HISTÓRICO DA NOTAÇÃO MUSICAL (DA ANTIGUIDADE ATÉ OS DIAS ATUAIS)
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- Lúcia de Carvalho Barros
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1 HISTÓRICO DA NOTAÇÃO MUSICAL (DA ANTIGUIDADE ATÉ OS DIAS ATUAIS) Faremos a seguir, um pequeno histórico da notação musical desde os seus primeiros registros até os dias atuais, para que se compreenda a importância do estudo da Teoria Musical e da leitura de partituras. Desde o princípio dos tempos, houve interesse por parte do homem em registrar informações. Do homem das cavernas até os tempos atuais, tais registros foram desenvolvidos e aprimorados. Com a música não poderia ser diferente: A forma de representar a linguagem musical sofreu transformações ao longo da História, transformações estas que ainda continuam acontecendo. Porém, a forma de representação mais utilizada nos dias atuais para a escrita musical é a partitura, com a pauta, claves, barras de compasso, figuras de notas, figuras de pausas, e outros sinais que, com os anteriores, formam o conjunto de símbolos desta forma de escrita. (FREDERICO, 2008, p.1). Segundo Alaleona (1984), na Antiguidade, os Gregos tinham sistemas musicais derivados das letras do alfabeto (notação literal ou alfabética). A notação literal ainda continuou a ser usada na Idade Média, substituindo-se as letras gregas pelas latinas, mas foi logo alcançada pela notação neumática, mais adequada e cômoda. Apesar disso, restam ainda hoje vestígios dos nomes e dos sinais literários das notas: la si do re mi fa sol A B C D E F G Encontram-se, também, vestígios da notação literal em nossas claves 1 (Figura 01). Estes sinais nada mais são que letras: Figura 01 Algumas formas que as letras assumiram no decorrer dos séculos em relação às claves atuais. A notação neumática baseava-se em princípio inteiramente diverso: indicava à visão, por sinais, o movimento ascendente ou descendente da melodia. Esses sinais constavam de 1 Sinais colocados no início da pauta para dar nome às notas.
2 pequenas linhas dirigidas para baixo ou para cima, espécie de pequenos vértices ou acentos, colocados sobre as sílabas do texto. (ALALEONA, 1984). Figura 02 Exemplo de neumas Compreende-se, logo, que tal notação estava longe de ser precisa e completa, porque embora indicando o subir e descer da voz, não indicava o intervalo exato. Era somente um meio de lembrar melodias que todos tinham no ouvido e conhecidas por tradição. (ALALEONA, 1984) Sentiu-se, por isso, a necessidade de aperfeiçoá-la. A partir da Idade Média, século VIII, aproximadamente, a notação musical começa seu desenvolvimento, e quem realizou progresso decisivo a esse respeito foi o monge beneditino Guido D Arezzo (Séc. XI - Itália), permanecendo até hoje os termos musicais propostos por seu tratado. Guido D Arezzo colocou as neumas sobre um sistema de quatro linhas, aproveitando, para indicar os graus da escala, tanto as linhas como os espaços. Hoje são usadas cinco linhas porque se verificou, pela experiência, ser esse número o mais cômodo e claro. Os livros de canto gregoriano conservam até hoje a notação com quatro linhas, como nos tempos de Guido D Arezzo (Figura 03). Figura 03 Exemplos de neumas Fonte: ORTOLAN, 2011 Segundo Alvarenga (2009), com o processo de Guido D Arezzo passaram as neumas a indicar, além da direção em que se movia a voz, a amplitude exata do intervalo. Guido D Arezzo introduziu também e, em consequência, para assinalar o ponto de partida na leitura de notas, o uso das claves, das quais as mais antigas são as de FA e DO. A clave de SOL surgiu no
3 século XII, passando a ser extensamente usada no século XIII. Colocadas as neumas sobre as linhas, estas sofreram pouco a pouco modificações de forma, pois se sentiu a necessidade de tornar-lhes mais grossas as extremidades para indicar com maior clareza o ponto de chegada da voz. Assim, transformaram-se, gradativamente, nas notas atuais. A figuração (figura de notas) apareceu mais tarde. Enquanto a música se manteve monódica, não houve necessidade de estabelecer com exatidão o valor dos sons e constranger o ritmo numa quadratura convencional. Bastava indicar apenas a altura dos sons. Foi somente quando se começou a cantar a várias vozes, isto é, com o início do contraponto 2 (polifonia), que para tornar possível a marcha conjunta das diversas vozes, sentiu-se necessidade de fixar a duração exata de cada som. (ALVARENGA, 2009) Para distinguir entre sons de valores diferentes, introduziu-se o uso de notas de formas diversas (figuras). As figuras mais antigas são as mostradas na Figura 04: Figura 04 Figuras de notas antigas. Para indicar a mudança de velocidade no tempo, empregava-se, na Idade Média, apenas a chamada aumentação e diminuição. Os sinais: Allegro, Andante, etc. são de origem bastante recente, e aparecem nos séculos XVII e XVIII. No final do século XII surge uma escola de música em estilo polifônico em Paris: a escola de Notre Dame. Atribui-se a dois organistas da escola de Notre Dame, Léonin e Perotin (mestres de coro da Catedral), a criação final da música polifônica para três ou quatro vozes simultâneas, nos séculos XII e XIII. O período anterior às primeiras manifestações da polifonia, na música ocidental, é denominado o período Ars Antiqua (Arte Antiga), em contraposição à Ars Nova (Arte Nova), própria da fase em que a polifonia se ergueu como a máxima manifestação musical. A Ars Nova se distingue pela nova notação, surgida entre os séculos XII e XIV, na qual já se pode saber a duração das notas, no sistema denominado Mensuralismo. 2 O contraponto, na música, é uma técnica usada na composição onde duas ou mais vozes melódicas são compostas levando-se em conta, simultaneamente: a qualidade intervalar e harmônica gerada pela sobreposição de duas ou mais melodias.
4 A nova música recebeu a denominação de musica mensurallis (música medida), em oposição ao canto gregoriano, denominado musica plana, que não possuía medida de tempo. A introdução da notação de tempo, na música, ou métrica musical, surgiu como uma necessidade natural da música polifônica. Se era possível manter o compasso em uma música monofônica, isto se tornou irrealizável na polifonia. Para que os cantores não saíssem do compasso, eles deviam seguir intervalos de tempo fixos, o que só se realizou à medida que a métrica musical se aperfeiçoava na própria evolução da notação. (ALVARENGA, 2009, p. 283) Quando se começou a cantar a várias vozes, para que se tornasse possível a coordenação destas, percebeu-se a necessidade da fixação da duração dos sons. Para isto, introduziram-se as diversas formas (figuras), o que se denominou Notação Proporcional. A barra de divisão de compassos surgiu inicialmente no século XVI. A pauta tanto podia ter cinco linhas, para música vocal, ou até 15 linhas, para música instrumental, sendo que as denominadas tavolaturas (para órgão e alaúde) dos séculos XV a XVIII empregavam em geral seis linhas. No século XVII, a harmonia e a tonalidade se consolidaram e, com elas, a escala maior de DO. A tríade tonal se fixou nos acordes de fundamental, terça e dominante, e os graus da tonalidade se definiram. Também as claves se definiram, assim como a pauta, em duas séries de cinco linhas (o sistema de onze linhas, ou dois pentagramas, é denominado endecagrama): Figura 05 Endecagramas Fonte: GOMES, 2011 ou As notas se tornaram redondas, com hastes ao lado; fixaram-se os sinais numéricos indicadores de compasso. Surgiu a barra de divisão dos compassos e as partituras tornaram-se comuns. A notação musical que é usada atualmente se reporta ao século XIX, demonstrando que a mesma já estava bem delineada nesta época. No século XX, surgem notações ditas contemporâneas, mas sua aplicação é menor em relação à notação clássica, não sendo tão usadas atualmente. (ALVARENGA, 2009). Através deste pequeno histórico, podemos perceber a importância que o homem dá ao registro de suas ideias musicais desde a antiguidade até os dias atuais, como forma de manter viva a música como arte em todos os seus períodos, contribuindo inestimavelmente para a propagação do conhecimento musical.
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