LITERATURA DE CORDEL COMO FONTE DE INFORMAÇÃO, LAZER E RENDA UMA EXPERIÊNCIA SOCIAL E SOLIDÁRIA.
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- Giuliana Gameiro Beppler
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1 LITERATURA DE CORDEL COMO FONTE DE INFORMAÇÃO, LAZER E RENDA UMA EXPERIÊNCIA SOCIAL E SOLIDÁRIA. Autora: Jaciete de Souza Universitária do Curso de Letras Centro Universitário do Norte Paulista UNORP Professor responsável Antônio Fábriga Ferreira Titulação: Mestre em Educação Campus de Marília (UNESP)
2 2 O presente trabalho tem como objetivo divulgar a atividade que vem sendo desenvolvida pelo Centro Universitário do Norte Paulista (UNORP) junto ao Programa de Alfabetização Solidária, envolvendo parcerias com o Projeto Cidadão, Cáritas Diocesana e Secretaria de Assistência Social do município de São José do Rio Preto SP, em razão da emergente necessidade de um enfrentamento consciente e consistente do grave problema do analfabetismo e da falta de oportunidades de geração de renda que assola o país. Inicialmente cumpre-nos falar que nas culturas que não conheciam a escrita, a transmissão da história se dava através da oralidade: O narrador relatava experiências passadas a ouvintes que participavam do mesmo contexto comunicacional e social. Com a morte dos mais velhos, inúmeros dados eram apagados daquele grupo social. O saber e a inteligência se identificavam com a memória, especialmente a auditiva. A escrita deu início a uma segunda etapa na história da humanidade. Com ela, mudaram as relações entre sujeito e a memória social. O indivíduo pôde projetar sua visão de mundo, sua cultura, seus sentimentos e vivências no papel. Ao fazer isso, pôde analisar o próprio conhecimento das coisas do mundo, permitindo-se repensar em sua atuação no meio em que vive e que tipo de conhecimentos, informações e heranças quer transmitir para outras culturas e outros tempos. A escrita torna presente e atemporal a palavra dos líderes, suas conquistas, costumes, quedas e leis. O fato é que mesmo vivendo num mundo letrado, inúmeras pessoas ainda vivem marginalizadas na escuridão, que atende por nome de analfabetismo. A sociedade as exclui, permitindo que usufruam apenas dos restos deixados pela pequena fatia letrada. E esses seres humanos a cada dia ajudam a aumentar o número de migrantes do campo para a cidade, inchando de forma desumana as favelas dos médios e grandes centros urbanos. Foi analisando essa situação precária, cada vez mais presente em nosso cotidiano, que implementamos O Projeto: Leitura Uma fonte de informação, lazer e renda, visando trabalhar com a literatura de cordel nas camadas populares de municípios do Norte e Nordeste e periferia
3 3 especificamente do Município de São José do Rio Preto SP - Bairro Parque da Cidadania. Cabe-nos explicitar o que seja e significa a Literatura de Cordel nas classes menos favorecidas e, em seguida, passaremos às considerações dos aspectos metodológicos, buscando evidenciar sistematicamente o aporte teórico-metodológico que dá embasamento a nossa praxis. O que é e quando foi introduzida a literatura de cordel no Brasil? Foi introduzido no século passado por Leandro Gomes de Barros e chama-se literatura de cordel por seus livretos serem comercializados, pendurados num cordão em feiras, eventos, escolas e universidades... A poesia de cordel é construída a partir de acontecimentos locais, regionais, nacionais e universais e, também, através de contos, lendas e casos imaginários. A pessoa que escreve cordel é chamada de Cordelista e canta seus versos em locais públicos ou privados para atrair seus leitores. Os versos de cordel são escritos tradicionalmente em quartrilhas ou sextilhas. No entanto, a nova geração de cordelistas tem procurado inovar quanto à métrica. Somente a linguagem é que continua objetiva e acessível a qualquer classe social. No sertão nordestino conhecemos analfabetos que escrevem cordel. São os famosos repentistas que cantam seus versos e necessitam de escribas para registrá-los. Partindo dessa perspectiva, o nosso objetivo foi o de direcionar os alunos e os moradores da periferia, jovens e adultos analfabetos, a enxergarem na literatura de cordel um meio mais viável para falar da sua história de vida, facilitando, dessa forma, o processo de ensino aprendizagem, possibilitando, assim, a profissionalização do Cordelista, levando-o a acreditar que a leitura, além de ser uma fonte de informação e lazer, pode transformar-se numa fonte de renda. Metodologia Como coordenadores setoriais, visitamos cada município parceiro de nossa IES. Durante essas visitas percebemos que, com a chegada da
4 4 tecnologia, as características típicas, costumes e lendas do povo nordestino e nortista haviam sido deixados de lado. Sabendo que especialmente o Nordeste é o lugar que concentra o maior número de cordelistas, contadores de causos e repentinas. Resolvemos então montar versos, de acordo com a realidade local, para recitarmos durante as reuniões com os alfabetizadores e nas visitas em salas de aula. Esta prática foi aguçando a criatividade dos educandos, educadores e, até mesmo, de moradores da região, que tomaram conhecimento do nosso trabalho. Como iniciantes nesta prática de criar, tirar versos da imaginação, muitas vezes fomos surpreendidos pelos desafios que nos foram feitos por adultos alfabetizandos do P.A.S. Nós, coordenadores setoriais, demos o passo inicial criando e direcionando alfabetizandos e alfabetizadores na produção de textos populares coletivos. O próximo passo foi envolver os alfabetizandos no processo de ouvir e contar casos, acontecimentos, piadas, para enriquecer um texto coletivo, posteriormente produzido com a participação de todos. Os versos iam sendo tirados da imaginação e tecendo uma poesia, através da oralidade de pessoas humildes, vividas e conhecedoras dos ditos populares. Essas poesias, a princípio escritas na lousa pelo professor, eram em seguida copiadas pelos alunos que as usavam como instrumento de alfabetização. Através de textos que eles mesmos criavam o professor trabalhava a composição de palavras, identificação de letras, número de sílabas e significados. Desta forma, o processo de escrita e leitura era dado de acordo com o conhecimento interno que cada alfabetizando já trazia inserido dentro do seu eu. Resultados. Os textos poéticos, produzidos pelos coordenadores setoriais e alfabetizandos, deram origem ao primeiro livreto titulado: TAPIOCA, AÇAÍ, TACACÁ E RAPADURA, comercializado pelos coordenadores setoriais dentro do Centro Universitário do Norte Paulista (UNORP).
5 5 A renda foi revertida para a publicação de novos livretos escritos por alfabetizandos de nossos municípios parceiros. A idéia de enxergar na literatura de cordel uma fonte de informação, lazer e renda foi implementada no projeto cidadão de São José do Rio Preto - SP originando o livreto Andanças que contém histórias de vida contadas, através de versos, por mães de crianças que participam da jornada ampliada do PETI ( Programa de Erradicação do Trabalho Infantil) e Bolsa Escola. Conclusões Nos estritos limites deste trabalho chegamos à conclusão de que trabalhando com a comunidade, a literatura de cordel pode atingir camadas populares a quem, fundamentalmente, se destina. Concluímos ainda que, trabalhando com a realidade do indivíduo, suas experiências acumuladas, desejos, anseios e objetivos e tendo como resultado final um produto palpável que venha contribuir para uma melhor qualidade de vida, o ser humano cresce como pessoa e profissional, procurando produzir com qualidade, para compreender e modificar a realidade global de seu contexto social. Referência Bibliográfica CHIAPPINI, L (coord. Geral) e GERALDI, J.W.(coord). Aprender e ensinar com textos dos alunos. São Paulo: Marca d Água, 1995 CAGLIARI, L.C. Alfabetização e Lingüística. São Paulo. Scipicione, 1990 FREIRE, P. A pedagogia do oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978
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