho, para 3,6%. "Se o governo precisar fazer algo, o correto seria agir na política monetária", diz, "uma vez que os gastos já contratados para 2012 constituem um ponto muito ruim para o médio prazo". Beker, no entanto, estima que o BC só reduzirá os juros na segunda metade de Para Antônio Corrêa de Lacerda, professor-doutor da PUC-SP, o BC deveria "aprender com seu erro de 2008" e começar a reduzir os juros já neste mês. "A crise mundial explodiu em setembro de 2008, mas o BC só começou a reduzir os juros em janeiro de 2009, erro cuja repetição deveria ser inaceitável", diz Lacerda, para quem a crise liga o sinal de alerta para o déficit nas transações correntes do país, em torno de 2,2% do PIB. Para Dilma, cortar juro "não é assim tão fácil" Claudia Safatle Apesar de diversos economistas recomendarem que a resposta do governo a eventual agravamento das condições internacionais deve ser a redução da taxa de juros, a presidente Dilma Rousseff tem visão comedida sobre o assunto. Para ela, não se trata de escolher como reação mais esforço fiscal ou menos juros. "Não é uma coisa ou outra. São ambas", disse a presidente a um assessor, semana passada. "Ninguém mais do que eu quer baixar a taxa de juros, mas não é assim tão fácil. Não é uma questão de vontade", completou, segundo relato desse interlocutor. Dilma convocou a reunião do Conselho Político na quarta-feira para deixar uma mensagem cristalina: o governo está muito atento à evolução da crise externa para saber seu tamanho e duração, e o diferencial que o Brasil tem hoje é a solidez fiscal. "O governo está conduzindo os gastos públicos com mão-de-ferro a ponto de criar uma greve branca no Congresso. Não se vota mais nada lá até que o governo anuncie um cronograma de liberação dos restos a pagar de 2010", contou um funcionário do Planalto. O clima no Congresso é beligerante e os parlamentares ameaçam não aprovar sequer a prorrogação da Desvinculação de Receitas da União (DRU), que vence no fim do ano, acrescentou a fonte. O líder do PTB na Câmara, deputado Jovair Arantes (GO), deu o tom da insatisfação, após reunião com Dilma: "Não é uma rebelião, é uma contrariedade. O governo agora só quer falar de crise mundial, não quer administrar o país. Nossos prefeitos não vivem em Nova York ". As recomendações da presidente, porém, arrancaram um compromisso do ministro da Fazenda, Guido Mantega: "Prometo a cada mês uma surpresa no fiscal. Cada vez um resultado melhor, como já tivemos no mês passado, melhor do que todos esperavam", disse em entrevista terça-feira, após reunião de coordenação com a presidente. "Temos que confirmar nosso diferencial. O diferencial do Brasil, hoje, é ter uma condição fiscal bem arrumada", reforçou o presidente do BC, Alexandre Tombini, na
13 quarta-feira. Tombini sabe que o Copom só poderá reduzir a Selic se Mantega cumprir sua missão. Armínio Fraga, ex-presidente do BC e sócio da Gávea Investimentos, aplaudiu essas declarações. Ele avalia que o maior problema na reação do governo em 2008 não foi ter adiado por um mês o corte dos juros, mas sim ter operado um desequilíbrio no mix da política econômica. "Expandiram demais o crédito e os estímulos fiscais, limitando o espaço para a queda mais permanente da taxa de juros", disse. "O ideal, agora, seria fazer o que o governo sinalizou: não expandir o fiscal. Além disso cabe sempre prudência no crédito, especialmente dos bancos públicos, que atuam com objetivos não meramente econômicos", afirmou Armínio. Cumprir a meta de superávit primário para este ano, de 2,9% do PIB, para ele, é suficiente. E, simultaneamente, cuidar dos temas de longo prazo (aumento dos investimentos, educação) "para realmente diferenciar o Brasil da maioria!" Um ministro, perguntado sobre a razão pela qual hoje a presidente Dilma é mais "fiscalista" do que quando era chefe da Casa Civil, respondeu: "Antes era não era presidente da República. Era gerente do PAC e, como tal, queria gastar". Leilão de aeroporto de Natal já tem desistência de interessados Fábio Pupo e Luciano Máximo O governo federal enfrenta seu primeiro teste para concretizar o programa de concessão de aeroportos ao setor privado, com o recebimento, hoje, das propostas econômicas dos grupos interessados na construção e operação do Aeroporto de São Gonçalo do Amarante, em Natal (RN). Na véspera da primeira etapa, pelo menos duas empresas já desistiram e outro concorrente manifestou falta de interesse. Se outras companhias apresentarem lances hoje, a abertura dos envelopes será feita na próxima segunda-feira, dia 22. A manutenção das regras do edital e a baixa remuneração do investimento privado na concessão foram as principais razões para o Grupo Aeroportuario del Pacífico (GAP), do México, e a Frapor, da Alemanha, desistirem do empreendimento, enquanto a direção da espanhola OHL declarou não estar "muito" interessada na disputa. Luiz Claudio Campos, sócio da área de financiamento de projetos da Ernst & Young Terco, que participou como consultor da estruturação do modelo de concessão do Aeroporto de São Gonçalo do Amarante, conta que o governo exige investimentos de R$ 800 milhões da concessionária vitoriosa ao longo dos 28 anos de exploração para uma taxa anual de retorno de 6,3%. "São [valores] incompatíveis com os riscos associados ao mercado de administração aeroportuária. As taxas tecnicamente calculadas e indicadas pelos principais players são da ordem de 10% ao ano". Na sexta-feira, a mexicana GAP, que opera 12 aeroportos na América Latina, anunciou sua desistência do leilão. Ela justificou que o empreendimento apresenta pouco retorno financeiro nos moldes estabelecidos pelo edital da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). De acordo com Nilton Andrade Chaves, da QG Engenharia e Planejamento - empresa mineira que presta consultoria à GAP no país -, as regras
14 de redução tarifária elaboradas pelo governo impedem um retorno "satisfatório" do investimento feito pelas empresas. Entre as regras citadas por ele como "problemáticas", está a redução das tarifas por um fator de ajuste chamado pelo edital de "X", a ser aplicado durante o período de construção. Por isso, argumenta Chaves, o faturamento não compensaria os custos com o projeto. Segundo seus cálculos, para a construção do terminal e da infraestrutura operacional seriam necessários R$ 420 milhões. Além disso, ele cita como exemplo de despesas o seguro contra acidentes aéreos, exigido pelo governo, apólice que demandaria gastos anuais de US$ 1 milhão. Ele segue: comparando-se cálculos de custos e da receita obtida com tarifas e exploração comercial, o retorno anual do projeto seria, em média, 6% do valor investido. "Seria mais inteligente fazer qualquer outra aplicação financeira", defende. Na sexta-feira, a OHL Brasil - controlada pela espanhola OHL - também afirmou que o edital de concessão precisaria passar por mudanças para ganhar o interesse efetivo da companhia. "Deve haver mudanças em relação às premissas do governo sobre mitigação de riscos [à iniciativa privada]. A princípio, a OHL não tem muito interesse no aeroporto", admitiu o diretor de relações com investidores da OHL Brasil, Alessandro Scotoni Levy. Perguntado se a declaração poderia ser interpretada como uma desistência, Levy não confirmou. Atualmente, a controladora OHL opera o aeroporto de Toluca, no México. Na semana passada, a alemã Fraport - que opera 13 aeroportos pelo mundo, entre eles o de Frankfurt, na Alemanha, e o de Lima, no Peru - também havia afirmado que não entraria na disputa. Como no caso das outras empresas, a decisão ocorreu pelas regras no edital, consideradas "pouco atraentes", e por cálculos de demanda superestimados. Em resposta, a assessoria de imprensa da Anac informou que não se manifestaria às vésperas do leilão e que foram realizadas duas audiências públicas presenciais e várias consultas pela internet, ocasiões em que o setor privado teve oportunidade para apresentar reivindicações. Além disso, a agência argumentou que várias contribuições das empresas foram incluídas ao edital final do processo licitatório. Campos, da Ernst & Young Terco, prevê "tarifas apertadas" para as próximas concessões aeroportuárias, prometidas para serem leiloadas até o fim do ano pelo governo. "Não sei se pode comprometer o cronograma, mas pode gerar, no mínimo, mais discussões entre setor privado e governo até chegar no momento que o governo vai definir uma taxa maior. Além disso, também é importante que, nas próximas rodadas, se discuta mais a questão da governança das concessões, como será a relação e a divisão de riscos e dos investimentos entre as futuras concessionárias e a Infraero", afirma Campos. A Secretaria de Aviação Civil da Presidência da República pretende realizar os leilões referentes às concessões dos aeroportos de Viracopos, Guarulhos e Brasília até o fim do ano. No novo modelo, está previsto que os aeroportos sejam administrados por Sociedades de Propósito Específico (SPEs) - representadas por grupos privados - com participação societária de até 49% da Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), estatal federal que administra a maioria dos aeroportos brasileiros. A concessionária vencedora de cada leilão vai cuidar da ampliação dos aeroportos, manutenção e gestão operacional. O plano de investimento privado deverá ter aplicações de 30% de recursos próprios e 70% provenientes de financiamentos.
15 Confins e Galeão são os próximos aeroportos da lista do governo Dilma a serem parcialmente privatizados. Azarões do PT em SP, Zarattini e Tatto apostam em desgaste de Marta e Haddad Caio Junqueira A operação da Polícia Federal que prendeu um dos mais próximos aliados da senadora e ex-ministra do Turismo Marta Suplicy criou em setores do partido a expectativa de que ela desista da pré-candidatura a prefeita de São Paulo. Em especial, dois deputados federais que integravam seu grupo mas que após desavenças na campanha eleitoral de 2010 se afastaram dela e agora têm projeto próprio. Carlos Zarattini, ex-secretário municipal de Transportes e das Subprefeituras; e Jilmar Tatto, ex-secretário de Abastecimento, Subprefeituras; Transportes e Governo da gestão Marta, entre 2001 e 2004, figuram como azarões no embate interno na legenda e precisam superar três obstáculos para prevalecer. O primeiro, a desistência de Marta e a migração para eles do eleitor da senadora, de dentro e fora do PT. O segundo, o ministro da Educação Fernando Haddad, cuja candidatura, ungida pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é considerada por ambos como "a negação da política". "A Marta já teve oportunidade várias vezes na vida. Foi três vezes candidata a prefeita, uma a governadora e uma a senadora", diz Zarattini. "Há um esgotamento político da Marta, que precisa se reciclar, se refazer politicamente na cidade, reconstruir pontes que foram fechadas por ela", declara Tatto, que também questiona se, no imaginário petista, é possível aceitar alguém recém-eleito como a senadora deixar o cargo para um suplente de outro partido (no caso o PR, que tem a primeira suplência da petista). Em tese e segundo avaliações do grupo, considerando-se o tamanho de cada corrente interna do PT paulistano, o maior beneficiado com uma desistência de Marta seria Zarattini. Sua corrente, a Novo Rumo, tem mais de 35% do diretório municipal. O grupo de Tatto tem 22% do diretório, ao passo que o de Marta tem 20%; e a de Haddad, 10%. Mas integrantes do partido dizem acreditar que, em um processo interno, essas transferências não são automáticas. O que vale também para colocar em xeque até onde o apoio de Lula será determinante. "Há sim um setor do PT que não quer saber, que o que Lula fala é lei, que não quer debate. Essa é a parte pobre da política. Mas no geral tem um pessoal que não se influencia. Que não é tão automática assim essa transferência", diz Tatto. Em sua avaliação, Lula coloca o ministro "em uma fria", "porque Haddad não gosta de política, gosta de universidade, e para o processo eleitoral, o eleitor percebe que ele não tem pegada, não tem a vibração que um candidato precisa ter". Zarattini acha que Haddad não é conhecido no PT, pelas lideranças de bairro, pelos militantes, e que o apoio de Lula não resolve esse problema. "Se o Lula entra em campo de fato e chama as lideranças, e essas lideranças repassam para baixo esse apoio ao Haddad, aí realmente vai dar uma desequilibrada. Mas não sei se ele vai se envolver tanto assim a fundo".
16 Tanto Zarattini quanto Tatto acham que se forem realizadas prévias as chances de o candidato preferido de Lula vencer são diminuídas (por isso o ex-presidente não quer prévias), assim como - mas em menor grau - se a opção for por um congresso municipal com os cerca 500 delegados da cidade. Alegam que, quanto mais gente participar do processo, mais diluído ele ficará, o que diminuiria as chances de um candidato sem antiga interlocução com os filiados. Nesta seara e sem a presença de Marta, apostam, o embate seria mesmo entre ambos. E aqui apresenta-se o terceiro obstáculo de cada um. "Entre eu e o Zarattini não podem ficar os dois, só um de nós", diz Tatto. A razão, com a qual Zarattini compartilha, é que eles detêm o mesmo perfil: são novidade em uma disputa para o Executivo municipal, participaram do governo Marta, e têm base consolidada no município de São Paulo. Tatto foi o petista mais votado na capital paulista, com 170 mil votos, seguido de Zarattini, com 108 mil. Zarattini acha que é o mais capacitado para entrar em um dos setores tradicionalmente mais alheios ao petismo em São Paulo: a classe média (a "antiga", não "a nova"). Em razão disso, aposta em um discurso de redução do custo de vida da população por meio de redução de impostos e ainda no resgate do discurso petista pré-governo Lula: o combate à corrupção. Principalmente por meio da punição de empresas corruptoras. Mas é crível falar em ética após as denúncias de corrupção do governo Lula? "Temos que olhar para a frente. Não quero discutir mensalão, aloprados, quero saber quais medidas temos que tomar para evitar isso", diz. Tatto fala sobre os problemas da mobilidade urbana da cidade, principalmente as que afetam a periferia e a "nova" classe média. Diz que a campanha tem que focar os benefícios que uma prefeitura parceira do governo federal pode trazer para obras de infraestrutura que beneficie as classes mais baixas da população. "É nessa área que entro com precisão por ter sido secretário municipal de Transportes quando foi feita uma revolução na área no governo Marta." Correio Braziliense Dinheiro do FAT é usado para custear gastos de ministério Vinicius Sassine A fatia do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT) destinada à qualificação profissional e à colocação de mão de obra no mercado passou a ser usada para custear a burocracia do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) em Brasília, com o pagamento de empresas fornecedoras de recepcionistas, copeiras, motoristas executivos e passagens aéreas. Uma análise dos repasses do FAT a partir de 2009, por meio dos dados do Sistema Integrado de Administração Financeira (Siafi), do governo federal, revela que boa parte do dinheiro que deveria custear a qualificação do trabalhador brasileiro é desviada para outra função. O gabinete do ministro do Trabalho, Carlos Lupi, por exemplo, gastou R$ 185 mil do FAT em passagens aéreas internacionais nos meses de junho e julho do ano passado. Já os funcionários de uma única secretaria do ministério, a Nacional de Economia Solidária (Senaes), usaram R$ 722,4 mil do FAT para viajar dentro do país num só mês. O Correio consultou técnicos do Tribunal de Contas da União (TCU) e da Controladoria-Geral da União (CGU) responsáveis pela análise dos
17 repasses do FAT para saber quais são os critérios legais para os pagamentos feitos com o dinheiro do fundo. O TCU leva em conta o artigo 21 da Lei nº 7.998, de 1990, que instituiu o FAT: As despesas com a implantação, administração e operação do programa segurodesemprego e do abono salarial, exceto as de pessoal, correrão por conta do FAT. Boa parte dos repasses do fundo a empresas de terceirização é para custear agentes terceirizados do seguro-desemprego. Conforme os técnicos ouvidos pelo Correio, o TCU faz poucas auditorias para avaliar se os gastos do FAT estão dentro da lei. A CGU, por sua vez, aponta a Lei nº 9.322, de 1996, que admite a possibilidade de uso do dinheiro do fundo para despesas administrativas. Mas o artigo 4º, citado pela CGU, faz uma ressalva: o dinheiro pode ser usado para o reaparelhamento das Delegacias Regionais do Trabalho e com programas inseridos no âmbito de sua competência. O Orçamento da União também permite gastos com as delegacias, hoje superintendências regionais. Os gastos do MTE, com dinheiro do FAT, vão bem além dos repasses para as superintendências. É o caso do custeio das passagens aéreas internacionais. Em junho do ano passado, Carlos Lupi participou da conferência anual da Organização Internacional do Trabalho (OIT), em Genebra, na Suíça. Integraram a comitiva 21 pessoas, segundo informação do MTE. Os custos das viagens dos representantes dos trabalhadores são custeados pelo governo, por força da Constituição da OIT, justificou o ministério, em resposta ao Correio. O gasto com passagens foi de R$ 91,4 mil. No mês seguinte, Lupi foi ao Japão para participar de eventos sobre a presença de trabalhadores brasileiros no país. Desta vez, a comitiva foi bem menor: o ministro estava acompanhado de quatro assessores. Mas o gasto com passagens foi maior do que no mês anterior: R$ 93,6 mil. Todo o dinheiro é proveniente do FAT, como mostram os dados do Siafi. Além do serviço de compra e venda de passagens aéreas, o MTE contratou com recursos do FAT uma empresa especializada em eventos, que recebeu quase R$ 500 mil em No mesmo ano, uma auditoria do TCU detectou superfaturamento nos serviços prestados pela empresa ao Ministério da Justiça e à Secretaria Especial de Direitos Humanos. A locação de um espaço físico para um evento foi superfaturada em R$ 214 mil e 963 diárias de hospedagens chegaram a ser pagas e não utilizadas, conforme constatação do TCU, que cobrou a devolução de R$ 765 mil aos cofres públicos. Ao contratar essas empresas e destinar o dinheiro do FAT, o MTE diz que cumpre a legislação. A pasta cita a lei que permite gastos com manutenção de ações no âmbito de sua competência e o Orçamento da União. Os recursos são gastos pelo MTE de acordo com o estabelecido na Lei Orçamentária Anual, aprovada pelo Congresso Nacional, que, ano a ano, autoriza as despesas a serem executadas pelo ministério. Jornal do Comércio (Rio Grande do Sul) Extinção do fator previdenciário deve ser votada em setembro Governo espera que mudanças no sistema de aposentadorias sejam definidas até o próximo mês, mas falta de consenso sobre nova fórmula impede soluções. Marcelo Beledeli
18 O próximo mês deverá ser decisivo para o futuro dos trabalhadores brasileiros que dependem da previdência pública. O governo federal marcou setembro como a data limite dos debates com as centrais sindicais para decidir a substituição do chamado fator previdenciário, que reduz o valor do benefício em até 40% para quem já possui condições para pedir a aposentadoria, mas é considerado jovem demais para deixar de trabalhar. Atualmente, a principal vantagem do fator para o governo é a redução de gastos da previdência. Desde que foi criado, em 1999, até o ano passado, o mecanismo representou uma economia de R$ 31 bilhões para os cofres federais. A previsão para 2011 é de R$ 9 bilhões. Se não houver um consenso até setembro, o Executivo deverá fazer uma proposta própria e a encaminhará ao Congresso Nacional. Essa foi a decisão anunciada no começo de julho pelo ministro da Previdência, Garibaldi Alves, que afirmou que recomendaria a medida à presidente Dilma Rousseff. As propostas para acabar com o limitador das aposentadorias estão em discussão desde 2008, quando o senador Paulo Paim (PT-RS) criou o projeto de lei 3299/08, que tratava do tema. No ano passado, em maio, o Congresso Nacional aprovou o fim da fórmula através de emenda do deputado Fernando Coruja (PPS-SC). A lei acabou vetada pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas foi aberta uma negociação para encontrar um substituto. Na época, a solução mais cotada era a chamada fórmula 85/95, incluída no substitutivo apresentado pelo relator do projeto 3299/08, o deputado federal Pepe Vargas (PT-RS). Nesse projeto, as mulheres poderiam se aposentar quando a soma da idade e do tempo de contribuição chegasse a 85, e os homens, a 95. No entanto, segundo o ministro da Previdência, essa fórmula já está superada, e novas discussões buscam encontrar um consenso. A Central Única dos Trabalhadores (CUT) ainda defende o uso da fórmula 85/95. De acordo com Celso Woyciechowski, presidente da CUT-RS, outro benefício que ela traz ao trabalhador é a elevação da aposentadoria paga através da exclusão de 40% das menores contribuições do trabalhador no cálculo do benefício. Hoje, são excluídas apenas 20%, e o valor recebido reflete a média de 80% das contribuições. "Com esse corte maior, a média do cálculo para a aposentadoria também subiria", lembra. Outros sindicalistas defendem simplesmente o fim do fator previdenciário. A União Geral dos Trabalhadores (UGT) e a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB) são contra a fórmula 85/95. O presidente da Central Geral dos Trabalhadores do Brasil (CGTB), Antônio Neto, propôs 80/90. O presidente da Força Sindical-RS, Cláudio Janta, também defende que há espaço para reduzir ainda mais a idade mínima para aposentadoria. No entanto, o sindicalista defende que o foco das discussões deva ser o fim do fator previdenciário. "A cada dia ele vem afastando mais trabalhadores da aposentadoria, obrigando pessoas que já deveriam aproveitar seu benefício a buscar uma fonte de renda alternativa para completar renda, ou forçando que trabalhem mais anos do que deveriam para ter um sustento decente", comenta. Já para o deputado Pepe Vargas, as alternativas ao 85/95 não são viáveis, e atrasam a solução do problema. O parlamentar lembra que, desde 2009, o governo deixou claro que não aceita a proposta 80/90 porque ela reduziria a idade média de
19 aposentadoria no Brasil, que hoje está em 53 anos. "Tudo isso já foi colocado na mesa de negociação. Então sou pragmático, a possibilidade que temos de conseguir um ganho para o trabalhador é somente através da 85/95", afirma. Caso o consenso não seja encontrado, o governo poderá apresentar uma proposta defendida por alguns de seus setores, em que a exigência de idade seria retirada, mas o tempo de contribuição seria aumentado e igual para homens e mulheres. Mas essa ideia enfrenta fortes resistências. "Tenho dito que isso é inegociável", afirma o senador Paulo Paim. De acordo com Paim, a previdência brasileira teria condições de bancar um aumento nas despesas provenientes do fim do fator previdenciário. "Está desmistificado que ela é deficitária, senão não teriam como desonerar a folha de empresas como aconteceu agora", comenta o senador, citando uma medida do plano industrial do governo divulgado recentemente. Quatro setores (confecções, calçados, móveis e softwares) deixarão de recolher 20% sobre a folha de pagamento para o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Em seu lugar, uma nova contribuição incidirá sobre o faturamento líquido das empresas de 1,5% para confecções, calçados e móveis e 2,5% para softwares. A medida vigorará até o fim de Para o senador, a mudança é necessária por uma questão de justiça social. "Os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário, em que o teto de salário é de R$ 27 mil, não tem fator, seus funcionários se aposentam com salário integral. Não é justo que o trabalhador do regime geral da previdência, que é quem mais contribui, tenha um redutor em sua aposentadoria", afirma.
20 Pacote de medidas na contabilidade da Previdência Social acompanharia fim do redutor O fim do fator previdenciário faria parte de um pacote mudanças na contabilidade da Previdência Social, a fim de encontrar uma solução para os problemas de déficit enfrentados há muito tempo na área. O governo quer cortar, por exemplo, pensão dada à família de segurado que não tenha contribuído pelo menos 12 meses para a Previdência. Viúvos e viúvas com menos de 35 anos também receberiam pensão por um prazo limitado, de dez anos, e não pela vida inteira como é hoje. No entanto, a proposta que deve ter maior influência nas contas governamentais é a que prevê que o resultado no setor rural passe a ser contabilizado em separado da previdência urbana. Hoje, o Ministério da Previdência faz essa distinção, mas o Tesouro Nacional não. A importância da medida deve-se à diferença de resultados entre os sistemas. Em 2010, a previdência do setor urbano fechou o ano com superávit de R$ 14,9 bilhões, 77% a mais que em A receita foi de R$ 212,6 bilhões e a despesa com pagamento de benefícios, de R$ 197,7 bilhões. Já no campo a situação é inversa. A previdência rural registrou déficit de R$ 52 bilhões no ano passado. A
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