ENSINO DE CIÊNCIAS E CIDADANIA NA PESQUISA EM ENSINO DE CIÊNCIAS CONTEMPORÂNEA. Francine Lopes Pinhão

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1 ENSINO DE CIÊNCIAS E CIDADANIA NA PESQUISA EM ENSINO DE CIÊNCIAS CONTEMPORÂNEA Resumo Francine Lopes Pinhão Universidade do Estado do Rio de Janeiro Faculdade de Formação de Professores O objetivo deste artigo é analisar textos de pesquisa em ensino de ciências, publicados entre 2000 e 2015, com foco no tema cidadania. A justificativa para a pesquisa se situa na reconhecida demanda de formação para a cidadania presente em documentos oficiais e nos textos de pesquisa da área. Para isso, foram utilizados parâmetros baseados em Megid-Neto (1999). Os resultados indicam ênfase em pesquisas empíricas; no foco temático ensinoaprendizagem ; no uso do termo cidadania associado a resultado de práticas-pedagógicas, enfatizando a causalidade entre ensino de ciências e cidadania. Conclui-se que, em geral, o aparente consenso em relação à cidadania não é questionado e o foco das pesquisas está em desenvolver práticas de ensino. Palavras-chave: revisão de literatura; sociedade; ensino de ciências. Introdução De acordo com Levinson (2010) a relação entre as disciplinas científicas e a cidadania tem sido uma tendência dos currículos da modernidade tardia, os quais apontam para a necessidade de formação para a participação ativa na sociedade e para a tomada de decisão consciente em relação aos temas sociocientíficos. O autor aponta semelhanças entre as políticas de diferentes países, demonstrando que não apenas na Inglaterra, como nos EUA, no Brasil, em Portugal, entre outros países, os currículos de ciências trazem demandas explicitas para a formação para a cidadania. Assim, um aspecto central da agenda para o ensino de ciências no século XXI é a relação deste conhecimento com aspectos sociais e a ênfase na discussão sobre a agência dos sujeitos no mundo contemporâneo. No campo das políticas educacionais brasileiras, esta perspectiva pode ser identificada nos PCN voltados para o ensino de ciências, como também, nos temas transversais que o orientam. O documento em questão apresenta recorrência do termo cidadania e contém uma seção dedicada à relação entre EC e cidadania, intitulada Por que ensinar Ciências Naturais no ensino fundamental: Ciências Naturais e cidadania. Somente o título já nos indica a cidadania como justificativa para o EC, aspecto que é reforçado pela seguinte negação não é 6202

2 possível pensar na formação de um cidadão crítico à margem do saber científico. (p.21) E corroborado ao longo do texto pelas referências aos problemas ambientais e de saúde que atravessam o nosso dia a dia. A relação entre EC e cidadania é concebida de modo linear e instrumental, ou seja, o conhecimento científico é o instrumento por meio do qual o aluno poderá se relacionar com o mundo de forma crítica e, assim, se tornar um cidadão. Com relação a esta demanda internacional, é importante ressaltar que mesmo estando em um mundo globalizado, onde é possível identificar semelhanças nas políticas educacionais de diversos países, a produção destas se dá no contexto local e os traços nacionais marcam diferenças entre as políticas. Sobre esse aspecto Lopes (2008), baseadas em Ball (1998), afirmam que: o conjunto de políticas genéricas globais tem variações, sutilezas e nuances que são hibridizadas nos contextos nacionais, sendo tais políticas aplicadas com diferentes graus de intensidade. (p.22). Tendo em vista as particularidades geradas pelos processos de apropriação e recontextualização dos discursos quando produzidos na realidade brasileira, torn-se importante conhecer o modo pelo qual a pesquisa em ensino de ciências (PEC) brasileira vem construindo discursivamente a relação entre ensino de ciências (EC) e a cidadania. Esta relação vem se constituindo como um objeto de investigação da proponente deste artigo e em trabalhos anteriores observou-se que a PEC faz referência à questão da cidadania ao tratar de perspectivas, como: Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS) e/ou Ciência, Tecnologia, Sociedade e Ambiente (CTSA); letramento\alfabetização científica; questões sociocientíficas ou tecnocientíficas, ambas as perspectivas com especial valorização da tomada de decisão, da contextualização do conhecimento e da natureza do conhecimento científico. (PINHÃO, 2014). Em outro artigo foi verificado que professores dos anos iniciais ao relatarem práticas de ensino de ciências, segundo eles vinculadas à cidadania, enfatizam aspectos ambientais, tecnológicos e de saúde, mas relacionam cidadania com mudança de comportamento individual ou ascensão no mercado de trabalho. (PINHÃO; MARTINS, 2013). Esta produção e o interesse no tema trouxe uma demanda por aprofundar a revisão de literatura no contexto brasileiro, a fim de compreender como no contexto de uma democracia recente e frágil os pesquisadores da área atribuem sentido ao ensino de ciências dedicado à formação para a cidadania. Em vista do exposto, este artigo tem por objetivo descrever e analisar um primeiro levantamento de textos publicados em revistas acadêmicas brasileiras que tenham foco de interesse no tema cidadania. A justificativa para o enfoque temático se situa na reconhecida 6203

3 demanda de formação para a cidadania presente em documentos oficiais e nos textos de pesquisa da área. Além disso, trabalhos anteriores de outros pesquisadores apontam para a fragilidade do conceito de cidadania apresentado pela PEC (PIERSON; TOTI, 2009; TOTI, 2011; VILANOVA, 2011). Neste artigo daremos ênfase ao aspecto quantitativo e, em estudos posteriores, o corpus será ampliado e explorado também de modo qualitativo. Metodologia O objetivo do trabalho é iniciar o mapeamento da produção de pesquisa, em especial, buscando situar a produção em termos de recorrências relacionadas a aspectos descritivos gerais. Para isso, a metodologia de seleção dos artigos foi realizada a partir dos seguintes critérios: (i) Artigos publicado em revista da área de avaliação da Capes ensino, presentes nos extratos A1, A2 (base de referência ano de 2012) devido à representatividade destes junto à comunidade científica e pela sabida qualidade dos trabalhos apresentados.; (ii) as revistas selecionadas são dedicadas à pesquisa acadêmica, sendo assim, foram excluídas aquelas mais identificas com práticas de ensino aprendizagem e ou relato de experiência; (iii) o período analisado se concetrou entre os anos 1990 e 2015; (iv) A presença de termos associados ao tema ensino de ciências e cidadania, que são cidadão, cidadania, cidadã. A busca pelos termos se restringiu aos seguintes campos: título, resumo e plavras-chave. Os artigos selecionados foram organizados em uma planilha Excel contendo as seguintes informações: título completo, ano de publicação, filiação institucional dos autores, natureza do artigo (teórico ou empírico); foco temático (Currículos e Programas, formação de professores, ensino-aprendizagem, recursos didáticos, formação de conceitos, características dos professores, características do aluno, organização da escola, organização da instituição/programa de ensino não-escolar, políticas públicas, história do ensino de ciências, história da ciência, filosofia da ciência, outros) 1 ; nível de ensino; e, área de conteúdo do currículo escolar abrangida pelo estudo: biologia, física, geociências, química, educação ambiental, saúde, geral (abordagem genérica ou não específica de conteúdos das áreas), outro (abordagem de outra área ou disciplina em conjunto com Ciências) e, por fim, uso do termo 1 Megid-Neto (1999) 6204

4 cidadania (justificativa da pesquisa; resultado de pesquisa; categoria de análise; entre outros itens constitutivos de um trabalho de pesquisa acadêmica). Para a construção da planilha foram lidos os resumos dos artigos e, quando necessário, o artigo completo. Com base em estudos dedicados ao levantamento sistemático de literatura (MARTINS, 2007; FREITAS, 2004; GRECA, COSTA e MOREIRA, 2002; BARRETO et. al, 2006) foi elaborado um roteiro básico para a leitura dos artigos, a fim de localizar os itens de interesse para esta pesquisa. De modo geral, o roteiro indicava a leitura de aspectos fundamentais de um artigo acadêmico, tais como: justificativa, metodologia de pesquisa; metodologia de ensino, para artigos que discutem propostas de formação; referenciais teóricos sobre o tema; foco de interesse. Esta leitura dos artigos possibilita a construção de sentidos em relação à pesquisa a partir do mapeamento das ideias contidas nos artigos, como também, da questão norteadora e do referencial teórico que orientam esta revisão. (BARRETO et. al., 2006). Resultados Por meio do levantamento realizado foram localizados 31 artigos distribuídos da seguinte forma: Revista Ciência e Educação (14); Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciências (06); Investigações em Ensino de Ciências (06); Revista Ensaio Pesquisa em Ensino de Ciências (05). Dentre estes artigos cinco eram teóricos e 26 empíricos. Com relação à frequência de publicação por ano identifica-se maior número de artigos nos quatro últimos anos, indicando um possível aumento de interesse em relação ao tema em questão. Conforme apontado inicialmente, a relação entre o ensino e ciências e a cidadania vem sendo colocada como um objetivo para o século XXI, sendo assim, é possível que após mais de uma década de investimentos nesse sentido seja ampliada a produção de pesquisa em relação ao conhecimento acumulado pela área. Gráfico 1 número de artigos publicados por ano 6205

5 De modo geral observamos que nem todos os artigos, apesar de fazerem referência ao termo cidadania em campos importantes do texto, tais como: palavra-chave e/ou título e/ou resumo, focavam na discussão teórica acerca do termo ou esclareciam seu viés ideológico. Além disso, foram localizados 03 artigos que utilizavam o termo cidadania e/ou cidadão apenas no resumo e não apresentavam qualquer referência ao termo no corpo do texto. Estas características podem ser relacionadas com o fato do ensino de ciências ter se apropriado do termo como algo consensual, esvaziando o sentido da cidadania e utilizando a ideia como mais um slogan. (VILANOVA, 2011; TOTI, 2011; PIERSON; TOTI, 2009) Filiação institucional dos autores Neste campo considerou-se somente o primeiro autor como parâmetro para definir a instituição de origem do artigo. Dessa forma, os resultados apresentados abaixo estão orientados por este critério. Com relação à localização geográfica das produções de pesquisas identificou-se o seguinte quantitativo em ordem crescente: Região Norte do Brasil (1); Venezuela (1); Região Sul do Brasil (2); Região Centro-Oeste do Brasil (4); Região Nordeste do Brasil (5); Portugal (5); Sudeste do Brasil (13). Com base nas informações é possível verificar que quase metade dos trabalhos são produzidos na Região Sudeste do Brasil, uma característica comumente encontrada em revisões da área devido à maior concentração de programas de pós-graduação nessa região. Apesar de este quadro ter se modificando nos anos 2000, com o aumento de programas de pós-graduação em outras regiões do país, ainda há maior concentração na Região Sudeste, como também, grupos de pesquisa consolidados. Em relação às instituições, foi mapeado um total de 20 instituições diferentes, em 31 artigos selecionados, dentre as quais quatro instituições internacionais, que são: Universidade Central da Venezuela - UCV; Universidade de Portugal UP; Universidade do Minho - UMINHO e Universidade de Aveiro UA. A recorrência de produção por instituição foi distribuída entre sete instituições, sendo cinco nacionais e duas são internacionais, conforme gráfico abaixo. 6206

6 Gráfico 2 número de artigos publicados por instituição As duas instituições internacionais que apresentam recorrência na produção são portuguesas e a aproximação devido ao idioma é um fator que favorece o intercâmbio de publicações entre os países. Cabe ressaltar que apesar do foco desta pesquisa ser o mapeamento de sentidos na pesquisa brasileira, os artigos internacionais não foram excluídos já que a publicação destes em revistas nacionais colabora para a constituição de um repertório nacional sobre o tema, em especial, pela proximidade linguística. No caso das instituições que apresentam maior recorrência de publicação, observou-se que apenas na UFRJ, UNB e UESB, tal aspecto era acompanhado pela recorrência de autores, conforme gráfico abaixo. Este resultado indica a existência de pesquisadores dedicados a pesquisar desta temática, demonstrando acumulação de produção para a área. Gráfico 3 número de artigos publicados por instituição No caso da UNB os autores Wildson Santos (UNB) e Educardo Fleury Mortimer (UFMG) estabelecem parceria nos três artigos e apresentam discussões sobre a perspectiva 6207

7 CTS. Na UFRJ, localizou-se a pesquisadora Rita Vilanova como primeira autora em dois artigos e segunda autora em outro texto, cuja primeira autora possuía a mesma vinculação institucional, sendo o foco das pesquisas a discussão sobre a cidadania e a formação política no ensino de ciências. Por fim, na UESB, houve recorrência de produção por parte do pesquisador Paulo Marcelo M. Teixeira, primeiro autor em um artigo e segundo autor em outro, cujo primeiro autor possuía a mesma vinculação institucional, focalizando o interesse de pesquisa também na perspectiva CTS. Estes autores são de diferentes regiões do Brasil, demonstrando a existência de pesquisadores dedicados ao tema não apenas no eixo Rio São Paulo. Foco temático Os resultados sobre a distribuição das pesquisas acadêmicas pelos focos temáticos de investigação, apresentados na quadro 1, indicam maior concentração em ensinoaprendizagem, totalizando 13 artigos. Estes artigos versam a respeito de estratégias variadas de ensino-aprendizagem ou referenciais teóricos para dar suporte às práticas de ensino de ciências. Dentre estes artigos as perspectivas de ensino-aprendizagem foram variadas, a saber: estudos do meio; questões sociocientíficas, dimensão dialógica (Bakhtin); aprendizagem cooperativa; CTS; aprendizagem baseada em problemas; divulgação científica; entre outros. Estes diversos estudos apresentavam como característica comum referência à necessidade de articulação do ensino de ciências com questões da nossa sociedade, no entanto, não foi recorrente a referência aos aportes teóricos da área dedicados à discutir esta articulação. Dentre os 13 artigos foram localizados oito artigos que não faziam qualquer referência às expressões como letramento científico, alfabetização científica e/ ou CTS. Este aspecto chamou atenção, já que aportes historicamente consolidados na área não foram mobilizados no processo de construção das abordagens de ensino-aprendizagem em ciência. O segundo foco temático mais presente foi currículos e programas, os quais estavam, em geral, voltados à investigações sobre propostas curriculares CTS, e a cidadania no Programa Nacional do Livro didático e em Livros didáticos. 6208

8 Foco Temático N. de Artigos Característica dos professores 3 Currículos e programas 8 Educação não-formal 1 Ensino-aprendizagem 13 Filosofia da ciência 2 Formação de professores 2 História da ciência 1 História do ensino de ciências 1 Total Geral 31 Quadro 1 número de artigos por foco temático Estes resultados indicam uma ênfase dos estudos em aspectos que estão diretamente ligados às práticas cotidianas do trabalho do professor da escola básica. Percebe-se que em diversos textos há um esforço em materializar, seja no nível macro da investigação sobre currículos e programas quanto no nível micro de propostas de atividades de sala de aula, o que vem a ser um ensino de ciências voltado para a cidadania. Apesar desse esforço nota-se pouca clareza em relação ao tipo de cidadania que cada autor defende; aspecto que discutirei com mais profundidade no item a seguir. Uso do termo cidadania Dentre os 31 artigos buscou-se mapear o modo pelo qual o termo cidadania era mobilizado pelos autores e, a partir dessa busca, optou-se por criar critérios a partir de parâmetros típicos de um desenho de pesquisa, quais sejam, justificativa, objeto, resultados, categoria de análise, entre outros apresentados no quadro abaixo. Uso do termo N. de artigos Categoria de análise 1 Justificativa da pesquisa 2 Justificativa para o ensino de ciências 3 Objeto 9 Resultado de pesquisa 5 Resultado da prática pedagógica 11 Quadro 2 número de artigos por foco temático O uso mais recorrente do termo cidadania foi como resultado da prática pedagógica, totalizando 11 artigos, oito empíricos e três teóricos. Os artigos de cunho empírico 6209

9 apresentam práticas pedagógicas como etapa do desenvolvimento da pesquisa e associam estas práticas ao desenvolvimento da cidadania dos participantes, aplicando uma lógica causal entre uma determinada abordagem e a formação para a cidadania. Abaixo são apresentados dois exemplos a título de ilustração para que fique claro o que se considera relação causal entre ensino de ciências e cidadania. Todos esses resultados apontam para a importância da inserção de ASC nos currículos de ciências como condição fundamental para o alcance do objetivo da formação para a cidadania em cursos que visem o letramento científico na perspectiva humanística. Os métodos de aprendizagem cooperativa são importantes não só na facilitação do processo ensino-aprendizagem, mas também na formação profissional, preparando cidadãos mais aptos. (...) Recomendamos também a utilização combinada de métodos, de forma a contemplar tanto o desenvolvimento cognitivo quanto a formação ética do cidadão. É possível perceber que apesar de ambos defenderem um determinado tipo de processo de ensino aprendizagem para a formação do cidadão, os autores tratam a cidadania por enfoques distintos. Como este aspecto não é objeto de análise deste texto, apenas destacase a diferença e a existência de uma noção de causalidade entre prática pedagógica e cidadania. Um aspecto interessante a ser considerado é o fato de haver em todos os artigos situados nessa categoria um apelo para um ensino de ciências articulado com aspectos concretos da vida do estudante, apontando para o uso da causalidade sob o ponto de vista multicausal, ou seja, não foram localizados textos que relacionassem a aprendizagem de um conceito abstrato com a formação para a cidadania. O segundo uso mais comum do termo cidadania foi na constituição do objeto de pesquisa, indicando um interesse do campo em discutir mais profundamente o termo. Sobre este item chamou a atenção o fato de dois artigos, do total de nove artigos, situados nessa categoria não questionarem o aparente consenso em relação a formação para a cidadania. Estes dois textos são produções de instituições portuguesas e seguem um caminho de argumentação que difere dos artigos nacionais, já que os autores brasileiros pontuam a necessidade de esclarecimento sobre a participação do cidadão em uma democracia. A diferença na ênfase pode ser resultado de vivermos em um país com democracia recente que passou por longos períodos de ditadura. Sobre este item considera-se extremamente importante a ampliação de pesquisas na área dedicadas à discussão teórica mais aprofundada sobre a relação entre ensino de ciências e cidadania, pois localizamos apenas sete artigos de um total de 31 ao longo dos últimos 15 anos. 6210

10 Considerações finais A partir da descrição parcial dos artigos localizados podemos perceber que poucos deles questionam o consenso em torno de duas ideias relevantes para esta pesquisa: a de que o ensino de ciências contribui para o desenvolvimento da cidadania e a da centralidade do processo de escolarização para construção e exercício da participação política. No entanto, produção aponta caminhos para repensarmos o aspecto político e epistemológico do ensino de ciências e nos convida a questionar tanto os objetivos quanto as justificativas para o ensino de ciências no contexto nacional. Considera-se um avanço do ponto de vista teórico a noção de que o conteúdo científico por si não pode ser tratado como desencadeador de uma formação cidadã. No entanto, defende-se que exista a necessidade de avanços na construção de um ensino de ciências que tome como cenário a realidade econômica, social e política de nosso país, no que diz respeito aos aspectos da história nacional como também da história global. Este engajamento na realidade concreta de nosso país parte do pressuposto de que não se ensina para a cidadania, não se forma o cidadão, mas sim, somos cidadãos formando pessoas que já são cidadãs e, por isso, as condições materiais de produção de nossa cidadania devem encaminhar o processo de formação de pessoas emancipadas. Referências Bibliográficas BARRETO, G. R. As tecnologias da informação e da comunicação na formação de professores. Revista Brasileira de Educação, v. 11, n. 31 jan./abr., FREITAS, M. T. de A. O pensamento de Vygotsky nas reuniões da ANPEd ( ). Educ. Pesquisa, vol.30, n.1, GRECA, I. M.; COSTA, S. S. C.; MOREIRA, M. A. Análise descritiva e crítica dos trabalhos de pesquisa submetidos ao III ENPEC. Revista Brasileira de Pesquisa em Educação em Ciência, v. 2, n. 1, p.73-82, LEVINSON, R. Science education and democratic participation: an uneasy congruence? Studies in Science Education, v. 46 n. 1, p , LOPES, A. R. C. Políticas de integração curricular. Rio de Janeiro: Ed. UERJ, MARTINS, I. Quando o objeto de investigação é o texto: uma discussão sobre as contribuições da Análise Crítica do Discurso e da Análise Multimodal como referenciais para a pesquisa sobre livros didáticos de Ciências. In: NARDI, R.. (Org.). A pesquisa em Educação em Ciências no Brasil: alguns recortes. 1 ed. São Paulo: Escrituras, 2007, v., p MEGID NETO, J. Tendências da pesquisa acadêmica sobre o ensino de Ciências no nível fundamental. Campinas, Faculdade de Educação, UNICAMP, (Tese de Doutorado). 6211

11 PIERSON, A. H. C.; TOTI, F. A. A polissemia das idéias de cidadania como intermediário para a interlocução entre referências na educação em ciências. Enseñanza de las Ciencias, v. u, p , TOTI, F. Educação Científica e cidadania: as diferentes concepções e funções do conceito de cidadania nas pesquisas em Educação Em Ciências, Tese (Doutorado em Educação). Universidade Federal de São Carlos, UFSCAR. São Paulo, VILANOVA, R. A cidadania nos livros didáticos de ciências: mudança discursiva, mediações e tensões na dinâmica de produção das coleções didáticas para a educação pública f. Tese (Doutorado em Educação). Departamento de Educação Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro,