TRABALHOS TÉCNICOS Divisão Jurídica
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- Vitorino Lombardi Nobre
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1 TRABALHOS TÉCNICOS Divisão Jurídica A NATUREZA REMUNERATÓRIA DA VERBA PAGA AO EMPREGADO NOS QUINZE PRIMEIROS DIAS DE FRUIÇÃO DO DIREITO A AUXÍLIO-DOENÇA INCIDÊNCIA DAS CONTRIBUIÇÕES DEVIDAS AO SESC E AO SENAC Bruno Murat do Pillar Advogado Muitas empresas têm pleiteado na justiça o direito de não pagar contribuições previdenciárias sobre a remuneração paga aos empregados nos primeiros 15 dias a título de auxílio-doença, sob o argumento de que tal verba teria natureza indenizatória, e não salarial. Ao fazerem tal pedido, requerem também o direito de não pagar as contribuições devidas ao Serviço Social do Comércio (Sesc) e ao Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac). O auxílio-doença é o benefício previdenciário previsto nos artigos 24 e 25 da Lei nº 3807/1960 e regulamentado nos artigos 59 a 63 da Lei nº 8.213/1991 e no Decreto nº 3048/1999. LEI Nº 3.807/1960 Art. 25. Durante os primeiros 15 (quinze) dias de afastamento do trabalho, por motivo de doença, incumbe à empresa pagar ao segurado o respectivo salário. LEI Nº 8.213/1991: Art º Durante os primeiros quinze dias consecutivos ao do afastamento da atividade por motivo de doença, incumbirá à empresa pagar ao segurado empregado o seu salário integral. (Redação dada pela Lei nº 9.876, de ). DECRETO Nº 3.048/99: Art. 75. Durante os primeiros quinze dias consecutivos de afastamento da atividade por motivo de doença, incumbe à empresa pagar ao segurado empregado o seu salário. (Redação dada pelo Decreto nº 3.265, de 29/11/99). Janeiro de 2013
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3 2 A natureza indenizatória defendida pelos contribuintes que pretendem a desoneração fiscal não se justifica, pois tal verba paga pelas empresas nos primeiros dias de afastamento do empregado em virtude de doença ou acidente de trabalho tem, na realidade, natureza remuneratória ou salarial. Isso porque, durante o período de afastamento por doença, o contrato de trabalho do empregado é interrompido, persistindo, nessa hipótese, para o empregador a obrigação de pagar salário ao trabalhador. Dessa forma, sobre tal remuneração deveria incidir a contribuição previdenciária e as contribuições devidas ao Sesc e ao Senac, seja porque o período de 15 dias é considerado tempo de contribuição para fins previdenciários (art. 60, inc. III, do Decreto nº 3048/99), seja porque tal verba compõe o salário de contribuição de outros benefícios previdenciários, sendo considerada no cálculo da aposentadoria. Conforme ensina a doutrina, ao contrário do que acontece na suspensão do contrato de trabalho, em que cessa o dever de pagar salário, na interrupção, embora não haja trabalho prestado, a remuneração permanece sendo paga. É o que acontece, entre outros exemplos, no período da licença remunerada à gestante, no repouso semanal remunerado e nas férias anuais remuneradas. Confira-se: Nos primeiros quinze dias de afastamento da atividade por motivo de doença, caberá à empresa pagar o salário integral do empregado. No caso de existência de relação de emprego, o contrato de trabalho fica interrompido, tendo a empresa de contar como tempo de serviço os primeiros 15 dias de afastamento e pagar os salários correspondentes. (MARTINS, Sérgio Pinto. Direito de Seguridade Social. 22. ed. São Paulo: Atlas, p. 341.). Como se observa, o segurado empregado tem seus 15 (quinze) primeiros dias a cargo do empregador, sendo estes valores, inclusive, considerado como salário de contribuição. (ZAMBITTE, Fábio. Curso de Direito Previdenciário. 7. ed. Niterói: Impetus, 2006.). Sobre o tema, vale observar o que foi dito pelo Excelentíssimo Desembargador Antônio Balbino Santos, integrante do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, sendo relevante dizer que tal entendimento foi acolhido, em grande parte, pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região. 1 1 TRF/4ª Região, 1 ªSeção, EIAC /SC, relator Juiz FEDERAL VILSON DARÓS, DJU 16/11/2005, pág. 596; TRF-4, APELAÇÃO CIVEL - Processo: UF: RS. Decisão 10/10/2006. Trabalhos Técnicos Janeiro de 2013
4 3 "(...) Na realidade, nos dias atuais, o salário é considerado como um correlativo não da atividade de trabalho objetivamente encarada, mas da atividade subjetivamente considerada, conforme as necessidades da vida familiar e pessoal do trabalhador. De acordo com a doutrina majoritária, o afastamento de quinze dias do empregado por motivo de doença configura hipótese de interrupção do contrato de trabalho e o pagamento efetuado pela empresa, nesses dias, constitui salário. É o que ressalta o ex-ministro do TST, Carlos Alberto Barata Silva: (...) Salientemos, em primeiro lugar a importância da discussão. É que, haja contrato de trabalho interrupção na prestação, haja suspensão, ou não ocorra qualquer das duas hipóteses, os efeitos relativos a vários aspectos, na relação jurídica, são diversos. O normal é que o empregado trabalhe, execute a sua prestação e o empregador, de outra parte, cumpra a sua. É normal, igualmente, que se rescinda o contrato, seja qual for a causa, com a cessação do cumprimento das obrigações de ambos. Ocorre, entretanto, que, por vezes, em plena vigência do contrato, o empregado deixa, por motivos os mais diversos, de cumprir a sua obrigação fundamental e, por outro lado, permanece íntegra a obrigação patronal do pagamento dos salários. Outras vezes, sem que o contrato seja rescindido, ambas as partes deixam de cumprir suas obrigações fundamentais, por razões também as mais diversas. Para nós, no primeiro caso, há interrupção do contrato de trabalho ao passo que, no segundo, ocorre apenas suspensão. Data venia dos que entendem que "a distinção é meramente cerebrina", sustentamos que a sua importância reside precisamente nas conseqüências jurídicas que são completamente diversas. No primeiro caso, não há trabalho e dá o direito ao salário; no segundo, não há trabalho e não há direito ao salário. No primeiro caso, há contagem de tempo do trabalhador, como se em trabalho estivesse, inclusive para os efeitos indenizatórios. No segundo, não há contagem de tempo. E como a antigüidade na empresa é de capital importância para o trabalhador, que vê seus direitos patrimoniais aumentarem proporcionalmente ao aumento de tempo, verifica-se, à evidência, a importância da distinção. Em nosso Direito constituem típicos casos de interrupção do contrato o repouso semanal 2ª Turma. Relator Juiz DIRCEU DE ALMEIDA SOARES. DJ 16/11/2006); AMS - APELAÇÃO EM MANDADO DE SEGURANÇA - Processo: UF: SC. Decisão 12/07/ ª Turma. Relator Juiz VILSON DARÓS. DJ 26/07/2006; AC APELAÇÃO CÍVEL - Processo nº RS. Decisão 19/04/ ª Turma. Relator Juiz A Ramos de Oliveira. DJ 04/05/2005; AC APELAÇÃO CIVEL - Processo nº SP. Decisão 28/09/ ª Turma. Relatora Juíza CECÍLIA MELLO. DJ 15/10/2004; AMS /PR, Rel. Juíza LUCIANE AMARAL CORRÊA MÜNCH, Segunda Turma, TRF 4ª Região, julgado em , DJ ; AMS /SC, 1 ªTurma/TRF-4, Relator Des. Federal Wellington Mendes de Almeida, DJU 07/12/2005, pág. 644; Janeiro de 2013 Trabalhos Técnicos
5 4 remunerado (Lei nº. 605/69); as férias anuais remuneradas (art. 129, da CLT); as faltas justificadas na forma da lei (art. 473, da CLT, e art. 6º, 1º da Lei nº 605/69); a licença remunerada à gestante (art. 165, da Emenda Constitucional nº 1, e art. 392, da CLT); o afastamento do trabalhador por doença durante os primeiros 15 dias (Dec.-lei nº 6.905/44 e Lei nº /60, art. 24); a ausência para alistamento eleitoral (Lei nº 2.550/65); o afastamento para doação voluntária de sangue (Dec.-lei nº 229/67); a convocação do reservista para manobras, exercícios, manutenção da ordem interna ou guerra (Lei nº 4.375/64, arts. 61 e 65, letra c); e a falta ao serviço para comparecimento necessário, como parte, à Justiça do Trabalho (Prejulgado nº 30/67). Como já afirmado, em todas as hipóteses acima, há contagem do tempo de serviço e não perde o trabalhador a sua remuneração. (...) (grifei) (Em SILVA, Carlos Alberto Barata. Aspectos fundamentais de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, p. 143.)" (AMS nº /SC, Rel. Des. Federal ANTONIO ALBINO RAMOS DE OLIVEIRA, TRF 4ª Região). Não obstante o argumento acima estar sendo usado nas defesas judiciais apresentadas pelo Sesc e pelo Senac, a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça (STJ) vem se inclinando em sentido contrário, atribuindo a tal verba o caráter indenizatório e, por isso, vem afastando a incidência das contribuições devidas ao Sesc e ao Senac sobre a verba paga pelo empregador nos 15 primeiros dias de afastamento a título de auxílio-doença. Confira-se: Agravo regimental em agravo de instrumento. Aplicação da súmula 182/stj no que diz respeito à alegação de ofensa aos arts. 458 e 535 do CPC e 174, II do CTN. Natureza indenizatória dos valores pagos pelo empregador ao empregado nos primeiros quinze dias de afastamento do trabalho, a título de auxílio-doença. Não incidência de contribuição previdenciária. Precedentes. Incidência da súmula 83/STJ. Agravo regimental desprovido. (AgRg no Ag / DF, 1ª Turma/STJ, rel. Min. Napoleão Nunes Maia, DJ e 16/12/2011) Trabalhos Técnicos Janeiro de 2013
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