Excelentíssimo Senhor Procurador-Geral de Justiça e Presidente da Egrégia Câmara de Procuradores do Ministério Público do Estado de Minas Gerais

Transcrição

1 Excelentíssimo Senhor Procurador-Geral de Justiça e Presidente da Egrégia Câmara de Procuradores do Ministério Público do Estado de Minas Gerais Os membros da Comissão Temporária constituída na 5ª Sessão Ordinária da Câmara de Procuradores para tratar de assuntos remuneratórios, diante de anúncios recentes feitos por Vossa Excelência de que brevemente dará início ao pagamento da verba denominada parcela autônoma de equivalência, vêm, respeitosamente, sugerir e, no caso de não-acolhimento das sugestões, submeter à apreciação deste Colegiado o seguinte: Que seja iniciado o pagamento pelos valores relativos à atualização do valor principal ou nominal (correção monetária e juros de mora) da parcela autônoma de equivalência e não deste (valor principal), sob pena de demasiado prejuízo aos membros da Instituição que fazem jus ao direito. De fato, se referido pagamento recair sobre o valor nominal, inegavelmente dificultará posterior atualização dos valores. Não bastasse, iniciando o pagamento pelo valor nominal, provavelmente, incidirá Imposto de Renda devido a eventual discussão acerca de sua natureza jurídica, ao passo que, sobre os valores recebidos a título de correção monetária e juros moratórios, não incide o tributo, segundo entendimento jurisprudencial sedimentado no Superior Tribunal de Justiça.

2 Quanto aos juros de mora, no julgamento do REsp , j. em , DJ , oriundo do Estado de Santa Catarina, a Ministra Eliane Calmon afirmou: a questão é simples e está ligada à natureza jurídica dos juros moratórios, que a partir do novo Código Civil não mais deixou espaço para especulações, na medida em que está expressa a natureza indenizatória dos juros de mora. Para melhor análise, eis a ementa do julgado: TRIBUTÁRIO RECURSO ESPECIAL ART. 43 DO CTN IMPOSTO DE RENDA JUROS MORATÓRIOS CC, ART. 404: NATUREZA JURÍDICA INDENIZATÓRIA NÃO-INCIDÊNCIA. 1. Os valores recebidos pelo contribuinte a título de juros de mora, na vigência do Código Civil de 2002, têm natureza jurídica indenizatória. Nessa condição, portanto, sobre eles não incide imposto de renda, consoante a jurisprudência sedimentada no STJ. [...]. Em outro precedente do Estado de Santa Catarina, pelos mesmos fundamentos, mas sob outra relatoria, o entendimento prevaleceu: TRIBUTÁRIO E PROCESSUAL CIVIL IMPOSTO DE RENDA VERBAS INDENIZATÓRIAS CONDENAÇÃO 2

3 EM RECLAMATÓRIA TRABALHISTA NÃO- INCIDÊNCIA SOBRE OS JUROS MORATÓRIOS NATUREZA INDENIZATÓRIA. Os valores recebidos pelo contribuinte a título de juros de mora, na vigência do Código Civil de 2002, têm natureza jurídica indenizatória. Nessa condição, portanto, sobre eles não incide imposto de renda, consoante jurisprudência sedimentada no STJ [...]. (REsp /SC, rel. Min. Humberto Martins, j. em ). Ora, se na espécie os juros de mora têm inegável caráter indenizatório, independentemente da natureza jurídica da verba principal, não podem ser entendidos como acréscimos patrimoniais, configuradores do fato gerador do Imposto de Renda, nos moldes do art. 43 do Código Tributário Nacional. Se aos membros do Ministério Público são devidas verbas de natureza alimentar, como no caso em questão, o prejuízo deve ser recomposto, indenizando-se os prejudicados pelo atraso no pagamento, com a devida correção monetária, além dos juros de mora. A correção monetária não constitui um plus, senão em uma mera atualização da moda, aviltada pela inflação, impondo-se como um imperativo de ordem jurídica, econômica e ética. Jurídica, porque o credor tem o direito tanto de ser integralmente ressarcido dos prejuízos da 3

4 inadimplência, como o de ter por satisfeito, em toda a sua inteireza, o seu crédito pago com atraso. Econômica, porque a correção nada mais significa senão um mero instrumento de preservação do valor do crédito. Ética, porque o crédito pago sem correção importa em um verdadeiro enriquecimento sem causa do devedor, e a ninguém é lícito tirar proveito de sua própria inadimplência ( RSTJ 74/387). O período de incidência da parcela autônoma de equivalência PAE é de setembro de 1994 a fevereiro de 2000, conforme reconhecido em decisão administrativa em observância à autonomia e independência da Instituição. Sendo o direito, portanto, anterior à Medida Provisória nº 2.180/2001, que fixou os juros de mora em 0,5% (meio por cento) a.m., os juros aplicáveis neste caso são no percentual de 1% (um por cento) a.m. Esse entendimento igualmente está pacificado no Superior Tribunal de Justiça conforme podemos observar nas ementas abaixo trazidas à colação: AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO. ALIENAÇÃO MENTAL. PRESCRIÇÃO. INOCORRÊNCIA. AUSÊNCIA DE IMPUGNAÇÃO. INCIDÊNCIA DA SÚMULA N.º 182 DESTA CORTE. AÇÃO 4

5 AJUIZADA ANTES DA EDIÇÃO DA MEDIDA PROVISÓRIA N.º /01. JUROS DE MORA DE 12% (DOZE POR CENTO) AO ANO. 1. [...] 2. O Superior Tribunal de Justiça possui entendimento firmado no sentido de que os juros moratórios deverão ser calculados no percentual de 12% (doze por cento) ao ano, quando a ação for ajuizada em data anterior à edição da Medida Provisória nº / Agravo regimental a que se nega provimento. (AgRg no Ag /RJ; relator Min. OG Fernandes; DJ: ; DJe de ) E, no mesmo sentido: AGRAVO REGIMENTAL EM RECURSO ESPECIAL. INOVAÇÃO RECURSAL. INADMISSIBILIDADE. JUROS DE MORA. AÇÃO PROPOSTA ANTES DA VIGÊNCIA DA MP. Nº /01. PERCENTUAL DE 12% AO ANO. I [...] II - Os juros moratórios devem ser fixados no percentual de 12% ao ano nas condenações impostas à Fazenda Pública para pagamento de verbas remuneratórias a servidores públicos, no caso de demanda ajuizada antes do início da 5

6 vigência da Medida Provisória n.º /2001, que acrescentou o art. 1º-F à Lei n.º 9.494/97. Agravo regimental desprovido. (AgRg no REsp /RS; relator Min. Felix Fischer; DJ: ; DJe de ). Diante do exposto, sugerimos a Vossa Excelência e, no caso de não-acolhimento da sugestão, submetemos à deliberação do Colegiado as seguintes providências: 1. que se proceda imediatamente à atualização dos valores relativos à verba denominada parcela autônoma de equivalência, adotando-se os índices oficiais de correção monetária, bem como calculando-se juros de mora no percentual de 1% (um por cento) a.m.; 2. que o pagamento se inicie pelos valores correspondentes à atualização da verba principal (correção monetária e juros de mora), sem incidência do Imposto de Renda, e não sobre a verba principal ou nominal. Belo Horizonte, 9 de junho de Regina Belgo Francisco Márcio Martins M. Chaves Bertoldo Mateus de Oliveira Filho Derivaldo de Paula Assunção 6