A economia portuguesa, por onde vai?
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- Davi Silva Marinho
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1 A economia portuguesa, por onde vai? Luciano Amaral Faculdade de Economia da Universidade Nova de Lisboa
2 O que está a passar-se em Portugal entende-se melhor através do recurso à história: Historicamente, a nossa economia tem um problema essencial: nunca conseguiu ultrapassar inteiramente as crises conjugadas do período O nosso problema não é apenas da última década e nem sequer dos últimos 25 anos é dos últimos anos
3 Gráfico 1 PIB per capita e PIB por trabalhador-hora em Portugal como % dos países mais desenvolvidos, Capita Trabalhador-hora Fonte: Amaral (2010)
4 Se não fosse o período de 1986 a 1992, o PIB per capita português praticamente não se teria aproximado do dos países mais ricos, estando hoje mais ou menos onde estava em 1973 em termos comparados E, em termos de produtividade, a convergência nesse período é insignificante A última década tem sido, efectivamente, dramática; mas a raiz deste problema mais recente, embora associando-se com o problema mais antigo, tem a sua origem mais próxima noutro ponto da nossa história económica recente
5 Ao contrário do que se disse durante muito tempo, a economia terá ultrapassado bem os problemas colocados pelas nacionalizações e pela reforma agrária Na altura o choque foi forte, mas a reforma agrária foi revista muito rapidamente e os sectores nacionalizados regressaram quase todos à propriedade privada a partir da revisão constitucional de 1989 Hoje, Portugal é dos países onde a propriedade pública tem menor relevância no continente europeu
6 Quadro I Valor acrescentado por empresas públicas como % do PIB em países europeus, Alemanha Áustria Bélgica Dinamarca Espanha Finlândia França Grécia Irlanda Itália Países Baixos Portugal Reino Unido Suécia Média Fonte: Clifton et al. (2006)
7 Três choques essenciais (positivos e negativos): Um choque negativo: o choque salarial de 1975 (30% de aumento dos salários reais), numa altura em que a abundância de mão-de-obra (retornados das ex-colónias: em dois anos, 1975 e 1976) e a crise internacional aconselhavam uma redução salarial Um choque positivo: o restabelecimento do equilíbrio nos custos do trabalho, acompanhado da reversão das condições da crise internacional e da entrada na CEE em Um choque misto, com consequências negativas a prazo: a adopção da política monetária conducente à entrada na UEM, a partir de 1990, e entrada efectiva no euro
8 Gráfico 2 Custos unitários do trabalho (2000 = 100) Fonte: Eurostat Irlanda Grécia Espanha Portugal
9 Quadro II Custos unitários do trabalho por comparação com a média da zona euro (média da zona euro = 100) Bélgica Alemanha Irlanda Grécia Espanha França Itália Luxemburgo Países Baixos Áustria Finlândia Portugal Andersson et al. (2008)
10 Estes momentos fizeram-se acompanhar de duas grandes correntes de fundo que se tornaram praticamente constituintes do regime democrático fundado em 1974: A construção do Estado-providência A participação no chamado projecto europeu
11 Gráfico 3 Despesa pública total como % do PIB, Portugal e médias dos países europeus e desenvolvidos, Média países europeus Média países desenvolvidos Portugal Fonte: Amaral (2010)
12 Desde 1990 que se foram instalando na economia uma série de incentivos com impacto negativo no seu crescimento: O câmbio tornou-se um bloqueio às exportações O crescimento da despesa pública não promove o aumento da competitividade Até 1990, foi possível compensar estes incentivos negativos com uma política cambial que ia aumentando essa competitividade através das desvalorizações recorrentes do crawling peg
13 De 1995 ao princípio do século XXI, foi possível compensar esta política cambial com um acentuado crescimento da despesa pública, que alimentou o último grande episódio de crescimento acentuado no país Mas a partir de 2002 não foi possível continuar com esse tipo de política Desde então que a economia se encontra limitada pelo câmbio e pela política orçamental
14 Mas o quadro global tem mais algumas especificidades: Os juros baixos garantidos pela participação na UEM poderiam incentivar o investimento em bens transaccionáveis Como, no entanto, a política cambial limita a capacidade de exportação, os juros baixos alimentam sobretudo o consumo Assim, os juros, o câmbio e a despesa pública favorecem o crescimento do sector não-transaccionável e lançam Portugal na espiral de endividamento em que vive agora
15 Resumindo: demorámos uma década a absorver o choque salarial de 1975 e fizémo-lo pelo método indirecto da desvalorização Esta recuperação, em conjunto com as condições macroeconómicas e de pagamentos internacionais muito favoráveis de meados da década de 80, permitiunos o único grande episódio de crescimento económico positivo depois do 25 de Abril Mas logo em 1990 invertemos o quadro com a revalorização cambial e a continuação do crescimento da despesa pública
16 Estamos, portanto, hoje perante dilemas fundamentais, para que se podem sugerir algumas hipóteses: Compensar a baixa produtividade e o câmbio forte com proteccionismo: negativo e quase inimaginável Compensar (não abolir) os incentivos ao sector nãotransaccionável através da reversão do crescimento da despesa pública: politicamente inimaginável
17 Três cenários hipotéticos para o futuro (ou mesmo o presente): Crescimento forte: fortuito Abandono da Zona Euro e/ou reescalonamento da dívida: muito arriscado Transformação da economia portuguesa numa economia subsidiada das zonas produtivas da União Europeia: custos políticos muito importantes
18 Referências: Amaral, Luciano (2010), Economia Portuguesa. As Últimas Décadas, Lisboa, Fundação Francisco Manuel dos Santos/Relógio d Água. Andersson, Malin et al. (2008), Wage Growth Dispersion Across the Euro Area Countries: Some Stylised Facts, European Central Bank Occasional Papers, nº 90, July. Clifton, Judith et al. (2006), Privatizing Public Entreprises in the European Union : Ideological, Pragmatic, Inevitable?, Journal of European Public Policy, vol. 13, nº 5.
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