2.º Curso de Estágio de 2005 TESTE DE DEONTOLOGIA PROFISSIONAL
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- Theodoro Borba Bandeira
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1 2.º Curso de Estágio de 2005 TESTE DE DEONTOLOGIA PROFISSIONAL Analise a hipótese que a seguir se enuncia e responda, depois, às questões suscitadas sobre a mesma, fundamentando as respostas não só com as disposições do Estatuto da Ordem dos Advogados e do Código Deontológico do CCBE, se este Código fosse aplicável, mas também com outras disposições legais aplicáveis, e eventualmente com a doutrina e jurisprudência pertinentes. António, Advogado de Carlos em acção de divórcio litigioso e, depois, em inventário para separação de meações, processos que correram termos pelo Tribunal Judicial da Comarca de Penafiel, remeteu-lhe para a sua actual residência em Lisboa, nos princípios de Janeiro de 2006, uma vez terminados os seus serviços, nota de despesas e honorários pelos serviços prestados. Ainda antes do fim daquele mês, Carlos aprazou com António, no escritório deste e na presença de Joaquim, empregado de António, pagar-lhe o total daquela nota até ao fim do seguinte mês de Fevereiro, tendo ficado estabelecido que Joaquim entregaria a Carlos, contra cheque deste, o respectivo recibo, que António deixaria assinado, se tivesse de ausentar-se para o estrangeiro. Carlos não apareceu mais e António instaurou acção de honorários, juntando à petição despacho de autorização no sentido de poder articular nela que Carlos aceitara pagar, até o fim do mês de Fevereiro, o total pretendido por António, tendo este deixado até o respectivo recibo, para ser entregue a Carlos, como fora ajustado com este, uma vez que António estava então no estrangeiro. Carlos contestou a acção através do Advogado Francisco, que alegou, além do mais, que o réu se arrependera de ter ajustado com António o pagamento da conta de honorários, porque estes não tinham sido fixados com moderação, mas antes com o mesmo apetite do autor por dinheiro como por lautos almoços que ele costumava devorar no restaurante ao lado do seu escritório, e porque veio a considerar desnecessárias, apesar de descriminadas na conta, as reuniões de António com João, Advogado da ex-mulher de Carlos, com vista à fixação, por acordo, dos bens comuns que vieram a ser
2 relacionados, a fim de se evitarem, sobre esse ponto, litígios entre as partes, impugnando que tais reuniões, com aquele objectivo, tivessem ocorrido. Notificadas as partes para indicarem provas, Francisco requereu que o Tribunal solicitasse laudo de honorários e António arrolou como testemunhas o seu empregado Joaquim, para prova dos referidos factos que ele presenciou, e o Advogado João, para prova das ditas reuniões com o objectivo que tiveram. O requerimento de Francisco no sentido de ser solicitado laudo foi indeferido. Em audiência, Francisco requereu que não fossem admitidos a depor quer Joaquim, a pretexto de se tratar de prova proibida e ineficaz, nos termos do artigo 87.º - n.º 7, com referência ao seu n.º 5, do EOA, quer o Advogado João, apesar de ser portador de despacho de autorização, porque só por erro manifesto e notório podia ter sido emitido tal despacho. O Meritíssimo Juiz admitiu o depoimento de Joaquim, mas não o do Advogado João. a) Onde terá sido instaurada por António a acção de honorários? - 2 valores b) Porque juntou António à petição o despacho de autorização referido na hipótese analisada? - 2 valores c) E estavam verificados os pressupostos para ser proferido tal despacho? - 2 valores d) O critério da moderação ainda é atendível na fixação de honorários, como Francisco pressupôs na contestação? - 2 valores e) Como devem valorar-se os termos em que Francisco contestou? - 2 valores f) Para poder assumir o patrocínio de Carlos, que devia Francisco ter feito? - 2 valores g) Porque foi indeferido o requerimento de Francisco no sentido de ser solicitado pelo Tribunal laudo de honorários? - 2 valores h) Não tinha razão Francisco ao requerer que não fosse admitido o depoimento de Joaquim, com base nas disposições do EOA que invocou? - 2 valores i)porque não foi admitido a depor o Advogado João? - 2 valores Mais 2 valores para aspectos gerais como desenvolvimentos pertinentes, argumentação, clareza, etc.
3 2.º Curso de Estágio de 2005 TESTE DE DEONTOLOGIA PROFISSIONAL Grelha de correcção a) O tribunal competente para a acção de honorários de mandatários judiciais e de cobrança de quantias adiantadas ao cliente é o tribunal da causa onde foram prestados os serviços e, portanto, no caso em questão, é o Tribunal Judicial da Comarca de Penafiel, devendo aquela acção correr por apenso a esta, nos termos do artigo 76.º - n.º 2 do Código de Processo Civil - 1 valor; é Jurisprudência dominante e Doutrina unânime que, se o tribunal da causa onde foram prestados os serviços não tiver competência em razão da matéria, a acção deve ser instaurada no lugar do domicílio do réu, nos termos da regra geral do artigo 85.º - n.º 1 do mesmo Código - 1 valor. b) Sem despacho de autorização de cessação de segredo profissional, António não podia alegar, na petição inicial, que Carlos aceitara pagar, até ao fim do mês de Fevereiro, o total da conta de despesas e honorários de António, tendo este deixado até o respectivo recibo em poder de Joaquim, para ser entregue a Carlos, como fora ajustado com este, porque o Advogado é obrigado a guardar segredo profissional quanto a todos os factos conhecidos no exercício das suas funções, designadamente a factos respeitantes a assuntos profissionais revelados pelo cliente, nos termos do corpo do n.º 1 e da alínea a) do artigo 87.º do EOA e do n.º do CD do CCBE, não podendo ser revelados, pela simples narração na petição, os factos cobertos pelo segredo - 1 valor ; António tinha de obter a cessação do segredo, antes de serem revelados os factos sigilosos, mediante autorização do Presidente do Conselho Distrital, nos termos do artigos 87.º - n.º 4 e 51.º - n.º 1 - m) do EOA, ou, em recurso, autorização do Bastonário, nos termos daquele primeiro artigo e do artigo 39.º- n.º 1 - o), sob pena de infracção disciplinar e de a autorização lhe ser negada, se fosse solicitada depois da revelação, devendo ser junto aos autos o despacho de autorização sob pena de se tratar de prova proibida e ineficaz, nos termos do n.º 5 do mesmo artigo 87.º, disposição que deve interpretarse por forma a tornar também proibida e ineficaz a própria alegação de factos cobertos pelo segredo - 1 valor.
4 c) O primeiro pressuposto para poder ser proferido despacho de autorização de cessação de segredo profissional é o da absoluta necessidade de invocação ou prova dos factos cobertos pelo segredo, devendo atender- se, designadamente, à actualidade da necessidade, às regras sobre ónus da prova, à inexistência de outras provas e à essencialidade dos factos para o resultado do processo, pressuposto que manifestamente se verifica na hipótese analisada - 1 valor; o outro requisito para a autorização da cessação é o da defesa da dignidade, direitos e interesses legítimos do próprio Advogado ou do cliente e só pode cessar contra este, se for para defesa do Advogado, requisito cuja verificação é evidente no nosso caso - 1 valor. d) O artigo 100.º - n.º 1 do actual EOA refere-se ao critério de os honorários deverem corresponder a uma compensação económica adequada pelos serviços efectivamente prestados e o CD do CCBE, em 3.4.1, ao de os honorários deverem ser justos e razoáveis, mas estes critérios não são substancialmente diferentes do critério da moderação do anterior EOA -1 valor; o artigo 15.º - n.º 5 do Regulamento de Laudos continua a referir-se à imoderação dos honorários fixados, prescrevendo que, em tal caso, o relator deve propor o valor dos honorários que, se tivessem sido fixados, mereceriam laudo favorável - 1 valor. e) A alegação de que os honorários tinham sido fixados com o mesmo apetite do autor por dinheiro como por lautos almoços que ele costumava devorar no restaurante ao lado do seu escritório viola o dever entre Advogados de procederem com a maior correcção e urbanidade e absterem-se de qualquer ataque pessoal, alusão deprimente ou crítica desprimorosa, previsto no artigo 107.º - n.º 1 - a) do EOA, dever que deve ser cumprido, mesmo quando o Advogado litiga em causa própria, aparecendo na dupla qualidade de parte e Advogado, pois a este é devido aquele procedimento - 1 valor; o CD do CCBE dispõe que o Advogado deve actuar com cortesia em relação aos Advogados de outros Estados-membros - 1 valor. f) Francisco, antes de apresentar a contestação como Advogado de Carlos, devia comunicá-lo por escrito a António, pois que, nos termos do artigo 91.º do EOA, o Advogado, antes de intervir em qualquer procedimento
5 disciplinar judicial ou de qualquer outra natureza contra outros Advogados ou Magistrados, comunicar-lhes- -á a sua intenção, por escrito, com as explicações que entenda necessárias, salvo tratando-se de procedimentos com natureza secreta ou urgente - 1 valor; noutros Estados-membros da União Europeia, o sistema é diferente, pois é o de se informar a Ordem dos Advogados, dispondo, por isso, o CD do CCBE, no n.º 5.9, que, no caso de litígio entre Advogados, o que não é o caso da nossa hipótese, o Advogado, depois de contactar o Colega e de tentar uma solução amigável, deve, antes de iniciar o processo, informar do facto as Ordens de que dependem os dois Advogados, por forma a permitir-lhes prestar auxílio na obtenção de uma resolução amigável - 1 valor. g) Uma vez que António alegou na petição que Carlos aceitara pagar, até ao fim do mês de Fevereiro, o total da conta de despesas e honorários, o que até foi aceite na contestação, onde se alegou que o réu se arrependera desse ajuste com António, não tinha interesse para a decisão da causa e nem podia ser levada à base instrutória a questão de se saber se houve ou não imoderação na fixação dos honorários, pois houve ajuste posterior, um contrato que tem de ser cumprido por Carlos - 1 valor; e faltava, para a emissão de laudo, o pressuposto da existência de conflito ou divergência, expressos o tácitos, entre o Advogado e o constituinte, acerca do valor dos honorários estabelecidos em conta já apresentada, nos termos do artigo 7.º - n.º 1 do Regulamento de Laudos - 1 valor. h) Beneficiário do dever de segredo profissional do Advogado e dos empregados deste, como Joaquim, nos termos do n.º 7, com a cominação do n.º 5, do artigo 87.º do EOA é, em princípio, o cliente do Advogado, podendo o cliente dar o seu consentimento para a cessação do segredo - 1 valor; mas pode o segredo profissional do Advogado cessar, mesmo contra o cliente, para a defesa da dignidade, direitos e interesses do próprio Advogado mediante despacho de autorização, nos termos do n.º 4 do referido artigo 87.º, como foi o caso da hipótese analisada,e então pode o Advogado dar o seu consentimento ao seu empregado, mesmo tacitamente, através da sua inclusão em rol de testemunhas, para a revelação dos factos que o próprio Advogado está autorizado a revelar - 1 valor.
6 i) Não pode ser autorizada a cessação do segredo, nos termos do artigo 87.º - n.º 4 do EOA, para defesa de interesses de terceiros que não sejam também do cliente - 1 valor; já não será assim nos casos do artigo 135.º - n.º s 3 e 5 do Código de Processo Penal - 1 valor.
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