Qualidade fisiológica de sementes de aroeira (Myracrodruon urundeuva ALLEMÃO) em função do tipo de embalagem, ambiente e tempo de armazenamento 1
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1 Qualidade fisiológica de sementes de aroeira (Myracrodruon urundeuva ALLEMÃO) em função do tipo de embalagem, ambiente e tempo de armazenamento 1 Different packaging, environmental conditions and storage periods influencing the physiological quality of aroeira seeds RESUMO ABSTRACT Elizita Maria Teófilo 2, Sergio Oliveira da Silva 3, Antonio Marcos Esmeraldo Bezerra 4, Sebastião Medeiros Filho e Fred Denílson Barbosa da Silva 6 Sementes de Myracrodruon urundeuva foram utilizadas com o objetivo de estudar a sua germinação e o vigor em diferentes ambientes e embalagens por um período de doze meses de armazenamento. Os fatores testados foram: ambiente (câmara fria o C/% UR e ambiente natural o C/7% UR) e embalagem (saco de papel multifoliado e garrafa plástica) dispostos em parcelas subdivididas no tempo (3; 6; 9 e 12 meses de armazenamento), no modelo inteiramente casualizado, com quatro repetições. Determinou-se o grau de umidade, germinação e vigor (pelos testes de envelhecimento acelerado e velocidade de germinação). Os resultados evidenciaram que a germinação das sementes armazenadas em câmara fria se manteve até doze meses de armazenamento enquanto o vigor foi reduzido a partir do sexto mês, independente da embalagem (hermética ou permeável); as sementes acondicionadas em saco de papel multifoliado e mantidas em condições ambientais perdem a viabilidade e o vigor a partir do nono mês de armazenamento. Termos para indexação: Aroeira, sementes, germinação, vigor, conservação. The germination and vigour of aroeira (Myracrodruon urundeuva) seeds were studied under different storage conditions and diverse forms of packing along 12 months. Two different environments [cold chamber (1-12 o C/%UR) and natural environments (3-32 o C/ 7% UR)] and two ways of packing (multilayer paper sac and plastic bottle) were analysed in three, six, nine and 12 months. It was used completely randomized design with four repetitiones. The moisture content, germination and vigour were analysed using the artificial aging and germination velocity tests. According to the results, the seed germination remained the same during the 12 months of storage, but, independently of the way of packing (hermetic or permeable), the seed vigour decreased after the sixth month of storage. Seeds that have been storaged in multilayer paper sac at not controlled enironmental conditions have lost germination and vigour after nine-month storage period. Index terms: Aroeira, seeds, germination, vigour, conservation. 1 Recebido para publicação em 31/1/23. Aprovado em 13/7/24. 2 Eng. Agrônoma, D.Sc., Departamento de Fitotecnia/CCA/UFC, Fortaleza-CE. elizita@ufc.br 3 Eng. Agrônomo, M.Sc., Fortaleza-CE 4 Eng. Agrônomo, D.Sc., Professor do CCA/UFPI, Teresina-PI. esmeraldo@ufpi.br Eng. Agrônomo, D.Sc., Prof. do Departamento de Fitotecnia/CCA/UFC. filho@ufc.br 6 Aluno de do Curso de Graduação em Agronomia do Centro de Ciências Agrárias/UFC, Fortaleza-CE Revista Ciência Agronômica, Vol. 3, N O.2, jul.-dez., 24:
2 E. M. Teófilo et al. Introdução A aroeira (Myracrodruon urundeuva Allemão, Anacardeaceae) é uma espécie arbórea da caatinga do Nordeste brasileiro, fornecedora de madeira de lei (Braga,196), cujas substâncias ativas da entrecasca possuem propriedades antiinflamatória, adstringente, antialérgica e cicatrizante (Lorenzi e Matos, 22). Essa espécie propaga-se por sementes e possue comportamento ortodoxo. Por ser uma espécie, cujas sementes são oleaginosas perdem o poder germinativo bem mais rápido, principalmente, quando armazenadas em ambiente natural e acondicionadas em embalagens permeáveis. Nesse aspecto (Popinigis, 198; Carvalho e Nakagawa,1988) relatam que a qualidade fisiológica das sementes é preservada por um prazo mais longo quando as sementes são acondicionadas em embalagens adequadas e armazenadas sob condições de baixa temperatura e umidade relativa do ar. O aumento da umidade relativa e da temperatura, aliado ao prolongamento do tempo de armazenamento acarreta uma diminuição progressiva da armazenabilidade e o vigor das sementes, em decorrência da deterioração ocasionada pela perda da integridade das membranas (Delouche e Baskin,1973; Delouche et al., 1973; Copeland, 1976). A umidade relativa influencia o teor de água da semente e está diretamente relacionada a sua longevidade, enquanto a temperatura tem efeito nos seus processos bioquímicos (Gregg e Fagundes,1977; Popinigis, 198; Aguiar et al., 1993). Pesquisas desta natureza foram desenvolvidas por Teófilo et al. (23) utilizando sementes de Moringa oleifera Lam. Os autores constataram que a qualidade fisiológica destas sementes foi mantida por seis meses, quando acondicionadas em saco de papel multifoliado e armazenadas em condições ambientais e nove meses quando armazenadas em embalagem à prova de umidade. Em outro trabalho realizado com sementes de Torresea cearensis, acondicionadas em garrafa de plástico, foi observado que a germinação e o vigor foram preservados durante doze meses no armazenamento em câmara fria (1 C/% UR) (Teófilo et al., 1999). Barros et al. (21), ao estudarem o efeito de diferentes embalagens e ambientes de armazenamento na germinação de Myracrodruon urundeuva durante seis meses de armazenamento, constataram que as sementes dessa espécie apresentaram maiores percentuais de germinação nas embalagens de vidro e de plástico nos dois ambientes e a mais baixa germinação na embalagem de papel em ambiente controlado. Avaliando o efeito da embalagem e do período de armazenamento na germinação de sementes de Sparattosperma leucathum, Nogueira et al. (21) observaram que aos 144 dias de armazenamento a porcentagem de germinação foi maior em embalagem de papel em condição ambiental (42,2%). Após 166 dias houve queda no percentual de germinação independente da embalagem e do ambiente de armazenamento, exceto para as sementes acondicionadas em embalagem de papel e mantidas em câmara fria e seca. O trabalho teve como objetivo avaliar a germinação e o vigor das sementes de aroeira, submetidas ao armazenamento em diferentes ambientes e embalagens por um período de doze meses. Material e Métodos As sementes, utilizadas nesta pesquisa foram colhidas de plantas cultivadas na Fazenda Experimental do Vale do Curu, no município de Pentecoste, pertencente à Universidade Federal do Ceará (UFC), safra 1999/2. O trabalho foi desenvolvido no Laboratório de Análise de Sementes da UFC, no período de agosto de 1999 a setembro de 2. Antes do armazenamento avaliou-se a qualidade inicial do lote de sementes pelas seguintes determinações: teor de água, percentagem de germinação e vigor (índice de velocidade de germinação e envelhecimento acelerado). Os fatores testados foram: ambiente (câmara fria o C/% UR e ambiente natural o C/7% UR) e embalagem (saco de papel multifoliado e garrafa plástica) dispostos em parcelas subdivididas no tempo (3, 6, 9 e 12 meses de armazenamento), no delineamento inteiramente casualizado, com quatro repetições. Decorrido cada tempo pré-estabelecido procederamse as seguintes avaliações: a) teor de água: determinado pelo método de estufa 1±3 o C por 24 h, tomando-se duas subamostras de g sendo os resultados expressos em porcentagem (Brasil, 1992); b) germinação: quatro repetições de sementes por tratamento foram semeadas em papel toalha, tipo Germitest na forma de rolo previamente umedecido com água destilada na proporção 2, vezes 372 Revista Ciência Agronômica, Vol. 3, N O.2, jul.-dez., 24:
3 Qualidade fisiológica de sementes de aroeira (Myracrodruon urundeuva ALLEMÃO) em função do tipo de embalagem... o peso do papel. Os rolos foram levados para germinador previamente regulado para 2 o C, sendo a contagem das plântulas normais efetuada quatro dias após a semeadura; c) índice de velocidade de germinação (IVG): conduzido conjuntamente, com o teste de germinação. As avaliações das plântulas realizaram-se, diariamente, à mesma hora, a partir da primeira contagem, retirando-se do substrato as plântulas normais até o sétimo dia após a semeadura. Na determinação do IVG foi empregada a fórmula recomendada por Maguire (1962) IVG= G 1 /N 1 + G /N G n /N n em que, IVG= Índice de velocidade de germinação; G 1, G 2... G n = número de plântulas normais na primeira, segunda e última contagem; N 1, N 2...N n = número de dias da semeadura a primeira, segunda e última contagem; d) envelhecimento acelerado (EA): cem sementes (quatro subamostras de 2 sementes) foram colocadas em caixa gerbox, contendo 4 ml de água destilada. As caixas foram colocadas em uma câmara de germinação a temperatura de 42ºC e 1% UR durante 72 h (Kryzanowski et al. (1991). Decorrido este tempo, as sementes foram colocadas para germinar, seguindo a mesma metodologia utilizada no teste de germinação. Os resultados obtidos das variáveis foram submetidas à análise de variância e o desdobramento do fator tempo de armazenamento dentro de cada uma das combinações dos fatores ambiente e embalagem foram representadas pela regressão polinomial, conforme Campos (1984). Resultados e Discussão As sementes acondicionadas em saco multifoliado e mantidas em ambiente natural (Figura 1a) apresentaram um comportamento oscilatório do teor de água ao longo do tempo, provavelmente, devido à troca de vapor d água da semente com o meio. Resultados semelhantes foram obtidos por Macedo et al., (1999) em sementes de arroz em que a embalagem de papel multifoliado mostrou menor resistência à troca de vapor dágua com o meio. Quando as sementes foram acondicionadas nessa mesma embalagem e armazenadas em câmara fria mantiveram o teor de água estável ao longo do armazenamento (Figura 1a). Isto se deve ao fato do equilíbrio higroscópico da semente variar de acordo com a umidade relativa do ambiente no qual estas sementes se encontram. Como na câmara a variação de umidade relativa é mínima, a umidade da semente mantem-se, também, estável. A embalagem hermética (garrafa) manteve o teor de água das sementes, praticamente, inalterado ao longo do tempo de armazenamento (Figura 1b). Teor de Água (%) Teor de água (%) 1 12, 1 7, 2, 1 12, 1 7, 2, Y 2 =,1236x 2-2,378x + 2,713 R 2 =,966 Y 1 =,466x 3-1,472x 2 + 6,8889x - 2 Y 2 =,99x 3 -,2x 2 + 1,9611x + 4,8 Y 1 = -,188x 3 +,4444x 2-3,2139x + 16,6 Figura 1 - Teor de água das sementes de aroeira acondicionadas em saco e garrafa e armazenadas por 12 meses em ambiente natural e câmara fria. Fortaleza-CE, 23. O percentual germinativo das sementes durante o tempo de armazenamento está apresentado na Figura 2. As sementes armazenadas em câmara fria, independente da embalagem, apresentaram pequenas variações na percentagem de germinação durante os 12 meses de armazenamento (Figuras 2a, b), preservando o seu poder germinativo inicial (83%). Trabalho realizado por Teófilo et al. (23), com sementes de Moringa oleifera Lam., revelou que a germinação foi preservada por nove meses, independentemente da embalagem ser permeável ou hermética. Barros et al. (21), por sua vez, observaram que as sementes de aroeira acondicionadas em embalagens de vidro e plásticos nos referidos ambientes Revista Ciência Agronômica, Vol. 3, N O.2, jul.-dez., 24:
4 E. M. Teófilo et al. apresentaram maiores percentuais de germinação após seis meses de armazenamento, enquanto que a menor ocorreu na embalagem de papel no ambiente não controlado.verifica-se ainda que as sementes acondicionadas em saco sob condições ambientais apresentaram uma redução drástica da porcentagem de germinação ao longo do tempo de armazenamento, atingindo o percentual de %, aos 12 meses (Figura 2a). Quando as sementes foram acondicionadas em garrafa e mantidas em ambiente natural, houve redução da percentagem de germinação, porém, de forma menos acentuada do que ocorreu na situação anterior (Figura 2b) Y 2 =,339x 3-8,1667x 2 + 6,111x - 1 Y 1 =,293x 3 -,7778x ,667x - 32 Y 2 =,179x 3-4,1111x ,389x + 27 Y 1 = -,7778x 2 + 6,3333x + 62, R 2 =,793 Figura 2 - Porcentagem de germinação de sementes de aroeira acondicionadas em saco e garrafa e mantidas durante 12 meses em ambiente natural e câmara fria. Fortaleza-CE, 23. A determinação do vigor das sementes medido pelo índice de velocidade de germinação (Figuras 3a, b) apresentou comportamentos distintos em função do ambiente de armazenamento e da embalagem. Em ambiente controlado verificou-se um aumento da velocidade de germinação entre 3 e 6 meses, tanto nas sementes acondicionadas em saco (Figura 3a) quanto em garrafa (Figura 3b). Quando as sementes foram armazenadas em ambiente natural a redução do vigor foi mais acentuada, após seis meses de estocagem, nas sementes acondicionadas em saco (Figura 3a) do que em garrafa (Figura 3b). Teófilo et al. (1999) constataram que sementes de Torresea cearensis acondicionadas em embalagem à prova de umidade armazenadas em câmara fria mantiveram-se viáveis por doze meses. Índice de velocidade de germinação Índice de velocidade de germinação Y 1 =,489x 3-1,2117x 2 + 9,117x - 14,66 Y 2 =,219x 3 -,44x 2 + 3,2861x - 4,66 Y 2 =,441x 3-1,7x 2 + 7,8628x - 11,27 Y 1 =,614x 3-1,4789x 2 + 1,398x - 16,23 Figura 3 - Índice de velocidade de germinação de sementes de aroeira acondicionadas em saco e garrafa e mantidas durante 12 meses em ambiente natural e câmara fria. Fortaleza- CE, 23. Quanto ao vigor, determinado pelo envelhecimento acelerado (Figuras 4a, b), constatou-se que as sementes acondicionadas em saco e mantidas em ambiente natural foram menos vigorosas (Figura 4a) do que as armazenadas nas demais condições estudadas. A preservação do potencial de armazenamento foi mantida por 12 meses quando as sementes foram armazenadas em câmara fria, independente da embalagem ser permeável (Figura 2a) ou à prova de umidade (Figura 2b). A permeabilidade do papel multifoliado pode ter permitido a troca de vapor d água da semente com o 374 Revista Ciência Agronômica, Vol. 3, N O.2, jul.-dez., 24:
5 Qualidade fisiológica de sementes de aroeira (Myracrodruon urundeuva ALLEMÃO) em função do tipo de embalagem... meio, contribuindo para a crescente deterioração das sementes no armazenamento e, conseqüentemente, redução do vigor, fato similarmente constatado por Delouche et al. (1973); Popinigis (198) e Previero et al. (1998) Figura 4 - Porcentagem de germinação, após a realização do teste de envelhecimento precoce, de sementes de aroeira acondicionadas em saco e garrafa e mantidas durante 12 meses em ambiente natural e câmara fria. Fortaleza-CE, 23. Conclusões Y 1 = -,179x 3 + 3,7222x 2-2,889x + 89 Y 1=,7222x 2-14,633x + 72 R 2 =,9961 Y 2 =,2469x 3-6,1111x ,111x - 33 Y 1 =,891x 3-2,889x ,61x a) A germinação das sementes de aroeira se manteve até 12 meses de armazenamento, enquanto o vigor foi reduzido a partir do sexto mês, em câmara fria, independente da embalagem (hermética ou permeável). b) Sementes acondicionadas em saco de papel multifoliado e mantidas em condições ambientais perdem a viabilidade e o vigor a partir do nono mês de armazenamento. Agradecimentos Os autores agradecem a Fundação Cearense de Amparo à Pesquisa (FUNCAP) pelo apoio financeiro concedido para a realização do trabalho. Referências Bibliográficas AGUIAR, I. B.; FIGLIOLIA, M. B. Sementes florestais e tropicais Brasília: ABRATES, p. BARROS, E. P.; ALBUQUERQUE, M. C. F.; CAL- DEIRA, S. A. F; CALDEIRA, S. F. Efeito de diferentes embalagens e ambientes de armazenamento na germinação de sementes de aroeira (Myracrodruon urundeuva (Engler) Fr. Allen), copaíba (Copaíba langsdorffii Desf), gonçaleiro (Astronium fraxinefolium Schott) e novateiro (Triparis brasiliana Cham) Informativo ABRATES, Curitiba, v.11, n.2, set. 21, p.27. BRAGA, R. Plantas do Nordeste, especialmente do Ceará. 2.ed. Fortaleza, p. BRASIL. Ministério de Agricultura e Reforma Agrária. Regras para Análise de Sementes. Brasília: SNDA/DNDV/CLAV, p. CAMPOS, H. A estatística aplicada à experimentação com cana de açúcar. São Paulo. FEALQ, p. CARVALHO, N. M.; NAKAGAWA, J. Sementes: ciência, tecnologia e produção. 3.ed. Campinas: Fundação Cargill, p. COPELAND, L. O. Principles of seed science and technology. Minnesota Burgess Publishing Company p. DELOUCHE, J. C.; BASKIN, C. C. Accelerated aging techniques for predicting the relative storability of seed lots. Seed Science and Technology. New Delhi, v.1, n.2, p , DELOUCHE, J. C.; MATTHES, R. K.; DOUGHERTY, G.M.; BOYD, A. H. Storage of seed in subtropical and tropical region. Seed Science and Technology, New Delhi, v.1, n.3, p.671-7, GREGG, B. R.; FAGUNDES, S. D. Condições para o armazenamento de sementes. In: SEMINÁRIO Revista Ciência Agronômica, Vol. 3, N O.2, jul.-dez., 24:
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