Boletim Econômico Edição nº 77 julho de 2014 Organização: Maurício José Nunes Oliveira Assessor econômico
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1 Boletim Econômico Edição nº 77 julho de 2014 Organização: Maurício José Nunes Oliveira Assessor econômico Sistema bancário e oferta monetária contra a recessão econômica 1
2 BC adota medidas para injetar R$ 30 bilhões na economia Autoridade monetária alterou as normas de recolhimentos compulsórios, dinheiro que os bancos são obrigados a depositar no BC. O Banco Central (BC) anunciou medidas para melhorar a distribuição de liquidez (recursos disponíveis) na economia. Foram alteradas normas de recolhimentos compulsórios dinheiro que os bancos são obrigados a deixar depositados no BC, sobre recursos a prazo e à vista com impacto estimado em R$ 30 bilhões. Segundo o BC, para adotar as medidas foi considerada a evolução dos recolhimentos compulsórios nos últimos anos, que passou de R$ 194 bilhões ao final de 2009 para cerca de R$ 395,7 bilhões atualmente (dado de maio/14). O BC também cita a recente moderação na concessão do crédito, a inadimplência em patamares relativamente baixos e o recuo do nível de risco no sistema financeiro nacional. Uma das medidas permite que até 50% do recolhimento compulsório referente a depósito a prazo sejam cumpridos com operações de crédito. Assim, pelo prazo de um ano, 50% dos valores recolhidos poderão ser usados pelos bancos na contratação de novas operações de crédito e na compra de carteiras diversificadas (pessoas jurídicas e físicas) de outras instituições. 2
3 O BC ampliou o rol de instituições financeiras elegíveis de 58 para 134 à condição de cedentes (vendedoras) das operações para fins de dedução do recolhimento. Instituições financeiras cujo Patrimônio de Referência Nível 1, na posição de dezembro de 2013, seja inferior a R$ 3,5 bilhões serão elegíveis, sem restrições. A outra medida teve o objetivo de ampliar o número de bancos que poderão usar parte (até 20%) de seus recolhimentos compulsórios sobre depósitos à vista para empréstimos e financiamentos que sejam enquadráveis no Programa de Sustentação do Investimento (PSI). Para isso, o BC reduziu de R$ 6 bilhões para R$ 3 bilhões o valor do Patrimônio de Referência Nível 1 das instituições. Estímulos monetários totais podem alcançar R$ 45 bilhões Do total, R$ 30 bilhões seriam referentes a depósitos compulsórios dos bancos e R$ 15 bilhões de créditos ao varejo Com o objetivo de estimular o mercado de crédito, num momento em que a atividade mostra fraqueza, o Banco Central anunciou redução no recolhimento de parte dos compulsórios e no requerimento de capital para risco de crédito ao varejo, medidas com potencial para injetar R$ 45 bilhões na economia. Especialistas avaliam, no entanto, que as medidas não devem ter grande efeito na oferta de empréstimos. As medidas devem ter um impacto limitado no crescimento do crédito, uma vez que a recente desaceleração do crédito é alimentada pela pior percepção de risco de crédito, dada a visível desaceleração econômica e o risco de desemprego crescente. 3
4 No caso do compulsório (parte dos recursos dos bancos que fica depositada no BC, ou seja, fora de circulação), a autoridade monetária decidiu adotar medidas com vistas a melhorar a distribuição da liquidez na economia, um dia após ter deixado claro que não pretende baixar a taxa básica de juro diante da inflação ainda pressionada. Entre as medidas de compulsório, com potencial de liberar R$ 30 bilhões de reais para uso no mercado de crédito, o BC permitiu que até 50% do recolhimento compulsório sobre depósito a prazo sejam cumpridos com novas operações de crédito e na compra de carteiras diversificadas (pessoas jurídicas e físicas). Em um segundo comunicado, o BC divulgou ajustes em critérios sobre o requerimento mínimo de capital para risco de crédito das operações de varejo, permitindo alocação de capital mais compatível com o histórico de pagamentos da operação. O capital adicional requerido nas operações de crédito em função do prazo original de contratação passa a ser pelo prazo remanescente, isto é, até o vencimento. A medida relacionada ao crédito ao varejo tem potencial para liberar cerca de R$ 15 bilhões. Os bancos têm mostrado mais cautela na oferta de empréstimos, diante do baixo crescimento do País e menor oferta de emprego. Para este ano, o BC prevê que o estoque total de crédito no Brasil crescerá 12%, menos do que os 14,7% em Contradição? As medidas de estímulo ao crédito foram divulgadas no dia seguinte ao BC ter deixado claro que não vai reduzir a Selic, atualmente em 11% ao ano, porque vê que o cenário inflacionário ainda está pressionado. Na última ata do Comitê de Política Monetária (Copom), o BC acabou lembrando as medidas macroprudenciais de 2010, o que, para alguns analistas, já era indicação de que alguma mudança poderia vir. Com as alterações no compulsório e no requerimento de capital para risco de crédito no varejo, o BC estimula o mercado de financiamentos de forma mais pontual, evitando que uma ação mais ampla de política monetária acabe tendo impacto maior na economia. O BC não deve mexer na taxa de juros tão cedo. Está recorrendo às medidas macroprudenciais para prover algum alento ao mercado de crédito. As medidas ocorrem em boa hora, mas, dada a conjuntura adversa para o consumo, devem ter impactos limitados.a tentativa de 4
5 estimular o crédito em um ambiente ainda de inflação elevada pode minar a efetividade da política monetária e a busca contínua para desinflacionar a economia e realinhar a inflação para a meta. A assessoria de imprensa do BC comunicou que as novas medidas em nada alteram as projeções de inflação da autoridade monetária. O BC acabou de divulgar a ata do Copom onde consta a descrição do cenário para inflação. Além disso, cabe destacar, como está claro na ata, nesse cenário leva-se em conta a evolução esperada para o mercado de crédito. O BC estima que a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechará este ano a 6,4%, muito perto do teto da meta oficial - de 4,5%, com margem de dois pontos percentuais para mais ou menos. Para 2015, o BC vê o índice em 5,7%. 5
6 Taxa de juros e inflação continuarão altas Ao mesmo tempo em que piorou suas projeções de inflação para este e o próximo ano, o Banco Central sinalizou que a inflação tende a entrar em convergência para a meta num cenário de política monetária que não inclui redução da Selic. O BC avaliou que a inflação continuará resistente nos próximos trimestres, mas que, mantidas as condições monetárias isto é, levando em conta estratégia que não contempla redução do instrumento de política monetária, ela tende a ir para a trajetória de convergência à meta nos trimestres finais do horizonte de projeção, mostrou a ata do Comitê de Política Monetária (Copom). A explicação mais explícita sobre o "instrumento de política monetária" não havia sido citada pelo BC ainda. Na semana passada, decidiu manter a Selic em 11% ao ano pela segunda vez seguida, mas surpreendeu uma parte dos agentes econômicos por não retirar a expressão neste momento para explicar sua decisão. Com a inflação com sério risco de estourar o teto da meta do governo - de 4,5% pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), com margem de dois pontos percentuais para mais ou menos, a econômica tem dado sucessivos sinais de perda de fôlego e juros elevados têm potencial para piorar ainda mais esse cenário, encarecendo os empréstimos e, conseqüentemente, o consumo. Essa visão de corte da Selic perdeu força, com as avaliações de que o BC estaria mais preocupado com a pressão sobre os preços. Pesquisa 6
7 Focus do próprio BC com economistas mostra que, na mediana das projeções, a perspectiva é de a Selic fechar este ano em 11% e, em 2015, a 12%. Em seu Relatório Trimestral de Inflação divulgado há cerca de um mês, o BC passou a ver chances praticamente iguais de a inflação estourar a meta em Inflação alta e baixo crescimento econômico têm abalado a confiança na economia e contribuído para quedas na popularidade da presidente Dilma Rousseff, que busca a reeleição em outubro. Nos 12 meses até junho, o IPCA acumula alta de 6,52%, já acima do teto da meta. Inflação mais alta O BC também piorou seu cenário sobre o comportamento dos preços. Pelo cenário de referência (Selic a 11% e dólar a R$ 2,20), a projeção para a inflação de 2014 e de 2015 foi elevada sobre o valor do documento anterior e permanece acima do centro da meta. O BC também passou a ver mais alta nos preços das tarifas de energia elétrica neste ano, a 14%, frente aos 11,5% até então. Ao mesmo tempo, passou a ver menor redução nos preços de telefonia fixa, a 3,8%, ante 4,2%. No geral, mantiveram em 5% suas contas para a alta nos preços administrados (tarifas públicas). Impacto incerto Liberar crédito não que dizer que esse dinheiro irá ao consumo, afinal a situação macroeconômica ainda é muito incerta e a confiança do setor produtivo está baixa. Dos R$ 45 bilhões esperadas na economia, R$ 10 bilhões sairão de contas de garantia que as instituições bancárias têm para se proteger de calotes dos empréstimos e inesperados problemas na economia como um todo. 7
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