Neoplasias em canídeos - Um estudo descritivo de 6 anos Dog s neoplasia - A six years descriptive study
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- Sophia Freire Gorjão
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1 R E V I S T A P O R T U G U E S A DE CIÊNCIAS VETERINÁRIAS Neoplasias em canídeos - Um estudo descritivo de 6 anos Dog s neoplasia - A six years descriptive study Maria dos Anjos Pires*, Fernanda Seixas Travassos e Isabel Pires Laboratório de Histologia e Anatomia Patológica; Departamento de Patologia e Clínicas Veterinárias. CECAV - UTAD Vila Real. Portugal. Resumo: Os autores apresentam um estudo da distribuição de lesões neoplásicas em canídeos, por sexo, idade e aparelhos afectados, baseado no material recebido durante 6 anos (entre 1996 e 2001) no Laboratório de Histologia e Anatomia Patológica da UTAD. Num universo de 3922 análises efectuadas em canídeos, 1790 (45,6%) foram referentes a lesões do foro neoplásico, das quais 36,3% (n=649) eram lesões neoplásicas da glândula mamária, 29,9 % (n=535) eram neoplasias mesenquimatosas da pele e tecidos moles, 17,4% (n=312) neoplasias epiteliais e melanocíticas da pele, 8,7% (n=155) neoplasias do aparelho genital e urinário, 3,9% (n=70) lesões neoplásicas do sistema hematopoiético, 1,7% (n=31) neoplasias do osso e articulações e 2,1% (n=38) corresponderam a outras neoplasias. As neoplasias observadas predominaram em fêmeas (61%). Os animais de raça indeterminada foram aqueles que, dentro da nossa amostra, registaram mais tumores (25,86%). Nos animais com idade igual ou inferior a 2 anos predominaram os histiocitomas; nos de idade compreendida entre os 3 e os 8 anos predominaram os tumores da glândula mamária (32,8%) assim como nos animais com idade igual ou superior a 9 anos (41,7%). O grupo de animais com 11 anos foi aquele que apresentou maior número de tumores (que registámos desde a idade inferior a um ano, até aos 17 anos). Summary: The authors present a study of dog s neoplasic lesions distribution by means of sex, age and affected systems. The material was received in the laboratory of Histology and Surgical Pathology of the University of Trás-os-Montes e Alto Douro. Out of a total of 3922 cases received, 1790 (45.6%) were neoplasic lesions. From these, 36.3% (n=649) were mammary gland tumors, 29.9 % (n=535) mesenchymal skin and soft tissues tumors, 17.4% (n=312) epithelial and melanocytic tumors of the skin, 8.7% (n=155) tumors of the urogenital system, 3.9% (n=70) hematopoietic tumors, 1.7% (n=31) bone and joint tumors, and finally, 2.1% (n=38) were classified as other neoplasias. The neoplasia was most predominant in females (61%). Besides that, the tumors were more recurrent in mongrel dogs (25.86%). The histiocitomas were the leading lesion in young animals (ages until 2 years). Between 3 and 8 years old, the mammary gland tumor was the most frequent (32.8%); this same situation was prevalent in the oldest animals (age higher than 9 years) with a percentage of 41.7%. Finally, is worth to point out that the animal s collection with 11 years old was the group that presented the highest number of tumors (these animals were closely fallowed and registered between the ages under one until 17 years). Introdução A Anatomia Patológica desempenha um papel fundamental na pesquisa de características histológicas que, associadas às informações provenientes de um exame clínico sistemático, poderão fornecer dados essenciais para o estadiamento das neoplasias, o estabelecimento do prognóstico e da terapêutica. Estas características, quer histológicas (a morfologia, o grau nuclear, o padrão e taxa de crescimento tumoral, a invasão de tecidos, o grau histológico e a metastização), quer imunocitoquímicas (como os índices de proliferação celular, receptores hormonais, densidade de microvascularização, etc.) e os estudos de ploidia de ADN, permitem prever o comportamento biológico das neoplasias, constituindo importantes factores de prognóstico, e uma fonte de informação para o clínico que pretenda instituir uma terapêutica ao animal. Em Portugal existem dados estatísticos de tumores em animais domésticos em artigos publicados no Repositório de Trabalhos do LNIV e nos Anais da Faculdade de Medicina Veterinária, relativos ao período compreendido entre 1947 (trabalho do Prof. Nunes Petisca cit. por Silva, 1989) até 1988 (Durão e Santos, 1975; Santos, 1976; Monteiro e Clemente, 1978; Baptista e Silva, 1985; Gomes, 1987; Nunes, 1988/89; Silva, 1989), relativos aos tumores recebidos pelo LNIV de Lisboa, Porto e Algarve e pela Secção de Anatomia Patológica da Escola Superior de Medicina Veterinária de Lisboa. Não temos conhecimento de trabalhos semelhantes que abranjam o intervalo compreendido entre 1987 até hoje. Assim, neste trabalho realizámos o estudo da casuística das neoplasias em canídeos recebidas no Laboratório de Histologia e Anatomia Patológica (LHAP) da UTAD durante 6 anos (com maior domínio no Norte de Portugal), com o objectivo de enriquecer os conhecimentos nesta área, e sensibilizar a comunidade para um problema que se julga recente, mas que apenas tem sido pouco estudado. * Correspondente: apires@utad.pt, telefone , fax Materiais e métodos As informações presentes neste trabalho referem-se 111
2 a 3922 análises de canídeos recebidas no Laboratório de Histologia e Anatomia Patológica da UTAD no período compreendido entre 1 de Janeiro de 1996 e 31 de Dezembro de As amostras recebidas provieram de Portugal Continental e Ilhas, com predominância para o Hospital Universitário da UTAD e para a zona Norte do país. As amostras eram acompanhadas por uma ficha que incluía a identificação do animal, dados e suspeita clínica, ainda que raras vezes estes parâmetros fossem devidamente preenchidos. Este material biológico foi recebido sob a forma de cadáveres, biópsias e exéreses cirúrgicas. O material foi fixado em formol a 10%, processado num microprocessador automático de tecidos modelo Hypercenter XP Histoplast da Shandon e incluído em parafina. Foram efectuados cortes em parafina a 2-3µm que foram corados com Hematoxilina-Eosina (H-E). Sempre que necessário recorreu-se a técnicas de histoquímica (P.A.S., Reticulina, Azul da Prússia, Azul Alcião, Van Gieson, etc.), ou de imunohistoquímica (marcação com anticorpos específicos por exemplo anti-citoqueratinas, anti-vimentina, anti-desmina, antiα actina do musculo liso, anti-proteína S-100, entre outros), para melhor caracterizar as neoplasias em estudo. As neoplasias foram avaliadas com base na classificação Histológica da OMS em vigor (classificação Histológica dos Tumores Animais publicado pela Armed Forces Institute of Pathology AFIP e pela WHO Slayter et al., 1994; Hendrick et al., 1998; Goldschmidt et al., 1998; Kennedy et al., 1998; Koestner et al., 1999; Dungworth et al., 1999; Misdorp et al., 1999; Valli et al., 2002). A população foi dividida em três escalões etários: os animais jovens (os que apresentavam idades iguais ou inferiores aos 2 anos de idade); os animais adultos - aqueles que, com idades compreendidas entre os 3 e os 8 anos, se encontravam na plenitude da idade; e animais geriátricos os que tinham idade igual ou superior a 9 anos. Estas idades adaptadas de trabalhos desenvolvidos por outros autores (Mialot e Lagadic, 1990), tinham já sido definidas em trabalhos prévios não publicados. Gráfico 1 Distribuição dos animais em função do sexo Gráfico 2 Distribuição dos animais por raça A distribuição etária dos animais está representada no Gráfico 3. A maioria da população da amostra tinha até 10 anos. Observou-se um decréscimo no número de animais com idades superior a 11 anos e não se observou qualquer animal com idade superior a 17 anos. No gráfico 3, a idade referida como igual ou inferior a 1 abrange os animais com idades entre os zero e 12 meses. Resultados Amostra O nosso estudo teve como amostra 3922 canídeos, constituída por 1749 machos e 1980 fêmeas. Não foi especificado o sexo em 193 casos (Gráfico 1) excluídos dos dados totais. No que respeita à raça, os animais de raça indeterminada predominaram nesta amostra (n=1024) sobre as outras raças; seguiram-se-lhe os animais de raça Boxer (n=355), raça Caniche e raça Cocker (n=345 e n=243). No Gráfico 2 podemos observar a distribuição por raça da amostra. Gráfico 3 Distribuição dos animais por idade Frequência tumoral relativa 1 - Distribuição por aparelhos e sistemas As lesões neoplásicas corresponderam a 45,6% (n=1790) das análises que foram avaliadas. No grá- 112
3 incidiram quase exclusivamente sobre fêmeas, tendo sido diagnosticadas apenas em 3 machos, e nestes sempre com comportamento maligno. Gráfico 4 Distribuição das neoplasias por sistemas fico 4, podemos observar a distribuição das neoplasias por sistemas, de acordo com a actual classificação da OMS. Na nossa amostra predominaram as neoplasias da glândula mamária (36,3%, n= 649), seguidas pelas neoplasias mesenquimatosas da pele e tecidos moles (29,9%, n=535) e das epiteliais e melanocíticas da pele (17,4%, n=312). O aparelho genital foi sede de 8,1% (n=145) das lesões observadas e o sistema hematopoiético 3,9% (n=70). Com menor expressão observámos neoplasias ósseas e das articulações (em 1,7% dos casos, n=31), do sistema nervoso (0,8%, n=15), do aparelho digestivo (0,7%, n=13), do aparelho urinário (0,6%, n=10), de glândulas endócrinas (0,4%, n=8) e do aparelho respiratório (0,1%, n=2). Tabela 1 Distribuição tumoral Neoplasia Nº (%) Neoplasia da glândula mamária 649 (36,3%) Neoplasias mesenquimatosas da pele e dos tecidos moles 535 (29,9%) Neoplasias epiteliais e melanocíticas da pele 312 (17,4%) Neoplasias do trato genital 145 (8,1%) Neoplasia sistema hematopoiético 70 (3,9%) Neoplasias do osso e articulações 31 (1,7%) Neoplasias do sistema nervoso 15 (0,8%) Neoplasias do aparelho digestivo 13 (0,7%) Neoplasias do aparelho urinário 10 (0,6%) Neoplasias das glândulas endócrinas 8 (0,4%) Neoplasias do aparelho respiratório 2 (0,1%) Total Glândula mamária As neoplasias da glândula mamária foram as mais observadas nos canídeos e, em 72,6% (n=471) apresentaram características malignas. Apenas em 27,4% (n=178) dos casos foram diagnosticadas neoplasias com comportamento benigno. As neoplasias mamárias 1.2 Neoplasias mesenquimatosas da pele e dos tecidos moles As neoplasias mesenquimatosas representaram 29,9% (n=535) das neoplasias diagnosticadas em canídeos no LHAP, as segundas mais frequentes logo após as da glândula mamária. Dentro deste grupo, os histiocitomas foram os tumores mais comuns, com uma frequência de 29,4% (n=157), seguidos das neoplasias do tecido conjuntivo (27,3%, n=146) onde englobámos os tumores com origem fibroblástica e adiposa e, dos mastocitomas presentes em 24,1% (n=129) dos casos observados. Com menor frequência foram diagnosticados tumores vasculares que constituíram 7,5% (n=40) das lesões observadas, os hemangiopericitomas representados em 5,1% (n=27) e as neoplasias musculares 3,9% (n=21). As neoplasias dos nervos periféricos surgiram em 2,6% (n=14) dos casos apresentados, e foram constituídos maioritariamente por schwanomas (12 schwanomas e 2 paragangliomas). Tabela 2 Tumores mesenquimatosos da pele e dos tecidos moles Neoplasia Nº (%) Histiocitoma 157 (29,4%) Neoplasias conjuntivas 146 (27,3%) Mastocitoma 129 (24,1%) Neoplasias vasculares 40 (7,5%) Hemangiopericitoma 27 (5,1%) Neoplasias musculares 21 (3,9%) Neoplasia do nervo periférico 14 (2,6%) Neoplasias do mesotélio 1 (0,1%) Total 535 (100%) 1.3 Lesões epiteliais e melanocíticas da pele Este constituiu o terceiro grupo de tumores mais frequentes nos canídeos (n=312) abrangidos no estudo. Dentro desta categoria, os tumores das glândulas hepatóides foram os mais frequentes (29,8%, n=93), seguidos pelos carcinomas de células escamosas (CCE) com 17,3% (n=54), as lesões do folículo piloso (13,8%, n=43), os papilomas (12,8%, n=40), os tumores melânicos (10,9%, n=34), as neoplasias das glândulas sebáceas (7,1%, n=22), e por fim com menor casuística, as neoplasias das outras glândulas da pele (n=12) (Tabela 3). As neoplasias do folículo piloso englobaram todas as lesões não inflamatórias. Embora a classificação na 113
4 qual nos baseámos englobe os quistos como parte integrante da classificação de neoplasias, estes não foram considerados para a apreciação deste nosso estudo. Tabela 3 Tumores epiteliais e melanocíticos da pele Neoplasia Nº (%) Neoplasia da glândula hepatóide 93 (29,8%) Carcinoma de célula escamosa 54 (17,3%) Neoplasia do folículo piloso 43 (13,8%) Papiloma 40 (12,8%) Melânica 34 (10,9%) Neoplasia da glândula sebácea 22 (7,1%) Neoplasia da glândula de Meibomio 14 (4,5%) Neoplasia da glândula apócrina 10 (3,2%) Neoplasia da glândula ceruminosa 2 (0,6%) Total 312 (100%) 1.4 Neoplasias dos aparelhos genital e urinário Este grupo de neoplasias correspondeu a 8,7% (n=155) da totalidade dos tumores em canídeos, em que o aparelho urinário apenas esteve representado em 0,6% dos casos. Dadas as características do aparelho genital, fez-se um estudo diferenciado para machos e para fêmeas. No macho, foram dominantes os tumores do testículo (68,4%). As neoplasias do pénis e prepúcio foram exclusivamente tumores venéreos transmissíveis (TVT) com 20,3% de frequência. Os tumores da próstata representaram 11,4% das lesões analisadas. Nas fêmeas, a vagina revelou-se como estrutura anatómica mais afectada, manifestando neoplasias na sua maior parte benignas (essencialmente fibroleiomiomas) representando 60% das lesões. Ainda na vagina os TVT foram diagnosticados em 24,7% dos casos. O ovário apresentou neoplasias em 13,8% das observações e o útero em 1,5% dos casos (Tabela 4). Tabela 4 Tumores dos aparelhos genital e urinário Sexo Neoplasia Nº (%) Macho Fêmea Neoplasias do testículo 54 (68,4%) Neoplasias do pénis e prepúcio 16 (20.3%) Neoplasias da próstata 9 (11,4%) Total 79 (100%) Neoplasias da vagina TVT 16 (24,7%) Outros 39 (60%) Neoplasias do útero 1 (1,5%) Neoplasias do ovário 9 (13,8%) Total 65 (100%) 1.5 Sistema Hematopoiético As neoplasias do sistema hematopoiético constituíram 3,9% da totalidade das neoplasias diagnosticadas nestes animais (n=70). Observámos principalmente linfomas nas suas diferentes variedades (64 casos), 3 plasmocitomas e três leucemias. 1.6 Osso e Articulações Este grupo de neoplasias constituiu 3,7% (n=31) do total destas lesões identificadas no LHAP para esta espécie animal. Predominaram os tumores ósseos (n=21) sobre os de origem na cartilagem ou nas articulações. 1.7 Aparelho Digestivo e Glândulas Anexas Representam um pequeno grupo de neoplasias (0,7%, n=13), com predomínio para as lesões do intestino (61,5%, n=8). O fígado esteve representado em 30,8% dos casos de neoplasias deste sistema (n=4) e o estômago em 1 caso (7,7%). As neoplasias melânicas com sede na cavidade oral foram englobados nos tumores melânicos. 1.8 Sistema Nervoso Neste grupo de neoplasias não estão incluídos os tumores dos nervos periféricos, que estão classificados juntamente com os tumores mesenquimatosos da pele e tecidos moles. Representou 0,8% (n=15) das neoplasias estudadas, com origem em vários tecidos do Sistema Nervoso Central. 1.9 Glândulas Endócrinas Neste grupo incluímos neoplasias da glândula tiróide (n=3), adrenal (n=2) e pâncreas exócrino (n=3). Representaram 0,4% (n=8) das neoplasias que afectaram os canídeos estudados Aparelho Respiratório Foi o sistema menos afectado, apresentando 2 neoplasias do pulmão; representou apenas 0,1% dos tumores estudados. 2 Distribuição das neoplasias em função da idade A omissão dos dados em 33,6% dos casos levou a que este parâmetro apenas pudesse vir a ser apreciado em 66,4% dos casos que diagnosticámos. Alguns tumores predominaram nos animais jovens (com idade igual ou inferior a 2 anos), como foi o caso dos histiocitomas (56,6% das neoplasias observadas em animais desta idade). Observaram-se ainda neste grupo predomínio de papilomas (9,4%), mastocitomas (5,7%), linfomas e TVT (ambos com 6,3%). Todos os outros tumores que surgiram neste grupo etário tiveram representatividade inferior a 3,1% (Tabela 5). Não observámos qualquer neoplasia de origem embrionária. Entre os 3 e os 8 anos predominaram os tumores da glândula mamária (32,8% dos tumores nesta idade), seguidos pelos mastocitomas (12,4%), pelos tumores conjuntivos (8,1%), linfomas e neoplasias do folículo piloso ambos com 6%, os CCE (4,1%), os histiocito- 114
5 Tabela 5 Distribuição etária das neoplasias Neoplasia 2 anos 3 a 8 anos 9 anos Total Neoplasias da glândula mamária Histiocitomas Mastocitomas Papilomas Neoplasias das glândulas hepatóides Tumor venéreo transmissível Hemangiopericitoma Neoplasias do testículo Neoplasia do ovário Neoplasias do tecido conjuntivo Neoplasias vasculares Linfomas Carcinoma de células escamosas Neoplasias melânicas Neoplasias das glândulas apócrinas Neoplasias da próstata Neoplasias do folículo piloso Neoplasias do músculo Neoplasias do nervo periférico Neoplasias das glândulas sebáceas Neoplasias da glândula de Meibomio Neoplasias do útero Neoplasias da vulva e vagina Neoplasias do sistema nervoso Neoplasias do osso e articulações Total Nota: o total das neoplasias apresentadas nesta tabela não é sobreponível aos os valores apresentados nas tabelas anteriores, porque só estão registados os casos em que a idade foi referida. mas (3,9%) e os tumores vasculares (3,2%). Todos os outros tumores tiveram uma representatividade inferior a 3 % (Tabela 5). Os animais geriátricos (com idade igual ou superior a 9 anos), continuaram a apresentar predominância de neoplasias da glândula mamária (41,7% das neoplasias deste grupo). Seguiram-se as neoplasias das glândulas hepatóides (7,9%), neoplasias do tecido conjuntivo (6,6), do testículo (6,4%), do folículo piloso (4%) CCE (3,7%) e neoplasias das glândulas sebáceas com 3,1%. Todos os outros tumores tiveram uma representatividade inferior a 3% (Tabela 5). 3 Influência do sexo Por falta de informação sobre este parâmetro, não podemos processar informação em 1,9% dos casos. As neoplasias observadas predominaram nas fêmeas (61%), provavelmente devido à elevada frequência das lesões da glândula mamária. Além das lesões neste órgão, não nos foi possível observar predisposição sexual relativamente à ocorrência de outras neoplasias. 4 Distribuição das neoplasias por raça Não tivemos informação acerca deste parâmetro em 12,16% dos casos. Nos restantes, a raça indeterminada foi aquela que predominou na amostra, sendo também aquela que apresentou maior casuística de neoplasias (25,86%) (Gráfico 5). Relativamente à distribuição das neoplasias por raças puras, os animais de raça Caniche foram aqueles em que o maior número de tumores foi diagnosticado (13,47%), seguida dos de raça Boxer (10,56%), Cocker (8,5%), Pastor Alemão (4,39%), Dobermann (2,34%) e Perdigueiro Português (2%). Todas as outras raças estiveram representadas em menos de 2% dos tumores estudados no nosso Laboratório. Gráfico 5 Distribuição das neoplasias por raça Discussão Os estudos de prevalência tumoral no nosso país, referem-se a períodos pouco recentes (Durão e Santos, 1975; Santos, 1976; Monteiro e Clemente, 1978; Baptista e Silva, 1985; Gomes, 1987; Nunes, 1988/89; Silva, 1989), pelo que as autoras se propuseram a elaborar um estudo retrospectivo das neoplasias em canídeos recebidas durante 6 anos no Laboratório de Histologia e Anatomia Patológica da UTAD. Neste estudo foi realizada a distribuição dos tumores por raça, sexo, idade e sistemas. Pela situação geográfica do nosso laboratório, a 115
6 maior parte das análises que recebemos para exame histopatológico são provenientes do Norte de Portugal, ao contrário das referidas nos trabalhos por nós consultados e acima referidos. Pela quantidade e variedade de tumores que nestes 6 anos foram enviados ao nosso laboratório, consideramos ser este trabalho importante para a actualização da realidade das neoplasias em canídeos no nosso país. A raça Caniche foi a raça pura que apresentou maior número de neoplasias diagnosticadas (13,47%; n=236), na nossa amostra, predominada pelos animais de raça indeterminada. A única lesão neoplásica para a qual observámos predisposição sexual foi a da glândula mamária, para as fêmeas, facto já referido por Mialot e Lagadic, em Nos animais domésticos, a prevalência de neoplasias aumenta com a idade, existindo, contudo um ligeiro decréscimo em idades extremas. Com poucas excepções, esta relação entre a idade e as neoplasias aplicase à maioria dos tipos neoplásicos e respectivos locais de ocorrência (Dorn e Priester, 1987; Misdorp, 1990). No estudo da distribuição das lesões neoplásicas por idade observámos um pico de neoplasias aos 11 anos de idade. Estes dados são semelhantes aos observados por Mialot e Lagadic (1990), que registaram o pico de incidência das neoplasias aos 10 anos. Por ter sido omitido este parâmetro em 33,6% das análises por nós observadas, a distribuição por idade poderá não corresponder inteiramente à realidade. Nos animais jovens (com idade igual ou inferior a 2 anos), observámos uma predominância do diagnóstico de histiocitomas e de papilomas, o que está de acordo com o referido por Estrada (1993). No grupo dos animais abrangidos pelo estudo, a frequência dos tumores da glândula mamária, das glândulas hepatóides, do testículo, do ovário, do tecido conjuntivo, dos tumores melânicos e dos carcinomas de células escamosas aumentou com a idade, predominando no grupo de animais geriátricos. Após os tumores da glândula mamária, os mastocitomas foram as neoplasias com maior frequência nos animais adultos, com uma idade média de 8 anos, como o observado por Lemarié et al. (1995), por Pulley e Stannard (1990) e por Gorman e Dobson (1995). Os hemangiopericitomas, os tumores do útero e da próstata só foram observados em animais adultos. Nielsen e Kennedy (1990) referem que os TVT são neoplasias mais comuns nos animais sexualmente activos e Rogers (1997) observou uma maior incidência desta lesão entre os 4 e 5 anos. No nosso estudo, este tipo tumoral foi mais frequente em animais com idade igual ou inferior a 2 anos e no grupo de animais adultos (entre 3 e 8 anos com 3,1%), podendo esta distribuição não estar apenas de acordo com a actividade sexual dos animais, mas também ser o reflexo de uma detecção precoce e do tipo de tratamento actualmente preconizado. Os TVT são tumores de características enzoóticas em diversas zonas do mundo, principalmente tropicais, subtropicais e nos países mediterrânicos. A quimioterapia e a radioterapia são muito eficientes na sua resolução, e estas lesões podem mesmo regredir espontaneamente (Brealey, 1995). Por isso esta neoplasia raramente é enviada para estudos de anatomia patológica, podendo por isso a baixa frequência por nós observada não se reflectir na realidade clínica. O estudo das neoplasias por aparelhos e sistemas baseou-se na actual classificação histológica da OMS (Slayter et al.,1994; Hendrick et al., 1998; Goldschmidt et al., 1998; Kennedy et al., 1998; Koestner et al., 1999; Dungworth et al., 1999; Misdorp et al., 1999; Valli et al., 2002). A nossa amostra apresentou um predomínio das neoplasias da glândula mamária seguidas pelas lesões da pele (quer tumores epiteliais e melanocíticos quer tumores mesenquimatosos da pele e tecidos moles), dados semelhantes aos registados por Mialot e Lagadic no seu trabalho de De todas as neoplasias observadas no cão, os histiocitomas (com 8,8%) foram as neoplasias mais frequentes, logo após as da glândula mamária, tendo sido observados sobretudo em animais com idade inferior a dois anos; foram as lesões mais frequentes no grupo das neoplasias mesenquimatosas da pele e tecidos moles, assim como de todas as neoplasias cutâneas (18,5%). Estes valores foram superiores aos observados por Gorman e Dobson (1995), que referem ser os histiocitomas 10% de todos os tumores cutâneos do cão. Os tumores com origem no tecido conjuntivo foram os terceiros mais frequentes no nosso estudo (8,2%), seguidos pelos mastocitomas, que representam 7,2% de todas as neoplasias observadas e 15,2% das neoplasias da pele. Estes dados são mais elevados que os registados por Walder (citado por Walder e Gross, 1992), mas estão de acordo com os valores referidos por Lemarié et al.(1995). Estas divergências poderão ser reflexo da população de referência em cada um dos estudos, da situação geográfica ou de factores indutores da neoplasia em causa. As lesões das glândulas hepatóides foram o 5º tipo de neoplasia mais frequente (5,2%), mas dentro do seu grupo histológico (as neoplasias epiteliais e melanocíticas da pele), foram o tipo tumoral predominante. Neste grupo de neoplasias, o CCE é a segunda neoplasia mais frequente, e a 7ª (3%) de todas as observadas no cão. Estas observações em relação a estes dois tipos neoplásicos estão de acordo com o referido por Godshmidt et al. (1999). Os estudos de Gorman e Dobson (1995) referem os CCE como o tumor maligno mais comum da pele dos cães, representando entre 4 e 8 % de todos os tumores cutâneos destes animais, dados mais elevados que os apresentados por nós. Neste estudo, os linfomas foram o 6º tipo de neoplasia mais observada (3,9%), e o mais frequente do 116
7 sistema hematopoiético, o que também foi referido por Moulton e Harvey (1990). Os papilomas representaram 4,7% de todas as neoplasias cutâneas (embora represente 12,8% das neoplasias epiteliais e melanocíticas da pele), dados discordantes dos observados por Walder e Gross (1992) e por Pulley e Stannard (1990), que se referem a esta patologia como sendo uma neoplasia pouco frequente, representando apenas 1 a 2,5 % das neoplasias cutâneas. A maioria dos papilomas observados eram lesões compatíveis com etiologia vírica. Este dado, em conjunto com a elevada frequência desta lesão em relação aos autores por nós consultados, alerta-nos para o facto de podermos estar perante uma situação de transmissão e propagação do vírus em causa, no nosso país. As neoplasias dos aparelhos genital e urinário corresponderam a 9% do total dos tumores observados nos canídeos, havendo natural diferença nos orgãos afectados em função do sexo. Nos machos o predomínio das lesões ocorreu no testículo e nas fêmeas na genitália externa, afectada principalmente por TVT, tal como foi referido por Phillips (1999), os restantes orgãos deste sistema registaram poucas lesões. O rim foi o orgão menos afectado. Como já foi mencionado previamente, a glândula mamária foi o orgão que registou maior número de neoplasias (36,3%), o que está de acordo com o referido na bibliografia por nós consultada (Jones et al., 1997; Misdorp et al., 1999). Observámos uma clara predominância destas lesões em fêmeas relativamente aos machos, sendo os tumores mamários no macho de grande agressividade. As neoplasias do osso e articulações apenas representaram 1,7% da nossa amostra. O sistema nervoso esteve representado em 0,8% das neoplasias observadas, o sistema digestivo em 0,7%, as glândulas endócrinas em 0,4% e o sistema respiratório em 0,1%. Todos estes valores são muito inferiores aos referenciados por White (1995), McGlennon (1995) e Nelson e Feldman (1995). Em comparação com estudos efectuados por outros autores, podemos concluir que a distribuição de lesões neoplásicas espontâneas nos canídeos domésticos nem sempre é igual àquelas observadas noutros países, o que torna importante o seu estudo e comparação. A frequência das neoplasias aumenta com a idade sendo mais frequente nas fêmeas que nos machos, em consequência da elevada frequência das neoplasias da glândula mamária. O pico etário com maior frequência de neoplasias para os canídeos registou-se aos 11 anos. Observámos neoplasias características dos animais jovens (como os histiocitomas e os papilomas), e outras cuja frequência aumenta com a idade dos animais. Não encontrámos qualquer predisposição racial relevante e a distribuição das neoplasias relativa a este parâmetro é sobreponível com a distribuição da população de referência. Julgamos, por tudo isto, ser este trabalho um ponto de partida para outros estudos, e esperamos contribuir para o conhecimento das lesões neoplásicas dos canídeos domésticos que ocorrem na nossa região e no nosso país. Agradecimentos Não queremos deixar de agradecer a todas as nossas colegas que desempenham ou desempenharam funções de Anatomopatologistas no Laboratório de Histologia e Anatomia Patológica da UTAD, e que com o diagnóstico colaboraram para o conhecimento e casuística que nos permitiram elaborar este trabalho. Assim, agradecemos à Profª Doutora Anabela Alves, Drª Paula Robrigues, Profª Doutora Helena Vala, Drª Justina Oliveira, Drª Maria de Lurdes Pinto, Drª Adelina Gama, Drª Maria do Carmo Topa e Drª Patrícia Pereira. Agradecemos ainda, e de forma muito especial, ao pessoal técnico e auxiliar nas pessoas da D. Lígia Lourenço Bento, D. Ana Plácido e D. Glória Milagres. Ao Dr. Pedro R. Ferreira de Carvalho e ao Prof. Doutor Carlos Lopes endereçamos o nosso especial agradecimento pela disponibilidade sempre demonstrada no esclarecimento de dúvidas e auxílio prestado no diagnóstico de situações mais raras, ou casos mais duvidosos. À Profª Doutora Rita Payan, ao Prof Doutor Jorge Colaço e à Prof. Doutora Raquel Chaves, pelos valiosos comentários. Bibliografia Baptista, R e Silva, M.C. (1985). Blastomas dos Animais. Dados Estatísticos. Rep. Trab. L.N.I.V., XVII, Brealey, M.J. (1995). The Urogenital System. In Manual of Small Animal Oncology. British Small Animal Veterinary Association. Worthing, West Sussex Dorn, C.R. e Priester, W.A. (1987). Epidemiology. In Veterinary Cancer Medicine. Gordon H. Theilen, Bruce R. Madewell, Lea & Febiger (Philadelphia) Dungworth, D.L., Hauser, B., Hahn, F.F., Wilson, D.W., Haenichen, T. e Harkema, J.R. (1999). Histological Classification of Tumors of the Respiratory System of Domestic Animals. Ed. Armed Forces Institute of Pathology. 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