WILFRED RUPRECHT BION ( )
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- Júlio Camelo Mirandela
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1 Concepções de Bion
2 WILFRED RUPRECHT BION ( ) Nasceu na Índia em 8 de setembro de Pai: engenheiro Mãe: pessoa simples de temperamento instável, mostrava-se frequentemente triste e o garoto sofria muito com estas características da mãe. Irmã: Edna. Bion viveu na Índia até os sete anos sob os cuidados de uma ama indiana (Ayah), senhora que exerceu sobre ele marcante influência. Por volta dos oito anos Wilfred foi enviado para Londres e lá morou sem a família, interno em um colégio onde recebia escassas visitas dos pais. Entre o final da infância e a adolescência, Bion encontrou dificuldades em se adaptar, pois sentia aguda solidão.
3 Aos 19 anos ingressou nas Forças Armadas, onde se destacou devido às suas competências intelectuais e desportivas. Atuou na I Grande Guerra com distinção, chegando a ser condecorado em função de seu desempenho em uma arriscada ação bélica. Na carreira militar atingiu a patente de capitão. Ao término da Guerra foi para a Universidade de Oxford, onde estudou História Moderna, Filosofia e Teologia, licenciando-se em Letras. Ao ler Freud ficou fascinado e resolveu fazer medicina e se tornar psicanalista.
4 Envolveu-se com a prática psiquiátrica e se empregou na Tavistock Clinic. Analisou-se por dois anos com J. Rickmann, quando a II Guerra provocou a interrupção do processo analítico. Bion continuava a trabalhar na Tavistock quando voltou ao exército, em 1940, em plena 2ª Guerra Mundial; neste período se dedicou à reabilitação dos pilotos do exército. Com o final da Guerra, voltou a trabalhar na Tavistock com grupos. Essas experiências foram relevantes para suas concepções sobre trabalho com grupos.
5 Bion conhece Betty Jardine, famosa atriz de teatro e com ela se casa. Em 1945, então com 48 anos, seu casamento termina com a morte prematura de Betty durante o parto de sua filha Partenope. Este fato o deixa profundamente consternado, levando-o reiniciar sua análise, desta vez com Melanie Klein, processo que durou oito anos. Casou-se pela segunda vez com Francesca, que era pesquisadora e sua assistente na Tavistock. Tiveram um casal de filhos, Julian e Nicola.
6 Partenope se tornou psicanalista na Itália, vindo a falecer, prematuramente, em um acidente de automóvel no final da década de Bion Residiu na Califórnia, onde permaneceu por 11 anos. Em agosto de 1979 decide voltar para a Inglaterra; parece que desejava se reaproximar dos filhos e se preparava para voltar a clinicar quando foi acometido cronicamente por leucemia mielóide aguda. W.R. Bion morreu em questão de dias, com 82 anos, em 08 de novembro de 1979 na cidade de Oxford, na Inglaterra.
7 Referências às suas principais obras Experiências com grupos Fundamentos da Psicoterapia de Grupo. Imago. Rio de janeiro, Janeiro, /1960. Estudos psicanalíticos revisados. (Second thougts). Imago, Rio de Janeiro, O Aprender com a experiência. Imago, Rio de Janeiro, Elementos de psicanálise. 2ª. Ed. Imago, Rio de Janeiro, Transformações. Do aprendizado ao crescimento. 2ª. Ed. Imago, Rio de Janeiro, Atenção e interpretação. 2ª. Ed. Imago, Rio de Janeiro, Conferências brasileiras 1. Ed. Imago, Rio de Janeiro, Uma memória do futuro I. O sonho. Imago, Rio de Janeiro, Uma memória do futuro II. O passado apresentado. Imago, Rio de Janeiro, Uma memória do futuro III. A aurora do esquecimento. Imago, Rio de Janeiro, /1979. Cogitações. Ed. Imago. Rio de Janeiro, 2000.
8 CONTINENTE CONTIDO Vínculo assume feições definidas que podem representar tomando a relação de um continente com o seu contido. Indivíduo primeiro é contido: feto no útero, bebê pela maternagem.
9 CONTINENTE E CONTIDO Relação interpsíquica Rêverie e a identificação projetiva Continente lugar onde um objeto é projetado. Contido objeto que pode ser projetado no interior do continente.
10 CONTINENTE E CONTIDO Relação intra-psíquica Introjeção da continência Mente e seus contidos Relação do continente com seu contido é ingerida e passa a integrar indivíduo.
11 ELEMENTOS BETA Impressões sensoriais Emoções Em estado original Pré-verbal, não-simbólico
12 No início da vida mental os estímulos se apresentam: De forma caótica Avassaladora Estão dispersos Fragmentados
13 Função alfa Elemento alfa: tudo que foi digerido e tornado apto a ser usado pelo psiquismo. alguém as compreende o que foi expelido Volta melhor. Torna-se suportável pela mediação materna. Aquilo passa a possuir um sentido.
14 FUNÇÃO ALFA Concreto psíquico (abstrato) Transformação do estímulo concreto num significado
15 Função alfa perturbada Impressões sensoriais permanecem sem modificações: elementos beta são propensos para serem usados na identificação projetiva Atuação Pensamento concreto
16 FUNÇÃO ALFA Concreto psíquico (abstrato) Transformação do estímulo concreto num significado
17 FUNÇÃO ALFA Impressões sensoriais e emoções elementos capazes de ser acumulados para ser empregados no sonho nos outros pensamentos
18 Função alfa perturbada Impressões sensoriais não trabalhados pela função alfa, permanecem sem modificações. Matéria não digerida tóxica
19 Impressões sensoriais ou emocionais não modificadas: elementos beta Resíduos Eventos que pedem compreensão Intensidade pode tornar inevitável expelir estímulos para diminuir-lhes a pressão: evacuação (desprazer) Identificação projetiva Atuação Pensamento concreto
20 Identificação projetiva Mecanismo para lidar com elementos beta Comunicação de ansiedades, de elementos préverbais e não simbólicos tratados como se fossem coisas, não transformáveis Porém podem ser atiradas, projetadas. Com a possibilidade de reintrojeção.
21 Estados psicóticos Elementos beta atuados por identificação projetiva: reação emocional ou reação concreta de alguém no ambiente parece confirmar a formulação em questão. Parece que o psicótico provoca reações, mesmo sem ter feito nada pra isso confirmando a articulação delirante.
22 Identificação projetiva O outro é aquilo que se lhe atribui Condição emocional do analista: tolerar e acolher elementos primitivos e caóticos sem rejeitá-los modificando identificações projetivas: Possibilidade de gerar significados Paciente pode introjetar uma função.
23 Elementos beta: usados Identificação projetiva Atuação Pensamento Concreto
24 Função alfa Conversão da matéria bruta em alimento, em abstração. Essa função modifica o que há de concreto na experiência em direção à formação do pensamento simbólico. Abstração articulação de elementos alfa
25 Após ter passado por função alfa: Possibilidade de ser utilizado no processo de Pensar Fantasiar Memorizar Armazenagem Recordação Esquecimento Sonhar Formação de conceitos e ideias Pensamento Inconsciente Simbolização
26 Barreira de contato Função alfa: transforma impressões sensoriais ligadas a uma experiência emocional em elementos-alfa. Estes se agrupam à medida que se proliferam para formar uma barreira de contato. A distinção entre consciente e inconsciente decorre da presença de uma barreira de contato composta de elementos-alfa.
27 TELA BETA Indistinção entre consciente e inconsciente faz pensar numa barreira composta de elementos-beta. Tela beta tem a propriedade de suscitar no outro justamente o tipo de resposta emocional que o paciente deseja.
28 RÊVERIE Capacidade da mãe de acolher afetivamente a emissão do bebê Capacidade do bebê de acatar de volta o elemento assim transformado que passa a começar a ter um sentido
29 RÊVERIE rêverie : capacidade de sonhar Hoje voltei a suspeitar que os eventos reais da sessão com X estejam sendo transformados em um sonho, quando, num certo ponto, suspeitei que minha interpretação estivesse sendo convertida em um sonho. [...] Tenho a impressão de que o deslocamento etc. de Freud seja relevante; mas ele levou em conta apenas a atitude negativa, o sonho escondendo algo, e não o modo pelo qual o sonho necessário é construído (Bion - COGITAÇÕES)
30 RÊVERIE...o que Freud queria dizer com trabalho onírico era que o material inconsciente, que de outro modo seria perfeitamente compreensível, estava sendo transformado em um sonho, e que o trabalho onírico precisava ser desfeito para fazer com que o sonho, então incompreensível, fosse compreensível. [...] O que eu entendo é que o material consciente tem que ser submetido ao trabalho onírico para tornar-se adequado ao armazenamento e à seleção; portanto, passível de sofrer transformação da posição esquizoparanóide para a posição depressiva... O sonho sonhado pelo analista durante a sessão ganhará o status de conceito e será denominado de rêverie um dos fatores da função-alfa.
31 Mãe - bebê Capacidade de transformar os contidos que capta do filho ou que se expressam na mãe como referindo-se ao bebê Sustentação psíquica e emocional de um outro Os próprios contidos maternos importam muito: amor
32 TODA A RESPONSABILIDADE É DA MÃE? Bebê com alta capacidade de tolerância à frustração poderá sobreviver à penosa prova de ter uma mãe incapaz de rêverie. Lactente incapaz de tolerar a frustração não pode sobreviver sem uma crise, apesar da experiência de identificação projetiva com uma mãe capaz de rêverie.
33 CAPACIDADE DE PENSAR Deixar que acontecimentos sigam seu curso, descobrindo seu significado ao seu tempo Grau de tolerância: essencial para sua capacidade de pensar
34 POSIÇÃO ESQUIZO-PARANÓIDE Posição esquizo-paranóide: desintegração. Contidos: caoticamente dispersos Vivência persecutória A qual exige elaboração Ausência de satisfação pensamento: tarefa gigantesca
35 PASSAGEM DA POSIÇÃO ESQUIZO- PARANÓIDE PARA DEPRESSIVA Ausência do objeto: através da palavra, do símbolo supera-se até certo grau a dependência da presença das coisas. nome possibilita invocar o ausente tornandoo presente até certo grau Seio mau presente seio ausente
36 Ex. - mamãe - chocolate acabou Ambas compreenderam diálogo apesar de não haver chocolate presente
37 PRÉ-CONCEPÇÃO E REALIZAÇÃO Pré-concepções - a criança conhece o seio porque já nasceu preparada para isso expectativa desse conhecimento. Disponibilidade inata ou adquirida Quando a pré-concepção é posta em contato com a realização, o resultado mental é a concepção (um contido mental).
38 PRÉ-CONCEPÇÃO E FRUSTRAÇÃO (realização negativa) Pré-concepção do seio e ausência do seio - frustração Presença dolorosa (aumento da necessidade) 1. Evacuar presença má. Cindi-la, etc. - resultado: aumento da maldade do objeto perseguidor 2. Enfrentar objeto mau Quando reconhecido como ausência ele é reconhecido como pensamento: descolamento da experiência sensória
39 APRENDER DA EXPERIÊNCIA 1. Só se consegue chegar à noção de ausência do objeto após tê-lo usufruído. 2. Capacidade de tolerância à frustração: conservar objeto ausente e explicitar-lhe a ausência Capacidade de rêverie de outrem pode ajudar nessa luta-aprendizagem permitindo aprender da experiência
40 FRUSTRAÇÃO Desenvolvimento de aparelho para pensar instrumentalização para enfrentar frustração abdicação à certeza alucinatória e passagem à incerteza do conhecimento É possível Ação efetiva leva-se em conta condições externas Lembrança do objeto bom Admissão de que técnicas anteriores falharam
41 FRUSTRAÇÃO Se houver: Desenvolvimento da crença na própria onipotência e onisciência - nada há a aprender Desenvolvimento hipertrofiado do aparelho para identificação projetiva Vai haver impedimento do desenvolvimento de aparelho para pensar
42 REPRESENTAÇÃO Representação: tornar presente de novo. Tornar presente o ausente presença boa no passado, tornada presente de novo.
43 NÃO-SABER Falta a certos pacientes a possibilidade de suportar uma situação de incertezas, ignorância e dúvidas e, ainda assim, manter a capacidade para pensar. Teoria de Bion está próxima de um método voltado para a sustentação de paradoxos, da incerteza e do não-saber. Para significado emergir é necessário tolerância à possibilidade de ausência de significado
44 Fato selecionado Introduz ordem na complexidade Produz síntese por intermédio da qual analista interpreta
45 Pensar do analista Possibilidade de tolerar paradoxos, nãoorganização Tolerância à frustração Para emergir significado genuíno
46 Bibliografia: Biografias: WILFRED RUPRECHT BION. In: BLÉANDONU, G. Wilfred R. Bion: a vida e a obra. Trad: Laurice Levy Hoory e Marcela Mortara. Rio de janeiro, Imago, FERRO, A. Marcella: da sensorialidade explosiva à capacidade de pensar. Rev. psiquiatr. Rio Gd. Sul; V. 24 n. 3, p , SALVITTI, A. Função-alfa e estilo de pensamento em Bion: uma aproximação por meio da experiência da alteridade Percurso, v. 37, SILVA, M. E. Pensando o pensar uma introdução a W. R. Bion. Campinas, SP: Flama Editora, São Paulo: Casa do Psicólogo, Imagens:
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