A ARTE COMO POSSIBILIDADE NA CONSTRUÇÃO DE UM BAIRRO EDUCADOR: UMA EXPERIÊNCIA NA CIDADE DE SÃO PAULO INSPIRADA POR PAULO FREIRE E AUGUSTO BOAL
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- João Gabriel Franca Bacelar
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1 00050 A ARTE COMO POSSIBILIDADE NA CONSTRUÇÃO DE UM BAIRRO EDUCADOR: UMA EXPERIÊNCIA NA CIDADE DE SÃO PAULO INSPIRADA POR PAULO FREIRE E AUGUSTO BOAL Autora: Camila Gomes Arelaro Instituição: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo PUC/SP Programa: Pós-Graduação em Educação: Currículo Eixo Temático: Didática e Prática de Ensino na relação com a Sociedade - Subeixos: Temas emergentes na relação da Didática e da Prática de Ensino com a Sociedade Modalidade: Pôster Financiamento: CNPq Resumo Esta pesquisa assume como premissa que a arte, especialmente a arte teatral, é instrumento valioso para a construção de um bairro educador, que pode estimular o pensamento crítico libertador como condição para a formação de cidadãos. Paulo Freire (considerado o maior pensador da história da pedagogia mundial) e Augusto Boal (teatrólogo, criador do Teatro do Oprimido, que alia educação e teatro para uma transformação social) são os referenciais da pesquisa. O objetivo da investigação é compreender como a arte, especialmente o teatro, pode contribuir no processo de formação de cidadãos e como ações culturais podem potencializar a construção de um bairro educador, numa comunidade marcada pela violência. A partir do pensamento de Paulo Freire e Augusto Boal, serão analisados os referenciais e as práticas artísticas desenvolvidas em equipamentos sociais, onde se dão os encontros artísticos, na comunidade de Heliópolis, na cidade de São Paulo, lócus dessa investigação. Analisar e propor referenciais e práticas artísticas para a construção de um bairro educador na cidade de São Paulo é o propósito dessa Dissertação de Mestrado, em desenvolvimento. Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa, que inclui análise de documentos, observação de práticas realizadas na comunidade, bem como, entrevistas com líderes, professores, alunos e moradores do local. Será feita revisão bibliográfica de textos de Paulo Freire e Augusto Boal e de estudos correlatos, que discutam como a arte pode ser um caminho para a educação transformadora. Também serão analisados documentos da comunidade e, em especial, aqueles referentes aos movimentos socioculturais de cidades educadoras. Palavras-chave: Arte educação. Bairro educador. Paulo Freire.
2 00051 Introdução Desde 2009, com atuação artística e pedagógica na comunidade de Heliópolis (SP), membro de um coletivo artístico que reside neste bairro circulando com espetáculos teatrais pelas escolas e como arte educadora em oficinas de teatro, observei que o teatro demonstrava potencial para estimular e contribuir com o desenvolvimento de cidadania crítica, em diferentes espaços nos quais se fazia presente. A chegada deste coletivo artístico à comunidade de Heliópolis se deu por uma escola, a EMEF Pres. Campos Salles a qual tem, na pessoa do diretor, o professor Bráz Nogueira, a missão e sonho de transformar aquela comunidade em bairro educador. As ações eram realizadas no refeitório, nas quadras esportivas, nas salas de aula da Campos Salles e de diversas outras escolas públicas da comunidade. Representávamos uma peça inspirada em Oscar Wilde que tratava da diferença social e do preconceito; buscávamos ressignificar espaços, interagindo com a plateia e itinerando pela comunidade. Trabalhávamos com uma comédia que trazia questões profundas à tona. Os alunos nos encontravam pelos corredores e vielas da comunidade e diziam eu quero fazer teatro. Em 2007, iniciamos a primeira oficina livre de teatro já realizada em Heliópolis. Na condição de arte educadora pude me debruçar de outra forma para pensar como a transformação se dá. A minha atuação na comunidade ganhou responsabilidade na formação dos cidadãos. E, de repente, eu era referência, como professora, atriz e pessoa. Como filha de educadora freireana, me aproximei da obra de Paulo Freire e verifiquei que minha práxis se dava norteada por este pensamento. Mais adiante descobri que Freire e Augusto Boal, criador do Teatro do Oprimido, e desde sempre referência para minha existência artística, eram irmãos de pensamento, amigos e aliados na luta por um mundo mais digno, já que Freire e Boal dialogam na arte, na educação e na vida. Em função disso, meu projeto de pesquisa pretende, a partir do pensamento de Paulo Freire e Augusto Boal, analisar e propor referenciais e práticas artísticas para a construção de um bairro educador na cidade de São Paulo. Partirei da investigação de práticas que já se desenvolvem nos diferentes espaços culturais e pedagógicos dessa comunidade, como os CCCAs Centro para crianças e centro para adolescentes; o Pólo Cultural - Centro de Convivência de Heliópolis e outros equipamentos nos quais se realizam diversas atividades culturais.
3 00052 Problemática Como as ações culturais, em especial aquelas que incluem o teatro, podem se constituir em um caminho para a construção de um bairro educador? Pretende-se, com esta pesquisa, identificar e analisar ações culturais contrahegemônicas construídas na comunidade de Heliópolis e, com o referencial de Paulo Freire e Augusto Boal, desvelar e propor como a comunidade pode potencializar ações que valorizam a vida e contribuem para a construção de uma sociedade mais justa e solidária. Considerações e contexto Heliópolis é a maior favela urbana da cidade de São Paulo e a segunda maior favela da América Latina. Possui aproximadamente 1 milhão de metros quadrados, localizada ao sul do município de São Paulo, a 25 Km do centro da cidade. Segundo dados do IBGE, são aproximadamente 125 mil habitantes, sendo 92% da população de origem nordestina, com 53% na faixa etária de 0 a 25 anos. O transporte público não entra em Heliópolis, pois há vielas, becos e ruas muito estreitas, fazendo com que as pessoas se desloquem até as vias principais onde estão localizados os pontos de ônibus. Aproximadamente 40% das famílias são compostas por mãe e filhos, sendo a mãe a única provedora. Há a atuação do tráfico de drogas. Ainda, segundo dados da Prefeitura, a renda média familiar é de R$ 479,48. A vulnerabilidade social ainda atinge grande parte da população. Há um movimento social presente na comunidade que batalha desde meados dos anos 70, pela manutenção daquele espaço como direito de moradia de segmentos pobres da população, e por isso foi criada uma associação de moradores, a UNAS União de Núcleos, Associações e Sociedade de Moradores de Heliópolis, que luta para garantir esse processo. A UNAS tem hoje, além da consciência na necessidade da luta por moradia digna ser fundamental e permanente, a percepção de que a educação torna-se discussão também fundamental na comunidade. Uma educação libertadora, de qualidade, digna, tornou-se hoje objetivo e sonho em Heliópolis. Por isso, a arte, vem se tornando uma aliada importante. Estamos tratando de uma comunidade que quer ter o nome bairro educador como prática concreta em seu cotidiano social. Já sabemos que isso não será conquistado somente com a escola. A participação da comunidade como
4 00053 um todo é condição para essa realidade, e o teatro mostra sinais importantes de contribuição para essa construção. Referencial Teórico O referencial teórico da pesquisa tem apoio em dois grandes autores, Paulo Freire e Augusto Boal. Paulo Freire, em especial, por trazer em sua obra as categorias: transformação, diálogo, conhecimento e educação. Sua teoria epistemológica fundamenta a hipótese sobre a possibilidade formativa e de transformação social que pode acontecer em ambientes de educação não formal, envolvendo pessoas com baixa escolaridade. E Boal, que se identifica com Paulo Freire em categorias semelhantes, e que fez do teatro, uma experiência de convivência social. São estes autores que fundamentam esse estudo que busca o entendimento de como as relações sociais se dão, com a expectativa de desvendar a possibilidade de ter, no diálogo teatral, um processo verdadeiro de descoberta e de formação, como base para relações mais significativas na construção de um mundo mais fraterno. De modo complementar, Antonio Gramsci poderá contribuir para a construção desse quadro teórico em especial, ao tratar o conceito de intelectual orgânico, permitindo esclarecer o processo de resistência e transformação social no bairro de Heliópolis, campo dessa pesquisa. A metodologia de trabalho a ser desenvolvida inclui atividades culturais, em especial atividades teatrais, como momentos onde esses processos de transformação cidadã podem acontecer, além da participação de reuniões de organização dos líderes comunitários e análise de documentos da comunidade. Neste sentido, a experiência do movimento Cidades Educadoras, ajudará a desvendar essa complexa rede de relações entre as pessoas, em um lugar em que a violência é o cotidiano mais permanente. O estudo de movimentos que trabalharam com o teatro, na perspectiva de denúncia de situações sociais opressoras, como o Centro Popular de Cultura, poderá ser inspirador para a análise dos momentos de formação que estão previstos nos procedimentos dessa pesquisa. Estágio atual da pesquisa Atualmente acompanho a organização do maior movimento presente na comunidade o SOL DA PAZ, este movimento é liderado pelo grande idealizador do bairro educador, Bráz Nogueira, que junto aos gestores da UNAS mobilizam todos os outros equipamentos sociais rumo ao horizonte educador; também estou em fase final na preparação das entrevistas que farei com líderes comunitários (Bráz Nogueira, João
5 00054 Miranda, Genésia e Cleide), com articuladores culturais (Reginaldo diretor da Rádio Heliópolis), com Gestores do Pólo Cultural (Marília de Santis) e alunos, arte educadores e pais de alunos das oficinas de teatro. Também continuo atuando como arte educadora na oficina noturna de teatro do Pólo Cultural. São muitas as ações culturais que estão sendo realizadas na comunidade de Heliópolis, porém em 2013, foi criado um grande movimento chamado Memórias de Heliópolis com o objetivo de anunciar à comunidade o bairro educador, este movimento se aliou a diversas ações culturais: teatro, cinema, música, mas paradoxalmente os envolvidos nem se conheceram, não tiveram apoio pedagógico ou encontros de alinhamento e o que sobrou são produtos separados daquele momento tão valioso, em uma primeira observação credito ao fato dos envolvidos consequentemente, nunca dialogaram. Os resquícios do Memórias mostram como o diálogo pode estar sendo construído equivocadamente nas ações da comunidade. Outra complexidade observada em relação a tão sonhada criação do bairro educador, são as atividades culturais realizadas nos CCCAs, estes espaços integram desde os voluntários do teatro, até profissionais da Robotica, apoiados pela LEGO, professoras do SESI, para apoio educacional e educadores egressos destes equipamentos sem nenhuma formação teórico-prática. Estes espaços também são geridos pela UNAS e ferramentas valiosas ao pensamento educador. Noto que a prática das relações em Heliópolis ainda é desconexa com o pensamento crítico transformador e a minha hipótese é que a arte pode contribuir na diminuição da distância entre o discurso e a prática, humanizando, para daí sim, criarmos todos o bairro educador. Referências Bibliográficas BOAL, AUGUSTO. Teatro do Oprimido e outras poéticas políticas Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, A estética do Oprimido - Rio de Janeiro, Garamond, FREIRE, PAULO. Pedagogia do oprimido, Rio de Janeiro, 23 ed. Paz e Terra, Ação cultural para liberdade e outros escritos, 12 edição Rio de Janeiro, Paz e Terra, CONSCIENTIZAÇÃO. Teoria e Prática da Libertação. Uma Introdução ao Pensamento de Paulo Freire. São Paulo: Cortez & Moraes, GRAMSCI, ANTONIO. Passato e Presente 3ed. Roma, Editori Riuniti, 1996.
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