A noção de aspecto nas línguas checa e portuguesa

Tamanho: px
Começar a partir da página:

Download "A noção de aspecto nas línguas checa e portuguesa"

Transcrição

1 Masarykova univerzita Brno Filozofická fakulta Katedra romanistiky A noção de aspecto nas línguas checa e portuguesa Magisterská diplomová práce Vypracoval: Veronika Ženatá Brno Vedoucí práce: Mgr. Iva Svobodová 2009

2 Declaro, que escrevi esta tese de diploma A noção de aspecto nas línguas checa e portuguesa sozinha e unicamente com o apoio nos textos mencionados no capítulo de bibliografia. Veronika Ženatá 2

3 Agradecimento Agradeço à minha orientadora Mgr. Iva Svobodová Ph.D pelos seus conselhos e apoio tanto pessoal como profissional e também agradeço a PhDr. Mojmír Dočekal Ph.D pelos manuscritos que me ofereceu e pelo seu apoio. 3

4 Conteúdo 1 Introdução Símbolos, convenções e abreviações usadas Informações básicas Tipologia aspectual Aspecto vs. Aktionsart Tipologia básica de aspecto Outras definições de telicidade Núcleo aspectual Especificidades do aspecto português Valor aspectual pontual Valor aspectual durativo Valor aspectual acabado/inacabado Tipologia aspectual de verbos Argumentos verbais Natureza aspectual de verbos e a sua estrutura argumental Especificidades do aspecto checo Diferenças entre o verbo português e verbo checo Sufixos Vogais temáticas Alterações de perfectivo / imperfectivo Imperfectivos secundários Prefixos Valor aspectual dos tempos verbais portugueses Presente Pretérito Perfeito Simples, Imperfeito e Mais-Que-Perfeito Pretérito Perfeito Simples Imperfeito Pretérito Mais-que-Perfeito Pretérito Perfeito Composto Futuro Composto Variedades aspectuais de oposição ser x estar Variantes aspectuais de verbos ser e estar Verbos de operação aspectual Progressivo Outras construções com capacidade de alterar o valor aspectual básico dos predicados Começar a + INF Continuar a + INF Deixar de + INF Parar de + INF Acabar de + INF Andar a + INF Lista de verbos de operação aspectual Impacto da oposição ser x estar nos valores aspectuais de predicados derivados Contribuição da abordagem aspectual brasileira Duração da acção Repetição da acção

5 8.5.3 Conclusão da acção Resultado da acção Visão da acção Fases da acção Valor aspectual dos adverbiais de tempo Adverbiais de localização temporal Adverbiais de frequência Adverbiais de duração Valor aspectual dos complementos verbais Predicados nominais Predicados verbais Predicados incrementais Valor aspectual de preposições A divisão de preposições Semântica vectorial Cumulatividade Preposições télicas Preposições atélicas Preposições ambíguas Conclusão Bibliografia

6 1 Introdução O presente trabalho tem como objectivo comparar a noção de aspecto na língua checa e na língua portuguesa tendo em vista tanto a metodologia da linguística portuguesa como a da linguística geral. O objectivo fundamental consistirá na tentativa da aplicação da teoria geral na investigação da dita problemática em linguística portuguesa. Como as teorias da linguística geral se baseiam no estudo profundo e na comparação de vários sistemas gramaticais e fazem conclusões gerais da comparação destes sistemas gramaticais, também neste trabalho pretendemos introduzir e comparar as abordagens variáveis do aspecto em línguas checa e portuguesa. A teoria base será a teoria portuguesa à qual aumentaremos alguns aspectos das teorias que trabalham com a língua checa. Como pressupomos que a maioria dos leitores do nosso trabalho tem pelo menos os conhecimentos básicos do sistema verbal português, omitiremos as explicações de factos básicos e acessíveis em todas as gramáticas portuguesas e concentrar-nos-emos apenas em problemática da aspectualidade. Opostamente, supomos que a estrutura interna do verbo checo é mais complicada, motivo que nos levou a explicar alguns pormenores, mas sempre seguindo a linha da problemática que constitui o tema do presente trabalho. Ao longo do texto, apresentaremos exemplos das línguas portuguesa e checa. Marginalmente, para ilustrarmos a universalidade de asserções apresentadas e porque às vezes não encontramos o exemplo checo apropriado, ilustraremos as afirmações com exemplos de outras línguas eslavas. Estes exemplos, analogamente aos exemplos de checo, serão sempre explicados e traduzidos para o português em seguida. A lista das abreviações usadas nas análises e nas definições segue no próximo capítulo. No presente trabalho partiremos das opiniões representadas no livro Gramática da Língua Portuguesa, da sua segunda e sexta edição. Embora se trate de duas edições de mesmo livro, estas diferem entre si. Diferem na maneira de trabalhar a dada problemática e também nos temas. Além das obras mencionadas seguiremos ao longo do texto os artigos de Mojmír Dočekal e Peter Svenonius, o livro Introdução à linguística Geral e Portuguesa e a Moderna gramática Portuguesa de Evanildo Becharra. 6

7 2 Símbolos, convenções e abreviações usadas p, q... - proposições lógicas - negação lógica < - precede, anterior a; menor do que > - sucede, posterior a; maior do que - pertence a *x - x é uma forma agramatical?x a gramaticalidade de x é incerta I t - dado intervalo de tempo I a intervalo de tempo anterior ao tempo da enunciação I e tempo da enunciação I p intervalo de tempo posterior ao tempo da enunciação I imperfectivo P perfectivo PRES morfema com valor do Presente PERF morfema perfectivo IMPF morfema imperfectivo PST particípio do passado GER gerúndio INF - infinitivo NOM sufixo nominal ADJ sufixo adjectival v vogal temática 7

8 NOMIN nominativo GEN genitivo AC acusativo INST - istrumental 8

9 3 Informações básicas Aspecto é uma característica linguística universal presente em todas as línguas do mundo. Em geral, podemos dizer, que o Aspecto ajuda a descrever especificidades da predicação do enunciado expressa pelo verbo da frase, a sua perspectivação ou focalização. As línguas usam diferentes mecanismos de produção do Aspecto e estes processos geralmente estão baseados na semântica do verbo, nos Tempos verbais, nos adjectivos temporais ou até na natureza semântica dos complementos verbais e preposições. Desta forma, o Aspecto final da frase pode ser composto de vários elementos gramaticais, cuja hierarquia é dada pelas peculiaridades de cada língua. No livro Introdução à Linguística Geral e portuguesa, é, no título de todas as línguas, acentuada a teoria de Charles Li e seu colegas, que sugerem a análise de línguas segundo as três categorias básicas: o Perfectivo, o Imperfectivo e o Perfeito. O Perfectivo encara a situação como um todo, enquanto o Imperfectivo presta particular atenção à estrutura interna de uma situação. O Perfeito, em contrapartida, é um aspecto relacional, a sua função é relacionar eventos ou estados com um outro momento (tempo de referência). 1 Neste mesmo texto também se salienta que se queremos compreender o aspecto numa perspectiva interlinguística, o importante não é a etiqueta, o nome que se dá a uma dada categoria, mas sim verificar até que ponto o espaço semântico que ela ocupa numa dada língua coincide, de maneira significativa, com o espaço ocupado numa outra. 2 O mesmo pode ser dito dobre o seu espaço gramatical. Da comparação de sistemas gramaticais de várias línguas naturais, podemos concluir que há línguas que privilegiam a oposição Perfectivo x Imperfectivo enquanto que outras privilegiam a oposição Perfeito x Não-Perfeito. Por exemplo no Árabe encontramos a primeira oposição tão forte que se exprime por vogais diferentes, semânticamente relevantes, dentro do lexema, sendo o sistema verbal baseado nesta oposição. As Línguas Eslavas dão-nos um exemplo ainda mais específico da oposição de Perfectivo x Imperfectivo implicando os verbos os semas de perfectividade ou de imperfectividade.. Em geral, os verbos formam pares aspectuais que são construídos 1 ILPG (1996:78) 2 ILPG (1996:78) 9

10 sobre uma mesma base e marcados em relação um ao outro pela presença num dos dois, ou em ambos, de afixos derivativos. 3 Por outro lado, as Línguas Germânicas não possuem, ao nível da forma verbal, mecanismos especiais que assegurem sistematicamente algum dos três tipos aspectuais. Em algumas delas, como por exemplo nas línguas sueca, dinamarquesa ou norueguesa, é o Tempo que tem o papel mais importante na marcação morfológica do verbo. A língua alemã possui o chamado Perfect marcado pela simplicidade da acção e o Praeteritum que é o único tempo do passado que não apresenta nenhum valor aspectual. O Inglês que, como se sabe, assenta o seu sistema em formas de Perfect e de Progressive, não dispõe de uma forma simples (como o Praeteritum alemão) de modo a estabelecer oposições no tempo passado. 4 Como uma curiosidade neste ponto poderiam servir as línguas sino-tibetanas, como por exemplo o Chinês, que apresentam um riquíssimo sistema aspectual. Chinês é uma língua isolante, o que significa que não dispõe de desinências verbais ou afixos, sendo todos os processos morfológicos realizados através de palavras auxiliares com valor gramático, por isso, esta língua apresenta uma enorme rigidez na ordem de palavras. Para além de muitas outras partículas, que podem ter o valor de acção acabada, progressão, duração, totalidade etc. o Chinês dispõe de um sufixo verbal que marca uma acção perfectiva. Uma dessas partículas, sempre ligada à última palavra da frase, não necessariamente um verbo, marca, pelo menos segundo alguns gramáticos, o aspecto perfeito. 5 Um deles é o autor já mencionado, Charles Lii. Como mostra já este pequeno número de línguas, podemos apresentar uma hierarquia baseada na importância da oposição Perfectivo x Imperfectivo. Ela iria das Línguas Eslavas às Línguas Germânicas do Norte, passando pelo Árabe, pelo Chinês... línguas só de longe seguidas pelo Inglês e pelo Alemão. Entre estes dois grandes grupos ficariam as Línguas Românicas. 6 E neste grupo podemos encontrar o Português. No Português, a oposição Perfectivo x Imperfectivo exprime-se, no passado, pelo par de tempos verbais Pretérito Perfeito e Pretérito Imperfeito. O primeiro destes dois tempos é, sem contar as excepções representadas por perífrases imperfectivizantes, perfectivo e o segundo é imperfectivo, porque não marca delimitações da acção expressa 3 ILPG (1996:79) 4 ILPG (1996:79) 5 ILPG (1996:79) 6 ILPG (1996:79) 10

11 pelo verbo. O seguinte exemplo ilustra a variação do Aspecto em português conforme diferentes Tempos verbais: (1)A Ana chegou de manhã. (2)A Ana chegava de manhã. A única diferença entre as duas frases consiste no Tempo verbal. Enquanto que na primeira frase a predicação exprime uma acção única, a predicação na segunda frase exprime uma acção repetitiva. Analogamente ao que ocorre nos tempos verbais, também nos adverbiais temporais 7 existem ambiguidades (exemplo segue este parágrafo), podendo o mesmo advérbio figurar nas frases com diferentes valores aspectuais: (3) O Rui trabalhou durante (toda) a manhã. (4) O Rui chegou durante a manhã. 8 Enquanto que na primeira frase trata-se de uma acção decorrente ao longo de toda a manhã, na segunda frase trata se de uma acção decorrida num só instante, mas o tempo verbal é igual nas ambas as frases. Pelos motivos de complexidade de toda a problemática, ilustrados nos exemplos antecedentes, podemos concluir que toda a natureza da acção expressa pela predicação é descrita tanto pelo Tempo verbal como pelo Aspecto, as duas categorias não podem distinguir-se fundamentalmente, mas, se o Tempo é concebido como como uma ordenação linear de unidades temporais atómicas (instantes) ou densas (intervalos) que se podem suceder ou sobrepor, já o Aspecto permite olhar para a sua estrutura interna perspectivando as situações a partir do seu interior, sendo portanto subatómico. 9 Basicamente podemos dizer que o Tempo linguístico relaciona os diferentes acontecimentos sendo que o Aspecto vê a sua estrutura interna. 7 Para ver o que consideramos adverbiais temporais veja-se o capítulo 8. 8 GLP6 (2003:130) 9 GLP6 (2003:129) 11

12 4 Tipologia aspectual 4.1 Aspecto vs. Aktionsart Uma das diferenciações tradicionais consiste na distinção entre o Aspecto e o Aktionsart. apresentando o Aspecto um conceito puramente gramatical, expresso por morfemas flexionais, e implicando o Aktionsart os semas sememas que contribuem para toda a aspectualidade. Às vezes o Aktionsart é denominado como o aspecto lexical. A diferença entre o Aspecto e o Aktionsart foi introduzida no século XIX pelos Neogramáticos para conseguirem captar a especificidade de diferenciação aspectual nas línguas eslavas, nas quais a leitura aspectual de verbos (perfectiva x imperfectiva) pode ser facilmente modificada pelos afixos 10 verbais sem serem afectados os tempos gramaticais. Em português podemos exprimir uma informação aspectual muito semelhante através de vários mecanismos, como mostram os seguintes exemplos: (1 ) A Ana lê livros de autores alemães. (2 ) A Ana lia livros de autores alemães. (3 ) A Ana costuma ler livros de autores alemães. (4 ) A Ana leu livros de autores alemães ao longo de muitos anos. Nas primeiras duas frases, a habitualidade resulta de tempos verbais, na terceira de uso de locução verbal costumar de + V e na última de uso do adverbial ao longo de muitos anos. Nestes quatro frases anteriores, o valor aspectual é dado pela da natureza semântica das expressões usadas, mas para além desse mecanismo podemos exprimir o Aspecto através de afixos carregados também de informação aspectual (o que acontece nas línguas eslavas), pelas construções com auxiliares e semi-auxiliares (tem lido, começou a ler, está a ler) e pela estrutura dos argumentos do verbo. A problemática de aktionsart será desenvolvida mais pormenorizadamente no capítulo que tratará das especificidades do aspecto checo. 10 Afixos são os morfemas aditivos que fazem parte de estrutura morfológica de palavras. No português, os afixos disponíveis são prefixos, quando ocorrem na periferia esquerda da forma de base, e sufixos, quando se encontram à direita da forma de base. (GLP6 (2003:941)) 12

13 4.2 Tipologia básica de aspecto A primeira diferença consiste na distinção entre eventos e estados. A noção do evento representa as situações que são dinâmicas e a noção do estado as que não o são. Este traço de dinamicidade implica que pelo menos uma das entidades envolvidas realiza ou sofre um dado «fazer» (de natureza física, fisiológica ou psíquica), mudando eventualmente de lugar. 11 Os eventos divergem em eventos télicos e eventos atélicos. Os télicos tendem para um fim e os atélicos não. Há um teste simples para verificar, se se trata de um evento télico ou atélico. Os télicos podem ser combinados com adverbial em x tempo e os atélicos com o adverbial durante x tempo. (5 ) A Ana chegou de Berlim em três horas. - télico (6 ) A Ana esteve em Berlim durante dois anos. - atélico Os eventos télicos divergem em processos culminados e culminações, cuja diferença é determinada pela duração da situação. Os processos culminados têm duração razoavelmente longa 12 e a duração de culminações é muito breve (ou nenhuma) 13. Outra característica do processo culminado é a sua complexidade, porque este é composto de 1. processo, 2. sua culminação e 3. o estado resultante. Veja-se a seguinte frase: (7 ) A Ana escreveu uma peça teatral Esta contém 1. o processo de a Ana escrever uma peça teatral, 2. uma culminação de a Ana acabar de escrever uma peça teatral e 3. um estado resultante Há uma peça teatral escrita pela Ana. O segundo tipo de eventos, os eventos atélicos, é também denominado como processo e podemos defini-lo como evento com duração em que cada porção dessa actividade é o mesmo tipo que a actividade em si.... um processo é não delimitado por natureza e também homogéneo. 14 O último tipo aspectual a considerar são os pontos, que são caracterizados pelo facto de serem temporalmente indivisíveis em partes e não admitirem nenhum estado resultante. Neste caso as questões de telicidade não são relevantes e não fazem parte da 11 GLP6 (2003:191) 12 GLP6 (2003:134) 13 GLP6 (2003:134) 14 GLP6 (2003:135) 13

14 definição. A diferença entre os pontos e as culminações leva também a consequências outras que a simples diferenciação semântica de verbos. Tanto os pontos como as culminações, quando postos na locução verbal progressiva estar + V, dão origem a valores aspectuais diferentes. As culminações podem ser transformadas nos processos devido a perda de ponto final e de estado resultante, e por isso podemos caracterizar a frase (8 ) Ele está a morrer. 15 como um processo apesar de o verbo morrer ser uma culminação. Por outro lado, como os pontos não apresentam nenhuma duração ou ponto final que poderiam perder, uma vez que postos na locução verbal estar + V ganharemos frases com leitura de iteratividade em vez de processos. Para ilustrá-lo vejamos a frase seguinte: (9 ) Ele está a espirrar. 16 Um dos aspectos semelhantes aos eventos são os estados lexicais. Estes têm algo em comum com os processos, pois são também atélicos, não delimitados por natureza e homogéneos 17 mas distinguem-se dos processos por não serem dinâmicos. 18 Outra diferença entre os estados e processos é a de os estados não admitirem nenhum intervalo na duração opostamente aos processos que o admitem, o que é facilmente visível nas seguintes frases. (10 ) A Ana escreveu a sua tese um ano inteiro. (11 ) A Ana esteve na Alemanha um ano inteiro. Enquanto a primeira frase não significa que a Ana passou um ano inteiro sentada à mesa, a escrever, a segunda frase significa que ela passou um ano inteiro dentro das fronteiras da Alemanha e nunca, ao longo daquele ano, deixou o país. Os estados são divididos em, pelo menos, duas subcategorias que são os estados faseáveis e os estados não faseáveis. Segue um teste simples, que nos ajudará a interpretar a natureza de cada um dos estados. Os estados faseáveis podem ocorrer em construções progressivas e os não faseáveis não o podem, o que ilustra-se pelos seguintes exemplos. 15 GLP6 (2003:135) 16 GLP6 (2003:135) 17 GLP6 (2003:136) 18 GLP6 (2003:136) 14

15 (12 ) (12.1 ) A Ana é simpática. (12.2 ) A Ana está a ser simpática. (12.3 ) A Ana vive em Berlim. (12.4 ) A Ana está a viver em Berlim. (12.5 ) A Ana é jovem. (12.6 ) *A Ana está a ser jovem. (12.7 ) A Ana é feliz. (12.8 ) *A Ana está a estar feliz. Além destes dois tipos básicos de estados (os faseáveis e os não-faseáveis) existem ainda outros, derivados, que são atribuídos por outros constituintes frásicos. A problemática da atribuição de leituras aspectuais possíveis e de valores aspectuais variáveis por constituintes frásicos será abordada nos seguintes capítulos deste trabalho. características. Eventos Estados A tabela seguinte apresenta o resumo dos tipos aspectuais básicos com as suas Dinâmico Télico Duração Estado Consequente Homogéneo Atélicos Processos Télicos Processos culminados Culminações Faseáveis Não faseáveis Pontos + (-)

16 4.3 Outras definições de telicidade Vimos que os eventos são divididos em eventos télicos e atélicos e dissemos que os télicos tendem para um fim enquanto que os atélicos não. Existem, porém, outras possibilidades de definir a diferença entre os predicados télicos e atélicos. A telicidade não se observa somente no domínio de tipos aspectuais, mas também no domínio de vários elementos frásicos que contribuem para a leitura aspectual final de frase. (dos complementos verbais, de preposições e sintagmas preposicionais como veremos mais adiante). Para interpretar correctamente a natureza semântica de um predicado, será útil distinguir entre os predicados cumulativos (homogéneos) e predicados quantificados 19 O conceito destes dois tipos de predicados ilustraremos no domínio dos nomes, que atribuem para a leitura aspectual quando figuram como argumentos verbais. Os predicados cumulativos são os predicados que, caso sejam válidos para o indivíduo x e ao mesmo tempo para o indivíduo y, necessariamente valem para a suma de x e y. Paralelamente, o predicado cumulativo tem de valer para pelo menos dois indivíduos. Como exemplo de predicados cumulativos podem servir-nos os nomes massivos 20, meros plurais e nomes não contáveis, porque vemos que, se o x for o chá e o y for também o chá, então a suma de x e y será com certeza o chá. Os predicados quantificados são os predicados que, caso sejam válidos para dois indivíduos x e y, o y não pode fazer parte de x. Por isso, no grupo dos predicados quantificados encontramos os plurais quantificados (duas maçãs), os nomes massivos e não contáveis determinados quantificados (um litro de chá) e nomes contáveis, porque nenhuma parte destes indivíduos não pode ser idêntica ao indivíduo em si. Uma dúvida que poderá surgir e contrariar esta divisão consiste no encaixamento de classificação de nomes massivos /chás, dois chás, leite x dois leites.../. Como o chá pertence aos nomes massivos, cuja definição diz que não podem designar partes singulares de objectos, vemos que o predicado chás apresenta uma anomalia. No entanto este fenómeno não é tão difícil de explicar, porque os chás exprimem o significado lexical de 'certos volumes de chá' e já estamos perante o predicado quantificado. Os predicados cumulativos podem ser facilmente transformados em predicados 19 Kumulativní (homogenní) a kvantizované predikáty. Dočekal (2008) tradução própria 20 estes nomes não podem designar partes singulares de objectos (GLP6 2003:219) 16

17 quantificados pela adição de determinação. Assim facilmente tornaremos o nome massivo o chá (predicado cumulativo) no predicado quantificado uma xícara de chá, ou no predicado quantificado os chás. Tendo feito esta diferenciação, falta-nos explicar a a relação existente entre a cumulatividade e a telicidade que é a seguinte: os predicados cumulativos são télicos e os predicados quantificados são atélicos. Ilustraremos esta relação aplicando a cumulatividade para a divisão de tipos aspectuais apresentada acima. No campo de eventos, os predicados atélicos são representados pelos processos e vale que se o predicado x é correr e o predicado y é também correr a suma de x e y é igualmente correr. Analogamente podemos dizer que o processo de correr é composto de pelo menos dois processos subordinados que são iguais à sua suma (correr + correr+... = correr). No domínio de eventos atélicos temos os processos culminados (ler o jornal) e culminações (ganhar a corrida) e podemos dizer que caso o predicado x seja ler o jornal ou ganhar a corrida e o predicado y seja também ler o jornal ou ganhar a corrida, estes predicados nunca podem fazer parte um de outro. Neste caso um todo não pode ser composto pelas partes iguais ao todo (ler livro + ler livro = ler dois livros e não ler livro). Dissemos que os eventos télicos tendem para um fim 21 e esta afirmação não se contradiz a teoria de cumulatividade, mas ambas estas concepções de telicidade podem integrar-se uma noutra através de noção de Núcleo Aspectual. A explicação está na parte seguinte deste capítulo. 4.4 Núcleo aspectual Um conceito que contribui para uma melhor descrição da aspectualidade e para relacionar os dois conceitos de telicidade (o de cumulatividade com o primeiro que diz que o evento télico tende para um fim enquanto que o atélico não) é a noção do Núcleo Aspectual que é constituído por processo preparatório, culminação e estado consequente, que a seguir se representa: 21 Capítulo 4.3 deste trabalho 17

18 Processo preparatório Estado consequente Culminação 22 A maior vantagem da possibilidade de descrever a aspectualidade dos predicados através do Núcleo Aspectual consiste numa melhor perspectivação das suas partes individuais. Assim podemos dizer que o Núcleo Aspectual dos processos contêm apenas o processo preparatório, os pontos contêm apenas a culminação e os processos culminados apresentam todas as três partes do Núcleo. 23 E como se relaciona o Núcleo com a problemática da telicidade? Dissemos que os eventos télicos, e também os predicados télicos tendem para um fim e o Núcleo Aspectual oferece-nos a concretização desta vaga noção de fim. Pensamos que a culminação do Núcleo pode ser comparada com este fim. Observando o Núcleo Aspectual podemos também concluir que podemos relacioná-lo com os predicados cumulativos e predicados quantificados, porque os predicados cujo Núcleo Aspectual não contêm a culminação e estado consequente são os predicados cumulativos e os predicados cujo Núcleo Aspectual contem a culminação são os predicados quantificados. Esta culminação é a causa de que é impossível fazer suma dos predicados que a contêm. Veja-se o seguinte exemplo que poderia ilustrar a possibilidade da síntese de conceitos da cumulatividade e do Núcleo Aspectual: (13 ) A Ana leu o livro. - processo culminado, predicado quantificado (14 ) A Ana esteve doente. - estado 24, predicado cumulativo Na primeira frase estamos perante um processo culminado, porque o Núcleo Aspectual deste predicado oferece-nos todas as suas três partes: o processo preparatório, a culminação e o estado consequente. Ao mesmo tempo vale que se um predicado for ler o livro nenhuma parte deste predicado é igual ao todo do predicado, o que é característica de 22 GLP6 (2003:138) 23 Mesmo que algumas partes do Núcleo Aspectual não estejam presentes, num predicado, continuamos a chamá-lo o Núcleo Aspectual. 24 Neste caso não se trata de processo culminado porque 1. o predicado não implica um estado resultante e 2. não tende para um fim (é atélico). A segunda característica provém do facto de o Pretérito Perfeito Simples português ser apenas terminativo e não perfectivo. (Veja-se o capítulo 6.2.1) 18

19 predicados quantificados. Na segunda frase estamos perante um estado, porque o Núcleo Aspectual deste predicado não dinâmico não contém a culminação e analogamente vale que cada parte do predicado estava doente é igual ao seu todo (estava doente + estava doente = estava doente). 4.5 Especificidades do aspecto português Para descrever a problemática do Aspecto em todos os seus pormenores precisaremos de explicação dos valores aspectuais oferecida na segunda edição da Gramática da língua Portuguesa (GLP2). Por isso começaremos com a definição do Aspecto da GLP2 e desenvolveremos a teoria de maneira que possamos tratar de valores aspectuais do verbo na língua portuguesa.. A Definição do Aspecto segundo a GLP2 é a seguinte:...categoria que exprime o modo de ser interno de um estado de coisas descrito através de expressões de uma língua natural, (i) por selecção de um predicador pertencente a uma dada classe; (ii) por quantificação do intervalo de tempo em que o estado de coisas descrito está localizado, e/ou (iii)por referência à fronteira inicial ou final desse intervalo, ou a intervalos adjacentes Na teoria apresentada em dita obra, a distinção entre os predicadores estativos e não estativos consiste na presença dos semas da dinamicidade tendo os estativos traço [- DINÂMICO] e os não estativos o [+ DINÂMICO]. Como nas frases imperativas podem ocorrer apenas os predicadores não estativos, usam-se as ordens como teste para decidir se o predicado é estativo ou não estativo. Vejamos os seguintes exemplos para a ilustração: (15 ) Escreve lá! (16 ) *Está deitado! Intervalos adjacentes são definidos como intervalos de tempo imediatamente anteriores e imediatamente posteriores a o intervalo de tempo relevante. (GLP2 1989:90) 26 GLP2 (1989:90) 27 GLP6 (2003:191) 19

20 Na classe de não estativos distinguem-se ainda as duas subclasses seguintes: a de predicadores de processo e a de predicadores de evento. Para a comparação com a teoria moderna e para aplicação das teorias mais antigas na distribuição moderna de tipos aspectuais, apresentaremos a tipologia de estados de coisas proposta na segunda edição da Gramática da Língua Portuguesa e, em seguida, explicaremos a relação de sistema antigo com o mais novo para podermos depois adaptar as definições antigas às teorias modernas. Precisamos desta operação para a seguinte explicação de valores aspectuais. Observando a seguinte tipologia antiga 28 de estados de coisas, é importante enfatizar a relação dos estados, processos e eventos e na sua posição no sistema. Controlado Dinâmico - Estados Posições + Eventos Processos + Acções Actividades Como podemos ver, na categoria de [+ DINÂMICO] encontramos duas entidades diferentes, sendo uma delas o processo e a segunda o evento, e na teoria moderna encontramos o evento como um termo superior que é distinguido, segundo a telicidade, em duas subcategorias os processos atélicos e os processos culminados e culminações, ambos télicos 29. Eventos Atélicos Processos Télicos Processos culminados Culminações Comparando as duas diferenciações, podemos concluir que é possível transformar a classificação mais antiga na mais moderna e consequentemente aplicar as teorias da antiga classificação para as tipologias actuais. Para os fins da transformação, definamos os termos usados. Como o termo evento passou a ser uma caracterização geral de tipos aspectuais dinâmicos e também um termo superior ao processo, e foi adiada a diferenciação segundo a duração (processo 28 GLP2 (1989) 29 A seguinte tabela apresenta um entalhe da tabela do capítulo

21 culminado x culminação) podemos concluir que o sentido do antigo termo evento pode ser modificado em seguintes noções, apresentadas na teoria moderna: a de processo culminado ou a de culminação (a diferença consiste na duração da acção). Veja-se as seguintes frases: (17 ) A Ana escreveu um romance. (18 ) O vento partiu o vidro da janela 30 Estas frases são, na segunda edição da Gramática da Língua Portuguesa, caracterizadas como eventos, mas segundo a nossa teoria moderna podem ser caracterizadas como processo culminado (no caso da primeira frase que apresenta uma certa duração, estado resultante e telicidade) e culminação (apresenta estado resultante e telicidade, mas não a duração). Infira-se com base de todos estes factores que é possível a caracterização de um verbo como estativo ou não estativo, e, dentro da classe dos não estativos, como verbo que exprime processos, processos culminados, culminações ou pontos Valor aspectual pontual Este valor é traço característico dos enunciados que descrevem processos culminados e culminações que apresentam alguma relação para com a duração do acontecimento descrito. Entre os valores aspectuais pertencem os seguintes valores: Valor aspectual incoativo - ( p T p) Ocorre em situações em que há passagem de um dado estado ( p) para outro estado (p) 32. Geralmente é representado pelos verbos incoativos como por exemplo tornar-se, anoitecer e virar entre outros. p)) Valor aspectual causativo (ou resultativo) - (x causa ( p T Ocorre em situações em que uma dada entidade x determina a passagem de uma 33 entidade y de um estado ( p) para outro estado (p). Geralmente é expresso pelos 30 GLP2 (1989:38) 31 GLP6 (2003:193) 32 GLP2 (1989:97) 33 GLP2 (1989:97) 21

22 verbos causativos Valor aspectual inceptivo - ( p [p) Ocorre em situações em que estado de coisas (p) localizado num dado I t e diferente do que ocorrera no I t' anterior adjacente a I t ( p) é apresentado como começado a ocorrer em I t. 34 Entre os verbos que apresentam este valor aspectual contam-se, por exemplo, o começar, partir, iniciar e outros, que em si exprimem o começo de um estado novo Valor aspectual conclusivo - (p] p) Ocorre em situações em que um estado de coisas (p) localizado num dado I t e diferente do que ocorrerá no I t' posterior adjacente a I t (~p) é apresentado de ponto de vista do termo da sua ocorrência em I t. 35 Entre verbos que apresentam este valor pertencem verbos como acabar, concluir, chegar e outros que em si exprimem fim de uma acção Valor aspectual cessativo - (p T p) Ocorre em situações em que há passagem de um estado de coisas (p) que ocorrera no I t' anterior adjacente a I t para outro estado (~p) que não ocorre em I t. 36 Este valor aspectual apresentam as construções como deixar de INF e já não p em que p tenha um valor aspectual frequentativo ou habitual Valor aspectual durativo Este valor pode ser encontrado nos enunciados que são caracterizados como estados e processos e apresenta as seguintes formas: Valor aspectual cursivo - (... p...) Ocorre em situações em que um estado de coisas (p), localizado num dado I t, é 34 GLP2 (1989:97) 35 GLP2 (1989:97) 36 GLP2 (1989:97) 22

23 apresentado como estando em curso em I t. 37 Um típico exemplo deste valor aspectual são as construções estar a INF Valor aspectual permansivo - (p T p) Ocorre em situações em que um estado de coisas (p), localizado num dado I t, ocorrera também no I t' anterior adjacente a I t. 38 Os verbos que aparecem nestas construções são por exemplo manter, conservar, continuar a INF e muitos outros, que em si contêm a informação de permanência da acção expressa pelo enunciado Valor aspectual iterativo - ([p.. p.. p.. ]) Ocorre em situações em que um estado de coisas (p), localizado num dado I t, ocorre n vezes nesse I t. 39. Um típico exemplo desse valor aspectual apresentam os verbos com sufixo -itar (dormitar) Valor aspectual frequentativo - ( p n em I t em que n=número significativo de ocorrências) Ocorre em situações em que um estado de coisas (p), localizado num dado I t, ocorre um número significativo de vezes em I t e em intervalos anteriores a I t. 40 Para estas construções é típico o uso do tempo presente e expressão adverbial frequentativa, como por exemplo muitas vezes, com frequência e outros Valor aspectual habitual - (a propriedade expressa por p é característica do individual x em I t ) Ocorre em situações em que um estado de coisas (p), localizado num dado I t, ocorre em I t em intervalos adjacentes a I t e, presumivelmente, em intervalos posteriores adjacentes a I t, sendo apresentado como um comportamento ou característica habitual de um dos participantes no estado de coisas descrito, nos intervalos em questão GLP2 (1989:97) 38 GLP2 (1989:97) 39 GLP2 (1989:97) 40 GLP2 (1989:97) 41 GLP2 (1989:98) 23

24 Geralmente, este valor aspectual é exprimido pelo tempo presente simples, e também pelas construções costumar INF, ser habitual e outros. I t ) Valor aspectual gnómico (ou universal) - ( I t, p ocorre em Ocorre em situações em que um estado de coisas (p), localizado num dado I t, ocorre em todos os subintervalos de I t ; na versão extrema, um estado de coisas (p) ocorre em todos os subintervalos de I a, I e e I p. 42 Um exemplo de enunciados com este valor aspectual pode ser aquele que contem o presente simples junto com adverbiais como sempre, ou quantificadores como todos os, todas as Valor aspectual acabado/inacabado Estes valores aspectuais diferem entre si e tomam em conta o facto de a acção expressa pelo verbo ser ainda em curso ou não Valor aspectual acabado A descrição de um estado de coisas (p), localizado num dado I t, tem como ponto de referência a fronteira final de I t. 43 Um típico exemplo são os enunciados no pretérito prefeito com adverbiais já e já não Valor aspectual inacabado A descrição de um estado de coisas (p), localizado num dado I t, tem como ponto de referência um m t, interno a It. 44 Como representantes deste valor aspectual servem tipicamente os tempos passado imperfeito e pretérito perfeito composto, bem como os adverbiais ainda e ainda não. 42 GLP2 (1989:98) 43 GLP2 (1989:98) 44 GLP2 (1989:98) 24

25 4.6 Tipologia aspectual de verbos A tipologia aspectual de verbos inclui tanto diferenciação em estados, processos, processos culminados, culminações e pontos, como a noção de estrutura argumental de verbo. Para podermos prosseguir nesta tipologia temos primeiro de esclarecer a noção de argumento Argumentos verbais Os argumentos fazem, junto com os predicadores, a parte de predicação e esta não abrange apenas a relação entre o sujeito e predicado da oração, mas é também estabelecida entre um núcleo lexical e os seus argumentos 45. O argumento é um complemento obrigatório de certas palavras na frase. A sua função pode ser ilustrada na seguinte frase, na qual os diferentes argumentos estão separados pelas parêntesis rectas: (19 ) [A Ana] emprestou [o livro] [ao Pedro]. Caso nós tirarmos qualquer um dos argumentos (por exemplo o livro), ganhamos uma frase incompleta, agramatical (20 ) *[A Ana] emprestou [ao Pedro]. porque, no momento da enunciação, com certeza ocorre-nos a pergunta O que é que emprestou ao Pedro?. São estes os complementos obrigatórios que fazem parte de dada estrutura argumental ou grelha temática 46 de palavras predicativas, mas estas não são só os verbos, pois podem ser encontradas no domínio dos nomes, dos adjectivos, das preposições e até dos advérbios. Neste ponto, temos de salientar a diferença entre os argumentos e os adjuntos, que fazem parte da interpretação situacional, mas não dependem de nenhum item lexical presente na frase 47 o que acontece com expressões temporais e espaciais como as 45 Consideramos importante salientar a diferença entre as duas concepções diferentes de 'predicado'. O primeiro conceito refere-se ao predicado sintáctico que existe em função de sujeito no domínio da oração. O segundo caso em que encontramos a palavra 'predicado' refere a ideia de predicado, predicador ou palavra predicativa - qualquer palavra que tenha argumentos, lugares vazios ou valência própria (GLP6 2003:183). 46 GLP6 (2003:183) 47 GLP6 (2003:184) 25

26 expressões sublinhadas em (21 ) [A Ana] emprestou [o livro] [ao Pedro] [ontem] [na escola]. Os argumentos são divididos em três tipos. Os primeiros são os verdadeiros argumentos cuja presença na frase é exigida pelos processos de sintaxe. O segundo tipo são os argumentos por defeito cuja presença já não é obrigatória e seu significado participa no significado do verbo como em (22 ) A Ana pintou as unhas [em branco]. O terceiro tipo são os argumentos de sombra 48 e estes também não são obrigatórios e são semanticamente incorporados na palavra predicativa, mas podem aparecer autonomizados. 49 (23 ) Chovia [uma chova miudinha]. (24 ) A vítima chorou [lágrimas de raiva]. 50 Para podermos avaliar a estrutura argumental de um verbo, temos de respeitar os seguintes três pontos de vista. Se não o fizermos, ganharemos sempre uma frase sintacticamente incorrecta e, por isso, também agramatical. O primeiro factor a considerar é o número de verdadeiros argumentos exigidos pelo verbo, porque, segundo este critério, existem os seguintes tipos de verbos verbos com zero argumentos Trata-se de verbos meteorológicos como chover, nevar e perífrases meteorológicas perifrásticas como fazer/estar frio. verbos de um argumento (predicados unários) Na tradição gramatical luso-brasileira, trata-se de verbos intransitivos, nos quais encontramos dois tipos de verbos os inergativos / verdadeiros intransitivos como cantar, correr, tossir e inacusativos como dormir, nascer e desmaiar. A diferença entre estes dois tipos de verbos baseia-se no facto de o argumento dos verbos inergativos ter propriedades típicas de sujeito, enquanto o argumento dos inacusativos exibir tanto propriedades de objecto directo como de sujeito GLP6 (2003:184) 49 GLP6 (2003:184) 50 GLP6 (2003:185) 51 GLP6 (2003: ) 26

27 verbos com dois argumentos (predicados binários) Nesta categoria encontram-se os verbos transitivos como abrir, escrever e dizer. verbos com três argumentos (predicados ternários) Neste caso, trata-se de verbos ditrasnsitivos como emprestar, persuadir e colocar. O segundo factor a considerar é a realização categorial que o verbo especifica para cada um dos seus argumentos. 52 Se o verbo requer um sintagma preposicional, não podemos usar um sintagma nominal, como ilustra o seguinte exemplo: (25 ) [ SN O João] acredita [ SP em fantasmas]. (26 ) *[ SN O João] acredita [ SN fantasmas]. O terceiro e último aspecto é o papel temático/papel semântico dos argumentos seleccionados pelo verbo. Os papeis temáticos básicos são Agente, Fonte, Experienciador, Locativo, Alvo e Tema 53 e não podem ser trocados entre si, porque desta maneira obteríamos uma frase agramatical. (27 ) [ SN A trovoada] espantou [ SN as meninas]. As meninas apresentam papel temático de Experienciador que é a sede psicológica... de uma dada propriedade 54 o que a porta, de frase seguinte, não pode ser. (28 ) *[ SN A trovoada] espantou [ SN a porta] Natureza aspectual de verbos e a sua estrutura argumental Estados e verbos estativos A construção das frases estativas apresenta uma grande variedade sendo possível encontrar nelas tanto os predicados unários como os predicados binários, verbos transitivos, intransitivos, copulativos e até o verbo impessoal haver. Muitas construções estativas são inacusativas ou, pelo menos, têm alguns traços de inacusatividade. 55 Segundo a GLP 56 Os estados podem exprimir-se por meio das seguintes 52 GLP6 (2003:186) 53 Mais sobre a temática de papeis temáticos em GLP6 (2003: ) 54 GLP6 (2003:189) 55 GLP6 (2003:195) 56 GLP6 (2003: ) 27

28 subclasses de verbos: 1. verbos existenciais como haver, existir e ser (no sentido existencial). Estes verbos são unários e seleccionam o argumento Tema 57. (29 ) [Os lobisomens] Tema não existem. 2. verbos locativos de dois lugares que seleccionam os argumentos Tema e Locativo 58. Nesta subclasse são incluídos também os verbos de posse cujo argumento que designa o possuidor pode encarar-se como um Locativo no sentido abstracto. (30 ) (30.1 ) [A Ana] Tema mora [em Berlim] Locativo. (30.2 ) [A Ana] Tema tem [uma grande biblioteca] Locativo. 3. verbos binários aos quais pertencem os verbos epistémicos como saber, os verbos perceptivos como ver, e os verbos psicológicos não causativos como gostar e selecciona os argumentos Experienciador e Tema. (31 ) (31.1 ) [A Ana] Experienciador sabe [alemão] Tema. (31.2 ) [A Ana] Experienciador não viu [a sua amiga] Tema. (31.3 ) [A Ana] Experienciador gosta de [vinho] Tema. 4. verbos copulativos que também podem ser considerados predicados unários. (32 ) [O Pedro] Tema é dono de uma coudelaria de cavalos Lusitanos Processos e verbos de processo Exprimem processos 60, geralmente, os verbos meteorológicos, verbos inergativos de actividade física e verbos de movimento. As modificações adverbiais, marcadas em itálico, também contribuem para a expressão de processos. 57 Tema designa a entidade que muda de lugar, de posse ou de estado, em frases que descrevem situações dinâmicas (GLP6 (2003:190)). 58 Locativo exprime a localização espacial de uma dada entidade (GLP6 (2003:189)). 59 GLP6 (2003:195) 60 Para relembrar o que exactamente são os processos dizemos que estes diferem de processos culminados e culminações por serem atélicos e não apresentarem nenhum estado consequente. 28

29 (33 ) (33.1 ) Relampejou toda a noite. (33.2 ) A Ana chorou horas. (33.3 ) A Ana correu toda a manhã. Há processos nos quais podemos encontrar os verbos transitivos caso sejam respeitadas as seguintes condições: a incorporação do objecto (como em (37.1)) e plurais simples (37.2) ou massivos (37.3) como objectos. 61 (34 ) (34.1 ) Ele já comeu. (34.2 ) A Rita pinta [quadros]. (34.3 ) A Rita bebe [água] quando tem sede Processos culminados e verbos de processos culminados São tipicamente verbos de processo culminado verbos binários ou ternários, de tipo causativo ou agentivo, geralmente num tempo do passado que contribua para a leitura de perfectividade, e em que o argumento interno, com a relação de Tema ou outra, exprime o resultado ou a entidade criada ou afectada pelo processo. 63 (35 ) A Ana comprou o livro Culminações e verbos de culminações Tipicamente processuais são os predicados unários de movimento, de aparecimnto ou desaparecimento em cena, de mudança de estado. 64 Como exemplos destes predicados podem servir-nos os seguintes verbos: chegar, sair, nascer, morrer, falecer, murchar, enegrecer e rejuvenescer. Neste caso, geralmente, trata-se de verbos inacusativos e o argumento externo seleccionado é com frequência o Tema. (36 ) [A Ana] Tema chegou ao emprego. 61 GLP6 (2003:196) 62 GLP6 (2003:196) 63 GLP6 (2003:196) 64 GLP6 (2003:196) 29

30 Há verbos binários com um argumento externo Agente 65 ou Fonte 66 e um argumento interno Tema que exprimem processos culminados e que, quando o argumento Tema selecciona-se para o sujeito, passam a ter uma leitura de culminação o que é ilustrado pelas seguintes duas frases. (37 ) (37.1 ) [O vento] Fonnte partiu [a janela] Tema 67 - processo culminado (37.2 ) [A janela] Tema partiu-se culminação Para um falante checo pode ser problemático perceber a diferença e por isso apresentamos a seguinte situação: Há muito vento e uma janela da casa não está fechada. Os sopros do vento abrem e fecham a janela abre com muita força e passados alguns minutos parte-se o vidro da janela. A frase (37.1) descreve toda esta situação e por isso apresenta uma duração, enquanto que a frase (37.2) apresenta apenas o momento em que a janela se partiu e por isso, como não apresenta nenhuma duração, estamos perante um ponto. Igualmente se inserem na classe dos verbos que exprimem culminações alguns predicadores binários ou mesmo ternários, com um Agente ou uma Fonte como argumento externo e um Tema como argumento interno, mas que, pelo seu significado lexical, denotam um processo pontual, como ganhar (a corrida), conseguir (o prémio), pedir (algo), descobrir (a solução). 69 (38 ) [A Ana] Fonte descobriu [a solução do problema] Tema Pontos e verbos pontuais O valor aspectual de pontos exprime-se tipicamente pelos verbos unários com um argumento Tema ou Experienciador e na tradição anglófona chamamo-los de semelfactivos Agente designa a entidade controladora, tipicamente humana, de uma dada situação (GLP6 (2003:188)). 66 Fonte é a entidade que está na origem de uma dada situação, embora sem a controlar (GLP6 (2003:189)). 67 GLP6 (2003:197) 68 GLP6 (2003:197) 69 GLP6 (2003:197) 70 Podemos observá-lo por exemplo no Svenonius (2004) e também na gramática de E.Becharra (neste trabalho está mencionado no capítulo 8.5. No checo temos um sufixo semelfactivo que cria os predicados 30

31 (39 ) [A Ana] Experienciador espirrou. pontuais. Veja-se o capítulo

32 5 Especificidades do aspecto checo A língua checa pertence às línguas eslavas cujo aspecto é caracterizado pelo facto de rigidamente distinguir entre o perfectivo e o imperfectivo. Todos os verbos checos são ou perfectivos ou imperfectivos e há pouquíssimas excepções 71. Sempre que usarmos os exemplos checos, transcreveremos a estrutura gramatical de partes que serão de nosso interesse e traduzir-nos-emos para o português. Caso nas transcrições estarem as palavras portuguesas juntadas pelo travessão, isto significa que juntas exprimem o significado de uma palavra checa. Para os verbos imperfectivos utilizaremos a abreviação I e para os verbos perfectivos utilizaremos a abreviação P. A lista de abreviações usadas na transcrição está no capítulo 2 deste trabalho. Como encontramos problemas relativos a heterogénea terminologia e decidimonos a prosseguir de seguinte maneira 72. radical os radicais são unidades lexicais portadoras de informação idiossincrática de natureza morfológica, sintáctica e semântica. 73 afixo elemento que se junta à base (pode ser radical, tema ou até uma palavra) e são divididos em: prefixos que ocorrem na periferia esquerda da forma de base 74 sufixos que se encontram à direita da forma base 75. Existem várias possibilidades de distinção de sufixos (sufixos em sufixos lexicais, sufixos flexionais e outros tipos), mas todos são indiscutivelmente sufixos e, como a morfologia não é o tópico central deste trabalho, vamos compreender os sufixos como um todo, excepto os seguintes dois tipos de sufixos: 71 As excepções são constituidas pelos verbos indeterminados cujo valor aspectual não evoluiu. Como exemplo pode servir-nos o verbo běhat 'correr I ' como mostra o seguinte exemplo: Petr běhal do knihovny hodinu. - O Pedro demorava uma hora para chegar à biblioteca a correr - leitura iterativa Petr běhal do knihovny za hodinu. - O Pedro chegava em uma hora a correr à biblioteca. - leitura habitual O verbo determinado com significado de 'correr' é běžet. Veja-se o exemplo: Petr běžel do knihovny hodinu. - O Pedro correu até à biblioteca durante uma hora. *Petr běžel do knihovny za hodinu. -?O Pedro correu até à biblioteca em uma hora. Para a explicação veja-se o Dočekal (2008) Nas nossas explicações não vamos levar estas raras excepções em consideração. 72 Os termos que serão explicados ao longo do texto agora omitimos. 73 GLP6 (2003:920) 74 GLP6 (2003:941) 75 GLP6 (2003:942) 32

33 Constituinte temático este sufixo identifica a pertença de um radical a uma dada classe temática que é uma relação lexicalmente determinada e que geralmente é tornada visível Sufixos de flexão na flexão verbal estes sufixos são os que exprimem as categoria pessoa-número, na flexão nominal os que exprimem o número e género. 5.1 Diferenças entre o verbo português e verbo checo. A diferença mais importante entre a concepção do aspecto nas línguas checa e portuguesa consiste no facto de, na língua checa, o aspecto do predicado ser alterado pela prefixação, em português ser alterado através de verbos auxiliares. Sempre deduzimos o valor aspectual do verbo checo de seus prefixos. Se o verbo aparecer prefixado, tratar-se-á de verbo perfectivo. (Veja-se os exemplos (1)-(2).) Os prefixos checos podem mudar ou apenas o aspecto do verbo ou também o seu significado. A abordagem tradicional eslavística diz que o aspecto é uma categoria verbal (seja gramatical ou lexical) inerente a todos os verbos eslavos, e por isso também aos checos, e que estes verbos são divididos segundo o seu valor aspectual em verbos perfectivos e verbos imperfectivos. A diferença entre os verbos perfectivos e imperfectivos observa-se nos seguintes exemplos 76 : (1) (1.1) jít (1.2) ir I (1.3) ir, andar (2) (2.1) do-jít (2.2) PERF-ir P (2.3) chegar O V. Šmilauer oferece-nos a definição tradicional da diferença destes dois verbos 76 (1.1) apresenta o exemplo em checo (ou nas outras línguas, além de português), (1.2) apresenta transcrição literal do (1.1) e (1.3) apresenta a tradução para o português. 33

34 dizendo que esta consiste na maneira de nossa perspectivação da acção: no campo de verbos imperfectivos observamos apenas a qualidade da acção, mas já não a sua limitação temporal; no campo dos verbos perfectivos concentramo-nos para uma parte da acção. Podemos perspectivar as seguintes partes: a acção momentânea (3) (3.1) střelí, hodí, skočí (3.2) atirará P, jogará P, saltará P (3.3) atirará jogará saltará o começo da acção (4) (4.1) vy-běhl, roz-plakal se (4.2) PERF-correu P PERF-chorou P (4.3) saiu a correr, desatou a chorar o fim da acção (5) (5.1) do-běhl vy-plakal se (5.2) PERF-correu P PERF-chorou P (5.3) acabou de correr, chorou à vontade podemos também englobar o começo e fim da acção numa unidade (6) (6.1) pro-běhl se pro-plakala celou noc 34

35 (6.2) PERF-correu P PERF-chorou P toda noite (6.3) correu chorou a noite toda Por outras palavras podemos dizer que o verbo (1) é imperfectivo, porque não inclui a limitação temporal da acção, mas o verbo (2) é perfectivo, porque este exprime a limitação temporal, neste caso cessativa. Como mostram todos os exemplos em checo até agora apresentados, os verbos perfectivos aparecem prefixados, enquanto que os verbos imperfectivos não o fazem. Trata-se de um fenómeno comum a todas as línguas eslavas, porque a prefixação é uma das possibilidades de transformação do verbo imperfectivo no verbo perfectivo. Os prefixos eslavos desempenham, ás vezes, a função semelhante às locuções verbais portuguesas, veiculando o valor aspectual do seu verbo base. Mas isso não é a única maneira de alterar o valor aspectual. Os verbos checos podem exprimir a alteração de valor aspectual também, por meio de outros processos: colocando o verbo na locução verbal. (7) (7.1) Přestal ps-á-t knihu. (7.2) Deixou de escrev-v-inf I o livro. (7.3) Deixou de escrever o livro acrescentando um prefixo ao verbo (8) (8.1) Do-ps-a-l knihu. (8.2) PERF-escrev-v-PST P o livro (8.3) Acabou de escrever o livro. acrescentando ou um sufixo ao verbo (9) (9.1) Do-pis-ova-l knihu. (9.2) PERF-escrev-IMPF-PST I o livro. (9.3) Estava a acabar de escrever o livro. 35

36 Ás vezes, estas operações podem até ocorrer simultaneamente sem que resulte uma frase de pouco uso: (10) (10.1) Přestal do-pis-ova-t knihu. (10.2) Deixou de PERF-escrev-IMPF-INF I o livro. (10.3) Deixou de acabar o livro. Na prefixação dos verbos checos encontramos a diferença muito marcante entre o aspecto e o aktionsart (aspecto lexical). Veja-se os seguintes verbos: (11) (11.1) mluvit ~ falar I ~ falar (11.2) do-mluvit ~ PERF-falar P ~ acabar de falar; combinar (11.3) pro-mluvit ~ falar P ~ falar, dar uma palestra (11.4) za-mluvit ~ PERF-falar P - ~ desconversar (11.5) za-mluvit ~ PERF-falar P ~ reservar (11.6) pře-mluvit ~ PERF-falar P ~ convencer, persuadir (11.7) vy-mluvit se ~ PERF-falar P ~ dar uma escapadela para não ter de fazer alguma coisa (11.8) o-mluvit se ~ PERF-falar P ~ desculpar-se Todos estes verbos baseiam se no verbo mluvit 'falar' e diferem apenas pelos seus prefixos. Neste caso falamos sobre o Aktionsart e incluimo-lo na explicação. Observando os verbos do exemplo (11) podemos dizer que apenas o verbo (11.1) mluvit é atélico e os outros são télicos. Apenas entre os verbos (11.1) mluvit e (11.2) domluvit encontramos somente a diferença aspectual, todos os outros verbos diferem de (11.1) também semanticalmente. A diferença entre o verbo (11.1) e os verbos (11.3-8) consiste no aktionsart, porque os significados destes verbos não resultam apenas de seus radical mas também da semântica dos seus prefixos. Em língua checa, há um teste fácil para definir a natureza do verbo télico. Aos verbos que exprimem o aktionsart, porém, pode ser acrescentado o sufixo 36

37 imperfectivizante -Vva- cuja aplicação para os verbos que exprimem apenas o valor aspectual resultará agramatical. Veja-se o exemplo: (12) (12.1) do-mluv-i-t -» do-ml-ouva-t (mas apenas com o sentido de combinar) (12.2) PERF-fal-v-INF P -» PERF-fal-IMPF-INF I (12.3) pře-mluvit -» pře-ml-ouva-t (12.4) PERF-fal-v-INF P -» PERF-fal-IMPF-INF I (13) (13.1) ps-á-t -» na-ps-a-t -» *na-pis-ova-t (13.2) escrev-v-inf I -»PERF-escrev-v-INF P -»PERF-escrev-IMPF-INF I (14) (14.1) psát -» do-ps-a-t -» do-pis-ova-t INF I (14.2) escrev-v-inf I -» PERF-escrev-v-INF P -»PERF-escrev-IMPF- O verbo napsat em (13.1) é apenas aspectual e o verbo dopsat em (14.1) já mostra as características de aktionsart. Como já foi dito, os verbos eslavos são divididos em dois grupos: pertencendo uns aos verbos perfectivos e outros aos verbos imperfectivos. Será que depende de tipo aspectual dos verbos que entram nas construções com os verbos aspectuais 77 e que há algumas restrições na possibilidade de combinação dos verbos perfectivos e imperfectivos com outros verbos? Em checo, na área de verbos de operação aspectual, podemos encontrar uma regra simples. Apenas os verbos imperfectivos podem entrar nas construções perifrásticas. Veja-se o exemplo: (15) (15.1) Petr začal číst / *přečíst knihu. (15.2) O Pedro começou a ler I / PERF-ler P o livro. 77 GLP6 (203:315) 37

38 (15.3) O Pedro começou a ler o livro. Dissemos que, em checo, a diferença entre os verbos télicos e atélicos provem de prefixação enquanto que, em português, provem de tempos verbais e de construções que alteram o valor aspectual. Em português, porém, também encontramos alguns sufixos de verbalização que implicam certo valor aspectual. Entre estes poderiam pertencer os seguintes: -itar saltitar -ecer - amanhecer -ejar gaguejar - estado iterativo - processo culminado - estado habitual 5.2 Sufixos A estrutura de sufixos eslavos é bastante complexa e, como podemos dizer, mais complicada do que o sistema português. Como o verbo eslavo exprime os tempos verbais a maior parte das vezes apenas pela sufixação, os sufixos eslavos veiculam mais informações do que os sufixos portugueses. Podemos deduzi-lo, porque até os verbos principais, em português, exprimem algumas das suas categorias gramaticais através de auxiliares, enquanto que os verbos eslavos o fazem com uma frequência muito menor. Seus afixos contêm quase todas as informações de pessoa, número, género, tempo verbal, aspecto, modo, classe e padrão de conjugação. Existe regra básica de Jakobson, a regra de regressive VV simplification 78, que regula possibilidades de combinação de sufixos eslavos e também ajusta as mudanças morfonológicas que estas combinações causam: In a morfologically derived sequence of two vowels, the first deletes 79. Veja-se o seguinte exemplo: (16) (16.1) mlč-e-t ~ estar calado (16.2) cal-v-inf (16.3) /mlč-e-í-š/ > mlč-í-š ~ estás calado (16.4) /cal-v-prés-2psg/ > cal-prés-2psg 78 Simplificação vocálica regressiva (tradução própria) (Svenonius(2004:180)) A sigla VV da citação significa encontro de dois vogais. 79 Na sequência de duas vogais morfologicamente derivadas, a primeira vogal retira-se. (tradução própria) (Svenonius (2004:180)) 38

39 Vejamos a diferença entre estas duas formas do mesmo verbo. O verbo (16.1) está no infinitivo e o verbo (16.3) está na segunda pessoa do singular do Presente. No infinitivo vemos o sufixo -i- entre o radical e sufixo infinitivo -tj e, como o sufixo -e- exprime valor de presente e o sufixo -š exprime a segunda pessoa do singular, o sufixo -i- de infinitivo já não está presente na segunda pessoa do singular do Presente. Outra regra que influencia a forma final de sufixos verbais é a de consonant mutation or softening 80. Trata-se de palatalização que geralmente acontece na última consoante do radical, antes de certos sufixos. Veja-se o exemplo de checo: (17) (17.1) péc-t - assar (17.2) peč-e-š - assas Para completar digamos que o -t é sufixo de infinitivo, -e- é sufixo de Presente e - š é sufixo de segunda pessoa do singular Vogais temáticas As vogais temáticas podem ser encontradas tanto na língua checa como na portuguesa. Opostamente ao português, as vogais temáticas eslavas não são puramente vocálicas, já que no grupo das vogais temáticas eslavas, podemos encontrar também -ova-, -nu e outros. A vogal temática segue o radical e podemos dizer que we can distinguish between the root, namely the innermost part of the word, and the stem, here assumed to be the root plus the theme vowel 82. As vogais temáticas determinam a selecção de alomorfos para as categorias gramáticas. Por exemplo os i-temas checos exigem a desinência /m/ na primeira pessoa do singular do Presente (9), enquanto que os a-temas exigem ou a desinência /i/, no caso 80 Mudança consonântica ou abrandamento (tradução própria)(svenonius (2004:180)) 81 Há linguistas que defendem a teoria segundo a qual a mudança consonântica do radical pode revelar a sequência de dois vogais implícita que se retira, na superfície: certas implícitas sequências de dois vogais resultam na palatalização da consoante precedente. (tradução própria)(svenonius (2004:180)): pod-sid-e-tj ~ pod-siž-ø-yva-tj abaixo-sentar-v-inf P ~ abaixo-sentar-v-impf-inf I destituir, exonerar A vogal retirada está, no exemplo acima, marcada pelo símbolo Ø podemos fazer distinção entre o radical, quer dizer a parte mais interna da palavra, e o tema, aqui assumido como o radical mais a vogal temática. (tradução própria) (Svenonius (2004:181)) Na terminologia portuguesa, diríamos que o tema é constituido por radical e constituinte temático. O tema está presente tanto nos verbos como nos adjectivos. O constituinte temático chamamos vogal temática, na área de verbos, e índice temático, na área de nomes e adjectivos. (GLP6 2003) 39

40 da língua erudita, ou a desinência /u/, no caso da língua falada(10) 83 : (18) (18.1) prosi-t > pros-í-m (18.2) pedir-inf pedir-pres-1psg (18.3) pedir peço (19) (19.1) psá-t > píš-0-i / píš-0-u (19.2) escrever-inf escrever-pres-1psg (19.3) escrever escrevo Cada radical, geralmente pode ser combinado apenas com uma vogal temática, mas há excepções que apontam para a possibilidade de alteração de significado de verbos e de sua leitura aspectual. Um exemplo é a alteração causativo-incoativa baseada nos radicais nominais e adjectivais. Segue-se o exemplo checo: (20) (20.1) z-bohat-nou-t ~ o-bohat-i-t (20.2) PERF-ric-v-INF ~ PERF-ric-v-INF (20.3) ficar rico enriquecer de a.c. Há muitos linguistas interessados na influência das vogais temáticas sobre a estrutura argumental de verbos e há, analogamente, muitas opiniões. Como este tema não corresponde ao tema deste trabalho, não vamos procedi-lo e vamos contentar-se com este esboço da problemática de vogais temáticas. 84 Por outro lado, o que nos interessa é a questão de influenciação de aspecto verbal, que será tratada na parte seguinte deste capítulo Alterações de perfectivo / imperfectivo Geralmente, as alterações de perfectivo e imperfectivo acontecem acrescentando- 83 Para consultar a problemática da vogal temática portuguesa recomendamos o GLP6 (2003: ) 84 Para mais informações sobre esta temática, recomendamos a publicação de Nordlyd, volume 32, Nr.2, acessível na página 40

41 se ao verbo imperfectivo os prefixos perfectivizantes. Mas há casos de verbos que não apresentam nenhuns prefixos, seus significados lexicais são muito próximos um ao outro e diferem, na verdade, apenas no seu valor aspectual. Uns são imperfectivos e outros são perfectivos. Veja-se o seguinte exemplo 85 : (21) skákat I skočit P 'pular' 86 Observando os exemplos apresentados, vemos que a única diferença entre os verbos de lado esquerdo e as de lado direito consiste na vogal temática. A vogal temática de predicados perfectivos é sempre -i enquanto que a vogal temática de predicados imperfectivos é -a ou -aj 87. Concluamos que a alteração de perfectivo / imperfectivo pode ser feita, nalgumas línguas eslavas, através de alteração de vogais temáticas -i / -a, -aj. Outras possibilidades de alteração aspectual apresenta-nos o par de vogais temáticas -a / -nu, -nou. Vejam-se os exemplos 88 : (22) (22.1) klepat klepnout 'bater a porta' - 'dar uma batida a porta (22.2) tahat (za)-táhnout 'puxar' 'dar um puxo' O sufixo semelfactivo -nu / -nou indica os eventos pontuais como vemos nos verbos de lado direito. A posição desta oposição não é tão forte, em checo, porque, nesta língua, encontramos com maior frequência um dos verbos, deste par diferenciado pela vogal temática, prefixado. Contudo podemos concluir, que esta alteração também está está presente no checo. Embora estas alterações de perfectivo / imperfectivo operadas pelas vogais temáticas estejam presentes em várias línguas eslavas, temos de salientar que todas estas alterações já não são produtivas, e por isso não as podemos usar intencionalmente para alterarmos os verbos de perfectivos em imperfectivos e vice versa. 85 Seguem-se exemplos de russo e de servo-croato tirados de Svenonius (2004: ), que ilustram o mesmo fenómeno em outras línguas: končatj I končitj P 'acabar' skakati I skočiti P 'pular' 86 No caso do exemplo (21) e dos seguintes nos quais a interpretação portuguesa está marcada de seguinte 'maneira' esta apresenta apenas o núcleo lexical, não a tradução 87 o /j/ desta vogal temática russa podemos ver nos casos em que a desinência iniciada pela vogal seja empregada končajut 'acabam I ' 88 Outros exemplos de russo (os primeiros dois) e servo-croato (o resto) seguem-se: kidat I kidnut P 'lançar' dvigatj I dvinutj P 'deslocar' kucati kucnuti 'bater a porta' - 'dar uma batida a porta' štucati štucnuti 'soluçar' 'dar um soluço' 41

42 5.2.3 Imperfectivos secundários Observando detelhadametnte os verbos imperfectivos eslavos, descobriremos que uma parte deles compartilha o sufixo /ova/ em suas representações alomórficas. Este sufixo chamamos na terminologia checa sufixo imperfectivo secundário, porque ele tem a capacidade de transformar os verbos perfectivos em imperfectivos, mesmo quando os perfectivos já resultem de uma perfectivização. Este sufixo apresenta características tanto morfológicas como gramaticais, mas a sua influência é maior no campo lexicológico. Para esclarecermos esta operação de imperfectivização secundária, apresentamos o seguinte exemplo de checo: (23) (23.1) ps-á-t -» po-ps-a-t -» po- pis-ova-t (23.2) escrever-v-inf I -»PERF-escrever-v-INF P -» PERF-escrever- IMP-INF I (23.3) escrever -»descrever P -»descrever I No terceiro verbo deste exemplo vemos, que embora na sua estrutura esteja presente tanto prefixo perfectivo como o sufixo imperfectivo secundário, o verbo pertence aos verbos imperfectivos Prefixos No domínio das línguas eslavas, distinguimos os dois seguintes tipos de prefixos: os prefixos lexicais e os prefixos superlexicais 90. O significado de prefixos lexicais baseiase nas relações espaciais e ajuntando-se estes prefixos aos verbos, obtemos os predicados resultativos. Como já dissemos, os prefixos lexicais podem alterar o significado do verbo e 89 Para ilustrar que este processo é presente em línguas eslavas em geral, apresentamos os seguintes exemplos tirados de Svenonius (2004:186): pis-a-tj ~ pis-yva-tj (russo) escrever-v-inf I ~ esrcever-imp-inf I pos-a-ć ~ pis-ywa-ć (polaco) escrever-v-inf I ~ esrcever-imp-inf I pis-a-ti ~ pis-iva-ti (servo) escrever-v-inf I ~ esrcever-imp-inf I pis-a ~ pis-va-m (búlgaro) escrever-v I ~ esrcever-imp-1psg I 90 Os termos são tradução de termos lexical prefixes e superlexical prefixes de Svenonius (2004) 42

43 mudam a estrutura argumental de verbos. Veja-se o exemplo: (24) (24.1) Pes ležel *deku. (24.2) O-cão jazer I *o cobertor-ac (24.3) O cão estava deitado no cobertor. (25) (25.1) Pes pro-ležel deku. (25.2) O-cão PERF-jazer P o cobertor-ac (25.3) O cão passou tanto tempo sobre o cobertor que o furou. Os prefixos lexicais, em checo podem também alterar a transitividade de verbos. Veja-se as seguintes frases: (26) (26.1) Petr psal. (26.2) O Pedro escreveu I. (26.3) O Pedro estava a escrever. (27) (27.1) *Petr napsal. (27.2) O Pedro PERF-esreveu P. (27.3) *O Pedro escreveu. (28) (28.1) Petr napsal dopis. (28.2) O Pedro PERF-esreveu P uma-carta-ac. (28.3) O Pedro escreveu una carta. Nos exemplos podemos ver que a forma prefixada de verbo (perfectiva) exige o objecto directo enquanto que a forma sem prefixo não. Vejamos as seguintes duas frases (29) O Pedro estava a escrever. 43

44 (30) O Pedro escreveu uma carta. Na primeira frase vemos, que como o Progressivo exprime processos, não necessita de objecto, mas o Pretérito Simples o exige. Vejamos a lista dos prefixos lexicais checos 91 com exemplos 92 : correr do- 'para' doběhnout ~ PERF-correr P ~ correr até algum ponto /acabar de s- 'com' stáhnout ~ PERF-puxar P ~ ajustar za- 'atrás' zajít ~ PERF-ir P ~ ir atrás de, sumir atrás de pod- 'sob' podejít ~ PERF-ir P ~ ir debaixo de při- 'cerca de' přijít ~ PERF-ir P ~ vir od- 'fora de' odejít ~ PERF-ir P ~ partir, afastar-se v-/ve- 'em' vejít ~ PERF-ir P ~ entrar vy- 'para fora' vyjít ~ PERF-ir P ~ sair po- 'passando por' poskákat ~ PERF-pular P ~ pular sobre na- 'sobre' napadnout ~ PERF-cair P ~ atacar pře- 'através de' přepadnout ~ PERF-cair P ~ assaltar pro- 'através de' projít ~ PERF-ir P ~ passar roz- 'fora' rozesmát se ~ PERF-sorrir-se ~ desatar a rir u- 'de' ujít ~ PERF-ir P ~ percorrer o- 'sobre' nenapadá Vás prosím priklad? ob- 'cerca de' obejít ~ PERF-ir P ~ dar uma volta a před- 'antes de' předejít ~ PERF-ir P ~ adiantar-se a, Os prefixos superlexicais checos, po- 93 e na-, podem cumular-se e não exprimem os significados espaciais e idiomáticos como os prefixos lexicais. Outras diferenças são as 91 A lista foi tirada de Svenonius (2004:194) 92 Os prefixos podem ser encontrados também nas expressões idiomáticas nas quais sempre não respeitam estes significados. 93 Este po- superlexical tem diferente significado do que o po- lexical. 44

45 seguintes: têm o escopo através de prefixos lexicais, o que significa que o seu significado é submetido ao significado de prefixos lexicais; não qualificam mas quantificam a acção expressa pelo verbo, sendo o seu significado geralmente temporal ou de quantificação; não alteram a estrutura argumental do verbo. Veja-se os exemplo: (31) (31.1) po-při-skočit k (31.2) po-para-pular P para (31.3) saltar um pouco, uma vez, em direcção a/para (32) (32.1) po-od-skočit od (32.2) po-de-pular P od (32.3) saltar um pouco, uma vez, afastando se de Na transcrição da estrutura desses verbos demos a tradução do significado dos prefixos lexicais para ilustrarmos que o prefixo po- apenas quantifica o significado expresso pelo verbo a que se acrescenta. O sistema de prefixos verbais português já não é produtivo. Temos os prefixos modificadores que não determinam a categoria sintáctica da palavra em que ocorrem, nem o valor das categorias morfológicas, morfo-sintácticas e morfo-semânticas relevantes 94 6 Valor aspectual dos tempos verbais portugueses Observe-se as seguintes frases. (1) (1.1) Ela correu na pista (durante meia hora) processo (1.2) Ela correu os dez mil metros processo culminado 94 GLP6 (2003:963), nesta página encontram-se também os exemplos 95 GLP6 (2003:137) 96 GLP6 (2003:137) 45

46 (1.3) Ela corre pelo clube de Braga estado (habitual) (1.4) Ela está a correr na pista do seu clube estado (progressivo) A grande variedade aspectual, a qual dá origem a interpretações polissémicas de frases não pode ser atribuida apenas ao verbo correr e à sua ambiguidade. Na verdade, esta variabilidade semântica resulta da soma dos sememas das componentes frásicas. O verbo correr em si é um processo e só juntando-se a ele outras componentes frásicas ganhámos as diferentes características aspectuais, denominadas derivadas. Há vários factores que contribuem para a leitura aspectual final e estes serão tratados nos capítulos sucessivos. Neste capítulo trataremos de tempos verbais e da sua atribuição à aspectualidade da frase. 6.1 Presente A especificidade deste tempo gramatical consiste no facto de este tempo ser pelo menos parcialmente sobreposto ao tempo da enunciação da frase, no domínio de estados. Contudo, raramente oferece apenas a informação temporal relativa ao tempo presente, o que é possível no domínio de estados, mas no domínio de eventos a pura informação temporal é restringida, embora possa ser encontrada nalgumas culminações, processos culminados e pontos. Na maioria de casos o Tempo Presente veicula também a informação aspectual. As frases seguintes mostram os exemplos que trazem somente a informação temporal. (2) A Ana está feliz. - estado (3) O jogador remata fortemente à baliza evento (culminação) (4) Baptizo este barco com nome de Santa Catarina. - frase performativa Não obstante, no caso de processos não ocorre apenas a leitura temporal, como ilustra a seguinte frase: (5) A Ana fuma. A leitura que ocorre primeiramente é a de habitualidade, construída com base 97 GLP6 (2003:137) 98 GLP6 (2003:137) 99 GLP6 (2003:154) 46

47 numa ocorrência indeterminada de eventos do mesmo tipo que têm lugar num intervalo de tempo não delimitado, mas que inclui o tempo da enunciação. 100 No passado acontece o mesmo com o Imperfeito. No caso de processos culminados raramente deixamos de utilizar os adverbiais de quantificação (frequentemente, todos os dias) ou os adverbiais de duração do evento (em x tempo). Caso não usarmos os adverbiais, obtemos a mesma leitura de habitualidade como com os processos. (6) (6.1)?O Manuel lê um livro. (6.2)?O Manuel faz o almoço. (6.3) O Manuel lê um livro todas as semanas / em duas horas. (6.4) O Manuel faz o almoço muitas vezes / em meia hora. 101 A gramaticalidade de primeiras duas frases pode ser posta em questão, mas sempre encontramos um contexto em que é aceitável. A segunda frase é aceitável se for entendida como um plano estabelecido no presente. 102 As culminações são pouco comuns no Presente salvo os casos em que se trata de relato directo, como em (7) Neste momento, a Ana entra a sala... ou de casos em que adquire a iteratividade ou habitualidade mediante um adverbial de quantificação, como na frase seguinte: (8) O Rui ganha a corrida sempre / todos os anos. 103 Esta transição de evento para um estado iterativo, ou até habitual, ajuda-nos a perceber a razão de as frases genéricas aparecerem no Presente, pois essas frases são estativas em medida em que são construidas na base de um certo número de ocorrências de um evento, permitindo atribuir propriedades. 104 O Presente Progressivo é um caso particular, porque em si exprime o tempo parcialmente sobreposto ao momento da enunciação de processos e processos culminados. 100GLP6 (2003:144) 101GLP6 (2003:145) 102GLP6 (2003:145) 103GLP6 (2003:145) 104GLP6 (2003:145) 47

48 No caso das culminações pode ocorrer fora da mudança aspectual também uma mudança temporal. (9) O comboio está a chegar. Esta frase apresenta-nos duas leituras possíveis conforme a intenção do locutor, o qual deseja ora exprimir que a acção ocorre num momento preciso da enunciação ora focar a fase preparatória desta culminação. A primeira possibilidade pode ser expressa pela paráfrase O comboio está a chegar neste momento, enquanto que a segunda leitura pode ser parafraseada por O comboio está quase a chegar. Outros pontos de interesse podemos encontrar no campo dos estados, subclassificados em estados faseáveis e não faseáveis. A diferença resultará evidente colocando os estados nas frases no Presente as quais referem para um tempo posterior ao momento da enunciação. O uso de Presente com o valor de futuro é ilustrado pelas frases sucessivas: (10) Amanhã a Rita corre no estádio universitário / apresenta uma comunicação / chega ao topo dos Pirenéus. 105 que contêm os seguintes eventos: um processo (correr), um processo culminado (apresentar uma comunicação) e uma culminação (chegar ao topo de Pirenéus). Veja-se a situação com emprego de estados: (11) Dentro de uma semana a Maria está em casa /?vive em Paris /?é simpática com os colegas / *é alta /?tem um BMW. 106 Analisando os estados faseáveis, chegaremos à conclusão de que, para podermos usá-los, teríamos de conhecer o contexto de enunciação. A aceitação dos estados não faseáveis é, nessa situação, muito infrequente ou agramatical. Contudo, os estados faseáveis, apresentados na forma de Presente Progressivo, permitem a projecção para o futuro: (12) Dentro de uma semana a Maria está a viver em Paris / está a ser simpática com os colegas GLP6 (2003:154) 106GLP6 (2003:155) 107GLP6 (2003:155) 48

49 6.2 Pretérito Perfeito Simples, Imperfeito e Mais-Que-Perfeito Esta parte de capítulo abordará o tema das leituras aspectuais básicas dos tempos de passado em conjunto e por este motivo apresentamos as seguintes frases nas quais vamos basear as nossas explicações. (13) (13.1) A Ana leu o livro. (13.2)?A Ana lia o livro. (13.3)?A Ana lera/tinha lido o livro. (14) (14.1) A Ana esteve doente. (14.2)?A Ana estava doente. (14.3)?A Ana estivera/tinha estado doente. (15) (15.1) A Ana morreu. (15.2)?A Ana morria. (15.3)?A Ana morrera/tinha morrido. (16) (16.1) A Ana tocou piano. (16.2)?A Ana tocava piano. (16.3)?A Ana tocara/tinha tocado piano. (17) (17.1) A Ana espirrou. (17.2)?A Ana espirrava. (17.3)?A Ana espirrara/tinha espirrado. As frases ( ) têm o predicado no Pretérito Perfeito Simples, as frases ( ) têm todas o predicado no Imperfeito e todas as frases ( ) apresentam o Pretérito Mais-que-perfeito Composto. 49

50 Todos estes tempos serão explicados em conjunto num capítulo, sendo que todos apontam para o passado descrevendo acções passadas antes de momento da enunciação. Contudo cada um destes tempos gramaticais apresenta as suas características específicas e exprime diferentes valores aspectuais Pretérito Perfeito Simples Uma peculiaridade específica de Português consiste no facto de que o Pretérito Perfeito Simples não altera necessitamente o valor aspectual da predicação, contrariamente ao que tradicionalmente se considera, dizendo que é perfectivo. 108 É que, neste ponto depende, em grande medida, da interpretação da perfectividade. Se esta foi percebida como uma situação terminada, então a conclusão é referida pelo Pretérito Perfeito Simples. Opostamente, se a perfectividade implicar uma alteração aspectual, então teremos de optar por defender que o Perfectivo tem em conta o estado consequente do Núcleo Aspectual 109 o que o Pretérito perfeito simples não faz necessariamente. Na verdade, fá-lo somente nos casos em que há culminação e estado consequente do Núcleo Aspectual.. Esta afirmação pode ser ilustrada pela diferença entre as frases (13.1), (15.1), (17.1), nas quais se mantêm as informações aspectuais veiculadas pelo predicado, e entre as frases (14.1) e (16.1). O processo culminado de frase (13.1) mantem a sua culminação de mesmo modo como se preserva a culminação e o ponto das frases (15.1) e (17.1). Por outro lado, nas frases (14.1) e (16.1) atribui-se um limite a um estado, no caso da frase A Ana esteve doente (e já não está), e atribui-se também limite a um processo, na frase A Ana tocou piano (e já não toca). Consequentemente dizemos que é terminativo, isto é, marca um momento em que um estado ou um evento terminou 110. Continuamos, porém, a considerar estas duas frases como um estado e um processo, porque continuam a poder ser aumentadas pelo adverbial durante x tempo. (18) A Ana tocou piano durante três horas. (19) A Ana esteve doente durante três dias. 108GLP6 (2003:139) 109GLP6 (2003:139) 110GLP6 (2003:156) 50

51 6.2.2 Imperfeito Nos exemplos básicos (especificamente nas frases (x.2)) vimos que e aceitação das frases no Imperfeito sem nenhum enquadramento no contexto, seja pela oração temporal ou alguma expressão adverbial de quantificação (no caso de processos) ou localização temporal (no caso de estados), é um pouco dubitável. Veja-se as frases seguintes: (20) A Ana lia o livro quando o telefone tocou. (21) A Ana estava doente na semana passada. (22) A Ana morria quando a levaram para o hospital. (23) A Ana trabalhava enquanto a Maria?esteve / estava na casa da avó. (24) A Ana espirrava quando *houve / havia ar-condicionado. Nestas frases podemos ver como a localização contextual possibilita a aceitação das frases, embora haja umas alterações aspectuais, o que, porém, não acontece nas frases (21) e (23), visto que estas frases apresentam um estado e um processo. Nestes casos o Imperfeito exprime nos vários casos um valor imperfectivo que transforma as situações eventivas em estados. Na frase (21) há somente a informação temporal na qual o Imperfeito não atribui qualquer limite ao processo de estar doente e por isso podemos afirmar que a Ana estava doente na semana passada e ainda está, o que não foi possível com o Pretérito Perfeito Simples, no qual só podemos dizer A Ana esteve doente e já não está, porque o Perfeito atribui um limite ao estado, que consequentemente continua a ser estado, embora o seu percurso já seja terminado no momento da enunciação. A natureza do processo da frase (23), que também não apresenta nenhumas delimitações internas, causa que parece mais natural quando a segunda oração está também no Imperfeito 111. Ao contrário das frases (21) e (23), nas frases (20) e (22) ocorreu a alteração aspectual. Na frase (20) a ação de ler o livro simplesmente ainda não culminou, e por isso o processo culminado passou a ser um processo. Um situação semelhante encontramos também na frase (22) onde o verbo morrer em si apresenta uma culminação, mas toda a frase (22) apresenta um processo, visto que ainda estamos na fase preparatória iminente do Núcleo Aspectual, na qual a culminação não ocorreu ainda. 111GLP6 (2003:140) 51

52 O último caso é a frase (24), na qual encontramos uma leitura de habitualidade construída na base de ponto, neste caso representado pelo verbo espirrar. Como o ponto não apresenta nenhuma estrutura interna, não-lhe podemos atribuir um processo preparatório. Assim teremos de concluir que estamos perante uma ação repetida no passado condicionada pelas circunstâncias da segunda frase. Por isso também não é aceitável o Perfeito na oração subordinada. Com base nos exemplos anteriores podemos concluir que o Imperfeito, sendo um tempo do passado, tem também associados efeitos aspectuais consideráveis na medida em que, por ser um tempo alargado, torna simultaneamente possível transformar eventos télicos em predicados atélicos, não delimitados, havendo até possibilidade de os transformar em estados (habituais ou outros). Essas modificações são por isso mais evidentes nos predicados atélicos 112. Também podemos concluir que, analogamente ao Presente, o Imperfeito, em muitas construções, não apresenta somente a informação temporal Pretérito Mais-que-Perfeito De mesma maneira como nas frases no Imperfeito, também nas frases no Pretérito Mais-que-perfeito vemos a necessidade de alguma localização ou quantificação temporal. Isto acontece tal no Pretérito Mais-que-perfeito Composto como no Simples. Este tempo gramatical fornece-nos em primeiro lugar a informação temporal de anterioridade do acontecimento a um outro acontecimento do passado, tipicamente exprimido pelo Pretérito Perfeito que serve de ponto de referência. É este ponto de referência que faltou nas frases que servem de base a este capítulo. Vejamos as seguintes frases completadas pelos pontos de referência: (25) A Ana tinha lido o livro quando a Maria chegou. (26) A Ana tinha estado doente quando a Maria chegou. (27) A Ana tinha morrido quando a Maria chegou. (28) A Ana tinha trabalhado quando a Maria chegou / até a Maria chegar. (29) A Ana tinha espirrado quando a Maria chegou. Como podemos ver, este tempo gramatical estabelece os estados consequentes 112 GLP6 (2003: ) 52

53 para todas as situações que incluem culminação. Isso podemos ver nas frases (25) e (27) e desta maneira temos, para além da informação temporal, um estado consequente (o livro estar lido e a Ana estar morta) durante qual ocorreu a chegada da Maria. Esta é a característica da perfectividade que já tratámos na parte que falava do Pretérito Perfeito Simples. Nos outros exemplos encontramos novamente só a característica de terminado e podemos dizer que, quando a Maria chegou, a Ana já não esteve doente, não trabalhou e também já não estava a espirrar. A informação de terminado foi também atribuída ao Pretérito Perfeito Simples, mas temos de salientar que em construções paralelas às anteriores receberemos leituras diferentes. Veja-se as frases: (30) A Ana esteve doente quando a Maria chegou. (31) A Ana trabalhou?quando a Maria chegou / até a Maria chegar. (32) A Ana espirrou quando a Maria chegou. Na primeira destas três frases estamos perante uma sequência de dois acontecimentos, em que estado (estar doente) ocorre depois de a Maria chegar. Na segunda frase, aceitando a primeira possibilidade, estamos de novo perante mesma leitura, enquanto na segunda possibilidade o estado (trabalhar) precede à chegada da Maria. A leitura da terceira mais conveniente é a de sobreposição temporal. As leituras das frases nas quais o predicado é no Pretérito Mais-Que Perfeito seriam diferentes. Comparando os exemplos apresentados neste capítulo e também nos capítulos anteriores, podemos concluir que a característica de perfectivo pode ser atribuída somente aos predicados que já na sua forma básica apresentam uma culminação. Isso significa que, no português, a perfectividade não é resultado de alteração aspectual efectuada pelos tempos verbais, não é exprimida através de diferença entre o Imperfeito e Pretérito Perfeito. No outro lado, a característica que é atribuída pelos tempos gramaticais é a de terminado. Um dos argumentos que falam a favor dessa afirmação é o facto de que há os adverbiais de tempo que são compatíveis com o tipo aspectual básico de situação, isto é, de medição (e delimitação) temporal (em x tempo) 113, para os que contêm uma culminação, e de mediação temporal (durante x tempo) para os restantes GLP6 (2003:163) 114 GLP6 (2003:163) 53

54 6.3 Pretérito Perfeito Composto Ao contrário de outras línguas e até das línguas românicas, em português, este tempo apresenta características aspectuais diferentes, posto que não exprime a perfectividade, mas exprime a duração de alguma acção que começou no passado, continua ao longo do presente e talvez continue no futuro. O início da acção não necessita de delimitação explícita na frase. Se o ponto de perspectiva temporal não for o presente, então não existe continuidade além deste ponto. 115 Este tempo gramatical também difere de outros tempos do passado portugueses, como não trata somente de passado, mas abrange também o momento da enunciação. Dentro das circunstâncias particulares e às vezes com apoio das expressões adverbias, este tempo apresenta o valor aspectual de iteratividade. As circunstâncias são as seguintes: - o auxiliar tem de estar no Indicativo, porque o Conjuntivo muda a leitura. Vejase as seguintes frases para a ilustração: (33) A Ana tem visitado a a avó. - Ela lá foi até agora pelo menos duas vezes. (34) Não me surpreende que a Ana tenha visitado a avó. - A Ana visitou a avó somente uma vez.. - o ponto de perspectiva temporal tem de ser o momento da enunciação, se não, as frases deixam a leitura de iteratividade: (35) Quando a Ana chegar a casa da Maria, o Rui já a tem visitado. (36) Sempre que a Ana chega a casa da Maria, já o Rui a tem visitado (37) Sempre que a Ana chega a casa da Maria, já o Rui a visitou 116 Na primeira frase apontamos para o futuro e na segunda frase, embora esta aponta para o momento da enunciação, obtemos a iteratividade não pelo tempo verbal mas sim pela construção sempre que, o que é demonstrado pela a terceira frase. - a última condição da leitura aspectual de iteratividade é o tipo aspectual do predicado. Geralmente não encontramos a iteratividade no caso dos estados, o efeito de 115 GLP6 (2003:143) 116 GLP6 (2003: ) 54

55 iteratividade não ocorre por não haver, sem o acréscimo de expressões adverbiais quantificacionais (ela tem estado doente muitas vezes / todos os meses), uma delimitação e por isso nem completude nem terminação. Parece, assim, que se está perante um conjunto de eventos tidos como um todo e a sua recorrência conduz à iteratividade, obtendo um novo estado iterativo ou até, em alguns casos, habitual Há também uma outra restrição tal, que esta iteratividade pode ocorrer só nos estados faseáveis, porque através de adverbiais podemos atribuir-lhes a delimitação temporal. Veja-se as seguintes frases para ilustrar a diferença: temporal: (38) vezes. vezes. 118 (38.1) Ele tem estado doente todas as semanas / frequentemente muitas (38.2) *Ele tem sido alto todas as semanas / frequentemente muitas No caso de certos processos, temos de acrescentar adverbiais de quantificação (39) (39.1) Ela tem trabalhado. - somente a informação temporal (39.2) Ela tem trabalhado todos os dias. - iterativo Os processos culminados apresentam certas restrições com relação à natureza sintáctico-semântica do complemento de predicado. Veja-se as seguintes duas frases para o contraste: (40) duvidável (40.1)?A Ana tem lido o livro. - a leitura de iteratividade é, neste caso, (40.2) A Ana tem lido um livro (por semana). A situação no campo das culminações ilustra-se com a frase sucessiva: (41) A Ana tem ganho o prémio (todos os anos) Caso considerarmos que há várias ocorrências de atribuição dos prémios do 117 GLP6 (2003:144) 118 GLP6 (2003:160) 55

56 mesmo tipo, podemos atribuir a essa frase a leitura de iteratividade. O efeito aspectual de iteratividade parece estar relacionado com o facto de a duração estabelecida pelo Pretérito Perfeito Composto ser bastante vaga 119 como no seu início, tanto em relação ao seu fim. Essa característica é também comum aos estados, e por isso conseguimos obter um certo tipo de estado até de situações que contêm as culminações (processos culminados e culminações) sem que essas situações percam a culminação. Consideramos importante advertir que se não misturem os seguintes dois tipos de construções: (42) (42.1) A professora tem corrigido os testes. - construção no Pretérito Perfeito Composto com leitura temporal. (42.2) A professora tem os testes corrigidos. - construção puramente perfectiva Conclua-se que a leitura de iteratividade ocorre somente no Indicativo e com predicados que apresentem a culminação. Caso os predicados não apresentem a culminação, temos de utilizar adverbiais quantificadores. 6.4 Futuro Composto Embora este tempo com mais frequência apresenta leituras modais, pode também apresentar umas leituras aspectuais, o que mostram os seguintes exemplos: (43) (43.1) Quando chegares de trabalho, a Ana já terá feito o jantar. (43.2) Quando chegares de trabalho, o Porto já terá ganho o campeonato. (43.3)? Quando chegares de trabalho, já a Ana terá estado doente. (43.4)? Quando chegares de trabalho, já a Ana terá trabalhado bem. (43.5) Quando chegares de trabalho, já a Ana terá tossido. 119 GLP6 (2003:143) 56

57 Há umas restrições para a leitura aspectual. Antes de tudo, o ponto de perspectiva temporal tem de ser futuro em relação ao momento da enunciação, constituindo a forma composta a marcação de uma anterioridade em relação a esse tempo, mas que é também futuro 120. Nas primeiras duas frases estamos ainda por cima perante uma perfectividade, a oração temporal inclui-se no estado resultante do processo culminado fazer jantar e da culminação ganhar campeonato, nas restantes frases encontramos o valor terminado. 120 GLP6 (2003:164) 57

58 7 Variedades aspectuais de oposição ser x estar Observemos os seguintes enunciados: (1 ) (1.1 ) A Ana é checa. (1.2 ) *A Ana está checa. (2 ) (2.1 ) Esse erro é comum. (2.2 ) *Esse erro está comum. 121 (3 ) (3.1 ) *A Ana é adoentada. (3.2 ) A Ana está adoentada. (4 ) (4.1 ) *Essa flor é murcha. (4.2 ) Essa flor está murcha. 122 Nestes enunciados podemos observar que os predicadores adjectivais que ocorrem nos enunciados (1) e (2) não admitem a presença de verbo estar, opostamente aos predicadores das frases (3) e (4). Esta diferença poderia ser explicada através da hipótese que trabalha com a categorização do real e considera dois tipos de objectos a que são atribuíveis várias relações ou propriedades. Estes tipos são os seguintes: 1. individuais manifestações ou fases temporalmente limitadas de individuais 124 Analogamente à divisão de objectos a que são atribuíveis certas propriedades distinguem-se também dois tipos de predicadores: 1. os que exprimem propriedades de individuais e 121 GLP2 (1989:98) 122 GLP2 (1989:98) 123 GLP2 (1989:99) 124 GLP2 (1989:99) 58

59 2. os que exprimem propriedades de manifestações temporalmente limitadas de individuais. 125 Para esclarecermos o significado de cada uma das definições destes dois tipos de predicados podemos dizer que os primeiros atribuem aos objectos as propriedades permanentes ou estáveis, como por exemplo a raça, nacionalidade, idade, características psicológicas, físicas e fisiológicas, enquanto que os segundos exprimem propriedades passageiras, como por exemplo estado de saúde, estados subsequentes a uma alteração ou transição sofrida por uma dada entidade 126. É importante notarmos que ambos estes predicados exigem diferente estrutura sintáctica. Predicadores de individuais, de natureza não verbal, ocorrem no contexto / ser 127, o que é ilustrado pelas frases (1) e (2), e os predicadores de manifestações temporalmente limitadas de individuais não verbais, ocorrem no contexto / estar 128, o que é ilustrado pelas frases (3) e (4). A grande variedade de predicados pode ser usado tanto nas construções com estar como nas construções com ser dependendo de significado da frase. Veja-se a seguinte frase: (5 ) (5.1 ) A árvore é alta (5.2 ) A árvore está alta. Na frase (5.1) exprime alta propriedade de individual, de característica permanente, enquanto que na frase (5.2) exprime a mesma palavra propriedade de manifestação temporalmente limitada de individual, o que podemos ver melhor se a colocarmos noutra frase que claramente a diferença entre a característica temporária e permanente: (6 ) Daquele ângulo, a árvore estava alta embora não o fosse. 125 GLP2 (1989:99) 126 GLP2 (1989:99) 127 GLP2 (1989:99) 128 GLP2 (1989:99) 59

60 7.1 Variantes aspectuais de verbos ser e estar Como mostrámos nos exemplos anteriores, a ocorrência de ser e estar não é livre, e por isso estes verbos não são considerados meros elementos de ligação (verbos copulativos / verbos de ligação), mas sim, nestas construções, verbos predicativos 129. Outro argumento a favor desta afirmação encontramos no comportamento das variantes aspectuais derivadas destes dois verbos que ocorrem no contexto / - predicador não verbal. Vejam-se os seguintes exemplos: (7 ) (7.1 ) *A Ana anda checa. (7.2 ) A Ana anda adoentada. - iterativo de (3) (8 ) (8.1 ) A Ana continua checa. - permansivo de (1) (8.2 ) A Ana continua adoentada. - permansivo de (3) (9 ) (9.1 ) *A Ana ficou checa. (9.2 ) A Ana ficou adoentada. - incoativo de (3) (10 ) (10.1 ) A Ana tornou-se checa. (10.2 ) *A Ana tornou-se adoentada. As frases (7) e (9) ilustram que os verbos andar e ficar podem ocorrer somente com os predicadores de propriedades de manifestações temporalmente limitadas de individuais e por isso podemos concluir que estes dois verbos são variantes aspectuais de verbo estar. Ao contrário dos verbos andar e ficar, o verbo continuar pode ser variante aspectual tanto de verbo ser como de verbo estar como mostra o exemplo (8). Na última frase podemos observar, que o verbo tornar-se, como a sua combinação 129 GLP2 (1989: 101) 60

61 com o predicador de manifestação temporalmente limitada resulta agramatical, é variante aspectual derivada de verbo ser. Até estes verbos sã chamados de verbos predicativos. Observemos as seguintes frases para vermos o comportamento de predicados verbais relativamente à dicotomia individuais / manifestações temporalmente limitadas de individuais. (11 ) (11.1 ) *Estão a existir espíritos. (11.2 ) Existem espíritos. (12 ) (12.1 ) A Ana está a chegar de Berlim. (12.2 ) A Ana chega de Berlim. No enunciado (11.1) podemos ver, que os predicadores de individuais que são verbais não podem ocorrer com a construção progressiva, mas estes podem ocorrer no Presente Simples (11.2) atribuindo-lhes até uma interpretação gnómica. Os predicadores de manifestações temporalmente limitadas de individuais já admitem o Presente da construção estar a +INF (12.1), mas no outro lado não admitem a leitura gnómica no Presente Simples (12.2). Os predicadores verbais, analogamente aos verbos predicativos, podem ser usados para exprimir ambas as construções como ilustra o seguinte exemplo: (13 ) A Ana escreve. (14 ) A Ana está a escrever. 61

62 8 Verbos de operação aspectual Uma das maneiras possíveis de contribuir para a leitura aspectual final, além de significado lexical de predicado e de tempo verbal usado, consiste no uso das chamadas formas perifrásticas construídas com verbos de operação aspectual, chamados verbos aspectuais 130 (estar a, andar a, começar a, continuar a + INF). A operação aspectual necessita de operadores aspectuais e dizer que estas construções são operadores significa que se assume uma perspectiva dinâmica em que ocorre uma conversão de um determinado tipo de situação num outro, através de uma operação de transição (ou de transformação) 131. O que importa é descobrir qual é a parte do Núcleo Aspectual que será alterada sem provocar anomalia semântica 132 e qual será o resultado dessa operação. Consideramos importante lembrar de que, na língua checa, não podemos combinar os verbos de operação aspectual com os verbos télicos mas apenas atélicos Progressivo A noção mais discutida desse tópico é o Progressivo, que é perspectivado como estando a decorrer 134, apresentando uma duração e também como inacabado, porque geralmente ou não tem atingido o seu ponto final ou a acção por ele expressa não está completa ainda. No capítulo sobre o Presente falámos de que o tempo gramatical raramente coincide com o momento da enunciação e que, quando o faz, é por uso de Presente Progressivo. A única excepção dessa afirmação é constituída pelos estados lexicais. Nos casos que apresentam a culminação (nos processos culminados, culminações e pontos) operam-se outros efeitos também. Vejamos as seguintes frases: (1) A Ana está a ler o jornal. (2) Ana está a correr. (3) A Ana está a ganhar a corrida. 130 GLP6 (2003:315) 131 GLP6 (2003:145) 132 GLP6 (2003:146) 133 A análise foi dada no capítulo GLP6 (2003:146) 62

63 (4) A Ana está a espirrar. (5) A Ana está a viver em Berlim. (6) *A Ana está a ser alta. Primeiramente temos de dizer que somente os estados não faseáveis não podem ocorrer nestas construções apresentando as frases agramaticais. Ao contrário, os estados faseáveis, representados neste caso pelo viver em Berlim, podemos aplicar no Presente Progressivo. Na primeiras duas frases (1) e (2) não é nada difícil designar que o tempo gramatical é sobreposto sobre o momento da enunciação, mas já nas frases (3) e (4) isso não é tão óbvio e, embora essa informação também seja contida, encontramos outras informações aspectuais. Na frase (3) vemos que a corrida ainda não está ganha, ou se quiser, que esta culminação não ocorreu ainda, de maneira semelhante ao que, na verdade, acontece na frase (1), na qual o processo culminado perde a sua culminação, que também não ocorreu ainda. Na frase (4) estamos perante uma iteratividade obtida pela colocação de pontos nesta construção progressiva, o que também acontece nas construções com Pretérito Perfeito Composto. Até na frase (2) A Ana está a correr, que apresenta um processo, podemos encontrar algumas alterações aspectuais. Com efeito, pode argumentar-se que as construções progressivas apresentam algumas propriedades que podem fundamentar considerá-las como estruturas estativas. 135 Um dos argumentos a favor dessa afirmação é o facto de que os estados não faseáveis não podem ocorrer nesta construção constituindo assim um argumento a favor da estatividade dessa construção. Por outro lado podemos também constatar que o Progressivo não ocorre nas construções progressivas 136, o que é ilustrado nos exemplos seguintes: (7) (7.1) *A Ana está a estar a comer sopa. (7.2) *A Ana está a estar a trabalhar. As frases com Progressivo admitem uma leitura de presente real no caso dos eventos. (8) 135 GLP6 (2003:147) 136 GLP6 (2003:147) 63

64 (8.1) A Maria está neste momento a ler o livro. (8.2) A Maria está neste momento a telefonar. (8.3) A Maria está neste momento a ligar o computador. 137 Do modo de uso dos tempos gramaticais do passado nas frases temporais podemos deduzir as frases no Progressivo incluem as orações temporais pontuais e são mais naturais com o Imperfeito, enquanto os eventos ocorrem com Pretérito Perfeito. 138 Em relação a frase subordinada encontramos sobreposição ou sucessão. Para os exemplos vejam-se as seguintes frases: (9) A Ana estava /? esteve a ler o jornal quando a sua filha chegou. (10) A Ana estava /? esteve a trabalhar quando o avião caiu. (11) A Ana estava / * esteve a ligar o computador quando ouviu o tiro. Estas observações permitem admitir que as construções progressivas se comportam de forma paralela aos estados 139 Eles são também aproximados aos estados quando usando certos adverbiais. (12) (12.1)? A Ana esteve a trabalhar /? comer sopa às dez horas. (12.2) A Ana esteve a trabalhar / comer sopa durante uma hora. (12.3) * A Ana esteve a trabalhar / * comer sopa numa hora. De mesma maneira como os estativos, as construções progressivas não apresentam nenhumas restrições na ligação com os durativos, representados pelo exemplo (12.2), mas já não aprovam rigorosamente os adverbiais que exprimem um certo intervalo de tempo (12.3). Só aceitam adverbiais de localização temporal numa leitura em que estes estão incluídos na situação descrita 140 (12.1). Concluindo, podemos dizer que o progressivo tem os seguintes efeitos: 1. As situações comportam-se basicamente como estados; 2. As situações télicas no Progressivo perdem a sua culminação; 137 GLP6 (2003:147) 138 GLP6 (2003:147) 139 GLP6 (2003:147) 140 GLP6 (2003:148) 64

65 3. as culminações perdem também a sua não duração; 4. com verbos de criação, as formas progressivas supõem em geral objectos incompletos (estar a construir uma casa) Outras construções com capacidade de alterar o valor aspectual básico dos predicados Começar a + INF Esta construção pode ocorrer com eventos ( processos culminados e processos) e estados faseáveis e a leitura final que se obtem é a de um evento pontual marcado pelo operador 142. Vejam-se as seguintes frases: (13) A Ana começou a ler o jornal ( às dez horas). - processo culminado -» ponto (14) A Ana começou a trabalhar (em Maio). - processo -» ponto (15)? A Ana começou a sair (às dez horas). - culminação -»? ponto 143 (16) A Ana começou a viver em Berlim (em 2000). - estado faseável - -» ponto (17) * A Ana começou a ser alta. - estado não faseável -» * ponto Os exemplos apresentados confirmam a afirmação anterior, porque as frases (13), (14) e (16) são perfeitamente aceitáveis mesmo com os adverbiais de localização temporal precisa, o que aponta para a leitura final pontual. O exemplo (15) não é tão aceitável, porque é difícil atribuir uma estrutura interna à uma culminação (as culminações foram excluidas da lista de eventos aceitáveis para essa construção). Por último, como se trata de um estado não faseável, é a frase (17) não aceitável Continuar a + INF Esta construção pode, sem apresentar nenhuma alteração aspectual, empregar os 141 GLP6 (2003:148) 142 GLP6 (2003:148) 143 A aceitação de toda a frase é dubitável, mas pensamos que, uma vez que a frase seja aceitada, pode apresentar a leitura pontual. A verdade é que começou um estado iterativo, que ocorre ao longo da linha de tempo imaginária, mas o 'começar de sair' aconteceu num ponto, sem que este acontecimento apresente uma duração. 65

66 estados não faseáveis. Com os estados faseáveis e eventos pode ocorrer também, mas já apresenta a leitura final de processo. Aplicada aos processos que pertencem entre os eventos, não apresenta alteração aspectual também, obtendo a leitura final de processo de novo. Para a ilustração vejamos os seguintes exemplos: (18) A Ana continua a ser alta. - estado não faseável -» estado (19) A Ana continua a trabalhar. - processo -» processo (20) A Ana continua a ser simpática. - estado faseável -» estado (21) O Pedro continua a ganhar a corrida. - culminação -» processo (22) A Ana continua a ler o jornal. - processo culminado -» processo A última observação que podemos adiar é que em todas as situações que apresentam a culminação no predicado base, esta perde-se, como nas frases (21) e (22) Deixar de + INF No caso dos estados, opera esta construção a mudança de um estado para outro estado, estado cessativo. Na área de eventos, pode esta construção ocorrer com processos e processos culminados. Com as culminações a aceitação é, de novo, duvidável. Nestes casos, os processos culminados perdem a sua culminação e a leitura final apresenta uma característica dupla. Por um lado, marca um evento pontual e, por outro, associa-lhe um estado cessativo. 144 Vejamos as seguintes frases: (23) A Ana deixou de ser checa. - estado não faseável -» estado cessativo (24) A Ana deixou de ser simpática. - estado faseável -» estado cessativo (25) A Ana deixou de ler o jornal. - processo culminado -» ponto, estado cessativo (26) A Ana deixou de trabalhar. - processo -» estado cessativo (27)? A Ana deixou de ganhar a corrida. - culminação -»? estado cessativo (28) A filha da Ana deixou de chorar às três horas. - processo -» estado pontual 144 GLP6 (2003:149) 66

67 (29) A filha da Ana deixou de chorar durante dez minutos. - processo -» estado cessativo Os dois últimos exemplos evidenciam a possibilidade de se considerar só o evento pontual 145,, na frase (28), ou o estado cessativo 146, apresentado na frase (29) Parar de + INF Esta construção é, nalgumas características, paralela a deixar de + INF. A diferença consiste no facto de este operar sobre eventos e não sobre estados, marcando uma paragem ou uma interrupção do evento 147 Por isso apresenta a leitura final de evento pontual, que teoria é apoiada pela possibilidade de acrescentar os adverbiais de localização temporal precisa às frases (32) e (33). Vejamos os seguintes exemplos: (30) *A Ana parou de ser checa. - estado não faseável -» * ponto (31)? A Ana parou de ser simpática. - estado faseável -»? ponto (32) A Ana parou de trabalhar (às cinco da tarde). - processo -» ponto (33) A filha da Ana parou de comer sopa (às dez horas). - processo culminado -» ponto Acabar de + INF Esta construção, igualmente às duas anteriores, também marca um fim, mas de novo apresenta diferentes características. Opera sobre eventos, concretamente processos e processos culminados, obtendo a leitura final de culminação ou, às vezes, de processo culminado, o que é aprovado pela possibilidade de emprego de adverbiais de localização (34) e de medição temporal (35). Vejamos as frases: (34) A Ana acabou de almoçar às três horas. - processo -» culminação (35) A Ana acabou de almoçar em dois minutos. - processo -» processo culminado (36) A filha de Ana acabou de comer a sopa às três horas. - processo culminado -» culminação 145 GLP6 (2003:149) 146 GLP6 (2003:149) 147 GLP6 (2003:149) 67

68 (37) A filha da Ana acabou de comer a sopa em dois minutos. - processo culminado -» processo culminado (38)? O Pedro acabou de ganhar a corrida às cinco horas. - culminação -» culminação (39)? O Pedro acabou de ganhar a corrida em três minutos. - culminação -» processo culminado A definição de leitura final pode ser difícil em certos casos, como vemos na frase (37), onde, na verdade, não encontrámos nenhuma mudança de aspecto. Somente a porção da acção expressa pelo predicado mudou. Enquanto na frase A filha da Ana comeu a sopa em dois minutos. perspectivaríamos toda a acção de comer sopa desde que o sujeito comesse a primeira colher de sopa até a última, na frase (37) vimos somente uma parte dessa acção, a última, em que o sujeito já quis comer a última parte de soba que sobrava no prato. E foi este acabar de comer sopa que demorou os dois minutos, que já podem ser considerados como razoavelmente longas e por isso foi à frase atribuída a leitura de processo culminado. O caso da frase (37) mostra-nos que a construção acabar de + INF pode, operando sobre os processos culminados, apresentar de novo a leitura de processo culminado, somente que esse novo processo culminado já perspectiva menor parte da acção do que o predicado base em si Andar a + INF A última das construções, que trataremos pormenorizadamente, será andar a + INF, apresenta umas semelhanças com o estar a + INF, porque opera também sobre os eventos e estados faseáveis. O que é diferente é a leitura final que obtemos, pois, nas frases com esta construção, encontramos estados habituais ou frequentativos, como apresentam os seguintes exemplos. (40) A Ana anda a ser simpática. - estado faseável -» estado habitual (41) * A Ana anda a ser alta. - estado não faseável - * estado habitual (42) A Ana anda a ler livro de linguística. - processo culminado» estado frequentativo (43) A Ana anda a sair à noite. - culminação -»estado frequentativo 68

69 (44) A Ana anda a viajar. - processo -» estado frequentativo seus operadores. 8.3 Lista de verbos de operação aspectual 148 Esta tabela apresenta as alterações aspectuais mais importantes mesmo como os Verbos de operação aspectual Estar a Andar a Começar a Continuar a Deixar de Parar de Acabar de Tipo aspectual base Estados faseáveis Eventos Estados faseáveis Eventos Estados faseáveis Eventos Estados Eventos Estados Eventos Processos Processos culminados Processos Processos culminados Leitura final Estado Progressivo Estado habitual ou frequentativo Estado pontual Estado não faseável Processo Estado não faseável Evento pontual + estado cessativo Evento pontual / (estado cessativo) Culminação / (processo culminado) 8.4 Impacto da oposição ser x estar nos valores aspectuais de predicados derivados Vejamos como a dicotomia predicador de individual / predicador de manifestação temporalmente limitada de individuais (explicada no capítulo 6) influencia a possibilidade de operações aspectuais. As frases-base serão as seguintes: (45) (45.1) O Luís pinta predicado verbal de individuais 148 Toda a tabela foi tirada de GLP6 (2003:151) 149 GLP2 (1989:102) 69

70 (45.2) O Luís está a pintar predicado verbal de manifestação temporalmente individual Os exemplos (46) (50) mostram-nos o estado resultante depois de aplicação de certos verbos de operação aspectual. A nossa tarefa será de estipular qual foi o predicado base, se o foi predicador de individual ou predicador de manifestação temporalmente individual. (46) O Luís acaba de pintar. 151 Esta frase resulta impossível como leitura final conclusiva de operação aspectual de (45.1), mas é possível como resultado de operação aspectual de (45.2). (47) O Luís anda a pintar. 152 Esta frase resulta impossível como leitura final iterativa de operação aspectual de (45.1), mas é possível como resultado de operação aspectual de (45.2). (48) O Luís começa a pintar. 153 Esta frase resulta possível como leitura final inceptiva de operação aspectual tanto de (45.1) como de (45.2). (49) O Luís continua a pintar. 154 Esta frase resulta possível como leitura final permansiva de operação aspectual tanto de (45.1) como de (45.2). (50) O Luís deixa de pintar. 155 Esta frase resulta possível como leitura cessativa de operação aspectual de (45.1), mas é impossível como resultado de operação aspectual de (45.2). Tendo examinado os exemplos anteriores, podemos concluir que os predicadores verbais de individuais excluem os valores aspectuais conclusivo e iterativo, e os predicadores verbais de manifestações temporalmente limitadas de individuais o valor aspectual cessativo GLP2 (1989:102) 151 GLP2 (1989:102) 152 GLP2 (1989:102) 153 GLP2 (1989:102) 154 GLP2 (1989:102) 155 GLP2 (1989:102) 156 GLP2 (1989:102) 70

71 8.5 Contribuição da abordagem aspectual brasileira O ponto de vista brasileiro será representado pelo livro Moderna Gramática Portuguesa de Evanildo Becharra. Neste livro, a problemática de aspectualidade vê-se para as teorias de Roman Jacobson e Eugenio Coseriu. Embora esta divisão não estar integrada no presente trabalho, pode ajudar a perceber a complexidade de problemática aspectual. A abordagem aspectual de Becharra conta com as seguintes subcategorias de Tempo e Aspecto: nível (de tempo), perspectiva primária, perspectiva secundária, duração, repetição, conclusão, resultado, visão e fase. Vejamos as que contribuem para a leitura aspectual e podem aprofundar o nosso conhecimento desta problemática. As subcategorias que tratam apenas de tempo verbal são igualmente interessantes mas não dizem nada a respeito de aspectualidade de frase Duração da acção Este conceito ajuda a descrever o percurso de acção expressa pelo verbo da frase e divide as acções de seguinte maneira: a acção durativa esta acção descreve os processos que estão a decorrer no momento da enunciação. a acção momentânea esta acção exprime o valor aspectual de pontos, que não apresentam nenhuma duração, e é oposta à acção durativa. a acção intermitente esta acção, como é composta pelos actos breves, apresenta uma intersecção dos dois tipos de acções antecedentes e corresponde ao valor aspectual iterativo Repetição da acção Primeiro é necessário distinguir entre as acções semelfactivas, que se caracterizam por exprimir um acontecimento único, e entre as acções frequentativas que são repetidas. Estas acções repetidas depois podemos dividir em acções repetidas singulares, nas quais encontramos apenas uma repetição de acontecimento, e nas acções repetidas indeterminadas que apresentam pelo menos três ocorrências. Do ponto de vista gramatical podem interessar-nos especialmente as acções 71

72 repetidas singulares que, como são as únicas que ocorrem nas expressões perifrásticas (51.1) e sofrem o processo de formação de palavras (51.2), são as únicas gramaticalizadas. Veja-se as seguintes enunciados: (51) (51.1) Volto a fazer o TPC. 'faço o TPC pela segunda vez' vez' (51.2) Refaço 'faço o TPC de novo = pela uma certa Se nós quisermos exprimir uma acção repetida indeterminada, já temos de usar outras possibilidades como, por exemplo, os adverbiais de tempo ou de quantificação. No predicado (51.2) podemos ver uma certa semelhança com os prefixos checos que alteram o valor aspectual de verbos. Desta maneira, na língua checa, encontramos o seguinte verbo: (52) (52.1) pře-dělat (52.2) PERF-fazer P (52.3) re-fazer Para ilustração se seguem os predicados portugueses usados nas frases: (52.4) Fiz o TPC muitas vezes. (52.5) Refaço o TPC pela terceira vez. Outra observação interessante é que, como o verbo refazer copia a construção do verbo checo prefixado, pode este também sofrer uma imperfectivização secundária, analógica à função do sufixo imperfectivizante checo -Vva-. Em vez de sufixo, o português empregaria o progressivo: (53) Estar a re-fazer (54) Pře-děl-áva-t (54.1) PERF-faz-Vva-er I (54.2) estar a refazer Conclusão da acção Se descrevermos a conclusão da acção, podemos distinguir os seus seguintes 72

73 tipos: a acção conclusa a acção inconclusa a acção sem traço de conclusão Conhecemos dois tipos de conclusão: a primeira é subjectiva e a segunda é objectiva na dependência de ter o sujeito levado a acção para um fim objectivo ou não 157. Observemos os seguintes exemplos 158 : (55) Escrevi muito. -» agora não escrevo, uma conclusão subjectiva que não resultou num fim objectivo (56) Escrevi o livro. -» cumpri a tarefa, o livro está escrito o que apresenta fim objectivo. Coseriu define as conclusões subjectivas como terminativas e objectivas como completivas. No português só a conclusão subjectiva é expressa por formas verbais; a objectiva fica assinalada pelo contexto e ás vezes pode ser expressa junto à voz verbal Resultado da acção Como neste trabalho contamos com o conceito de Núcleo Aspectual e uma das parte do Núcleo Aspectual é o estado resultante, a categoria de resultado da acção pode interessar-nos também. Distinguem-se dois tipos de acção segundo o resultado: o primeiro é a acção resultativa e o segundo é a acção não resultativa. A única diferença entre estas duas consiste no facto de a acção resultativa apresentar o resultado e a acção nãoresultativa não o apresentar. E. Becharra também distingue dois tipos de resultado: o primeiro é o resultado subjectivo e o segundo é o resultado objectivo. O resultado subjectivo afecta o sujeito-agente e representa uma reacção efectiva (resultado = efeito) enquanto que o resultado objectivo afecta o objecto e apresenta a reacção produtiva (resultado = produto). A diferença entre estes dois conceitos de resultado 157 Becharra (2001:215) 158 Os exemplos são tirados de Becharra (2001:215) 159 Becharra (2001:216) 73

74 é captada também no campo da gramática porque, segundo Evanildo Becharra, o resultado objectivo exprime-se através de estar + particípio e o resultado objectivo através de ter + particípio (Pretérito Perfeito Composto) Visão da acção Segundo esta categoria podemos considerar a acção em seu todo ou parcialmente, em fragmentos entre dois pontos de seu curso 160. Para podermos perspectivar a acção de maneira fácil e transparente apresentámos o seguinte esquema triangular 161 : (57) No esquema podem ver que a acção desenvolvida tem de passar pelo três pontos A, B a C. Os pontos A e B representam passado (A) e presente (B) e o ponto C representa o seu encontro em que ambos podem coincidir o presente (C). A classificação das expressões verbais que são afiguradas no esquema segue-se. 1. Estar a INF / estar + gerúndio - segundo a norma do português encontramos na língua estas duas construções verbais progressivas. A primeira é de padrão português e a segunda de padrão brasileiro, mas ambas exprimem o mesmo conceito. Exprimem o 160 Becharra (2001:216) 161 O esquema triangular foi tirado de Becharra (2001:216). Como esta obra é escrita no português padrão brasileiro, no esquema encontramos algumas expressões de pouco uso em Portugal, mas com mesmo valor aspectual. Caso o E.Becharra contar nas suas definições apenas com as construções com o gerúndio, completámo-lo com as construções com o infinitivo. 74

75 encontro de presente com o passado e, no esquema, situam-se no ponto C. 2. Visão comitativa andar + INF / andar + gerúndio trata-se de acompanhamento da acção verbal em diversos momentos do seu curso entre A e B. Ás vezes essa acção pode ser assinalada pelo uso de adjectivo (andar cansado) e particípio. 3. Visão prospectiva ir + gerúndio Neste ponto, a acção desenvolve em direcção de C (presente) para o B (futuro não limitado). 4. Visão restorspectiva vir + gerúndio A acção neste caso, começou num passado indeterminado (A) e procede em direcção do ponto C (presente). O presente coincide com o momento em que observamos a acção. 5. Visão continuativa seguir + gerúndio, continuar INF / continuar + gerúndio Esta visão apresenta uma combinação de visões prospectiva e retrospectiva, porque começou no passado indefinido e vai seguir para o futuro. 6. Visão global esta visão acentua todo o conjunto da acção e assinala-a como parcializante. Como parcializante funciona a construção progressiva estar + gerúndio / estar + INF. Mesmo assim, esta função poderia ser dispensada, já que pode ser desempenhada por membros neutros da oposição 162. Como as formas neutra funcionam as formas verbais simples (não as construções verbais): (58) faço - neutral (59) estou a fazer - parcializante Fases da acção As fases da acção descrevem a relação entre o momento da enunciação e grau de desenvolvimento da acção. Observemos o seguinte esquema: 162 Becharra (2001:217) 75

76 (60) Em seguida trataremos de cada fase da acção verbal separadamente. 1. Fase iminente (ingressiva) Nesta fase, trata-se de acção verbal no seu começo. A perífrase que a exprime é a seguinte: estar para +INF. Segue-se o exemplo: (61) Estou para ir às férias. 2. Fase inceptiva esta fase marca o ponto inicial da acção verbal e pode ser expressa de várias maneiras. A primeira construção é começar a INF, mas não é a única. As construções pôr-se a INF, meter-se a INF, pegar a INF, sair + gerúndio, desatar a INF também exprimem o começo da acção além de dar ênfase ora na velocidade ora na subtaneidade da acção. Esta fase é a mais rica nas suas apresentações. 3. Fase progressiva Esta fase considera o desenvolvimento da acção e exprimese através de construção ir + gerúndio. 4. Fase continuativa Esta fase considera a acção verbal na zona medial do seu desenvolvimento 163 e exprime-se por seguir + gerúndio, continuar a INF, ou pela expressão de visão estar a INF / estar + gerúndio. 5. Fase regressiva e fase conclusiva E. Becharra junta estas duas fases, porque segundo ele ambas consideram a acção no seu término ou em sua fase final 164 Podem exprimir-se com as construções deixar de INF, parar de INF, voltar a INF, terminar de INF. 163 Becharra (2001:218) 164 Becharra (2001:218) 76

77 7. Fase egressiva Esta fase considera a acção imediatamente depois de seu fim e podemos exprimi-la usando a construção acabar de INF. 77

78 9 Valor aspectual dos adverbiais de tempo Nos capítulos anteriores, apontámos com maior frequência para a importância da presença de expressões que remetem para localização temporal, duração ou frequência. Estes adverbiais temporais têm papel importante na semântica aspectual da frase embora raramente apresentem algum valor aspectual em si. Por exemplo, no domínio das frases com predicado no Imperfeito ou Pretérito Perfeito Simples, vimos que a aceitação das frases, sem que sejam acompanhadas de adverbiais temporais, é dubitável. Os adverbiais temporais também serviram de teste para identificar a telicidade ou atelicidade de predicados, ajudando a interpretar correctamente, a natureza de leituras finais de construções de operação aspectual como mostra a diferença entre as seguintes duas frases: (1) (1.1) A Ana acabou de comer a sopa em dois minutos. - processo culminado (1.2) A Ana acabou de comer a sopa às três horas. - culminação divisão. Por motivos de relevância aspectual dos adverbiais de tempo trabalhemos na sua Primeiro temos de esclarecer a expressão adverbial de tempo usada ao longo deste trabalho. A expressão dos adverbiais de tempo é extremamente variada, podendo ser explicitada através de advérbios de tempo, de sintagmas preposicionais e também de sintagmas nominais 165 embora haja autores que consideram que os sintagmas nominais de localização temporal são sempre sintagmas preposicionais (nomeadamente com a preposição em) em que a preposição se encontra a um nível mais abstracto de representação 166 Os núcleos de sintagmas preposicionais que fazem parte de adverbiais temporais são os seguintes: em, a, por, para, de, desde, durante e até. Veja-se os exemplos ilustrativos: (2) Nasci em Novembro. (3) A Ana chegou às onze horas. 165 GLP6 (2003: ) 166 GLP6 (2003:167) 78

79 (4) A Ana escreve um livro por ano. (5) A festa foi adiada para a próxima semana. (6) A Ana chegou de manhã. (7) A Ana esteve doente durante dois meses. (8) A Ana dá aulas desde (9) A Ana trabalhou até as três horas. Os nomes que fazem parte quer de sintagmas preposicionais quer de sintagmas nominais dos adverbiais temporais variam em tipos, mas podemos reuni-los em dois grupos básicos: 1. os nomes de referência cronológica (hora, mês, manhã, Maio, ) e 2. os nomes que podem funcionar como nomes de informação temporal (vez, momento, período...) 167 Os nomes de referência cronológica subdividem-se em nomes de unidades de tempo (ano, mês, dia, hora) e nomes que designam essas unidades de tempo. Os segundos não se enquadram numa métrica temporal e podem incluir nomes como início, fim (da manhã), vez (duas vezes / certa vez), tempo (nesse tempo), altura (nessa altura), ocasião, instante (num instante) e momento. 168 O agrupamento de adverbiais de tempo varia segundo várias escolas linguísticas, mas geralmente há consenso quanto á existência de adverbiais de localização temporal, de frequência e de duração que vamos tratar nas seguintes partes deste capítulo. Alternativamente, há também uma relação dos adverbiais com o tempo, segundo a qual restringem-se em adverbiais dêiticos e anafóricos. Como essa diferenciação não é feita de ponto de vista aspectual, não a vamos trabalhar Adverbiais de localização temporal Estes adverbiais são construídos pelos adverbiais capazes de fornecer as coordenadas temporais 170 das situações expressas pelos enunciados e desta maneira permitem situar temporalmente os eventos descritos nestes enunciados. 167 GLP6 (2003:168) 168 GLP6 (2003:168) 169 Para esta problemática pode consultar-se GLP6 (2003: ) 170 GLP6 (2003:168) 79

80 Um teste fácil para identificar os adverbiais temporais num enunciado é a pergunta Quando teve lugar?. Conhecemos dois tipos de localização: relativa e absoluta. No primeiro caso, podemos fazê-lo recorrendo a datas ou a eventos que funcionam como datas. No segundo caso, a localização depende de outra referência estabelecida pelo momento de enunciação (dêitica) ou então por alguma expressão na frase (ou texto )(anafórica) Vejamos os exemplos de localização temporal absoluta: (10) A Ana nasceu a 10 de Novembro de (11) O Pedro nasceu a dia no que foi morto o J. F. Kennedy. Na frase (10), a localização temporal é feita recorrendo a uma data, enquanto que na frase (11) recorrendo a um evento concreto. Vejamos as frases seguintes para ilustrarmos os exemplos de localização temporal relativa: (12) A Ana chegou neste momento. (13) Ana foi ao cinema com certas dúvidas sobre o filme, mas duas horas depois saiu contentíssima. (14) A Ana chegou há pouco tempo. (15) Partimos na terça-feira, mas no domingo tínhamos estado em casa do Jorge. 172 Na frase (12) estamos perante de uma localização temporal relativa dêitica. A expressão adverbial duas horas depois da frase (13) é um clássico exemplo de localização temporal relativa anafórica. Os exemplos (14) e (15) apresentam uma duplicidade, dado que podem ser dêiticos ou anafóricos, dependendo do contexto em que surgem 173, por isso podem ser chamados de relativos duplos. 171 GLP6 (2003:169) 172 GLP6 (2003:169) 173 GLP6 (2003:169) 80

81 9.2 Adverbiais de frequência Neste grupo podemos incluir os adverbiais de frequência propriamente ditos 174 e adverbiais que envolvem quantificação fora do quadro de uma unidade temporal 175. Vejamos os exemplos seguintes: (16) Ultimamente, eles têm visto um filme por semana. (17) Ultimamente, eles têm visto um filme todas as semanas. Podemos concluir que ambas as frases apresentam leituras semelhantes, mas encontramos diferenças nos tipos de adverbiais frequentativos empregados. A frase (16) apresenta-nos uma frequência cíclica, que se repete ao longo de uma unidade temporal (semana), enquanto que a frase (17) mostra-nos caso em que se estabelece uma relação entre eventualidades (ver um filme) e intervalos de tempo (semana). Na primeira frase estamos perante uma situação verdadeira num intervalo de tempo verificável 176, neste caso, uma vez durante este intervalo (semana), enquanto na segunda define-se uma situação verdadeira para um intervalo de tempo verificável em x intervalo de tempo 177, neste caso, todas as semanas. Há alguns adverbiais frequentativos que, em certos casos, contribuem para uma leitura genérica de frases sendo combinados com outros factores de genericidade como por exemplo tempo presente (com maior frequência o Presente Simples) (18) A Ana geralmente empresta livros nessa biblioteca. 9.3 Adverbiais de duração Observemos os seguintes exemplos: (19) A Ana trabalhou durante três horas. (20) A Ana acabou o trabalho em uma hora. (21) A Ana foi a Berlim por duas semanas. Estes adverbiais parecem independentes do eixo temporal, estabelecendo a duração de intervalos de tempo ou de eventualidades através de uma relação entre a 174 GLP6 (2003:169) 175 GLP6 (2003:169) 176 GLP6 (2003:170) 177 GLP6 (2003:170) 81

82 entidade medida e porções de tempo quantificadas. 178 O adverbial com a preposição durante da frase (19) é um caso típico de adverbiais de duração, enquanto que no caso do adverbial da frase (20) vemos duração junto com a delimitação e na frase (21) estamos perante do adverbial que marca duração associada a uma fronteira final (mesmo que provisória) 179. Vejamos a seguinte frase: (22) A Ana trabalha da segunda-feira à quarta-feira. Esta frase mostra-nos um caso mais complexo ainda porque podemos caracterizar o seu operador de...a ou como localizador temporal ou como parcialmente durativo com limites explicitados sendo que delimita duração de alguma acção (neste caso de trabalhar). Como já foi dito antes, as características durativas do adverbial em x tempo constituem um caso particular entre os adverbiais de duração, porque este ocorre somente com os predicados télicos, por este adverbial ser também delimitativo 180. Vejam-se as seguintes frases: (23) (23.1) A Ana caminhou no parque durante / por duas horas. - processo (23.2) A Ana viveu em Berlim durante / por dois anos. - estado (23.3) *A Ana nasceu durante / por dez minutos. - culminação (23.4) *A Ana atravessou o cruzamento durante / por dez minutos. - processo culminado Podemos ver que os adverbiais durativos têm em comum que não é possível combiná-los com predicados télicos obtendo uma frase gramatical. Mas como o adverbial em x tempo é também delimitativo, as suas possibilidades de combinação são diferentes de outros adverbiais durativos. Vejam-se as seguintes frases do exemplo (24), nas quais vemos os mesmos predicados, que foram combinados com adverbiais de duração no exemplo (23): (24) 178 GLP6 (2003:170) 179 GLP6 (2003:171) 180 GLP6 (2003:171) (24.1) *A Ana caminhou no parque em duas horas. - processo 82

83 (24.2) *A Ana viveu em Berlim em doi anos. - estado (24.3)?A Ana nasceu em dez minutos. - culminação (24.4) A Ana atravessou o cruzamento em dez minutos. - processo culminado Todos os predicados cujo Núcleo Aspectual não contêm a culminação resultam, nas frases com adverbial em x tempo, agramaticais. 83

84 10 Valor aspectual dos complementos verbais Neste capítulo estudaremos a possível influência dos sintagmas nominais na posição de complementos verbais para a aspectualidade da frase. 181 Antes de começarmos, temos de esclarecer alguns conceitos necessários para a percepção da problemática. Como mostrámos no capítulo 4.3, todos os predicados cumulativos são atélicos e todos os predicados quantificados são atélicos Predicados nominais Os predicados nominais 182 podemos, segundo a sua cumulatividade, distinguir em predicados nominais cumulativos e predicados nominais quantificados. Os predicados nominais cumulativos são os predicados cuja suma preserva todas as possíveis aplicações do predicado (é o caso de chá + chá = chá) e os predicados nominais quantificados são os que não apresentam nenhuma sua parte que seja igual ao predicado em si o que podemos ilustrar pelo seguinte exemplo: (1) Dois litros de chá ( predicado nominal quantificado ) não contêm nenhuma parte que seja também dois litros chá, enquanto que o chá ( predicado nominal cumulativo ) contêm partes que são também denominadas como o chá Predicados verbais Os predicados verbais também podem ser divididos segundo a cumulatividade em predicados verbais cumulativos e predicados verbais quantificados. No campo dos predicados verbais cumulativos vale que a suma de dois predicados exprime o mesmo acontecimento como os predicados em si (correr + correr = correr), enquanto que, no campo de predicados verbais quantificados, constatámos que nenhuma parte do predicado exprime o mesmo acontecimento como o predicado em si (nenhuma parte de acabar de correr é igual ao acabar de correr). 181 Partiremos dos dados checos de Dočekal (2007) que remete para as teorias de Krifka. 182 Para a teoria ficar clara, vamos explicar a terminologia que se seguirá. A expressão 'predicado' será, ao longo deste capítulo, usada no seu sentido lógico. Em vez DE 'predicado' sintáctico usaremos o sintagma verbal. 183 Veja-se o capítulo 4.4. para as explicações pormenorizadas de problemática da cumulatividade 84

85 10.3 Predicados incrementais Os predicados incrementais 184 são os predicados que sistematicamente exprimem a relação entre a estrutura dos objectos e a estrutura dos eventos. O verbo prototípico é 'beber' e o objecto incremental têm de ser cumulativo (por exemplo 'vinho') e depois podemos dizer que cada parte do objecto (vinho) é traçada sobre o evento (beber o vinho) e, simultaneamente, cada parte de evento é traçada sobre uma parte do objecto 185. Vejamos o seguinte esquema 186 : (2) (2.1) (2.2) O esquema mostra a diferença entre as duas frases que diferem entre si por conterem diferentes sintagmas nominais na função de objecto directo. No primeiro caso, o objecto é cumulativo e, no segundo caso, o objecto é quantificado. Vejamos as traduções checa e portuguesa para compararmos a situação nestas duas línguas. O caso do português pode ser interessante, porque esta língua, ao contrário do checo, emprega dois tempos verbais para referir aos acontecimentos anteriores ao momento da enunciação. (3) As possíveis traduções do esquema com objecto cumulativo (incremental) (2.1): (3.1) Petr pil víno (hodinu / *za hodinu). (3.1.1) O Pedro bebeu I vinho (durante-uma-hora / *em uma hora). (3.2) O Pedro bebeu vinho (durante uma hora / *em uma hora) O termo é, igualmente à sua definição, deduzido de inkrementálni predikáty de Dočekal (2007) je každá část objektu (víno) mapována na událost (pití vína) a zárověň je každá část události mapována na část objektu. Dočekal (2007:223) (tradução própria) 186 Dočekal (2007:224) 187 A aceitabilidade das leituras temporais das frases portuguesas com o sintagma verbal no Pretérito Perfeito Simples foi consultada com GLP6 (2003:151) 85

PARFOR 2014 CURSO INTENSIVO DE ATUALIZAÇÃO DE PROFESSORES DE PORTUGUÊS LÍNGUA MATERNA FLUP

PARFOR 2014 CURSO INTENSIVO DE ATUALIZAÇÃO DE PROFESSORES DE PORTUGUÊS LÍNGUA MATERNA FLUP PARFOR 2014 CURSO INTENSIVO DE ATUALIZAÇÃO DE PROFESSORES DE PORTUGUÊS LÍNGUA MATERNA FLUP Semântica 28/jan/2014 António Leal a.leal006@gmail.com AGENDA Semântica Frásica: Tempo (considerações gerais)

Leia mais

A distribuição complementar entre a perífrase estar +gerúndio e o. presente do indicativo em português e espanhol

A distribuição complementar entre a perífrase estar +gerúndio e o. presente do indicativo em português e espanhol A distribuição complementar entre a perífrase estar +gerúndio e o presente do indicativo em português e espanhol Talita Vieira Moço (USP) Introdução Nesta ocasião apresentaremos algumas das observações

Leia mais

Como percebemos a duração do que é descrito por um verbo? *

Como percebemos a duração do que é descrito por um verbo? * Como percebemos a duração do que é descrito por um verbo? * 1.Nesta actividade, vamos estudar de que forma os verbos podem significar situações com durações diferentes. Quando consultamos o dicionário,

Leia mais

Manual do Gestor da Informação do Sistema

Manual do Gestor da Informação do Sistema Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto Licenciatura Informática e Computação Laboratório de Informática Avançada Automatização de Horários Manual do Gestor da Informação do Sistema João Braga

Leia mais

INSTITUTO CAMPINENSE DE ENSINO SUPERIOR FACULDADE MAURÍCIO DE NASSAU CURSO DE ENFERMAGEM. NOME DOS ALUNOS (equipe de 4 pessoas) TÍTULO DO PROJETO

INSTITUTO CAMPINENSE DE ENSINO SUPERIOR FACULDADE MAURÍCIO DE NASSAU CURSO DE ENFERMAGEM. NOME DOS ALUNOS (equipe de 4 pessoas) TÍTULO DO PROJETO 1 INSTITUTO CAMPINENSE DE ENSINO SUPERIOR FACULDADE MAURÍCIO DE NASSAU CURSO DE ENFERMAGEM NOME DOS ALUNOS (equipe de 4 pessoas) TÍTULO DO PROJETO CAMPINA GRANDE-PB 2014 2 NOME DOS ALUNOS (equipe de 4

Leia mais

Observação das aulas Algumas indicações para observar as aulas

Observação das aulas Algumas indicações para observar as aulas Observação das aulas Algumas indicações para observar as aulas OBJECTVOS: Avaliar a capacidade do/a professor(a) de integrar esta abordagem nas actividades quotidianas. sso implicará igualmente uma descrição

Leia mais

Professora: Lícia Souza

Professora: Lícia Souza Professora: Lícia Souza Morfossintaxe: a seleção e a combinação de palavras Observe que, para combinar as palavras loucamente, louco e loucura com outras palavras nas frases de modo que fiquem de acordo

Leia mais

TÉCNICAS DE PROGRAMAÇÃO

TÉCNICAS DE PROGRAMAÇÃO TÉCNICAS DE PROGRAMAÇÃO (Adaptado do texto do prof. Adair Santa Catarina) ALGORITMOS COM QUALIDADE MÁXIMAS DE PROGRAMAÇÃO 1) Algoritmos devem ser feitos para serem lidos por seres humanos: Tenha em mente

Leia mais

A TEORIA DA PROPOSIÇÃO APRESENTADA NO PERIÉRMENEIAS: AS DIVISÃO DAS PRO- POSIÇÕES DO JUÍZO.

A TEORIA DA PROPOSIÇÃO APRESENTADA NO PERIÉRMENEIAS: AS DIVISÃO DAS PRO- POSIÇÕES DO JUÍZO. A TEORIA DA PROPOSIÇÃO APRESENTADA NO PERIÉRMENEIAS: AS DIVISÃO DAS PRO- POSIÇÕES DO JUÍZO. Ac. Denise Carla de Deus (PIBIC/CNPq/UFSJ 2000-2002) Orientadora: Prof. Dra. Marilúze Ferreira Andrade e Silva

Leia mais

UNIÃO EDUCACIONAL DO NORTE UNINORTE AUTOR (ES) AUTOR (ES) TÍTULO DO PROJETO

UNIÃO EDUCACIONAL DO NORTE UNINORTE AUTOR (ES) AUTOR (ES) TÍTULO DO PROJETO UNIÃO EDUCACIONAL DO NORTE UNINORTE AUTOR (ES) AUTOR (ES) TÍTULO DO PROJETO RIO BRANCO Ano AUTOR (ES) AUTOR (ES) TÍTULO DO PROJETO Pré-Projeto de Pesquisa apresentado como exigência no processo de seleção

Leia mais

0,999... OU COMO COLOCAR UM BLOCO QUADRADO EM UM BURACO REDONDO Pablo Emanuel

0,999... OU COMO COLOCAR UM BLOCO QUADRADO EM UM BURACO REDONDO Pablo Emanuel Nível Intermediário 0,999... OU COMO COLOCAR UM BLOCO QUADRADO EM UM BURACO REDONDO Pablo Emanuel Quando um jovem estudante de matemática começa a estudar os números reais, é difícil não sentir certo desconforto

Leia mais

3.1 Definições Uma classe é a descrição de um tipo de objeto.

3.1 Definições Uma classe é a descrição de um tipo de objeto. Unified Modeling Language (UML) Universidade Federal do Maranhão UFMA Pós Graduação de Engenharia de Eletricidade Grupo de Computação Assunto: Diagrama de Classes Autoria:Aristófanes Corrêa Silva Adaptação:

Leia mais

MÓDULO 4 DISTRIBUIÇÃO DE FREQÜÊNCIAS

MÓDULO 4 DISTRIBUIÇÃO DE FREQÜÊNCIAS MÓDULO 4 DISTRIBUIÇÃO DE FREQÜÊNCIS Como vimos no módulo 1, para que nós possamos extrair dos dados estatísticos de que dispomos a correta análise e interpretação, o primeiro passo deverá ser a correta

Leia mais

INSTITUTO TECNOLÓGICO

INSTITUTO TECNOLÓGICO PAC - PROGRAMA DE APRIMORAMENTO DE CONTEÚDOS. ATIVIDADES DE NIVELAMENTO BÁSICO. DISCIPLINAS: MATEMÁTICA & ESTATÍSTICA. PROFº.: PROF. DR. AUSTER RUZANTE 1ª SEMANA DE ATIVIDADES DOS CURSOS DE TECNOLOGIA

Leia mais

A Morfologia é o estudo da palavra e sua função na nossa língua. Na língua portuguesa, as palavras dividem-se nas seguintes categorias:

A Morfologia é o estudo da palavra e sua função na nossa língua. Na língua portuguesa, as palavras dividem-se nas seguintes categorias: MORFOLOGIA A Morfologia é o estudo da palavra e sua função na nossa língua. Na língua portuguesa, as palavras dividem-se nas seguintes categorias: 1. SUBSTANTIVO Tudo o que existe é ser e cada ser tem

Leia mais

Aula 4 Conceitos Básicos de Estatística. Aula 4 Conceitos básicos de estatística

Aula 4 Conceitos Básicos de Estatística. Aula 4 Conceitos básicos de estatística Aula 4 Conceitos Básicos de Estatística Aula 4 Conceitos básicos de estatística A Estatística é a ciência de aprendizagem a partir de dados. Trata-se de uma disciplina estratégica, que coleta, analisa

Leia mais

FILOSOFIA SEM FILÓSOFOS: ANÁLISE DE CONCEITOS COMO MÉTODO E CONTEÚDO PARA O ENSINO MÉDIO 1. Introdução. Daniel+Durante+Pereira+Alves+

FILOSOFIA SEM FILÓSOFOS: ANÁLISE DE CONCEITOS COMO MÉTODO E CONTEÚDO PARA O ENSINO MÉDIO 1. Introdução. Daniel+Durante+Pereira+Alves+ I - A filosofia no currículo escolar FILOSOFIA SEM FILÓSOFOS: ANÁLISE DE CONCEITOS COMO MÉTODO E CONTEÚDO PARA O ENSINO MÉDIO 1 Daniel+Durante+Pereira+Alves+ Introdução O+ ensino+ médio+ não+ profissionalizante,+

Leia mais

1) Observe a fala do peru, no último quadrinho. a) Quantos verbos foram empregados nessa fala? Dois. b) Logo, quantas orações há nesse período? Duas.

1) Observe a fala do peru, no último quadrinho. a) Quantos verbos foram empregados nessa fala? Dois. b) Logo, quantas orações há nesse período? Duas. Pág. 41 1 e 2 1) Observe a fala do peru, no último quadrinho. a) Quantos verbos foram empregados nessa fala? Dois. b) Logo, quantas orações há nesse período? Duas. c) Delimite as orações. Foi o presente

Leia mais

I OS GRANDES SISTEMAS METAFÍSICOS

I OS GRANDES SISTEMAS METAFÍSICOS I OS GRANDES SISTEMAS METAFÍSICOS A principal preocupação de Descartes, diante de uma tradição escolástica em que as espécies eram concebidas como entidades semimateriais, semi-espirituais, é separar com

Leia mais

Exercícios Teóricos Resolvidos

Exercícios Teóricos Resolvidos Universidade Federal de Minas Gerais Instituto de Ciências Exatas Departamento de Matemática Exercícios Teóricos Resolvidos O propósito deste texto é tentar mostrar aos alunos várias maneiras de raciocinar

Leia mais

Desenvolvimento de uma Etapa

Desenvolvimento de uma Etapa Desenvolvimento de uma Etapa A Fase Evolutiva do desenvolvimento de um sistema compreende uma sucessão de etapas de trabalho. Cada etapa configura-se na forma de um mini-ciclo que abrange as atividades

Leia mais

As decisões intermédias na jurisprudência constitucional portuguesa

As decisões intermédias na jurisprudência constitucional portuguesa As decisões intermédias na jurisprudência constitucional portuguesa MARIA LÚCIA AMARAL * Introdução 1. Agradeço muito o convite que me foi feito para participar neste colóquio luso-italiano de direito

Leia mais

Ética no exercício da Profissão

Ética no exercício da Profissão Titulo: Ética no exercício da Profissão Caros Colegas, minhas Senhoras e meus Senhores, Dr. António Marques Dias ROC nº 562 A nossa Ordem tem como lema: Integridade. Independência. Competência. Embora

Leia mais

COMO ENSINEI MATEMÁTICA

COMO ENSINEI MATEMÁTICA COMO ENSINEI MATEMÁTICA Mário Maturo Coutinho COMO ENSINEI MATEMÁTICA.ª edição 511 9 AGRADECIMENTOS À Deus À minha família Aos mestres da matemática do C.E.Visconde de Cairu APRESENTAÇÃO O objetivo deste

Leia mais

VAMOS ESTUDAR OS VERBOS

VAMOS ESTUDAR OS VERBOS VAMOS ESTUDAR OS VERBOS Autores: Ana Catarina; Andreia; Bibiana; Pedro Cardoso. Ano/Turma: 6º A Ano Lectivo: 2007/2008 Índice. 1 Introdução... 2 Pág. Primeira Parte 1-OS VERBOS 1.1 Conceito.. 3 1.2 Tempo.

Leia mais

Disciplina: Alfabetização

Disciplina: Alfabetização Título do artigo: As intervenções didáticas no processo de alfabetização inicial Disciplina: Alfabetização Selecionador: Beatriz Gouveia 1 Categoria: Professor 1 Coordenadora de projetos do Instituto Avisa

Leia mais

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA POLO: UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO CCE LETRAS-LIBRAS BACHARELADO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA POLO: UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO CCE LETRAS-LIBRAS BACHARELADO UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA POLO: UNIVERSIDADE FEDERAL DO ESPÍRITO SANTO CENTRO DE COMUNICAÇÃO E EXPRESSÃO CCE LETRAS-LIBRAS BACHARELADO Joaquim Cesar Cunha dos Santos ATIVIDADE 07 DISCIPLINA:

Leia mais

7 INTRODUÇÃO À SINTAXE

7 INTRODUÇÃO À SINTAXE Aula INTRODUÇÃO À SINTAXE META Expor informações básicas sobre sintaxe. OBJETIVOS Ao final desta aula o aluno deverá: levar o aluno a compreender o que seja sintaxe de regência, de colocação e de concordância.

Leia mais

Transcrição Automática de Música

Transcrição Automática de Música Transcrição Automática de Música Ricardo Rosa e Miguel Eliseu Escola Superior de Tecnologia e Gestão do Instituto Politécnico de Leiria Departamento de Engenharia Informática A transcrição automática de

Leia mais

A Alienação (Karl Marx)

A Alienação (Karl Marx) A Alienação (Karl Marx) Joana Roberto FBAUL, 2006 Sumário Introdução... 1 Desenvolvimento... 1 1. A alienação do trabalho... 1 2. O Fenómeno da Materialização / Objectivação... 2 3. Uma terceira deterninação

Leia mais

Conversando. Ditado popular: Escreveu não leu, o pau comeu.

Conversando. Ditado popular: Escreveu não leu, o pau comeu. Página de abertura Conversando Ditado popular: Escreveu não leu, o pau comeu. Contratos: Escreveu não leu, o pau comeu Por que é importante ler um texto com atenção? Críticas - resposta mal estruturada;

Leia mais

ESTATÍSTICAS, O ABECEDÁRIO DO FUTURO

ESTATÍSTICAS, O ABECEDÁRIO DO FUTURO ESTATÍSTICAS, O ABECEDÁRIO DO FUTURO Maria João Valente Rosa Membro do Conselho Superior de Estatística; Professora Universitária da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas/ Universidade Nova de Lisboa;

Leia mais

Capítulo 7. Topologia Digital. 7.1 Conexidade

Capítulo 7. Topologia Digital. 7.1 Conexidade Capítulo 7 Topologia Digital A Topologia Digital estuda a aplicação das noções definidas em Topologia sobre imagens binárias. Neste capítulo vamos introduzir algumas noções básicas de Topologia Digital,

Leia mais

Português- Prof. Verônica Ferreira

Português- Prof. Verônica Ferreira Português- Prof. Verônica Ferreira 1 Com relação a aspectos linguísticos e aos sentidos do texto acima, julgue os itens a seguir. No trecho que podemos chamar de silenciosa (l.15-16), o termo de silenciosa

Leia mais

Indicamos inicialmente os números de cada item do questionário e, em seguida, apresentamos os dados com os comentários dos alunos.

Indicamos inicialmente os números de cada item do questionário e, em seguida, apresentamos os dados com os comentários dos alunos. Os dados e resultados abaixo se referem ao preenchimento do questionário Das Práticas de Ensino na percepção de estudantes de Licenciaturas da UFSJ por dez estudantes do curso de Licenciatura Plena em

Leia mais

Aula 05 - Compromissos

Aula 05 - Compromissos Aula 05 - Compromissos Objetivos Agendar compromissos, utilizando verbos no infinitivo ou a estrutura (ir) + ter que + verbos no infinitivo; conversar ao telefone, reconhecendo e empregando expressões

Leia mais

PARLAMENTO EUROPEU. Comissão dos Assuntos Jurídicos. 10.6.2005 PE 360.003v01-00

PARLAMENTO EUROPEU. Comissão dos Assuntos Jurídicos. 10.6.2005 PE 360.003v01-00 PARLAMENTO EUROPEU 2004 ««««««««««««Comissão dos Assuntos Jurídicos 2009 10.6.2005 PE 360.003v01-00 ALTERAÇÕES 1-17 Projecto de recomendação para segunda leitura Michel Rocard Patenteabilidade das invenções

Leia mais

Aula 4 Estatística Conceitos básicos

Aula 4 Estatística Conceitos básicos Aula 4 Estatística Conceitos básicos Plano de Aula Amostra e universo Média Variância / desvio-padrão / erro-padrão Intervalo de confiança Teste de hipótese Amostra e Universo A estatística nos ajuda a

Leia mais

ESTUDO 1 - ESTE É JESUS

ESTUDO 1 - ESTE É JESUS 11. Já vimos que Jesus Cristo desceu do céu, habitou entre nós, sofreu, morreu, ressuscitou e foi para a presença de Deus. Leia João 17:13 e responda: Onde está Jesus Cristo agora? Lembremo-nos que: Jesus

Leia mais

Denise Fernandes CARETTA Prefeitura Municipal de Taubaté Denise RAMOS Colégio COTET

Denise Fernandes CARETTA Prefeitura Municipal de Taubaté Denise RAMOS Colégio COTET O DESENVOLVIMENTO DA LINGUAGEM INFANTIL NAS PERSPECTIVAS SÓCIO-HISTÓRICA, ANTROPOLÓGICA E PEDAGÓGICA: UM ESTUDO DO REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL DA EDUCAÇÃO INFANTIL Denise Fernandes CARETTA Prefeitura

Leia mais

Densímetro de posto de gasolina

Densímetro de posto de gasolina Densímetro de posto de gasolina Eixo(s) temático(s) Ciência e tecnologia Tema Materiais: propriedades Conteúdos Densidade, misturas homogêneas e empuxo Usos / objetivos Introdução ou aprofundamento do

Leia mais

O Planejamento Participativo

O Planejamento Participativo O Planejamento Participativo Textos de um livro em preparação, a ser publicado em breve pela Ed. Vozes e que, provavelmente, se chamará Soluções de Planejamento para uma Visão Estratégica. Autor: Danilo

Leia mais

Sistema de signos socializado. Remete à função de comunicação da linguagem. Sistema de signos: conjunto de elementos que se determinam em suas inter-

Sistema de signos socializado. Remete à função de comunicação da linguagem. Sistema de signos: conjunto de elementos que se determinam em suas inter- Algumas definições Sistema de signos socializado. Remete à função de comunicação da linguagem. Sistema de signos: conjunto de elementos que se determinam em suas inter- relações. O sentido de um termo

Leia mais

LIVROS DE AUTO AJUDA E AS SEITAS EVANGÉLICAS

LIVROS DE AUTO AJUDA E AS SEITAS EVANGÉLICAS LIVROS DE AUTO AJUDA E AS SEITAS EVANGÉLICAS LIVROS DE AUTO AJUDA E AS SEITAS EVANGÉLICAS Tenho observado e tentado entender do porquê de tanta venda destes livros considerados de Autoajuda e ao mesmo

Leia mais

1 Um guia para este livro

1 Um guia para este livro PARTE 1 A estrutura A Parte I constitui-se de uma estrutura para o procedimento da pesquisa qualitativa e para a compreensão dos capítulos posteriores. O Capítulo 1 serve como um guia para o livro, apresentando

Leia mais

Profa. Ma. Adriana Rosa

Profa. Ma. Adriana Rosa Unidade I ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO Profa. Ma. Adriana Rosa Ementa A teoria construtivista: principais contribuições, possibilidades de trabalho pedagógico. Conceito de alfabetização: história e evolução.

Leia mais

FAZEMOS MONOGRAFIA PARA TODO BRASIL, QUALQUER TEMA! ENTRE EM CONTATO CONOSCO!

FAZEMOS MONOGRAFIA PARA TODO BRASIL, QUALQUER TEMA! ENTRE EM CONTATO CONOSCO! FAZEMOS MONOGRAFIA PARA TODO BRASIL, QUALQUER TEMA! ENTRE EM CONTATO CONOSCO! DEFINIÇÃO A pesquisa experimental é composta por um conjunto de atividades e técnicas metódicas realizados para recolher as

Leia mais

Professora Verônica Ferreira

Professora Verônica Ferreira Professora Verônica Ferreira 1- Prova: ESAF - 2013 - DNIT - Técnico Administrativo (questão nº 1) Disciplina: Português Assuntos: Crase; Assinale a opção que completa corretamente a sequência de lacunas

Leia mais

Notas sobre a Fórmula de Taylor e o estudo de extremos

Notas sobre a Fórmula de Taylor e o estudo de extremos Notas sobre a Fórmula de Taylor e o estudo de etremos O Teorema de Taylor estabelece que sob certas condições) uma função pode ser aproimada na proimidade de algum ponto dado) por um polinómio, de modo

Leia mais

PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO

PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO Este material resulta da reunião de fragmentos do módulo I do Curso Gestão Estratégica com uso do Balanced Scorecard (BSC) realizado pelo CNJ. 1. Conceitos de Planejamento Estratégico

Leia mais

Rotas da Leitura. Biblioteca Municipal de Beja. Cristina Taquelim. Introdução

Rotas da Leitura. Biblioteca Municipal de Beja. Cristina Taquelim. Introdução Rotas da Leitura Biblioteca Municipal de Beja Cristina Taquelim Introdução A promoção da leitura nas bibliotecas portuguesas públicas sofreu nos últimos anos uma forte expansão e alberga hoje um conjunto

Leia mais

TAFCITY (A Cidade Amiga do Idoso) GUIA DO PROFESSOR

TAFCITY (A Cidade Amiga do Idoso) GUIA DO PROFESSOR TAFCITY (A Cidade Amiga do Idoso) GUIA DO PROFESSOR TAFCITY Guia do Professor PAG. 1 Introdução Este guia foi concebido para ajudar os professores a utilizar o curso, planeando a sua lecionação e o modo

Leia mais

QUANTIFICADORES. Existem frases declarativas que não há como decidir se são verdadeiras ou falsas. Por exemplo: (a) Ele é um campeão da Fórmula 1.

QUANTIFICADORES. Existem frases declarativas que não há como decidir se são verdadeiras ou falsas. Por exemplo: (a) Ele é um campeão da Fórmula 1. LIÇÃO 4 QUANTIFICADORES Existem frases declarativas que não há como decidir se são verdadeiras ou falsas. Por exemplo: (a) Ele é um campeão da Fórmula 1. (b) x 2 2x + 1 = 0. (c) x é um país. (d) Ele e

Leia mais

Notas de Cálculo Numérico

Notas de Cálculo Numérico Notas de Cálculo Numérico Túlio Carvalho 6 de novembro de 2002 2 Cálculo Numérico Capítulo 1 Elementos sobre erros numéricos Neste primeiro capítulo, vamos falar de uma limitação importante do cálculo

Leia mais

O Princípio da Complementaridade e o papel do observador na Mecânica Quântica

O Princípio da Complementaridade e o papel do observador na Mecânica Quântica O Princípio da Complementaridade e o papel do observador na Mecânica Quântica A U L A 3 Metas da aula Descrever a experiência de interferência por uma fenda dupla com elétrons, na qual a trajetória destes

Leia mais

4.4. UML Diagramas de interacção

4.4. UML Diagramas de interacção Engenharia de Software 4.4. UML Diagramas de interacção Nuno Miguel Gil Fonseca nuno.fonseca@estgoh.ipc.pt Um diagrama de interacção mostra um padrão de interacção entre vários objectos, com objectos e

Leia mais

3.4 O Princípio da Equipartição de Energia e a Capacidade Calorífica Molar

3.4 O Princípio da Equipartição de Energia e a Capacidade Calorífica Molar 3.4 O Princípio da Equipartição de Energia e a Capacidade Calorífica Molar Vimos que as previsões sobre as capacidades caloríficas molares baseadas na teoria cinética estão de acordo com o comportamento

Leia mais

LIDERANÇA, ÉTICA, RESPEITO, CONFIANÇA

LIDERANÇA, ÉTICA, RESPEITO, CONFIANÇA Dado nos últimos tempos ter constatado que determinado sector da Comunidade Surda vem falando muito DE LIDERANÇA, DE ÉTICA, DE RESPEITO E DE CONFIANÇA, deixo aqui uma opinião pessoal sobre o que são estes

Leia mais

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS Departamento de Patologia Básica Pós-Graduação em Microbiologia, Parasitologia e Patologia

UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS Departamento de Patologia Básica Pós-Graduação em Microbiologia, Parasitologia e Patologia UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS Departamento de Patologia Básica Pós-Graduação em Microbiologia, Parasitologia e Patologia (TÍTULO DO PROJETO) Mestrando/Doutorando: Orientador:

Leia mais

5 Considerações finais

5 Considerações finais 5 Considerações finais 5.1. Conclusões A presente dissertação teve o objetivo principal de investigar a visão dos alunos que se formam em Administração sobre RSC e o seu ensino. Para alcançar esse objetivo,

Leia mais

Índice. Como aceder ao serviço de Certificação PME? Como efectuar uma operação de renovação da certificação?

Índice. Como aceder ao serviço de Certificação PME? Como efectuar uma operação de renovação da certificação? Índice Como aceder ao serviço de Certificação PME? Como efectuar uma operação de renovação da certificação? Como efectuar uma operação de confirmação de estimativas? Como aceder ao Serviço de Certificação

Leia mais

Sistemas Lineares. Módulo 3 Unidade 10. Para início de conversa... Matemática e suas Tecnologias Matemática

Sistemas Lineares. Módulo 3 Unidade 10. Para início de conversa... Matemática e suas Tecnologias Matemática Módulo 3 Unidade 10 Sistemas Lineares Para início de conversa... Diversos problemas interessantes em matemática são resolvidos utilizando sistemas lineares. A seguir, encontraremos exemplos de alguns desses

Leia mais

Gráficos. Incluindo gráficos

Gráficos. Incluindo gráficos Gráficos Mas antes de começar, você precisa ter em mente três conceitos importantes que constituem os gráficos do Excel 2007. O primeiro deles é o ponto de dados. Este elemento é representado pela combinação

Leia mais

GRUPO DE TRABALHO DE PROTECÇÃO DE DADOS DO ARTIGO 29.º

GRUPO DE TRABALHO DE PROTECÇÃO DE DADOS DO ARTIGO 29.º GRUPO DE TRABALHO DE PROTECÇÃO DE DADOS DO ARTIGO 29.º 00327/11/PT WP 180 Parecer 9/2011 sobre a proposta revista da indústria relativa a um quadro para as avaliações do impacto das aplicações RFID na

Leia mais

31.5.2008 Jornal Oficial da União Europeia L 141/5

31.5.2008 Jornal Oficial da União Europeia L 141/5 31.5.2008 Jornal Oficial da União Europeia L 141/5 REGULAMENTO (CE) N. o 482/2008 DA COMISSÃO de 30 de Maio de 2008 que estabelece um sistema de garantia de segurança do software, a aplicar pelos prestadores

Leia mais

RIMAS PERFEITAS, IMPERFEITAS E MAIS-QUE-PERFEITAS JOGOS E ACTIVIDADES

RIMAS PERFEITAS, IMPERFEITAS E MAIS-QUE-PERFEITAS JOGOS E ACTIVIDADES RIMAS PERFEITAS, IMPERFEITAS E MAIS-QUE-PERFEITAS JOGOS E ACTIVIDADES Recorda! Verbos são palavras que refer acções ou processos praticados ou desenvolvidos por alguém. Os verbos distribu-se por vários

Leia mais

Cotagem de dimensões básicas

Cotagem de dimensões básicas Cotagem de dimensões básicas Introdução Observe as vistas ortográficas a seguir. Com toda certeza, você já sabe interpretar as formas da peça representada neste desenho. E, você já deve ser capaz de imaginar

Leia mais

CADERNOS DE INFORMÁTICA Nº 1. Fundamentos de Informática I - Word 2010. Sumário

CADERNOS DE INFORMÁTICA Nº 1. Fundamentos de Informática I - Word 2010. Sumário CADERNO DE INFORMÁTICA FACITA Faculdade de Itápolis Aplicativos Editores de Texto WORD 2007/2010 Sumário Editor de texto... 3 Iniciando Microsoft Word... 4 Fichários:... 4 Atalhos... 5 Área de Trabalho:

Leia mais

Um jogo de preencher casas

Um jogo de preencher casas Um jogo de preencher casas 12 de Janeiro de 2015 Resumo Objetivos principais da aula de hoje: resolver um jogo com a ajuda de problemas de divisibilidade. Descrevemos nestas notas um jogo que estudamos

Leia mais

Base empírica da sintaxe. Luiz Arthur Pagani (UFPR)

Base empírica da sintaxe. Luiz Arthur Pagani (UFPR) Base empírica da sintaxe (UFPR) 1 1 Gramaticalidade vs. aceitabilidade aceitabilidade [2, ps. 143144]: Aceitável é um termo primitivo ou pré-cientíco, neutro em relação às diferentes distinções que precisaremos

Leia mais

O setor de psicologia do Colégio Padre Ovídio oferece a você algumas dicas para uma escolha acertada da profissão. - Critérios para a escolha

O setor de psicologia do Colégio Padre Ovídio oferece a você algumas dicas para uma escolha acertada da profissão. - Critérios para a escolha O setor de psicologia do Colégio Padre Ovídio oferece a você algumas dicas para uma escolha acertada da profissão. - Critérios para a escolha profissional a) Realização Pessoal Que você se sinta feliz

Leia mais

Escolher um programa de cuidados infantis

Escolher um programa de cuidados infantis Escolher um programa de cuidados infantis A escolha de um programa de cuidados infantis é uma opção muito pessoal para cada família. O melhor programa é aquele que mais tem a ver com a personalidade, gostos,

Leia mais

TIPOS DE RELACIONAMENTOS

TIPOS DE RELACIONAMENTOS 68 Décima-Segunda Lição CONSTRUINDO RELACIONAMENTOS DE QUALIDADE Quando falamos de relacionamentos, certamente estamos falando da inter-relação de duas ou mais pessoas. Há muitas possibilidades de relacionamentos,

Leia mais

TÓPICO ESPECIAL DE CONTABILIDADE: IR DIFERIDO

TÓPICO ESPECIAL DE CONTABILIDADE: IR DIFERIDO TÓPICO ESPECIAL DE CONTABILIDADE: IR DIFERIDO! O que é diferimento?! Casos que permitem a postergação do imposto.! Diferimento da despesa do I.R.! Mudança da Alíquota ou da Legislação. Autores: Francisco

Leia mais

Resolução da lista de exercícios de casos de uso

Resolução da lista de exercícios de casos de uso Resolução da lista de exercícios de casos de uso 1. Explique quando são criados e utilizados os diagramas de casos de uso no processo de desenvolvimento incremental e iterativo. Na fase de concepção se

Leia mais

Modelo de Trabalho de Culminação de Estudos na Modalidade de Projecto de Pesquisa

Modelo de Trabalho de Culminação de Estudos na Modalidade de Projecto de Pesquisa UNIVERSIDADE EDUARDO MONDLANE Faculdade de Letras e Ciências Sociais Departamento de Arqueologia e Antropologia Curso de Licenciatura em Antropologia Modelo de Trabalho de Culminação de Estudos na Modalidade

Leia mais

Processo de Pesquisa Científica

Processo de Pesquisa Científica Processo de Pesquisa Científica Planejamento Execução Divulgação Projeto de Pesquisa Relatório de Pesquisa Exposição Oral Plano de Pesquisa Pontos de referência Conhecimento Científico É a tentativa de

Leia mais

C5. Formação e evolução estelar

C5. Formação e evolução estelar AST434: C5-1/68 AST434: Planetas e Estrelas C5. Formação e evolução estelar Mário João P. F. G. Monteiro Mestrado em Desenvolvimento Curricular pela Astronomia Mestrado em Física e Química em Contexto

Leia mais

alemão; espanhol; francês; inglês Dezembro de 2013

alemão; espanhol; francês; inglês Dezembro de 2013 Informação-Exame Final Nacional Línguas estrangeiras alemão; espanhol; francês; inglês Dezembro de 2013 Provas 501; 547; 517; 550 2014 11.º Ano de Escolaridade O presente documento divulga informação relativa

Leia mais

Jornal Oficial da União Europeia

Jornal Oficial da União Europeia 6.2.2003 L 31/3 REGULAMENTO (CE) N. o 223/2003 DA COMISSÃO de 5 de Fevereiro de 2003 que diz respeito aos requisitos em matéria de rotulagem relacionados com o modo de produção biológico aplicáveis aos

Leia mais

Parece claro que há uma, e uma só, conclusão a tirar destas proposições. Esa conclusão é:

Parece claro que há uma, e uma só, conclusão a tirar destas proposições. Esa conclusão é: Argumentos Dedutivos e Indutivos Paulo Andrade Ruas Introdução Em geral, quando se quer explicar que géneros de argumentos existem, começa-se por distinguir os argumentos dedutivos dos não dedutivos. A

Leia mais

Anexo F Grelha de Categorização da Entrevista à Educadora Cooperante

Anexo F Grelha de Categorização da Entrevista à Educadora Cooperante Anexo F Grelha de Categorização da Entrevista à Educadora Cooperante CATEGORIAS SUBCATEGORIAS INDICADORES 1.1. Tempo de serviço docente ( ) 29 anos (1) 1.2. Motivações pela vertente artística ( ) porque

Leia mais

Diagrama de transição de Estados (DTE)

Diagrama de transição de Estados (DTE) Diagrama de transição de Estados (DTE) O DTE é uma ferramenta de modelação poderosa para descrever o comportamento do sistema dependente do tempo. A necessidade de uma ferramenta deste tipo surgiu das

Leia mais

Falso: F = Low voltage: L = 0

Falso: F = Low voltage: L = 0 Curso Técnico em Eletrotécnica Disciplina: Automação Predial e Industrial Professor: Ronimack Trajano 1 PORTAS LOGICAS 1.1 INTRODUÇÃO Em 1854, George Boole introduziu o formalismo que até hoje se usa para

Leia mais

O VALOR ASPECTUAL NAS METÁFORAS VERBAIS: (RE)CONHECENDO UM MUNDO CONHECIDO 1

O VALOR ASPECTUAL NAS METÁFORAS VERBAIS: (RE)CONHECENDO UM MUNDO CONHECIDO 1 583 O VALOR ASPECTUAL NAS METÁFORAS VERBAIS: (RE)CONHECENDO UM MUNDO CONHECIDO 1 Thabyson Sousa Dias (UFT) thabyson.sd@uft.edu.br Este estudo tem por objetivo analisar e descrever metáforas com verbo de

Leia mais

Introdução ao estudo de equações diferenciais

Introdução ao estudo de equações diferenciais Matemática (AP) - 2008/09 - Introdução ao estudo de equações diferenciais 77 Introdução ao estudo de equações diferenciais Introdução e de nição de equação diferencial Existe uma grande variedade de situações

Leia mais

6. Pronunciamento Técnico CPC 23 Políticas Contábeis, Mudança de Estimativa e Retificação de Erro

6. Pronunciamento Técnico CPC 23 Políticas Contábeis, Mudança de Estimativa e Retificação de Erro TÍTULO : PLANO CONTÁBIL DAS INSTITUIÇÕES DO SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL - COSIF 1 6. Pronunciamento Técnico CPC 23 Políticas Contábeis, Mudança de Estimativa e Retificação de Erro 1. Aplicação 1- As instituições

Leia mais

Eventos independentes

Eventos independentes Eventos independentes Adaptado do artigo de Flávio Wagner Rodrigues Neste artigo são discutidos alguns aspectos ligados à noção de independência de dois eventos na Teoria das Probabilidades. Os objetivos

Leia mais

MULTIACERVO Implementações da versão 20-1

MULTIACERVO Implementações da versão 20-1 Data: Janeiro / 2015 Recurso pop-up O pop-up é um recurso que abre uma nova janela sem sair da tela original. Isto é interessante pois permite complementar uma informação e permanecer no ponto original,

Leia mais

Cálculo em Computadores - 2007 - trajectórias 1. Trajectórias Planas. 1 Trajectórias. 4.3 exercícios... 6. 4 Coordenadas polares 5

Cálculo em Computadores - 2007 - trajectórias 1. Trajectórias Planas. 1 Trajectórias. 4.3 exercícios... 6. 4 Coordenadas polares 5 Cálculo em Computadores - 2007 - trajectórias Trajectórias Planas Índice Trajectórias. exercícios............................................... 2 2 Velocidade, pontos regulares e singulares 2 2. exercícios...............................................

Leia mais

A organização dos meios humanos na empresa

A organização dos meios humanos na empresa António Malta A organização dos meios humanos na empresa 1. Para poder desempenhar a sua função económica geral produção de bens ou prestação de serviços a empresa tem necessariamente que contar com uma

Leia mais

Especificação Operacional.

Especificação Operacional. Especificação Operacional. Para muitos sistemas, a incerteza acerca dos requisitos leva a mudanças e problemas mais tarde no desenvolvimento de software. Zave (1984) sugere um modelo de processo que permite

Leia mais

LONDRES Reunião do GAC: Processos Políticos da ICANN

LONDRES Reunião do GAC: Processos Políticos da ICANN LONDRES Reunião do GAC: Processos Políticos da ICANN e Responsabilidades do interesse público em relação aos Direitos Humanos e Valores Democráticos Terça feira, 24 de junho de 2014 09:00 a 09:30 ICANN

Leia mais

Language descriptors in Portuguese Portuguese listening - Descritores para a Compreensão do Oral em História e Matemática

Language descriptors in Portuguese Portuguese listening - Descritores para a Compreensão do Oral em História e Matemática Language descriptors in Portuguese Portuguese listening - Descritores para a Compreensão do Oral em História e Matemática Compreender informação factual e explicações Compreender instruções e orientações

Leia mais

ESAPL IPVC. Licenciatura em Engenharia do Ambiente e dos Recursos Rurais. Economia Ambiental

ESAPL IPVC. Licenciatura em Engenharia do Ambiente e dos Recursos Rurais. Economia Ambiental ESAPL IPVC Licenciatura em Engenharia do Ambiente e dos Recursos Rurais Economia Ambiental Tema 9 O Valor Económico do Meio Ambiente O porquê da Valorização Ambiental Como vimos em tudo o que para trás

Leia mais