APELAÇÃO SEM REVISÃO Nº /2 Mogi das Cruzes Apelante: Maurício Guina Pires Apelado: Arnaldo Rufino Lopes Parte: Wagner Alves da Silva

Transcrição

1 APELAÇÃO SEM REVISÃO Nº /2 Mogi das Cruzes Apelante: Maurício Guina Pires Apelado: Arnaldo Rufino Lopes Parte: Wagner Alves da Silva EMBARGOS À EXECUÇÃO. AÇÃO DE DESPEJO POR FALTA DE PAGAMENTO CUMULADA COM COBRANÇA. TÍTULO JUDICIAL. SENTENÇA. FIADOR QUE NÃO INTEGROU O PÓLO PASSIVO. INADMISSIBILIDADE DA EXECUÇÃO. Tendo o fiador apenas sido cientificado dos termos das ações cumuladas, não está legitimado para sofrer execução das verbas impostas pela sentença que as acolheu, porque o título executivo judicial representado por aquela decisão, não foi em direção a ele lançado, mas, somente, contra o inquilino. O direito de execução que o Apelante tem contra o fiador não decorre do título judicial consistente na sentença proferida no pedido de retomada, e, sim, do contrato de locação onde foi estabelecida a fiança, que é título executivo extrajudicial. Voto n º Visto, ARNALDO RUFINO LOPES opôs Embargos à Execução que contra si e WAGNER ALVES DA SILVA é movida por MAURÍCIO GUINA PIRES, partes qualificadas nos autos, alegando nulidades da citação, da sentença e do contrato de locação, excesso de execução e impenhorabilidade do bem de família. Recebido o incidente, o Embargado apresentou impugnação, que foi contestada. Vencida a instrução, seguiu-se a entrega da prestação jurisdicional: - 1-

2 "... julgo PROCEDENTES os embargos (...) por ser o embargante parte ilegítima, restando insubsistente a penhora...". "... Condeno o embargado no pagamento de honorários advocatícios que esmo 1 em 10% sobre o valor da execução..." (folha 37 - negrito e grifo do original). MAURÍCIO GUINA PIRES recorreu. Persegue a reforma da decisão aduzindo que: "... o recorrido que é o fiador na locação tratada, além de ter sido cientificado da ação de despejo (...) teve seu nome incluso no procedimento executivo (...) o que foi deferido pela ilustre sentenciante (...) portanto, na condição de fiador, passou a integrar a lide (...) na execução, pouco importando se integrou ou não a ação de despejo..." (folha 62). ARNALDO RUFINO LOPES não apresentou contra-razões. É o relatório, adotado no mais o da r. sentença. Para propor ou responder ação é necessário ter interesse e legitimidade 2. O interesse processual reflete-se na necessidade do pedido da sentença de mérito e na utilidade dessa prestação jurisdicional. Legitimidade é o consentimento dado pelo ordenamento jurídico para que alguém se afirme, em juízo, como titular de um direito material. O pedido é juridicamente possível quando não encontrar óbice ou proibição legal. São as condições da ação matéria de ordem pública que pode e deve matéria ser apreciada 1 - Conforme original. 2 - Cód. de Proc. Civil, art. 3º. - 2-

3 em qualquer época e grau de jurisdição. O Requerente será considerado carecedor da ação quando não estiverem presentes todas as suas condições (legitimidade, interesse e possibilidade jurídica do pedido). A questão de ordem pública é suscetível de ser conhecida ex officio e não exige invocação pelas partes. MAURÍCIO GUINA PIRES ingressou com Ação de Despejo por Falta de Pagamento cumulada com cobrança de alugueres e encargos contra WAGNER ALVES DA SILVA, julgada procedente. O pedido referiu-se a retomada da res locata pela caracterização do inadimplemento e para a cobrança de alugueres e dos acessórios, apenas contra o Locatário. O Fiador (Apelado) não foi citado nem integrou a relação processual. Não lhe foi resguardado o direito à ampla defesa e ao contraditório. É parte ilegítima para esta ação, não podendo responder pelas verbas impostas pela sentença ali proferida. O caput, do artigo 214 do Código de Processo Civil, dispõe que para a validade do processo é indispensável a citação inicial do Requerido. "A realização da citação é pressuposto de existência e a citação válida é pressuposto de regularidade da relação processual." 3 A mera notificação do garante serviu apenas para dar-lhe notícia (cientificá-lo) do que ocorria com o objeto da fiança. 3- NELSON NERY JUNIOR e ROSA MARIA ANDRADE NERY, "Código de Processo Civil Comentado", RT, 2ª ed., nota 3 ao art. 214, pág

4 Pelo princípio da sucumbência a atuação da lei não deve representar uma diminuição patrimonial para a parte em cujo favor se efetiva. Já o princípio da causalidade orienta para que aquele que deu causa à propositura, ou à instauração de ação judicial, ou incidente processual, deve responder pelas despesas daí decorrentes. A coisa julgada propaga seus efeitos exclusivamente em face das partes do processo onde se encontra constituída 4. O Apelante iniciou execução da sentença proferida na Ação de Despejo contra o Locatário e o Fiador, sendo formalizada a penhora sobre bem de propriedade do garante, que opôs o incidente. Como o fiador foi apenas cientificado dos termos das ações cumuladas, não está legitimado para sofrer execução das verbas condenatórias impostas pela sentença que as acolheu, porque o título executivo judicial representado por aquela decisão, não foi em direção a ele lançado, mas somente contra o inquilino. O direito de execução que o Apelante tem contra o fiador não decorre, neste caso, do título judicial consistente na sentença proferida no pedido de retomada, mas, sim, do contrato de locação onde foi estabelecida a fiança, que é título executivo extrajudicial. Na execução de sucumbência em ação ordinária de despejo, em que o título é judicial, não podem ser arrestados bens do fiador, que, a despeito de ser devedor solidário, o é por título extrajudicial." Código de Processo Civil, artigo º TACivSP - AI ª Câm. - Rel. Juiz NARCISO ORLANDI - J

5 Execução proposta contra fiador. Inclusão de verbas de sucumbência de anterior ação de despejo, de que não foi parte, impossibilidade, ainda que cientificado daquela ação. Aplicação do artigo 472, primeira parte, do Código de Processo Civil." 6 A falta de citação do fiador, para a ação de despejo por falta de pagamento, o exime da responsabilidade dos encargos da sucumbência, remanescendo, apenas, a dos alugueres e acessórios, além da multa contratual." 7 "Se o fiador em ação de despejo por falta de pagamento cumulada com cobrança for apenas cientificado e não citado, é parte ilegítima para a execução de sentença, porque não incluído no título executivo (artigos 213 c.c. 568, I, do Código de Processo Civil)." 8 recurso. Em face ao exposto, nega-se provimento ao IRINEU PEDROTTI Desembargador Relator 6-2º TACivSP - AI ª Câm. - Rel. Juiz SOARES LEVADA - J º TACivSP - Ap. c/ Rev ª Câm. - Rel. Juiz MENDES GOMES - J ºTACivSP - AI /1-10ª Câm. - Rel. Juiz NESTOR DUARTE - J