Informativo Malagueta

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1 Malagueta Comunicação Nossas Pimentas Pimenteiro Equipe Malagueta Contato Notícias Links Galeria de Fotos Informativo Informativo Malagueta Terra Madre Brasil: alta gastronomia brasileira Saberes, sabores e biodiversidade. Há um Brasil que não está registrado na historiografia oficial, não faz parte das manchetes de jornais, não está nos currículos escolares, e nem em destaque na gastronomia nacional. Entre os dias 4 e 8 de outubro, Brasília reuniu uma amostra cultural de um Brasil desconhecido. A terceira edição do Terra Madre (encontro mundail das comunidades do alimento), idealizado pelo movimento Slow Food, revelou o empenho e entusiasmo de pequenos produtores, pesquisadores, cozinheiros, gente simples, acadêmicos e profissionais de diversas áreas ligadas à alimentação em preservar sua terra-mãe. Realizado a cada dois anos, a proposta é juntar representantes que trabalham para a sustentabilidade e quelidade de seus produtos alimentares, respeitando o alimento e a população. Esta é a primeira vez que o Slow Food realiza o Terra Madre fora da Itália, sede do movimento liderado por Carlo Petrini. O evento aconteceu junto com a IV Feira Nacional de Agricultura, organizada pelo Ministério de Desenvolvimento da Reforma Agrária (MDA). A feira, realizada no Pavilhão de Exposições de Brasília, contou com a participação de 480 expositores, além do Restaurante Slow Food e o espaço Gourmet Show, organizado pela Abrasel (DF), onde eram servidos jantares temáticos e oficinas. Pagina 1 di 7

2 As palestras do Terra Madre aconteceram no hotel Bay Resort e reuniu cerca de 250 participantes, sob a direção de Roberta Marins Sá, coordenadora de Projetos do Slow Food Brasil e consultora do MDA. Ao todo foram 24 mesas de debate realizadas simultaneamente. Entre os temas, comércio justo, turismo, biocomsutíveis, e agroecologia e educação. Um dos debates foi sobre Ecogastronomia e Diversidade com a presença das chefs Beth Beltrão (Tiradentes) e Rita de Medeiros (Brasília), o pesquisador Nuno Madeira (Embrapa-Cerrado) e o chef Francisco Ansiliero (Brasília). A disponibilidade dos alimentos produzidos em pequena escala e de forma artesanal foi um dos assuntos tratados. Quem se dedica à matéria-prima da diversidade não tem como fornecer o produto o ano todo, pois trabalha de acordo com as estações. A sugestão para os restaurantes que utilizam ingredientes deste tipo é adotar um cardápio flexível de acordo com a temporada e a colheita, respeitando o produto e o produtor. Sob o lema Bom, Limpo e Justo, defendido pelo Slow Food, também discutiuse a necessidade de compreender a diferença de preço do alimento cultivado em boas condições, livre de agrotóxico e produzido artesanalmente e um produto massificado. Estamos chegando ao fundo do poço. Mais tarde os produtos regionais é que vão valer", afirma o chef Francisco, sugerindo que a estratégia deva ser comprar conteúdo ao invés de peso. Para os chefs de cozinha, o desafio é usar o talento para que o produto regional seja aceito e explorar as formas de preparo. De acordo com o pesquisador Nuno Madeira, a mandioquinha ou batata baroa, por exemplo, vai muito além da sopa e pode ser usada em massas, pães, doces e salgados. "Há opções esquecidas e quantidade sem qualidade e variedade. Tem que buscar um caminho para ter acesso a alimentos de outras regiões através do zoneamento e das cooperativas. Assim, é possível gerar escala de produção para abastecer com produtos de qualidade competitivos", explica Madeira. Os chefs de cozinha têm o compromisso pedagógico de educar o paladar e valorizar os produtos nacionais. Mandioca, o pão do Brasil Um dos produtos mais comentados foi a brasileiríssima mandioca e suas inúmeras utilizações. Da cozinha, passando pela medicina e postos de Pagina 2 di 7

3 pretróleo à produção de bioembalagem, o tubérculo está presente de Norte a Sul do país, mostrando um grande potencial econômico. De acordo com o pesquisador Joselito Motta (Embrapa/ Cruz das Almas), a mandioca, presente em 180 países, fez parte da primeira constituição brasileira, pois só tinha o direito de votar quem tinha alqueires de farinha. O Brasil precisa compreender que a mandioca é o pão da terra e reconhecer suas possibilidades. A agricultura familiar é que abastece a mesa urbana, afirma Joselito, um defensor incansável do produto. A chef Tereza Corção, do Instituto Maniva e proprietária do restaurante Navegador (RJ), foi uma das palestrantes do encontro. Defensora da mandioca, Teresa realiza mensalmente a Oficina de Tapioca numa escola municipal do Rio de Janeiro e já produziu dois documentários sobre o tema. Inclusive exibiu com exclusividade o último, Seu Bené vai para a Itália. Para ela, que denomina de ecochefs os cozinheiros comprometidos com a terra, o evento foi importante para aprofundar laços com a cultura brasileira. O Brasil se desconhece, afirma, destacando a participação das tribos Karahô e Macuxi, que mostraram seu canto para utilizar a mandioca. A gente não vê a curto prazo solução, mas é a cara do slow. Todo mundo vai sair modificado e bem contaminado com a idéia de que a terra é um corpo e temos de cuidar bem, conclui. Bom, limpo e Justo Silvio Barbero, secretário executivo do Movimento Slow Food Internacional alerta que é preciso mudar o modelo cotidiano de alimentação para um modelo auto-sustentável. Apesar de destacar que é uma tarefa difícil, ele aponta que há progressos significativos, mas agir na alimentação de casa, das escolas e dos hospitais aumentam as chances de sucesso. Para o secretário, a qualidade da matéria-prima é o elemento central da mudança e os restaurantes devem se empenhar por oferecer uma comida tradicional. O cardápio dos restaurantes deve conter os nomes dos produtores que estão utilizando. Os cozinheiros não são simples manipuladores, mas pessoas que fazem cultura e tem uma missão, declara Barbero, propondo a formação de uma rede de restaurantes, que comprem direto dos pequenos produtores, assim como já acontece em outras regiões. Para os pequenos produtores, ele orienta que devem se organizar. E afirma que as duas categorias importantes para estimular o mercado são os produtores e restauradores. Podemos fazer que o produto seja tradicional, cultural e facilite a economia, define. Barbero participou da abertura e do encerramento do evento, destacando o mérito do campo, chamou à responsabilidade os consumidores, intitulandodo-os de pré-produtores, e estimulou os participantes a divulgar a proposta de uma alimentação boa, justa e limpa para toda sociedade. De acordo com Margarida Nogueira, chef e consultora responsável por trazer o movimento Slow Food para o Brasil, o evento foi uma grande conquista. Acho Pagina 3 di 7

4 que uma sementinha foi lançada a longo prazo, mas já são muitas as sementinhas. Tem muitas comunidades envolvidas e cada vez mais conscientes do que tem que melhorar e manter nas suas tradições. O importante é unir as três pontas, como defende Carlo Petrini: o mundo acadêmico, tecnológico, chefs e pequenos produtores para se chegar ao prazer de comer bem. Alta gastronomia Brasileira O ciclo de debates; a convivência com pessoas de diferentes regiões e suas experiências; os temas abrangentes que envolvem a produção e o consumo de alimento apresentados no Terra Madre Brasil apontam para uma necessidade de reconciliação e resgate. Os diversos profissionais envolvidos com o tema possuem alternativas práticas capazes de contribuir para a valorização da gastronomia nacional, que é composta pela biodiversidade alimentar. Não é possível estabelecer um prato, mas vários pratos, um cardápio completo de brasilidades. Alta Gastronomia é resultado do aprimoramento de ingredientes e técnicas nacionais para extrair o máximo de sabor, preservando o que é tradicional. Cozinhar é educar, transformar. O Terra Madre mostrou brasileiros empenhados em valorizar sua cultura, criando a partir do que a terra lhe oferece, aceitando como dádiva riquezas pouco conhecidas, mas tão celebradas como a mandioca, a castanha de baru, o arroz vermelho e o feijão canapu. Para a mineira Dona Lucinha, que prefere ser chamada de cozinheira, a cozinha regional não pode ser adulterada, falsificada e Pagina 4 di 7

5 transformada em algo que não tem ligação com a história. Segundo ela, o encontro foi uma experiência enriquecedora e destaca que para fortalecer e impulsionar estas iniciativas faltam políticas públicas eficientes. D Lucinha também reclamou o desinteresse da mídia neste tipo de evento. Não podemos deixar de falar o que aprendemos, mas nossa fala não é ouvida. Minha tristeza é ter um encontro desse e não poder partilhar com o Brasil. Precisamos de alguém que nos escute que ouça nosso lamento, nossa historia e enxugar nossas lágrimas, conclui. GALERIA Pagina 5 di 7

6 Agradecemos a Roberta Marins Sá por participarmos do evento Terra Madre Brasil. Parabéns a toda equipe. Pagina 6 di 7