RESIGNIFICANDO A MATEMÁTICA NO PROGRAMA MULHERES MIL: DESCRIÇÃO DE UMA OFICINA SOBRE UNIDADES DE MEDIDAS DE VOLUME
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- Tiago Henriques Aragão
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1 1 RESIGNIFICANDO A MATEMÁTICA NO PROGRAMA MULHERES MIL: DESCRIÇÃO DE UMA OFICINA SOBRE UNIDADES DE MEDIDAS DE VOLUME Yara Patrícia Barral de Queiroz Guimarães 1 yara.barral@ifnmg.edu.br Junaí Carvalho de Souza Lopes 2 junai.lopes@ifnmg.edu.br Marcelo de Miranda Lacerda 3 marcelo.miranda@ifnmg.edu.br O Programa Mulheres Mil do IFNMG Campus Pirapora oferece desde 2012 cursos de capacitação para mulheres em situação de vulnerabilidade social, seja pela situação financeira, seja pela violência a que são submetidas no dia a dia. A matriz curricular dos cursos ofertados, além da parte técnica, engloba conteúdos de formação social, como oficinas de vivências e memórias realizadas com acompanhamento de psicóloga e assistente social. O objetivo deste trabalho é mostrar a execução de uma prática educativa numa turma com muita diversidade, envolvendo a vivência de experiências para o aprendizado da Matemática. Foram planejadas e executadas nesta turma algumas oficinas para os conteúdos a serem estudados na disciplina Conteúdos Matemáticos, dentre as quais será detalhada uma em especial, que serviu de inspiração para a atividade a que se refere este trabalho. Esta turma era composta por 50 mulheres que frequentaram as aulas três vezes por semana no horário de 13h30min às 17h10min, no IFNMG Campus Pirapora e as alunas, em sua maioria, não tinham o Ensino Fundamental completo. A disciplina Conhecimentos Matemáticos abordou assuntos 1 Mestre em Ensino de Matemática PUC Minas, professora efetiva do IFNMG. 2 Mestranda em Química UFU, professora efetiva do IFNMG. 3 Mestre em Ciências da Educação UATAD Portugal, professor efetivo do IFNMG.
2 2 que uma pessoa cuidadora de idosos poderia usar em seu ambiente de trabalho; dentre os conteúdos estudados haviam: Revisão de Operações com Números Racionais e Unidades de Medidas de Volume. As oficinas ocorreram durante as aulas de Matemática do curso com a turma dividida em grupos e com materiais alternativos e outros fornecidos pelo IFNMG-Campus Pirapora. Os materiais utilizados foram seringas diversas, copos-medidas, água, sucos artificiais e amido de milho; a prática aconteceu no Laboratório de Enfermagem do IFNMG, Campus Pirapora, com duração de 04 horas/aula. Com base nas observações realizadas durante a execução da oficina e dos comentários das alunas, pode-se constatar que esta Prática Educativa contribuiu de forma significativa para o aprendizado e vivência do conteúdo matemático na atividade profissional dessas mulheres que precisam cuidar de pessoas idosas. Palavras-chave: Ensino de Matemática. Mulheres Mil. Práticas Educativas. Introdução Entusiasmo, confiança e atenção. Estes foram os sentimentos empregados no momento de elaborar e planejar as oficinas que seriam aplicadas à turma de Cuidadoras de Idosos, do Programa Mulheres Mil do Governo Federal, locada no Instituto Federal do Norte de Minas Gerais, Campus Pirapora. Tais sentimentos vieram, na verdade, de um trabalho realizado no passado, numa turma de 6º/7º ano em 2007 (na ocasião, era uma turma especial de 5ª e 6ª séries), cujos alunos eram em sua maioria repetentes ou que desistiram no passado e retornaram depois para a escola. Os alunos dessas turmas (como os de qualquer outra) precisavam de algo mais do que a simples teoria da Matemática; precisavam de conhecer e compreender a razão de se estudar Matemática. Tendo em vista esse pensamento foram planejadas e
3 3 executadas nessas turmas algumas oficinas para os conteúdos a serem estudados, dentre as quais será detalhada uma em especial, que serviu de inspiração para a atividade a que se refere este trabalho: Como Utilizar as Unidades de Medidas de Volume em um curso de Cuidadoras de Idosos?. As oficinas aconteceram durante as aulas de Matemática, com a turma dividida em grupos e com materiais levados de casa e outros obtidos na própria escola. Com base nas observações realizadas durante a execução das oficinas e dos comentários das alunas, foi possível perceber que as oficinas foram bastante proveitosas e contribuíram para o aprendizado e vivência do conteúdo matemático na atividade profissional de uma pessoa que pretenda cuidar de idosos. Descrição do Curso Cuidadoras de Idosos do Programa Mulheres Mil IFNMG/Campus Pirapora O Programa Mulheres Mil do IFNMG Campus Pirapora oferece desde 2012 cursos de capacitação para mulheres em situação de vulnerabilidade social. Este programa visa à capacitação e a inserção social de mulheres que vivem a margem da sociedade, seja pela vulnerabilidade financeira, seja pela violência a que são submetidas no dia a dia. A matriz curricular dos cursos ofertados, além da parte técnica, engloba conteúdos de formação social, como oficinas de vivências e memórias realizadas com acompanhamento de psicóloga e assistente social. Trabalhar com este público requer do grupo de professores e coordenadores além da formação técnica a capacidade para lidar com os mais diferentes problemas. A turma Cuidadoras de Idosos 2013 do Programa Mulheres Mil era composta por 50 mulheres freqüentes, cujas aulas aconteciam no período da tarde, das 13h às 17h, no Campus Pirapora do Instituto Federal do Norte de Minas Gerais; as alunas, em sua maioria, não tinham o Ensino Fundamental completo. Dentre as várias disciplinas que
4 4 compunham o programa curricular estava a disciplina Conhecimentos Matemáticos, cujos conteúdos eram assuntos que uma pessoa Cuidadora de Idosos poderia usar em seu ambiente de trabalho. Dentre os temas trabalhados estavam: Revisão de Operações com Números Racionais; Unidades de Medidas de Massa, Comprimento e Área; e Porcentagem. Estes assuntos foram trabalhados por meio de aulas expositivas dialogadas e por meio de oficinas. Fundamentação Teórica Por acreditar que o aprendizado da Matemática acontece mais facilmente se houver a vivência de experimentações com o conteúdo estudado foi que surgiu a ideia para essa oficina. A ação ensinar deve ter como reação o aprender, pois se não for assim, não há como dizer que aconteceu o ensino. Não há porque ir em busca de culpados para o fracasso do ensino-aprendizagem da Matemática no país, mas sem dúvida é preciso ir em busca de melhorias e o trabalho com oficinas contribui de forma significativa para o aprendizado; como bem mostram Paviani e Fontana (2009) uma oficina é uma forma de construir conhecimento, com ênfase na ação, sem perder de vista, porém, a base teórica. Essas mesmas autoras citam Cuberes apud Vieira e Volquind (2002, p. 11) para conceituar oficina: Um tempo e um espaço para aprendizagem; um processo ativo de transformação recíproca entre sujeito e objeto; um caminho com alternativas, com equilibrações que nos aproximam progressivamente do objeto a conhecer. (Cuberes apud Vieira e Volquind, 2002, in Paviani e Fontana, 2009).
5 5 Ao analisar o perfil da turma de que trata este texto foi possível perceber que oferecer um ensino teórico dos conteúdos matemáticos não seria nem um pouco viável. Dessa forma, a opção pelo desenvolvimento dos conteúdos por meio de oficinas gerou boas expectativas tanto por parte das alunas como por parte dos docentes. Novamente conforme Paviani e Fontana (2009): Uma oficina é, pois, uma oportunidade de vivenciar situações concretas e significativas, baseada no tripé: sentir-pensar-agir, com objetivos pedagógicos. Nesse sentido, a metodologia da oficina muda o foco tradicional da aprendizagem (cognição), passando a incorporar a ação e a reflexão. Em outras palavras, numa oficina ocorrem apropriação, construção e produção de conhecimentos teóricos e práticos, de forma ativa e reflexiva. (PAVIANI e FONTANA, 2009) No momento em que ocorrem a apropriação, construção e produção de conhecimentos teóricos e práticos, como mostram as autoras citadas, acontece o processo da ação e reação, em que os estudantes participam ativamente da atividade oferecida favorecendo a reflexão, o que provocará a reação imediata do entendimento e assimilação do conteúdo estudado. O professor deve constantemente avaliar sua prática, para corrigir possíveis erros e torná-la melhor a cada dia, procurando ser cada vez mais competente em seu ofício (Zabala, 2007). É óbvio que para que qualquer trabalho seja bem feito o primeiro passo é acreditar nele; particularmente quanto ao trabalho com oficinas é preciso planejar com cuidado, de modo a aliar tempo e atividade a ser desenvolvida, e acima de tudo acreditar na eficiência dessa metodologia. O aprendizado é algo para ser construído e não adquirido, de modo que um docente não vai conseguir transmitir os conteúdos para seus estudantes se estes não se interessarem por esse conhecimento. O processo ensino-aprendizagem é uma oportunidade de aprendizado não só para o estudante, mas também para o docente. Como afirma Lachini (2001):
6 6 A transmissão da informação não pode ocupar sozinha o centro do processo ensino aprendizagem e nem pode ser tomada como único parâmetro norteador dos serviços oferecidos pela escola. Olhar o ensino-aprendizagem como um processo de aquisição, reelaboração ou construção é a maneira de abrir o trabalho escolar para o tratamento da informação, para a compreensão de conceitos, para o pensar de modo sistematizado e com mobilidade. (...) Ambos (professor e aluno) se tornam construtores e re-construtores do conhecimento. (LACHINI, 2001, p. 179). Desse modo, o tripé docente-estudante-aprendizado acontecerá de forma natural desde que ambos reconheçam o valor do aprendizado conjunto e estejam abertos para tal. Ao realizar um planejamento com cuidado e atenção, o docente já está se permitindo aprender e se mostra aberto aos possíveis desafios da escolha de se utilizar uma metodologia didática diferenciada. O professor, nesse momento, deve estar aberto para receber questionamentos, críticas e elogios, sempre considerando o que lhe for oferecido como uma possibilidade de crescimento profissional. Uma nova postura que leve a redefinir a sala de aula como espaço de trabalho, o processo de ensino-aprendizagem como processo de incorporação de um capital cultural, a disciplina como atitude adequada ao trabalho, professor e aluno como estudantes, estudiosos munidos da certeza de serem eternos aprendizes. (LACHINI, 2001, p. 187) O uso de oficinas pedagógicas como instrumento docente permite ao estudante a oportunidade de investigar, analisar e realizar questionamentos. Neste sentido, Lachini e Laudares (2001, p. 87) falam em pedagogia dialógica, ou seja, dar ao estudante a chance de simular, de perguntar, de investigar (grifos dos autores). No momento em que o aluno experimenta, ele tem a condição de generalizar, de abstrair e, então, formalizar (LINS; GIMENEZ, 2001) o conceito ali apresentado; daí a importância de permitir que o educando pense, investigando, e questione, se respondendo.
7 7 Descrição da oficina Para contribuir com o ensino-aprendizado dos Conhecimentos Matemáticos que compunham o programa curricular do curso foram elaboradas algumas oficinas para serem aplicadas junto à turma; a oficina que será aqui descrita é sobre o tema Unidades de Medidas de Volume. O objetivo geral da oficina é vivenciar experiências práticas envolvendo medições com o uso de seringas. Como objetivos específicos, podem ser citados: estudar as transformações que podem ser feitas com as Unidades de Medidas de Volume e efetuar algumas operações mentais envolvendo números decimais. As atividades da oficina tiveram a duração de 320 minutos, divididos em 02 aulas de 100 minutos cada e 01 aula de 120 minutos, e para um bom aproveitamento do tempo, as atividades foram assim desenvolvidas: Quadro 01: etapas da oficina pedagógica. Ordem Atividade Recursos Didáticos Tempo 01 Apresentação do tema, objetivos e atividades da oficina. Quadro e pincéis. 30 minutos 02 Quadro, pincéis, livros Revisão das operações básicas didáticos, caderno, lápis, de números inteiros e números borracha, canetas e decimais. calculadora. 170 minutos 03 Mistura da água e suco artificial, Torneira, garrafas de e da água com o amido de milho plástico, panela, fogão 10 minutos
8 8 (ajuda da auxiliar de serviços gerais da cantina). Realização de medições com as seringas, copos-medida, água 04 colorida e água espessa; cálculos mentais com medidas envolvendo números decimais. Discussão sobre os resultados 05 das atividades 01, 02, 03 e Avaliação do trabalho realizado. (gás e fósforos), colheres, água, suco artificial, amido de milho. Seringas de vários tamanhos, copos-medida, colheres, garrafas de plástico, panela, água colorida com suco artificial, e água com amido de milho. Expressão verbal. Expressão verbal e anotações dos pesquisadores. 70 minutos 20 minutos 20 minutos. Cada uma das etapas descritas no Quadro 01 será detalhada: Etapas 01 e 02) Como parte introdutória aconteceu a apresentação do conteúdo e a metodologia que seria adotada, bem como seus objetivos e atividades. A professora escreveu no quadro branco, as unidades-padrão de Comprimento, Área e Volume e, a partir daí, escreveu as sub-unidades com exemplos numéricos. As alunas puderam realizar questionamentos e sugerir exemplos. O Quadro 02 mostra como ficou essa apresentação para a turma: Quadro 02: unidades de medidas. Unidades de Comprimento Unidades de Área Unidades de Volume km km 2 kl
9 9 hm 1000 hm hl 1000 dam 100 dam dal 100 m 10 m l 10 dm 1 dm 2 1 dl 1 cm 1/10 cm 2 1/100 cl 1/10 mm 1/100 mm 2 1/10000 ml 1/100 1/1000 1/ /1000 Também foi mostrado que 1 dm 3 = 1 litro ao se falar em Unidades de Volume, de modo que todas puderam compreender a relação entre uma e outra unidade. Uma vez que os estudantes desse curso irão trabalhar mais com as unidades metro, centímetro, milímetro, metro quadrado, centímetro quadrado, litro e mililitro, as demais unidades foram apresentadas só para conhecimento, mas não receberam muita ênfase durante as oficinas. Etapas 03, 04 e 05) A ajuda da auxiliar de serviços gerais da cantina foi solicitada, que prontamente atendeu; seu papel seria preparar a água colorida com suco artificial e a água engrossada com amido de milho, preparada no fogão. A água colorida e a água espessa foram colocadas em recipientes separados, ou seja, garrafas de plástico de modo a não misturá-las e permitir melhor experimentação. Para esse preparo, a auxiliar de serviços gerais utilizou a cantina da escola e duas alunas pegaram as garrafas contendo os preparos, encaminhando-se para a sala onde aconteceriam as atividades. A partir desse momento, a aula aconteceu no Laboratório de Enfermagem com o uso das bancadas, de seringas de 10 ml e 25 ml, copos-medida, água colorida com suco
10 10 artificial e água engrossada com amido de milho. O objetivo da água colorida seria o de facilitar a visualização quando utilizadas as seringas, simulando um medicamento que deveria ser aplicado a certo paciente; o objetivo da água com amido de milho foi o de simular um medicamento mais espesso, como um antibiótico ou uma alimentação via sonda. A professora solicitou que as alunas observassem as medidas anotadas nas seringas e fez alguns questionamentos quanto às partes divididas entre um número e outro. Depois, ensinou, com a ajuda do professor da área de enfermagem, a manusear corretamente as seringas. Em seguida, pediu que as alunas realizassem algumas experimentações, por exemplo: Quadro 03: experimentações realizadas pelas alunas da turma. Medir 2,5 ml do líquido ralo com uma seringa e 2,5 ml do líquido espesso com outra seringa. Sentir a diferença entre puxar um líquido e outro com a seringa. Medir 3,5 ml de qualquer dos líquidos com a seringa de 10 ml, sabendo que a seringa é marcada de 2,5 em 2,5 ml. Medir 5 ml em cada uma das seringas e comparar a altura alcançada na seringa de 10 ml e na seringa de 25 ml. Medir algumas quantidades com as seringas por conta própria e constatar se surgiram dúvidas. Medir algumas quantidades no copo-medida e passar para a seringa para verificar se há perda de líquido e realizar o inverso: medir primeiro com a seringa e depois passar para o copo-medida. A foto contida no Quadro 04 ilustra a execução da oficina, no momento em que as alunas realizavam experiências com as medições: Quadro 04: fotografia da execução da oficina.
11 11 Fonte: arquivo dos pesquisadores. Os comentários e as perguntas das alunas durante a atividade foram anotados para efeito de avaliação e pesquisa; alguns merecem destaque, como exemplo as perguntas seguintes: Quadro 05: comentários das alunas Aluna A: Esse pouquinho de remédio que fica no bico da seringa conta também? Aluna B: Como devo medir a quantidade de 3,5 mililitros nessa seringa que vai de 2,5 em 2,5? Para a aluna A, foi-lhe dito que a quantidade que fica no bico da seringa também será consumida pelo paciente, de modo que é preciso puxar o êmbolo da seringa mais um pouco até que o bico esteja vazio. Outra aluna comentou nesse momento sobre sua experiência como auxiliar de enfermagem e lhe foi solicitado que compartilhasse um pouco disso com a turma.
12 12 Então, ela falou sobre a possibilidade de entrada de ar na seringa e que isso poderia ocupar o espaço do remédio. Várias alunas observaram que suas seringas continham bolhinhas dentro e que ao retirá-las, a quantidade de remédio diminuía. Para essa situação, foi-lhes explicado que o espaço ocupado pelo remédio na verdade era chamado de volume e que as bolhas de ar realmente faziam com que a quantidade de remédio fosse menor. Houve, então, a sugestão de colocar certa quantidade de líquido na seringa, observar se havia bolhas e, em caso afirmativo, despejar todo o conteúdo em um copo-medida, para constatar a menor quantidade. A foto do Quadro 06 ilustra o momento em que algumas faziam essa experiência. Quadro 06: fotografia da execução da oficina. Fonte: arquivo dos pesquisadores. Quanto à pergunta da aluna B, primeiramente ela foi repetida para toda a turma, para verificar se alguma das alunas poderia respondê-la. Houve então a sugestão de medir uma quantidade aproximada do líquido entre a marca do 2,5 e do 5. Mas essa sugestão foi descartada pelas próprias alunas com comentários como:
13 13 Quadro 07: comentário das alunas. E se for um antibiótico? Tem que ser uma medida exata porque tem o tempo certo pra tomar... As alunas foram questionadas, então, sobre o que deveriam fazer para solucionar esse problema e a resposta da maioria delas foi: Quadro 08: comentário das alunas A gente tem que medir certo. Mas como fazer isso? A professora de Matemática, então, explicou sobre divisão de números decimais, usando primeiramente o quadro e pincéis, e depois, as próprias seringas e coposmedida. Alguns exemplos no quadro foram resolvidos e as alunas também fizeram outros exemplos no caderno. Reconheceram, assim, a importância de se efetuar essa divisão. Depois que elas compreenderam os procedimentos corretos, a utilização correta da calculadora foi permitida e ensinada para esses cálculos. Este foi o último trabalho com o material didático escolhido. A partir daí veio o momento das discussões e avaliação da atividade desenvolvida. Avaliação do resultado obtido e considerações finais A avaliação que pôde ser feita desta atividade foi muito boa. As alunas se manifestaram positivamente com comentários que provocaram nos pesquisadores a vontade de trabalhar mais conteúdos por meio de metodologias deste tipo. Esta não foi a primeira oficina que os professores organizaram, mas foi a primeira na área de Matemática no Programa Mulheres Mil do Campus Pirapora do IFNMG. Diante da necessidade de aprendizado das alunas, ou seja, diante do que
14 14 precisam aprender em Matemática e de acordo com a finalidade, percebe-se que o trabalho com oficinas é bastante enriquecedor, possibilitando uma maior interação entre o ensino e a aprendizagem. Uma vez que o Programa Mulheres Mil tem a intenção de oferecer cursos que possam inserir mulheres no mercado de trabalho, principalmente mulheres que estejam em situação social desfavorecida, faz-me mais do que necessário que os professores dediquem atenção especial ao seu planejamento dos planos de ensino. Claro que para qualquer turma isso é importante, mas particularmente em se tratando desse programa e de suas características, vê-se a importância de visar não só o cumprimento do programa curricular previsto, mas muito mais da aplicação dos assuntos estudados. Após a realização das atividades no laboratório foi iniciado com a turma um debate sobre a relevância dos conteúdos estudados e a maneira como isso aconteceu. Todas as alunas, sem exceção, manifestaram boa compreensão sobre a aplicação dos tópicos matemáticos discutidos, reconhecendo também a importância de se conhecer a teoria do assunto. Aquelas que já tinham alguma experiência como cuidadora de idosos ou como auxiliar de enfermagem expuseram algumas situações em que o conhecimento matemático é necessário, e os problemas que já tiveram por não resolver alguma pendência que envolvia matemática. Eis situações mencionadas por algumas alunas: Quadro 09: comentário das alunas Eu cuidava de um senhor bastante idoso e precisava dar um remédio que o médico receitou porque ele estava muito resfriado, de 8 em 8 horas. Acontece que uma dose da madrugada ele só tomou de manhã e a próxima seria meio dia. Fiquei com muita dúvida sobre o que fazer. Quadro 10: comentário das alunas Eu trabalhava cuidando de um bebê como auxiliar de enfermagem. Ele estava tomando um antibiótico que eram dois vidros, sendo uma dose por dia, durante 6 dias; mas a última dose do 1º vidro não estava completa. Ao abrir o 2º vidro quando terminou, vi
15 15 que ainda restava um pouco no fundo e foi aí que percebi que eu devo ter jogado fora um pouco do 1º vidro, sem querer! Aqui estão apenas duas situações que podem parecer simples, mas que geraram angústia e conflito para quem as viveu. Resolver problemas não é tarefa fácil, mas é possível principalmente se a pessoa acumula conhecimento e, assim, argumentos. A experiência nessa oficina foi bastante prazerosa para os pesquisadores, pois foi a oportunidade de vivenciar conteúdos matemáticos na prática, fora da sala de aula. Utilizar o Laboratório de Enfermagem como um possível Laboratório de Matemática foi gratificante e interessante, mostrando que a Matemática realmente está presente em todos os ambientes, basta que sejam vislumbrados. A Matemática possui um papel de destaque em várias áreas e isso deve ser mostrado aos estudantes para que possam valorizar o seu aprendizado assim como valorizam várias outras disciplinas. Quem sabe, assim, a Matemática deixe de ser considerada uma área tão difícil de ser estudada, como pensa a grande maioria dos estudantes, e possa assumir a sua posição de ferramenta para resolução de problemas?! Referências bibliográficas LACHINI, Jonas. Subsídios para explicar o fracasso de alunos em Cálculo. In: LAUDARES, João Bosco; LACHINI, Jonas (Org.). Educação matemática: a prática educativa sob o olhar de professores de cálculo. Belo Horizonte: FUMARC, p LINS, Romulo Campos; GIMENEZ, Joaquim. Perspectivas da aritmética e álgebra para o século XXI. São Paulo: Papirus, 2001.
16 16 PAVIANI, Neires Maria S.; FONTANA, Niura Maria. Oficinas pedagógicas: relato de uma experiência. Revista Conjectura. V. 14, n. 2, p Caxias do Sul: maio/ago, ZABALA, Antonio. A prática educativa: como ensinar. São Paulo: Artmed, 2007.
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