APELAÇÃO CÍVEL Nº

Transcrição

1 -1- EMENTA: EMBARGOS DE TERCEIRO - PENHORA DE BEM IMÓVEL - INEXISTÊNCIA DE INTIMAÇÃO DO CÔNJUGE - NULIDADE DOS ATOS PROCESSUAIS POSTERIORES ART. 669, PARÁGRAFO ÚNICO DO CPC. Nos termos do art. 669, parágrafo único, é imprescindível a regular intimação do cônjuge do devedor, sob pena de nulidade da execução a partir da penhora. A C Ó R D Ã O Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível Nº da Comarca de, sendo Apelante(s): FILOMENA APARECIDA PEDRO e Apelado (a)(s): HAILTON CABRAL DE OLIVEIRA; Interessado: ANTÔNIO PEDRO, ACORDA, em Turma, a Sétima Câmara Cível do Tribunal de Alçada do Estado de Minas Gerais ACOLHER A PRELIMINAR PARA DECLARAR NULOS OS ATOS PRATICADOS APÓS A PENHORA. Presidiu o julgamento o Juiz JOSÉ AFFONSO DA COSTA CÔRTES (2º Vogal) e dele participaram os Juízes D. VIÇOSO RODRIGUES (Relator) e MOTA E SILVA (1º Vogal). O voto proferido pelo Juiz Relator foi acompanhado, na íntegra, pelos demais componentes da Turma Julgadora.

2 -2- Belo Horizonte, 19 de agosto de JUIZ D. VIÇOSO RODRIGUES Relator

3 -3- V O T O O SR. JUIZ D. VIÇOSO RODRIGUES: FILOMENA APARECIDA PEDRO aviou recurso de apelação contra a sentença prolatada pelo Juiz de Direito da Vara Única de Cambuí/MG que julgou improcedentes os EMBARGOS DE TERCEIRO por ela ajuizados em face da AÇÃO DE EXECUÇÃO movida por HAILTON CABRAL DE OLIVEIRA em desfavor do interessado ANTÔNIO PEDRO. Em sede preliminar, sustenta que a constrição judicial que recaiu sobre bem imóvel é nula porque, na qualidade de esposa do executado, teria que ser intimada. Contesta a avaliação do imóvel penhorado dizendo que seu valor de mercado é superior, haja vista estar localizado próximo ao centro da cidade. Aduz que o débito executado foi contraído por seu cônjuge em nome de sociedade por cota de responsabilidade limitada, atualmente encerrada, não trazendo qualquer benefício para o casal. Entende que o título que lastreia o processo executivo é nulo porque resulta de estipulação usurária. Alega que o bem de família é impenhorável e não pode ser alienado para a quitação de dívida de natureza civil, nos termos da Lei n.º 8.009/90.

4 -4- Pugnou pelo provimento do recurso e reforma da decisão hostilizada. Contra-razões às f. 72/73. Este o relatório. Decido. Conheço do recurso porque se fazem presentes os pressupostos de admissibilidade. PRELIMINAR NULIDADE DOS ATOS PRATICADOS APÓS A PENHORA. Argüiu a apelante a prefacial de nulidade da constrição judicial que recaiu sobre bem imóvel, dizendo que, na qualidade de esposa do executado deveria ser intimada, nos termos do art. 669, parágrafo único do CPC. Razão assiste à apelante. Em razão da lei civil não permitir que um dos cônjuges promova a alienação de bem imóvel sem a participação de seu consorte, ressalvada a hipótese do regime de separação total dos bens (art. 1674, caput do Código Civil), a lei processual também exige, obrigatoriamente, que o cônjuge do devedor executado seja intimado da penhora que recaiu sobre bem de raiz. Exige-se a intimação do cônjuge do devedor a fim de permitir que possa defender sua meação mediante os embargos de terceiro ou possa discutir a dívida por meio de embargos de devedor. Sobre a matéria, Araken de Assis esclarece:

5 -5- A criação de litisconsórcio entre cônjuge, demanda executiva, prescinde e ultrapassa o nítido caráter pessoal da obrigação constante do título executivo. Decorre ela, simplesmente, da lei, que impõe a obrigatória participação do cônjuge da expropriação de bem imóvel. A regra se revela simétrica à que rege à vênia conjugal nos atos voluntários de alienação ou de oneração dessa espécie de bens. Trata-se, pois de litisconsórcio obrigatório, por força de lei (art. 47 do CPC), e ulterior que se forma após a penhora e no curso da relação processual.(...) Disso resulta a plena legitimidade do cônjuge para ajuizar os embargos do devedor, que é a forma de oposição reservada à parte passiva, na demanda executória (...). Intimado que seja da penhora o cônjuge do devedor, tornando-se parte, a ele se abre, ainda, o exercício dos embargos de terceiro, ex vi do art , 2º do CPC". (ASSIS, Araken. Manual do Processo de Execução. 8ª ed. rev., atual e ampl. São Paulo:Editora Revista dos Tribunais, 2002, p. 715;717). Verifica-se do auto de penhora acostado aos autos em apenso, às f. 20, que somente o executado foi intimado da penhora que recai sobre o imóvel discriminado no documento. Com efeito, restou vulnerada a regra disposta no art. 669, parágrafo único do CPC, impondo-se a declaração de nulidade dos atos processuais que se seguiram à penhora.

6 -6- Neste sentido, já se manifestou o Superior Tribunal de Justiça: PENHORA SOBRE BEM IMÓVEL. INTIMAÇÃO DO CÔNJUGE. ART. 669, PARÁGRAFO ÚNICO, DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. PRECEDENTES DA CORTE. Na li nha de precedentes da Corte, tratandose de penhora sobre bem imóvel, a intimação do cônjuge é imprescindível, gerando nulidade a sua ausência. Recurso especial conhecido e provido." (STJ - REsp n.º /RS - Terceira Turma - Rel. Min. Carlos Alberto Menezes de Direito - Data do Julgamento: 01/09/2003). A jurisprudência desta Corte se alinha ao entendimento esposado: AGRAVO DE INSTRUMENTO - PENHORA - BEM IMÓVEL - INTIMAÇÃO DO CÔNJUGE - AUSÊNCIA - NULIDADE. Nos termos do parágrafo único do artigo 669 do Código de Processo Civil, recaindo a penhora sobre bens imóveis, será intimado também o cônjuge do devedor, sob pena de nulidade dos atos posteriores à constrição judicial" (TAMG - Apelação Cível n.º Terceira Câmara Cível - Rel. Juiz Vieira de Brito - Data do Julgamento: 04/06/2003). Assim, considerando o acima exposto e tudo o mais que nos autos consta, ACOLHO A PRELIMIMAR PARA DECLARAR NULOS TODOS OS ATOS QUE SE SEGUIRAM À

7 -7- PENHORA em razão da ausência de intimação da apelante, determinando que o ato processual seja efetivado a fim de ser suprida a irregularidade contida no processo executivo. Custas recursais pelo apelado. ed/mps