Cultura e etnicidade: : alguns conceitos
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- Luna Bonilha Amorim
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1 Cultura e etnicidade: : alguns conceitos Professora Mestre Claudiana Soerensen ALGUNS CONCEITOS DE CULTURA MICHEL DE CERTEAU: cultura como processo coletivo e incessante de produção de significados que molda a experiência social e configura as relações sociais; RAYMOND WILLIANS: cultura como sistema significante pelo qual uma ordem social é comunicada, reproduzida, experimentada e explorada; EMILE DURKHEIM: cultura como elemento de reprodução social: fato social. CARACTERÍSTICAS DE CULTURA CULTURA como traço distintivo do homem: Capacidade e hábitos adquiridos e reproduzidos pelos homens; É cumulativa, transmissível e dinâmica: tradicional e transformadora; Vive-se a cultura ao mesmo tempo que a produz: ação simbólica junto à ação prática; Sistema de significações mediante o qual uma sociedade é pensada, reproduzida e vivenciada; Diferentes respostas para resolver os mesmos problemas.
2 DIVERSIDADE CULTURAL Cada realidade cultural possui uma lógica própria, como resultado de sua história particular; Culturas não estão isoladas, levando-se em consideração as relações tanto internas como externas; Toda cultura teria seus próprios critérios de organização. CONCEITO ANTROPOLÓGICO DE CULTURA, ENTÃO: processo de construção da realidade que permite que as pessoas vislumbrem eventos, ações, objetos e expressões particulares de modos distintos, dando ainda significados aos comportamentos. ORIGEM DO TERMO CULTURA SEGUNDO ALFREDO BOSI Colere: cuidado com os animais e com a terra. Derivado do verbo colo; Colo: eu moro, ocupo, trabalho e cultivo; Cultus (passado de colo): campo já trabalhado por gerações. Resultado, memória (culto); Culturus (futuro de colo): o que vai ser trabalhado, cultivado; BOSI vincula estes conceitos com a idéia de colonização: domínio do território, do passado e do futuro; Cultura: cuidado com a terra, a educação e a memória.
3 CULTURA ERUDITA X CULTURA POPULAR CULTURA POPULAR: inculta, que a tradição; CULTURA BURGUESA: racional e progressista; CULTURA DE MASSA: surge com a Revolução Industrial, nas cidades; a urbanização desfaz os laços simbólicos ligados à vida comunitária rural e os vinculados à nobreza. Surge expressões culturais produzidas por profissionais: circo e teatro popular, romances, orquestras. (Eric Hobsbawn) CULTURA ERUDITA E POPULAR Cultura erudita Cultura popular Seria privilegiada pelos meios acadêmicos, de comunicação e oficiais; Está associada ao domínio da escrita, da leitura e do cientificismo; Elite não significa homogeneização; A não oficial, vinda do povo (subalternos), constituída a partir de uma situação de dominação; Tendência em se pensar a cultura popular como caricatural e simplista; Popular não significa homogeneização; Produtores: elite política, econômica e cultural. Cultura popular não seria nem inteiramente dependente, nem autônoma, nem pura imitação ou criação; Baseada em valores práticos e originais que dão sentido a existência, devendo levar em conta os conflitos culturais CULTURA E ACULTURAÇÃO Aculturação estudo dos fenômenos que resultam quando grupos de indivíduos, dotados de culturas diferentes, entram em contato direto e permanente, daí decorrendo uma mudança de padrões destes grupos. (OLIVEIRA FILHO, João Pacheco, 1988, p. 30)
4 Problematizando a noção de aculturação Como entender a cultura em situações de contato, tido como períodos instáveis? Como analisar as diferenças culturais decorrentes das situações de dominação presentes nos agrupamentos humanos? Perigos: Noção de trocas culturais leva a idéia de passividade: Oculta as dominações; Omite a capacidade de cada grupo de entender o contato a partir de suas próprias experiências; Garante apenas uma direção para o contato: prevalece a visão do vencedor e a idéia de que uma cultura sobrepõe a outra. Cuidados no uso do termo aculturação, por Nathan Wachtel Deve ser inserido em um processo histórico; Tem como premissa a interação cultural e não o desaparecimento das culturas; Pode resultar na dominação de uma sobre a outra; Busca de espaços garantem a sobrevivência de uma identidade por parte dos grupos ameaçados; Processo de dominação não é apreendido da mesma forma por todos os membros da sociedade.
5 CULTURA DE MASSA Revolução Industrial - nova era para a cultura popular: Organizada para uma indústria de lazer; Estruturada para um público massa, distinta da alta cultura; Vínculo com aspectos da ideologia burguesa: liberdade, democracia, cidadania e progresso; Jornal aparece como meio de comunicação, persuasão e interpretação do real, em substituição da igreja e da universidade; Surgimento do midcult ou kitsch: cultura média, quando o consumo se coloca entre o refinado e o massificado; Kitsch: não há criação ou inovação, mas cópia do que aparece agradavelmente moderno, que o diferencia da massa; Midcult e Masscult: só são possíveis graças a indústria cultural. Cultura de massa pressupõe passividade e homogeneização. Aceitação da cultura de massa: elementos de consolidação e de identidade; A cultura de massa modifica-se e cria novos significados em fluxo contínuo e dialético. CULTURAS HÍBRIDAS São processos socioculturais nos quais estruturas ou práticas discretas, que existiam de forma separada, se combinam para gerar novas estruturas, objetos e práticas. CANCLINI, Nestor. Culturas híbridas. São Paulo: Edusp, 2003, p. 19.
6 CARACTERÍSTICAS DE CULTURAS HÍBRIDAS Busca de soluções para falsas oposições: cultura popular X cultura erudita; Não há fonte puramente popular ou erudita; Hibridismo não é fusão, mas contradição; União de experiências distintas, em um mesmo espaço. Hibridismo: prática de reelaboração e/ou adaptação a novas realidades e exigências; O hibridismo ajuda a compreender : Aliança no novo imaginário com a indústria cultural; Aliança do popular com o turista; Aliança entre grupos étnicos e a metrópole, e deste com o mundo global; Perigo do híbrido: Passividade das relações; Aliança sem conflito; Ignorar as leituras e as escolhas realizadas pelos grupos; Ignorar a constituição histórica das identidades étnicas, sociais e culturais; Prevalência do homogêneo sobre o heterogêneo.
7 HIBRIDISMO E PÓS-MODERNIDADE No mundo pós-moderno não há fronteiras entre os Estados; Globalização intensifica a interculturalidade: mercados mundiais de bens, dinheiros, mensagens, migrantes e turistas; Tal processo levaria a uma diminuição de fronteiras e da autonomia das tradições locais; Cultura não é mais delimitada espacialmente, o que nos leva a idéia de indeterminação cultural. POSSIBILIDADES DE CONTATOS TROCAS CULTURAIS: Busca de espaços de sobrevivência de uma identidade por parte de grupos ameaçados; Resistência a partir da existência de algo ameaçador, que estimule o desenvolvimento de estratégias de manutenção e sobrevivência. INTEGRAÇÃO SOCIAL: Assimilação de um grupo menor por outro maior; Contato permanente e estruturado de um grupo menor com um grupo maior e globalizante. PERÍODO COLONIAL: os europeus eram os estrangeiros e estavam em menor número, e os índios deveriam ocupar o papel de uma sociedade maior e globalizante.
8 INTERAÇÃO SÓCIO-CULTURAL Necessidade de estratégias de comunicação que torne possível a convivência; Possibilidade de uso: modelo colonial em implantação, tão novo para o europeu como para o indígena; Tensões devido à necessidade de recombinação de aspectos culturais tanto do universo simbólico do índio como do europeu; Não há integração, pois não se esgotam os traços culturais do outro, mas sim uma recombinação, mesmo que violenta, destes símbolos. ETNICIDADE E RAÇA RAÇA: Diferenças naturais e biológicas; ETNIA: diferenças sócio-culturais e apreendidas; Etnias podem possuir similaridades biológicas (parentesco), mas não é regra; Raça e etnia podem se confundir; Pode haver vários grupos étnicos no interior de uma raça, e várias raças fazendo parte de um grupo étnico; O conceito de raça é, na atualidade, questionado e alguns dizem que já foi extinto usando o conceito de etnia, somente. ETNICIDADE: definição Falar a mesma língua, estar radicado no mesmo ambiente humano e no mesmo território, possuir as mesmas tradições são fatores que constituem a base fundamental das relações ordinárias da vida cotidiana. Marcam tão profundamente a vida dos indivíduos, que se transformam num dos elementos constitutivos da sua personalidade e definem, ao mesmo tempo, o caráter específico do modo de viver de uma população. Por outro lado, as relações sociais que derivam do fato de pertencer a mesma etnia criam interesses coletivos e vínculos de solidariedade caracteristicamente comunitários. (BOBBIO, Norberto (et all). Dicionário de Política. SP: Imprensa Oficial, 2000, p. 449)
9 ETNICIDADE: principais características Relacionamento entre grupos que se consideram, ao são considerados, cultural ou socialmente distintos. Grupos étnicos vistos como diferentes dos demais, seja pelos outros grupos, seja por eles mesmos. Diferença pode ser determinada pelo outro e incorporada pelo grupo. Identidade étnica: auto-identificação pela sociedade adjacente. Diferença étnica legitimada por aspectos históricos, sociais e políticos. Quando dois grupos étnicos se encontram, tem-se uma totalidade na qual as sociedade são entendidas. Cada grupo étnico elabora um discurso sobre o outro, a partir de sua historicidade e perspectivas. Tais relações discursivas levam à redefinição do ser étnico. Essa redefinição é um processo dinâmico, definido pelo entorno social. Necessidade de aprender uma etnia quando há perigo de perder sua identidade. Não é a diferença cultural que está na origem da etnicidade, mas é a comunicação cultural que sugere a idéia de diferença. Etnicidade é construída a partir da relação com o outro alteridade. ETNICIDADE, CLASSES SOCIAIS, GRUPOS DE STATUS CLASSES SOCIAIS: indivíduos que se unem por interesses comuns; Classes possuem uma organização, uma cultura e uma consciência comum; Classe pode contar com vínculos étnicos, fortalecendo sua ação; GRUPOS ÉTNICOS podem estar latentes e serem ativados por interesses comuns; GRUPOS DE STATUS: elemento de diferenciação baseado na hierarquia. Também possuem cultura própria e só existe em relação ao outro; Etnicidade pode ser característica para um grupo de status. Idéia de superioridade étnica.
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