PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO ACÓRDÃO

Transcrição

1 Registro: ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação nº , da Comarca de Bilac, em que é apelante VENTUCCI DISTRIBUIDORA DE BEBIDAS LTDA, é apelado SERASA - CENTRALIZAÇÃO DE SERVIÇOS S/A. ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 14ª Câmara Extraordinária de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Negaram provimento ao recurso. V. U., de conformidade com o voto do relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores JAMES SIANO (Presidente), EDSON LUIZ DE QUEIROZ E FÁBIO PODESTÁ. São Paulo, 1 de setembro de James Siano Relator Assinatura Eletrônica

2 VOTO Nº: APEL. Nº: COMARCA: Bilac MM. Juiz (a) de 1º Grau: Dr. João Alexandre Sanches Bagatelo APELANTE: Ventucci Distribuidora de Bebidas Ltda APELADO: Serasa Centralização de Serviços S/A AÇÃO DECLARATÓRIA DE CANCELAMENTO DE DÉBITO E INDENIZATÓRIA POR DANO MORAL. Inscrição do nome da autora nos cadastros de restrição creditícia. Sentença de improcedência. Apela a autora sustentando ter feito apenas um pedido de certificado digital e relativo a esse pedido foi agendada data para validação. Alega não ter motivo para requerer dois certificados digitais, sendo que um é suficiente para todos os acessos e serviços necessários. Presume que a empresa ré tenha se confundido administrativamente em suas informações internas e realizado o pedido do Certificado Digital em nome do escritório contábil Mazocato, o qual não possui ideia do que é, nem nunca ouviu falar. Descabimento. Contratação duplicada dos serviços da ré. A negativação do nome da autora constitui exercício regular do direito da credora SERASA, sendo legítima a inclusão nos cadastros de devedores inadimplentes. Dano moral não caracterizado. Apelante não inovou o que já havia sido exposto nos autos e rebatido na sentença. Não demonstrou a ausência da dupla contratação, uma direta e outra através de escritório de contabilidade. Motivação da sentença adotada como fundamentação do julgamento em segundo grau. Adoção do art. 252 do RITJ. Nega-se provimento ao recurso. Trata-se de apelação interposta contra a sentença de f. 118/119, proferida em Ação Declaratória de Cancelamento de Débito com Indenizatória por Danos Morais proposta por Ventucci Distribuidora de Bebidas Ltda em face de Serasa Centralização de Serviços S/A, demanda julgada improcedente declarando que a negativação do nome da autora constitui exercício regular do direito da autora, uma vez existente o débito. Apelação nº Voto nº SCT 2

3 Apela a autora (f.122/126) sustentando ter feito apenas um pedido de certificado digital (protocolo nº ), e relativo a esse pedido foi agendada data para validação. Alega não ter motivo para requerer dois certificados digitais, sendo que um é suficiente para todos os acessos e serviços necessários. Presume que a empresa ré tenha se confundido administrativamente em suas informações internas e realizado o pedido do Certificado Digital em nome do escritório contábil Mazocato, o qual não possui ideia do que é, nem nunca ouviu falar. Recurso recebido (f. 129) e não respondido (f.134/142). É o relatório. O apelo não procede. A sentença deve ser confirmada pelos seus próprios fundamentos, os quais ficam inteiramente adotados como razão de decidir, pelo improvimento do recurso. O art. 252 do Regimento Interno deste Tribunal estabelece que Nos recursos em geral, o relator poderá limitar-se a ratificar os fundamentos da decisão recorrida, quando, suficientemente motivada, houver de mantê-la. Na Seção de Direito Privado desta Corte, o dispositivo Apelação nº Voto nº SCT 3

4 regimental tem sido largamente utilizado por suas Câmaras 1, seja para evitar inútil repetição, seja para cumprir o princípio constitucional da razoável duração dos processos. O STJ tem prestigiado este entendimento quando reconhece "a viabilidade de o órgão julgador adotar ou ratificar o juízo de valor firmado na sentença, inclusive transcrevendo-a no acórdão, sem que tal medida encerre omissão ou ausência de fundamentação no decisum" (REsp n RS, 2ª Turma, Rel. Min. João Otávio de Noronha, j. de ; REsp n ES, 2ª Turma, Rel. Min. Castro Meira, j. de ; REsp n AL, 2ª Turma, Rel. Min. Eliana Calmon, j e REsp n DF, 4ª Turma, Rel. Min. Fernando Gonçalves, j de ). O STF já decidiu que é possível adotar os fundamentos de Rel. Des. Luiz 1 Apelação , Rel. Des. Elliot Akel, em 17/06/2010; AI , Antonio de Godoy, em 17/06/2010; Apelação , Rel. Des. Paulo Eduardo Razuk, em 08/06/2010; Apelação , Rel. Des. Neves Amorim, em 29/06/2010; Apelação , Rel. Des. José Roberto Bedran, em 22/06/2010; Apelação , Rel. Des. Beretta da Silveira, em 13/04/2010; Apelação , Rel. Des. James Siano, em 19/05/2010; Apelação , Rel. Des. José Joaquim dos Santos, em 27/05/2010; Apelação nº , Rel. Des. Alvaro Passos, em 17/09/2010; Apelação , Rel. Des. Paulo Alcides, em 01/07/2010; AI nº , Rel. Des. Caetano Lagrasta, em 17/09/2010; Apelação , Rel. Des. Moura Ribeiro, em 20/05/2010; Apelação n , Rel. Des. Luiz Roberto Sabbato, em ; Agravo de Instrumento , Rel. Des. Edgard Jorge Lauand, em 13/04/2010; Apelação , Rel. Des. Simões de Vergueiro, em 09/06/2010; Apelação , Rel. Des. Paulo Roberto de Santana, em 09/06/2010; Apelação nº , Rel. Des. Renato Sartorelli, em 01/ ; Apelação nº , São Paulo, Rel. Des. Cesar Lacerda, em 27/07/2010; Apelação nº , Rel. Des. Edgard Rosa, em 01/09/2010; Apelação nº , Rel. Des. Paulo Ayrosa, em 14/09/2010; Apelação nº , Rel. Des. Mendes Gomes, em 06/05/2010; Apelação nº , Rel. Des. Romeu Ricupero, em 15/09/2010. Apelação nº Voto nº SCT 4

5 parecer do Ministério Público para decidir, assim o tendo feito recentemente nas decisões proferidas nos RE e , em , em que assenta, textualmente: Acompanho na íntegra o parecer da douta Procuradoria-Geral da República, adotando-o como fundamento desta decisão, ao estilo do que é praxe na Corte, quando a qualidade das razões permitem sejam subministradas pelo relator (Cf. ACO 804/RR, Relator Ministro Carlos Britto, DJ 16/06/2006; AO 24/RS, Relator Ministro Maurício Corrêa, DJ 23/03/2000; RE /SP, Relator Ministro Néri da Silveira, DJ 01/08/2000). evidencia. Consigna-se que a sentença apreciou as provas como se Restou incontroverso que a empresa autora realizou dois pedidos de certificado digital à SERASA. O primeiro foi solicitado em 06/02/2012 através do escritório contábil Mazocato Ltda. ME, gerando o protocolo nº , tendo o valor de R$ 225,00. O segundo foi postulado via internet em 08/02/2012, gerando o boleto no valor de R$ 250,00 (protocolo nº ). Não há dúvidas de que ambas as solicitações foram realizadas pela autora. Ainda que negue conhecer o escritório Mazocato, o fato é que a contratação por ele intermediada gerou o atendimento ocorrido em 10 de fevereiro de 2012, quando o termo de titularidade de certificado digital de f. 82/84 foi firmado pelo representante legal da autora. Naquela ocasião, o representante legal da autora assinou o referido termo, bem como o documento de f. 96, segundo o qual o teste técnico foi realizado para comprovar o perfeito funcionamento do certificado digital, evidenciando também o recebimento do manual de usuário e do termo de titularidade pela autora. O número de protocolo constante do termo de f. 82/84 é o mesmo do pedido elaborado pelo escritório Mazocato ( ). Inegável, pois, a adesão da autora ao serviço fornecido pela requerida, no valor de R$ 225,00, referente ao protocolo Ocorre que a autora também realizou pedido de certificado digital via internet, dando ensejo ao protocolo , que ainda se acha Apelação nº Voto nº SCT 5

6 pendente de agendamento. Talvez por equívoco, a autora realizou dois pedidos de certificado digital. E nem se diga que a autora não teria realizado o segundo pedido via internet, já que ela própria efetuou o boleto de f. 23, no valor de R$ 250,00, referente ao segundo protocolo, tal como expressamente constou do referido documento ( ). Feitas tais considerações, restou evidenciado que a autora contratou o certificado digital por duas vezes. Na primeira houve agendamento e entrega do certificado, sem pagamento do valor de R$ 225,00 devidos (protocolo ). No segundo, houve pagamento de R$ 250,00, sem agendamento Havendo dois pedidos, os dois valores são devidos, um no valor de R$ 225,00, outro no valor de R$ 250,00. A cobrança de R$ 37,06 decorre das consultas realizadas pela autora por intermédio da requerida, tal como discriminadas a f. 67. Tais consultas têm por finalidade verificar a idoneidade dos dados fornecidos por clientes da requerente, bem como a existência de restrições de crédito. A quantidade de consultas foi discriminada pela requerida, havendo emissão da nota fiscal Não houve sequer impugnação específica da autora acerca dos serviços discriminados a f. 67. Assim, nenhuma cobrança indevida foi realizada pela SERASA. Por conseguinte a negativação do nome da autora constitui exercício regular do direito da credora. Não havendo ato ilícito no comportamento da requerida, nenhuma indenização é devida, seja a que título for, sendo legítima a inclusão do nome da autora nos cadastros de devedores inadimplentes, sem que se possa cogitar em dano moral. Cabe acrescentar que o contrato de f. 82/84 assinado pelo senhor Jonas Bertucci é referente à solicitação de nº , que permanece com pagamento em aberto, tendo em vista que o valor de R$ 250,00 que foi pago (f. 23), diz refeito à solicitação de nº De acordo com a documentação acostada, depreende-se que a autora contratou os serviços da ré por duas vezes: Apelação nº Voto nº SCT 6

7 Na primeira (protocolo ) houve agendamento, entrega do certificado, e assinatura do representante legal da empresa autora, conforme documento de f. 82/84. No entanto, não há qualquer documento que comprove o pagamento do valor de R$ 225,00 referente a este protocolo ( ). Na segunda solicitação (protocolo ) houve pagamento de R$ 250,00 conforme documento apresentada pela própria autora à f. 23, no entanto não há comprovação a respeito de agendamento e entrega do certificado. Havendo dois pedidos, os dois pagamentos seriam devidos. Uma vez pago o valor de R$ 250,00, resta em aberto o boleto de R$ 225,00. A negativação do nome da autora constitui exercício regular do direito da credora SERASA, sendo legítima a inclusão nos cadastros de devedores inadimplentes, não há que se falar em indenização por danos morais. À f. 67 a ré discrimina detalhadamente a fatura que originou a nota fiscal nº 09592, no valor de 37,06. Uma vez utilizados os serviços da ré, certo que se pague por eles. Diante da acertada e minuciosa decisão de primeiro grau, conclui-se que a sentença não merece qualquer reparo. A propósito de dar maior dinâmica e celeridade aos julgamentos proferidos em segunda instância, mantendo a segurança jurídica e afastando tecnicismos exagerados, surgiu o art. 252 do Regimento Interno deste Tribunal 2. sobre o assunto: Quanto ao procedimento ora adotado há precedente do STJ Se o apelante se restringe a repetir os argumentos enfrentados pela sentença, é lícito ao segundo grau manter a sentença por seus fundamentos, se com eles concordar, mas não estará 2 Art Nos recursos em geral, o relator poderá limitar-se a ratificar os fundamentos da decisão recorrida, quando, suficientemente motivada, houver de mantê-la. Apelação nº Voto nº SCT 7

8 autorizado, somente por isso, a não admitir o apelo 3. Em vista da apelação se ater aos argumentos já debatidos na sentença recorrida, nos termos do art. 252 do Regimento Interno confirma-se a decisão de primeira instância. Ante o exposto, nega-se provimento ao recurso. JAMES SIANO Relator 3 Resp / SP Relator: Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira 4ª Turma - STJ Apelação nº Voto nº SCT 8