O USO DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NAS AULAS PRESENCIAIS DE MATEMÁTICA

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1 O USO DAS TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO NAS AULAS PRESENCIAIS DE MATEMÁTICA Sandra Malta Barbosa Universidade Estadual de Londrina (UEL) sbarbosa@uel.br Resumo: Este artigo tem por objetivo apresentar algumas reflexões sobre o uso das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC) nas aulas do Curso de Licenciatura em Matemática, da UEL. Há cinco anos a autora vem trabalhando na disciplina Educação Matemática e Tecnologias Educacionais. O foco dessa disciplina é a produção do conhecimento matemático com o uso das mídias informáticas, a partir da investigação matemática e da resolução de problemas. As experiências têm mostrado que existem conotações diferentes para os alunos quando se fala em TIC em sala de aula. As variadas versões de tecnologias proporcionam conhecimentos diversificados e modos de produção distintos. Palavras-chave: Tecnologia da Informação e Comunicação. Produção do Conhecimento Matemático. Resolução de Problemas. Investigação Matemática. Introdução As experiências com o uso das Tecnologias da Informação e Comunicação (TIC) nas aulas de Matemática ainda são poucas, pois apenas em alguns cursos trabalha-se especificamente o uso de TIC em sala de aula. Na UEL, em 2005, houve a reformulação do curso de Licenciatura em Matemática e, em particular, a disciplina Educação Matemática e Tecnologias de Ensino foi ministrada em 2006, pois se configurava uma disciplina do 2º ano do Curso de Licenciatura em Matemática. A ementa dessa disciplina contempla: a aprendizagem da matemática em ambientes informatizados; a construção de referencial teórico na área de tecnologia informática aplicada à Educação Matemática; análise e propostas de utilização de software para o ensino e aprendizagem da Matemática nos Ensino Fundamental e Médio; uso de jogos educativos no ensino da Matemática; análise de sites na área de Educação Matemática e suas possíveis utilizações na sala de aula. Desde sua implantação até os dias atuais, as tecnologias vêm se atualizando e novas versões podem ser encontradas no mercado, como celulares com Internet, tablets, entre outros.

2 No início do ano letivo de 2010, muitos alunos tinham uma impressão diferente sobre o uso de tecnologias em sala de aula, mas as situações vivenciadas durante o decorrer do desenvolvimento desta disciplina causaram modificações no olhar da utilização das TIC no processo de ensino e aprendizagem da Matemática. Alguns alunos consideravam que essa disciplina era apenas para aprender a utilizar o datashow, ou aprender o Excel e o Word, para fazer uma apresentação que facilitasse suas vidas enquanto professor. Essa impressão inicial foi se modificando ao longo do desenvolvimento da disciplina, pois os alunos puderam perceber que as TIC não são apenas meros instrumentos ilustrativos para facilitar a vida do professor, mas que podem modificar a forma de se produzir o conhecimento matemático. As TIC na formação docente O desenvolvimento de interfaces mais amigáveis tem trazido à tona algumas mudanças no pensamento de como as TIC podem ser utilizadas no ambiente da sala de aula de Matemática. Muitos softwares gratuitos podem ser baixados pela rede mundial de computadores e alguns com uma interface bem criativa e autoexplicativa, neles podemos criar objetos significativos quando falamos de funções e de geometria, alguns estão disponíveis na Internet, sem qualquer custo e constantemente são atualizados pelos seus próprios usuários. Rodrigues e Barbosa (2011) defendem que quando um aluno aprende utilizando de uma mídia informática esse fato acontece de uma forma mais autônoma, sem uma dependência tão grande com o professor. Até porque, em algumas situações, o aluno acaba se saindo melhor que o professor (quando tratamos das TIC). A razão disso não se sabe, mas acreditamos que seja pelo fato de que sua geração (a dos alunos) tem um contato maior, de uma maneira geral, com essas mídias. Além disso, consideramos também que quando falamos de Matemática a tecnologia faz com que ela se torne mais dinâmica, saindo do tradicional, porém muitos dos professores em exercício consideram que Matemática só pode ser ensinada com quadro e giz (RODRIGUES; BARBOSA, 2011, p.1). Borba e Villarreal (2005) enfatizam que as TIC são novas extensões da memória, com diferenças qualitativas em relação às outras mídias (oralidade e escrita) e alteram a linearidade do raciocínio, para serem pensadas em outros modos de pensamento, baseado na simulação, experimentação e uma nova linguagem que envolve escrita, oralidade, imagens e comunicação instantânea (BORBA; VILLARREAL, 2005, p.22). Os autores adotam a perspectiva que sugere que humanos são constituídos por tecnologias que transformam e

3 modificam seu raciocínio e, ao mesmo tempo, esses humanos são constantemente transformados por essas tecnologias (BORBA; VILLARREAL, 2005, p.22). A partir dessa perspectiva, os autores entendem que a visão dicotômica entre seres humanos e tecnologias não faz sentido e que o fazer Matemática com o uso do computador é diferente do fazer Matemática com o uso das mídias tradicionais (lápis e papel). As tecnologias estão cada vez mais presentes no cotidiano das pessoas, porém muitos dos professores começaram sua prática em sala de aula há mais tempo que isso e não se pode cobrar que eles tivessem em sua formação inicial aspectos relacionados às tecnologias, poucos são aqueles professores que sabem trabalhar com um computador, no máximo conseguem enviar um , digitar uma prova etc. Porém, é nesse tipo de caso que a formação continuada ganha importância. Cursos que ofereçam contatos com a tecnologia para professores são imprescindível para a prática docente. Assim, com esses tipos de cursos de formação continuada os professores podem construir experiências e utilizar uma argumentação ao seu favor na prática em sala de aula. Por outro lado, ao contrário dos professores em serviço, os futuros professores por mais que possuam um contato maior com as tecnologias, a possibilidade de reflexão crítica sobre como utilizá-las na sala de aula não é tão simples. Os alunos dos cursos de licenciatura, futuros professores, não tiveram professores em sua educação básica que fizessem o uso da tecnologia, não tem experiência em como se desenvolve uma aula utilizando as TIC, o modo como a tecnologia é utilizado na graduação, a opinião de que aprender matemática é apenas de uma forma através da aula expositiva, o medo do foco se tornar no aluno, são fatores que dificultam a mudança de metodologia e o uso das TIC. A ideia não é formar especialistas em Tecnologia e sim professores que conseguem utilizar as Tecnologias de Ensino de uma forma crítica e reflexiva. Nesse conceito então, as disciplinas dos cursos de Licenciatura não devem simplesmente abordar procedimentos de como se utilizar softwares, por exemplo. Discussões sobre como utilizar esses recursos na Educação Básica e no próprio Ensino Superior são de extrema importância. A formação inicial deve também proporcionar ao futuro professor, tanto quanto possível, uma antevisão do mundo da prática profissional, promovendo o contacto com a realidade escolar. Deste modo, é importante que a estes seja dada a oportunidade de conhecer experiências e projectos realizados nas escolas e programas oficiais no âmbito da utilização das TIC (VARANDAS; OLIVEIRA; PONTE, 1999, p.3).

4 Daí cabe uma pergunta: como os professores utilizarão tecnologias na sala de aula se nem mesmo eles conseguem utilizá-la? Cury e Oliveira (2004) citam que durante um curso, realizado pela UFSCar, que abrangia os recursos tecnológicos alguns professores que não tinham familiaridade com o computador comentavam suas dificuldades em manusear o mouse e como esse fato tornava-se um obstáculo para eles (CURY; OLIVEIRA, 2004, p.25). Embora, atualmente isso ocorra com menos frequência, as tecnologias se atualizam mais rapidamente que do que podemos acompanhar. As dificuldades no trato com as tecnologias é um dos fatores que mais travam a sua utilização em sala de aula. A resposta está nos programas de formação continuada que oportunizam aos professores se apossarem dos mesmos recursos que seus alunos parecem dominar e que possam levar junto suas habilidades de hipotetizar, de questionar, de argumentar, de duvidar. Apenas deste modo o uso da tecnologia faz sentido, pois de outro modo, ela apenas escraviza e os transformam em meros apertadores de teclas (CURY; OLIVEIRA, 2004). É relevante que todas as disciplinas que possuem aspectos que possam ser utilizados e mostrados através do uso das TIC como o Cálculo, a Geometria e os Fundamentos da Matemática, por exemplo, sejam ensinadas com as TIC. O ideal seria que as TIC atuassem como uma das protagonistas no processo de ensino e aprendizagem da Matemática. De modo geral, os futuros professores não consideram que o uso das TIC pode ajudar em um ambiente escolar, ou em até mesmo em um processo de ensino e aprendizagem. A impressão inicial sobre o uso de TIC em sala de aula foi relatada por Rodrigues e Barbosa (2011) em que alguns entrevistados achavam que seria uma disciplina inútil, já que a ideia inicial era de saber usar o Datashow, Excel, e Word, e isso facilitaria a aula do professor. No entanto, o uso das TIC, vai muito além de usar um recurso para apresentação em sala de aula. Silva e Barbosa (2010) relatam a experiência da integração da aula expositiva com a investigação da função seno utilizando o software Winplot e a Internet. A atividade tinha por objetivo explorar os parâmetros da função f x a b.sen cx d, pelo recurso de animação do Winplot. Com as observações feitas a partir da animação foram investigadas, na Internet, as definições sobre o período. Neste caso, percebe-se que a ideia inicial era de que o computador seria como mero instrumento, mas que se modificou. Atualmente, as tecnologias estão mais atualizadas, e os dispositivos móveis, como celulares e tablets, têm modificado o cenário do ambiente de aprendizagem. No entanto, é

5 possível notar que a simples exploração dos recursos computacionais não é suficiente, é necessário que se tenha um objetivo de produzir Matemática. Para Lévy (1993), o conhecimento é produzido pela simulação e pela experimentação. A manipulação dos parâmetros e a simulação de todas as circunstâncias possíveis dão ao usuário de um programa uma espécie de intuição, e de imaginação, sobre as relações de causa e efeito presentes em um determinado modelo. O processo de produção do conhecimento, especificamente do conhecimento matemático, modifica-se qualitativamente. Algumas Ponderações Neste texto, procurou-se apresentar algumas reflexões da autora com o uso das TIC na sala de aula. Outras experiências podem ser encontradas em artigos de congressos e periódicos da área de Educação Matemática. É possível perceber que existe um campo vasto a ser explorado e pesquisado nesta área. As variadas versões de tecnologias e suas atualizações proporcionam conhecimentos diversificados e modos de produção distintos. O uso da Internet na sala de aula, os dispositivos móveis (celulares, tablets, entre outros) não devem ser vistos apenas como modismos. Eles devem ser vistos como coautores na produção do conhecimento matemático. Mas para que isso ocorra, tanto professores quanto alunos devem ter objetivos claros, apenas saber usar o recurso informatizado, embora seja imprescindível, não basta. É necessário que haja planejamento, organização e objetividade no desenvolvimento das atividades. Referências Bibliográficas BORBA, M. C.; PENTEADO, M. G. Informática e Educação Matemática. Belo Horizonte: Autêntica, p. (Coleção Tendências em Educação Matemática, 2). BORBA, M. C.; VILLARREAL, M. E. Humans-with-media and the reorganization of mathematical thinking: information and communication technologies, modeling, experimentation and visualization. New York: Springer, p. (Mathematics Education Library, 39). CURY, H. N.; OLIVEIRA, A. M. P. Da saliva e pó de giz aos softwares de computação algébrica: a difícil adaptação dos professores de matemática às exigências da sociedade informatizada. In: CURY, H. N. (Org.) Disciplinas matemáticas em cursos superiores: reflexões, relatos, propostas. Porto Alegre: EDIPUCRS, Cap.1, p

6 LÉVY, P. As Tecnologias da Inteligência: o futuro do pensamento na era da informática. (1993). Tradução de C. I. Costa. Rio de Janeiro: Ed p. (Coleção Trans). RODRIGUES, P. H.; BARBOSA, S. M. Impressões que Futuros Professores têm a Respeito da Disciplina Educação Matemática e Tecnologias de Ensino : antes e depois. In: Anais do II CNEM Congresso Nacional de Educação Matemática e IX EREM Encontro Regional de Educação Matemática. Ijuí: Unijuí, SILVA, G. S.; BARBOSA, S. M. Atividades Investigativas e Tecnologias de Ensino: dinâmica de uma aula sobre função seno com ajuda do software Winplot. In: III SHIAM - Seminário de Histórias e Investigações de/em Aulas de Matemática, 2010, Campinas. Anais do III SHIAM - III Seminário de Histórias e Investigações de/em Aulas de Matemática. Campinas : UNICAMP, p Disponível para download < wlwjlmdytzjzkzdgxnzhhnzmz&hl=pt_pt> VARANDAS, J. M., OLIVEIRA, H.; PONTE, J. P. A Internet na formação de professores. In: Actas do ProfMat 99. Lisboa: APM, p