PODER JUDICIÁRIO. Voto n Visto, TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO SEÇÃO DE DIREITO PRIVADO - 34ª CÂMARA

Transcrição

1 APELAÇÃO COM REVISÃO N /6 São Paulo Apelantes: Ohanes Eivazian Ana Maria Batista Eivazian Apelados: Augusto Domingos Vieira Carvalhais Maria Lúcia Gonçalves Martins Maria Jacinta Vieira Gonçalves EMBARGOS À EXECUÇÃO. CERCEAMENTO DE DEFESA. NÃO- OCORRÊNCIA. Não houve cerceamento de defesa de qualquer ordem. O julgador sentiu-se habilitado à entrega da prestação jurisdicional diante da prova existente e que lhe ofereceu elementos de convencimento. Cumpriu a norma do art. 330, c.c. art. 740 e parágrafo único do Cód. de Proc. Civil. CONTRATO DE LOCAÇÃO. DISTRATO. PARALELISMO DAS FORMAS. A alteração do ajuste original que, de forma literal e recíproca aceitaram, implicaria em distrato total ou parcial da avença primitiva, o que só se aperfeiçoaria se houvesse equivalente instrumentação e bilateralidade, nos termos do artigo 472 do Código Civil. É o que a doutrina identifica como "paralelismo das formas". DISTRATO DO PRIMITIVO CONTRATO DE LOCAÇÃO NÃO DEMONSTRADO. Se a locação foi transferida para terceiros, não restou isto comprovado nos autos. Os documentos encartados pelos Apelantes não caracterizam o distrato do ajuste original, nem demonstram a existência de avença locatícia entre os Apelados e os eventuais adquirentes da empresa sublocatária. Há que se preservar a certeza e a segurança das relações jurídicas. Não demonstrado o distrato do pacto locativo primitivo, persiste a fiança. Voto n Visto, OHANES EIVAZIAN e ANA MARIA BATISTA EIVAZIAN opuseram Embargos à Execução que lhes movem AUGUSTO DOMINGOS VIEIRA CARVALHAIS, MARIA LÚCIA GONÇALVES MARTINS e MARIA JACINTA VIEIRA GONÇALVES, partes qualificadas nos autos, alegando, preliminarmente: - 1 -

2 "... nulidade da penhora efetuada por cerceamento do direito de nomeação..." (folha 4). "... violação ao princípio da proibição da penhora excessiva..." (folha 4). No mérito, argüíram a anulação da fiança "por desaparecimento da relação de confiança" e por excesso de execução. Seguiram-se a contrariedade e a entrega da prestação jurisdicional: "... JULGO IMPROCEDENTE o pedido...". "... arcarão os embargantes com o pagamento das custas, despesas processuais e honorários advocatícios, estes ora fixados em R$ 1.000,00... (folha destaques do original). OHANES EIVAZIAN e ANA MARIA BATISTA EIVAZIAN recorreram. Perseguem a reforma da decisão aduzindo, preliminarmente, cerceamento de defesa: "... resolveu o MM. Juiz (...) prolatar sentença (...) impedindo o prosseguimento da instrução processual, violando, dessa forma, os sagrados princípios constitucionais da ampla defesa, do contraditório e da produção plena de provas..." (folha 119). No mérito sustentam que: "... O que questiona os Apelantes/Embargantes é que descobriu-se a ocorrência de fato efetivado no dia 25/08/1998 capaz de anular o contrato de locação em questão, vindo a surgir novo pacto locatício, mesmo que verbal. Assim, entende os Apelantes/Embargantes que seu encargo de fiadores não mais subsiste após a ocorrência de tal fato informado..." (folha 121)

3 AUGUSTO DOMINGOS VIEIRA CARVALHAIS, MARIA LÚCIA GONÇALVES MARTINS e MARIA JACINTA VIEIRA GONÇALVES apresentaram contra-razões defendendo o acerto da decisão (folhas124/133). Os Embargantes interpuseram Recurso de Agravo de Instrumento "... contra a decisão de fls. 79, que recebeu a apelação apenas no seu efeito devolutivo..." (folha 159), que foi convertido em Agravo Retido (folha 160). Não consta impugnação contra essa decisão. É o relatório, adotado no mais o da r. sentença. Com o julgamento do Recurso de Apelação, reputa-se prejudicado o Recurso de Agravo Retido. Não houve cerceamento de defesa de qualquer ordem. O julgador sentiu-se habilitado à entrega da prestação jurisdicional diante da prova existente e que lhe ofereceu elementos de convencimento. Cumpriu a norma do art. 330, c.c. art. 740 e parágrafo único do Código de Processo Civil. A necessidade da produção de provas deveria evidenciar um âmbito, ou uma extensão de imperiosidade, suficiente para aferir-se sobre a possibilidade de ser alijada a prova documental. É o entendimento doutrinário e jurisprudencial dominante. "Se as provas dos autos foram suficientes para o julgamento do feito, não se vislumbra caracterizado qualquer cerceamento de defesa." 1 1-2º TACivSP - Ap. c/ Rev ª Câm. - Rel. Juiz LUIZ DE LORENZI - J

4 Contrato é um acordo de vontades, escrito ou não que, conforme a lei, tem por finalidade adquirir, resguardar, transferir, conservar, modificar ou extinguir direitos. É ato jurídico (negócio jurídico) que reclama os requisitos de validade do artigo 104 do Código Civil. Constitui lei entre as partes 2. A liberdade dos contratantes sobre a criação ou a estipulação de vínculos obrigacionais, está subordinada às normas jurídicas e ao interesse coletivo. AUGUSTO DOMINGOS VIEIRA CARVALHAIS, MARIA LÚCIA GONÇALVES MARTINS e MARIA JACINTA VIEIRA GONÇALVES, Locadores, firmaram contrato de locação com WALDEMAR HAMILTON DE MATTOS, Locatário, intervindo como fiadores OHANES EIVAZIAN, ANA MARIA BATISTA EIVAZIAN, ARNALDO SOUZA GOMES e sua mulher ROSÂNGELA RITA TUCCILLO GOMES, tendo por objeto o imóvel situado na Av. Rudge, n 1090, nesta Capital (1 apenso - folhas 11/14). Os Apelantes não impugnaram a autenticidade do documento. A alteração desse ajuste original que, de forma literal e recíproca, Locadora, Locatário e Fiadores aceitaram, implicaria em distrato total ou parcial da avença primitiva, o que só se aperfeiçoaria se houvesse a equivalente instrumentação e bilateralidade, nos termos do artigo 472 do Código Civil 3. É o que a doutrina identifica como "paralelismo das formas". Embora a relação jurídica estabelecida na locação não seja solene, a formação (contrato) e a 2 - Pacta sunt servanda. 3 - O distrato faz-se pela mesma forma que o contrato

5 extinção (distrato) devem ficar demonstradas por meios eficientes, para estabelecer as fronteiras objetivas da responsabilidade de cada um dos contratantes. A única forma de mitigar esse rigor é a inequívoca verificação do que as partes ajustaram. Todos os meios legais e os moralmente legítimos, mesmo que não especificados pelo Código de Processo Civil, estão facultados às partes para comprovar a verdade dos fatos em que se baseia a ação ou a defesa. Se a locação foi transferida para terceiros, não restou isto comprovado nos autos. Os documentos encartados pelos Apelantes - "INSTRUMENTO PARTICULAR DE VENDA E COMPRA DE ESTABELECIMENTO COMERCIAL..." (folhas 38/42) e o "INSTRUMENTO PARTICULAR DE ALTERAÇÃO DE CONTRATO SOCIAL..." (folhas 43/46) - para justificar a alegação de que surgiu "... novo contrato locatício..." (folha 121), não caracteriza o distrato do ajuste original, nem demonstra a existência de avença locatícia entre os Apelados e os eventuais adquirentes da empresa sublocatária. Como bem observado pelo r. Juízo: "... Inicialmente o locatário (...) constituiu juntamente com terceiro uma sociedade por quotas, a K.S.D. 61- RUDGE - AUTO POSTO (...) Em seguida, referida sociedade sublocou o imóvel em questão, tendo o locatário...) como sublocador (...) Após a sociedade K.S.D. 61 foi vendida e transferida para terceiros...". "... A despeito desta empreitada, em nada foi alterada a fiança prestada pelos embargantes, persistindo integralmente a obrigação do locatário de pagar os alugueres ao locador. A responsabilidade do sublocatário é meramente subsidiária (...) Inexiste também prova de que o locador teve conhecimento da - 5 -

6 sublocação. E mesmo que assim não fosse, referido fato não é suficiente para isentar os fiadores da obrigação assumida..." (folha 114). Há que se preservar a certeza e a segurança das relações jurídicas. Não demonstrado o distrato do pacto locativo primitivo, persiste a fiança. "A cessação do contrato locatício firmado por escrito exige igual forma para demonstrar o distrato ou comprovante de restituição do imóvel pela entrega das chaves ou, ainda, confissão do locado 4 ". Os Fiadores admitiram responder solidária e integralmente pelo cumprimento de todas as cláusulas e condições do contrato, cientes da responsabilidade até a entrega das chaves (cláusula 14ª do Contrato de Locação - folha 13 do 1 apenso) Quando alguém abona obrigação de outrem para com o seu credor, caso o devedor não a cumpra ou possa cumpri-la, dá-se o contrato de fiança, que é acessório, distinto da locação, mas não exclui a responsabilidade do garante pelas obrigações resultantes desses contratos. A fiança prestada em conjunto a um só débito por mais de uma pessoa, importa em compromisso de solidariedade entre elas, salvo se houver declaração de reserva do benefício da divisão, sendo lícito ao credor acionar qualquer um deles, à sua livre escolha, podendo exigir a dívida de algum dos codevedores. Os Embargantes assumiram a condição de fiador de forma livre e consciente. Não negaram que assinaram o pacto adjeto de fiança ao contrato de 4-2º TACivSP - Ap. c/ Rev /3-11ª Câm. - Rel. Juiz ARTUR MARQUES

7 locação nem questionaram o seu conteúdo. O título tem caráter executivo porque não houve contrariedade fundamental em seus aspectos substanciais. Em face ao exposto, rejeitada a matéria preliminar, nega-se provimento ao recurso. IRINEU PEDROTTI Desembargador Relator